Significado de 1 João 3
Significado de 1 João 3
1 João 3
3.1 — Vede quão grande caridade
nos tem concedido o Pai. João
observa extasiado o amor de Deus. Mas o maior êxtase e a maior gratidão provinham
do fato de Deus expressar amor pelos seres humanos e de os cristãos integrarem
Sua família. Deus ama todos os cristãos, fortes ou fracos. João diz que Jesus,
na noite em que foi traído, havia amado os seus que estavam no mundo e amou-os
até ao fim (Jo 13.1). O amor de Deus contrasta fortemente com o amor deste
mundo. O mundo ama quem o ama, mas Deus ama até os que lhe desobedecem.
3.2 — Quando João admite ignorar o que seremos
quando Jesus voltar, sua afirmativa deve tornar-nos humildes e precavidos
quanto a anunciar detalhadamente acontecimentos futuros e a natureza de nossa
existência celestial. Deus decidiu não nos dizer muitas coisas, ou porque não
as entenderíamos, ou porque poderiam distrair-nos de nossas responsabilidades como
cristãos (At 1.6-8). Seremos semelhantes a ele. Embora não conheçamos todos
os detalhes de nossa futura existência, sabemos que teremos um corpo como o de Cristo
(Fp 3.21). Os cristãos terão imortalidade e estarão livres de sua atual
natureza pecaminosa, que tanto os incomoda.
3.3 — Qualquer que [...] tem [...]
esperança de ver Cristo e ser como Ele
(1 Jo 3.2) percebe que Cristo é moralmente puro. Compreender isso ajuda a
pessoa a procurar ser cada vez mais pura.
3.4-9 — Os dois tipos de pessoas descritos são aquele
cujo estilo de vida se caracteriza pela justiça e aquele que se caracteriza
pelo pecado. O relacionamento vital com Deus fica patente por meio de uma vida
reta. Quem vive no pecado nega o relacionamento com Jesus porque Ele veio para
levar embora o pecado.
3.4 — O pecado de que trata este versículo não é
aquele ocasional, mas uma vida de persistente pecado. Iniquidade não significa
falhar em relação à Lei, mas rebelar-se contra ela.
3.5,6 — Se Cristo não tem pecado e o objetivo de Sua
vinda foi tirar o pecado do mundo, então qualquer que permanece nele não peca.
A conduta pecaminosa costuma indicar falta de comunhão com Cristo. Assim, se
nos dizemos cristãos, mas temos uma vida na prática do pecado, pode-se questionar
legitimamente nossa condição de filhos de Deus. Sendo assim, a afirmativa em 1
João 1.9—2.2 demonstra que os cristãos pecam ocasionalmente, mas não vivem no
pecado, como antes faziam quando estavam sob o jugo do pecado [daí a tradução
do versículo 6 na ara : aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele
que vive pecando não o viu, nem o conheceu]. [Há quem entenda que a frase
qualquer que permanece nele não peca se refira também à impossibilidade de
pecar até ocasionalmente. Isto se baseia no fato de que o novo homem, o ser
espiritual gerado por Deus em nosso interior, o ser criado à imagem de Cristo,
não pode pecar no sentido de não consentir com o pecado quando eventualmente o
cristão peca sob domínio do velho homem, de sua natureza carnal, como sugere o
texto em 1 João 3.9: qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a
sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.] Não o
viu nem o conheceu. Ao pecar, falta-nos visão de Deus. Pecar resulta da
cegueira e da ignorância a respeito dele (2 Pe 1.9). Todo pecado cometido por
cristãos é consequência de eles pensarem erradamente a respeito de Deus. De fato,
se o cristão nunca pensasse nada errado a respeito de Deus, ele nunca pecaria.
Não é de admirar que o apóstolo Paulo nos conclame a levar cativo todo
entendimento à obediência de Cristo (2 Co 10.5). Qualquer pensamento nosso que não
passe por esse teste pode muito bem ser uma abertura para o ataque de Satanás
(At 5.2,3).
