Números 12 — Análise Bíblica

Análise Bíblica de Números 12





Números 12

Nm 12:1-16 A rebelião de Arão e Miriã
O capítulo anterior relatou como o povo exasperou Moisés ao se rebelar contra Deus. Esse capítulo descreve como Moisés se irou com seus próprios irmãos, Arão e Miriã. Enquanto na ocasião anterior Moisés enfrentou críticas externas, aqui a oposição vem dos seus companheiros de liderança e membros da sua própria família: Arão, seu irmão e sumo sacerdote, e Miriã, sua irmã e profetisa que dirigiu o povo num cântico de vitória (Êx 15:20). Em Miqueias 6:4. ela é citada entre os líderes de Israel no deserto.
As queixas ostensivas de ambos se devem ao casamento de Moisés com a mulher cuxita (africana; 12:1). Uma vez que Moisés era casado com Zípora, uma midianita (Êx 2:21), essa mulher cuxita provavelmente era sua segunda esposa. Ao que parece, Miriã e Arão usaram um argumento racista para ocultar a verdadeira origem de seu ressentimento em relação a Moisés.
Na realidade, tudo indica que os dois estavam com ciúmes do papel eminente de Moisés como único canal da revelação de Deus, conforme sugere sua queixa: Porventura, tem falado o Senhor somente por Moisés? Não tem falado também por nós? (12:2). Assim, o que está em discussão é se o dom de profecia e liderança foi limitado somente a Moisés, o líder institucional oficial. Os três haviam recebido dons de liderança, mas em áreas diferentes. No entanto, Arão e Miriã pareciam não considerar que seus dons diferentes enriqueciam a comunidade. Se os dois tivessem recebido os mesmos dons que Moisés, não poderíam exercer suas funções de sacerdote e de cantora e profetisa.
Antes de relatar a resposta de Deus a esse ataque contra Moisés, o narrador nos lembra: Era o varão Moisés mui manso (12:3). Assim, Moisés não era uma pessoa que se apegava ao poder e desejava mantê-lo inteiramente centralizado em si. Pode-se observar essa sua atitude no capítulo anterior, em que pede ajuda e se alegra ao ver que outros receberam o dom de profecia (11:14,29). Assim, em vez de se defender diante de seus familiares, ele deixa Deus resolver a questão.
Deus apareceu repentinamente a Moisés, Arão e Miriã, ordenando que se dirigissem à tenda da congregação. Ali, o Senhor apareceu numa coluna de nuvem posicionada diante da entrada da tenda e pediu a Arão e Miriã que se apresentassem (12:4-5). Sua reprimenda enfatiza a posição singular de Moisés. Enquanto Deus fala a outros profetas por meio de sonhos e visões, com Moisés ele falava boca a boca. Moisés podia contemplar a forma de Deus e foi incumbido de toda a casa do Senhor (12:6-8).
Ninguém jamais teve um relacionamento tão íntimo com Deus quanto Moisés. 0 líder de Israel é citado com frequência ao longo das Escrituras como legislador, mediador e modelo para o profeta vindouro. No NT, Moisés e Elias são os dois profetas presentes na transfiguração de Jesus (Mc 9:2-13).
Deus se irou com o fato de Arão e Miriã terem ousado falar contra Moisés e castigou Miriã ferindo-a com uma doença de pele semelhante a lepra (12:10). Por algum motivo desconhecido, Arão não foi castigado. Talvez Miriã tenha instigado a queixa ou, talvez, se Arão houvesse sido contaminado pela lepra, sua condição teria dificultado seriamente o culto na tenda da congregação. Apesar de crermos que Deus agiu com justiça e retidão, o fato de Arão ter sido isentado do castigo incentiva um comportamento tendencioso já existente em nossa cultura. Em vários contextos africanos, homens e mulheres são tratados de forma diferente. Vemos essa mesma tendenciosidade em João 5.1-11, em que uma mulher surpreendida em adultério é colocada diante de Jesus, enquanto o homem envolvido no ato adúltero nem aparece.
Arão ficou horrorizado com o castigo de Miriã e reconheceu a superioridade de Moisés ao implorar ao irmão que orasse por ambos (12:11-12). Moisés não guardou ressentimentos e intercedeu em favor de Miriã (12:13). 0 Senhor concordou em suspender o castigo, mas declarou que ela continuaria impura e, portanto, deveria permanecer fora do arraial por sete dias. A congregação só partiría de Hazerote depois de Miriã ser reintegrada ao convívio social (12:15), o que demonstra sua importância para a comunidade. Em seguida, o povo acampou no deserto de Parã, na fronteira sul de Canaã.
Esse episódio gira em tomo de uma luta pelo poder dentro da liderança. Nós também nos esquecemos facilmente de que a liderança é uma dádiva de Deus para o bem da comunidade, não devendo, portanto, ser buscada por motivos pessoais e egoístas. Aqueles que procuram assumir a liderança por meio de coerção ou manipulação agem de modo contrário ao modelo de liderança estabelecido por Deus.
Essa passagem também trata indiretamente da questão da diversidade dos dons concedidos por Deus aos cristãos por meio do Espírito Santo, visando o crescimento do Corpo de Cristo. Como Paulo afirma claramente em I Coríntios 12:4-11, todos os dons são concedidos pelo mesmo Espírito, mas nem todas as pessoas recebem os mesmos dons. Se todos afirmarem ter o dom de liderança proeminente, haverá um excesso de presidentes e presbíteros e, em vez do crescimento da igreja ou do país, a luta por poder resultará em caos. No entanto, não basta afirmar a necessidade de reconhecer que apenas alguns têm o dom de liderança. Os líderes, por sua vez, precisam apreciar, afirmar e incentivar o uso dos dons de outras pessoas.

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