Estudo sobre Romanos 7:14-16

Romanos 7:14-16

Inicialmente, Paulo estabelece ligação com o v. 12. Porque bem sabemos que a lei é espiritual. Nesse caso, o “nós” também inclui os judeus. A Bíblia como um todo ensina a santidade da lei a cristãos e judeus. Seguramente os judeus ainda poderão afirmar também: eu, todavia, sou carnal. Israel sabia muito bem que por natureza o ser humano não é Deus e que Espírito e carne estão dissociadas da maneira mais profunda (Sl 143.2). Porém Paulo revira a questão e recorre à comparação com a existência do escravo: vendido à escravidão do pecado. Por causa de sua história, da qual ele próprio é culpado (Rm 1.21; 5.12; 7.8-10), o ser humano não é mais senhor de si mesmo. Deus “o entregou” (Rm 1.24,26,28), desfez-se dele no mercado de escravos. Desde então, ele não é mais filho na casa do Pai. Cabe agora expor as características de sua condição escrava.

Um escravo não se identifica com sua ação. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Dificilmente a tradução que diz, na primeira parte do versículo: “Não compreendo o que faço”, “não entendo o que faço” (blh) acerta o sentido da afirmação. Pode até ser que as pessoas ocasionalmente pratiquem o mal de forma inconsciente, que sejam um enigma para si mesmas, que para elas tudo corra adversamente, surpreendendo-as a elas próprias. Contudo, não deveríamos inserir tanta psicologia nessa afirmação singela. É evidente que um escravo realiza seu trabalho a contragosto. Sua liberdade de querer não é correspondida por uma liberdade de agir. Resta-lhe cumprir luto por sua verdadeira vontade, enquanto não for capaz de aceitar seu agir não desejado.

Pois o seu querer é a vontade do bem. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. No grego não encontramos aqui uma frase completa, e sim uma exclamação, em termos linguísticos muito similar ao louvor do Criador, repetido sete vezes na primeira página da Bíblia. É fato que não se espera esse aplauso entusiasmado do bem justamente por parte de uma pessoa que pratica o mal. Contudo, ele foi conquistado até pela lei que ele não cumpre. Não se cansa de assegurar: quero praticar o bem! Pelo que se evidencia, para Paulo nenhuma pessoa é um diabo. Por outro lado, tampouco a descreve como herói de uma tragédia inexplicável. Pelo contrário, quanto mais o pecador assevera que quer o bem, tanto maior é o grau de sua responsabilidade. Sua maldade deve ser tributada integralmente a ele. É precisamente o devoto que fracassa da forma mais impressionante.

Enquanto os v. 15,16 giravam em torno do termo “vendido” no v. 14c, os versículos subsequentes enfocam o comprador do escravo. Seu comportamento, no entanto, antes faz lembrar um invasor da casa que um dono legal de escravos.

Índice:
Romanos 7:14-16