3.7 — Filhinhos, ninguém vos
engane. Evidentemente, os
anticristos que estavam negando a doutrina de Cristo (1 Jo 2.22) também
alegavam conhecer a Deus, mas ainda assim viviam na iniquidade (1 Jo 1.6). João
insiste em que negar a doutrina de Cristo é não ter Cristo (1 Jo 2,23) e que,
como Deus é justo (1 Jo 2.29) e Cristo é puro (1 Jo 3.3) e sem pecado (1 Jo
3.5), quem nasceu de Deus (1 Jo 2.29) possui a natureza de Deus e, como habita
em Cristo, não peca (1 Jo 3.6). Os verdadeiros cristãos praticam a justiça porque
Aquele em quem permanecem é justo. A justiça de Deus se manifesta nas atitudes
de Seus filhos. A conduta reta não produz um caráter justo, mas sim o revela em
nós.
3.8 — A natureza pecaminosa de Satanás evidencia-se
por meio da vida daqueles que lhe pertencem. O propósito da vinda de Jesus era
desfazer as obras do diabo. Aquele que comete o pecado, mesmo que seja cristão,
é do diabo no sentido de que participa da atividade do diabo (1 Jo 2.19).
Assim, João está indicando que é possível cristãos fazerem o que é do diabo (Mc
8.31-33; Tg 3.6).
3.9 — A semente que permanece é, provavelmente, a
natureza divina a qual os cristãos receberam ao serem gerados por Deus (2 Pe
1.4). Mas a semente tem sido interpretada também como uma alusão a Jesus, ao
Espírito Santo, às Escrituras ou ao evangelho. Em outras palavras, esse versículo
estaria dizendo que o hábito do pecado não combina com a identidade cristã.
3.10 — Os cristãos manifestam sua natureza regenerada
por meio da prática da justiça (1 Jo 2.7), ao passo que os filhos do diabo
demonstram sua natureza decaída pecando. Os cristãos que pecam não estão
expressando sua natureza como filhos de Deus; estão, isto sim, seguindo o
caminho do diabo.
3.11 — João identifica amar uns aos outros como
absolutamente básico a viver para Cristo e a fazer progredir o Seu Reino.
3.12 — Caim é identificado como filho espiritual do
diabo, já Abel é identificado como filho de Deus. O ato assassino de Caim foi a
epítome do ódio, e, portanto, proveio do maligno (1 Jo 3.8).
3.13 — Aqui, faz-se referência a 1 João 3:1. O mundo
é o sistema mundial maligno cujo povo reage aos cristãos justos como Caim
reagia a Abel (1 Jo 3.1; Jo 15.18-20).
3.14 — O amor pelos irmãos é a comprovação pela
experiência de que a pessoa passou do reino da morte para o reino da vida. O
tempo verbal assinala que algo vivido no passado — passamos da morte para a
vida — rende resultados contínuos e duradouros no presente — amamos os irmãos. Os
cristãos passam de forma permanente da morte para a vida na ocasião de sua
salvação, a qual é comprovada por nosso amor pelos irmãos. A salvação não é
resultado de nosso amor. A pessoa que odeia seu irmão habita na morte. Dito
isso, é importante perceber que garantir a salvação seria impossível caso se
baseasse apenas no amor de um cristão pelos outros. Assim, João está dizendo
que os cristãos que já tiveram a experiência da salvação de Cristo devem agora
demonstrar que estão salvos amando seus irmãos. Já vimos na epístola (1 Jo
1.8,10; 2.2) que ninguém vive sem pecar. Um juízo subjetivo como o de amar aos
irmãos nunca traria a segurança da vida eterna, porque como a pessoa teria
certeza, o tempo todo, de que cumpriu essa ordem? O que João ressalta nessa passagem,
portanto, é que a pessoa não pode viver a vida concedida por Deus se, ao mesmo
tempo, não estiver amando seus irmãos no Senhor; o tema aqui não é a posição da
pessoa em Cristo.
