Estudo sobre Apocalipse 8:3

Estudo sobre Apocalipse 8:3

Estudo sobre Apocalipse 8:3

Apocalipse 8:3

Veio outro anjo. Algumas vezes ele foi interpretado como sendo Cristo enquanto Sumo Sacerdote. No entanto, no Ap Cristo é a pessoa principal num sentido tão exponencial que ele dificilmente pode aproximar-se como “outro anjo”. Ele sempre aparece de forma nitidamente destacada dos anjos, pois o Ap mantém seu apurado senso para categorias e posições. Correta, porém, é a referência à função da intercessão, concretizada no anjo. É desse aspecto que também se estabelece uma relação do anjo com Cristo, assim como todos os anjos no Ap estão relacionados cristologicamente (nota 97, no final).

O anjo intercessor ficou de pé (“posicionou-se”) junto ao altar. Considerando a continuação, seguramente devemos pensar no altar de incenso (cf. nota 297). Para que outra finalidade o material de incenso lhe seria entregue nesse altar, se não fosse para que prestasse sacrifícios nele? E ele tinha um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso. Desse modo o anjo estava equipado com dois objetos para duas ações distintas.

O material de incenso fora-lhe dado para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono. Expressamente não é colocado na bandeja, para que fosse levado à combustão sobre as brasas ardentes (p. ex., como em Lv 17.11). Pelo contrário, o incenso é relacionado com as orações dos santos. Em tempos antigos o incenso já simbolizava a oração (Sl 141.2; cf. Ap 5.8). Aqui ele representa enfaticamente as orações de todos os santos, talvez em diferenciação do clamor do grupo de mártires em Ap 6.9. Esse aspecto abrange a vida de oração da igreja toda.

Uma designação que já transpareceu em Ap 5.8, os santos, passa a ocupar uma posição centralizada nos capítulos das visões das trombetas e seus adendos.

Acaso são os santos almas redimidas no céu, que prestam intercessão em favor dos fracos cristãos que ainda lutam na terra? Uma ideia deste tipo é totalmente estranha a João. Ou, se devemos pensar em pessoas na terra, acaso se tratará de personagens curiosamente enlevadas, já arrebatadas do pecado? No entanto, para o Ap ser santo inclui um imperativo sempre vivo e necessário: “quem é santo seja santificado ainda” (Ap 22.11 [rc]) Portanto, não se fala de uma existência totalmente arrebatada que repousa em si mesma.

O fato de que o Ap (13 vezes), como todo o NT, chama a igreja na terra de a comunidade dos santos, de forma alguma é natural em relação ao AT. Exceto em uma única ocasião o AT, em inúmeras passagens, designa de “santos” os anjos de Deus. E não obstante há um único capítulo, no qual o povo de Deus na terra é chamado de “santo” nada menos de cinco vezes. Trata-se da peça axial do livro de Daniel, o cap. 7. Essa circunstância, bem como a grande importância que Dn 7 de fato teve para a primeira igreja (Ap 13!), reforça a conclusão de que a designação de “santos” no NT remonta a Dn 7.

Quem são os santos em Dn 7? Obviamente Israel. Porém, é preciso ressalvar imediatamente: o Israel fiel, verdadeiro, distinto do Israel renegado. O reino é destinado a esse Israel fiel. Antes, porém, ele terá de suportar sofrimentos terríveis. Por um breve tempo ele até sucumbe ao adversário satânico. Depois, porém, Deus fará justiça a Israel, que governará com ele para todos os tempos. Ao chamar as testemunhas de Jesus repetidamente de “santos”, numa nítida adesão terminológica a Dn 7, o Ap proclama a igreja verdadeiramente cristã como sendo o verdadeiro Israel do fim dos tempos.

Em termos de conteúdo, porém, parece haver ainda outra correlação, a saber, com os primórdios de Israel, quando foi libertado do Egito. Os capítulos do Pentateuco estão perpassados de afirmações sobre a santidade. Uma frase central é: “Vós sereis o meu povo santo”.

Esse fundo parece estar presente precisamente nesta passagem, porque para ela as orações dos santos (cf. Ap 6.10) são tão importantes, porque Dn 7 não fornece uma referência direta para esse aspecto, tanto mais no entanto o livro do Êxodo. No período egípcio a comunidade israelita apresentava-se como a essência da oradora aflita.

A partir dessa correlação o conteúdo dessas orações dos santos também se torna plausível. Elas são um único clamor de aflição a Deus, para que ele vingue a opressão e crueldade insuportáveis e liberte seu povo da escravidão para um serviço santo. Em favor dessas orações entra em ação o anjo intercessor. Ele é para João e os leitores um indício da força dessas orações. Elas são atendidas. O versículo seguinte mostrará que elas não se movem nem num beco sem saída nem numa via de mão única. Chegam a seu destino e recebem resposta.

Em Ap 22.17 a vida de oração da igreja é expressa numa fórmula última: “Vem!” “Que venha o teu reino, que se faça a tua vontade e que finalmente seja santificado o teu nome!” Naquele contexto essa súplica é designada expressamente como espiritual: “O Espírito e a noiva dizem: Vem!” Desse modo afirma-se sem metáforas o que aqui é contemplado em forma de visão.

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Apocalipse 8:3