3.15 — Nenhum homicida tem permanente nele a vida
eterna. Quem não ama seu irmão em Cristo não está vivendo na luz, mas na
escuridão (1 Jo 2.11); não vive na vida, mas na morte (1 Jo 3.4); o que faz não
é de Deus, mas do diabo (1 Jo 3.8). A vida eterna não é permanente nesses
cristãos no sentido de que não é um fator dominante em sua vida.
3.16-23 — O amor demonstrado pelos irmãos e a
obediência aos desígnios divinos revelam uma boa relação com Deus. O homicídio
e o ódio tiram a vida; a caridade dá a vida a alguém. Jesus é o exemplo
supremo. Caim sacrificou seu irmão; Cristo sacrificou a si mesmo. O exemplo de
Cristo não deve ser apenas admirado, mas imitado (1 Jo 2.6).
3.16 — O amor de Deus se exprime por meio do
autossacrifício, não por meras palavras. Uma atitude vale muito mais do que
todas as promessas e discursos que fizermos. Em 1 João 3.14,15 o autor declarou
que precisamos amar os outros cristãos como amamos a nós mesmos. Aqui, porém,
ele dá um passo além, conclamando-nos a amar os irmãos mais do que nos amamos,
a estar dispostos a dar nossa vida pelos outros, assim como Cristo deu Sua vida
por nós.
3.17 — “Bens” significa sustento ou meios de vida.
Essa mesma palavra grega é traduzida como vida em 2.16. Refere-se aos objetos
materiais que sustentam a vida. Assim sendo, o irmão necessitado mencionado
aqui é o que precisa de comida, água e abrigo. O cristão dá sua vida (1 Jo
3.16) dando aquilo que sustenta parte dela e sustentará a vida de outros. A
seguir João usa uma pergunta retórica para transmitir que o amor altruísta
significa tanto partilhar bens materiais quanto morrer por alguém. Se uma
pessoa declara que ama seu irmão ou irmã em Cristo, mas suas atitudes desmentem
tal afirmativa, o amor de Deus habita nela? A resposta à pergunta é não. O amor
se dá a conhecer pelo seu fruto. Caridade de Deus. Não se trata, aqui, de o cristão
ser amado por Deus nem de nosso amor por Deus. A expressão provavelmente
refere-se ao amor de Deus que opera por meio das ações. Se o cristão não agir
com amor, é porque o amor de Deus não encontrou espaço nele.
3.18 — Amar de palavra é sentir amor e dizer palavras amáveis, mas não
chegar a demonstrar o amor com ações. Amar de língua é professar algo que a
pessoa absolutamente não possui. O oposto de amar de palavra é amar por obra, e
o oposto de amar de língua é amarem verdade, amar de coração e com atitudes.
3.19 — Podemos estar certos da presença da vida eterna
em nós quando demonstramos amor altruísta pelos outros. Os cristãos que
começarem a amar de verdade (1 Jo 3.18) saberão que seu amor se origina na
verdade e, sendo assim, terão confiança perante Deus (1 Jo 3.21). Portanto, o
amor tanto beneficia quem o oferece como quem o recebe. Da verdade significa
identificados com Ele, que é a Verdade. Diante dele remete a 1 João 2.28,29 e
refere-se ao comparecimento do cristão no tribunal de Cristo.
3.20-22 — O nosso coração nos condena quando reconhecemos
que não estamos à altura do amor ideal e nos sentimos inseguros ao falar com Deus.
Nossa consciência pode não registrar as atitudes amorosas que tomamos pelo
poder do Espírito Santo, mas Deus as registra, e Ele é maior que nosso coração.
Diferente de nossa consciência, Deus leva tudo em conta, inclusive o trabalho de
expiação feito por Cristo em nosso favor. As vezes, Deus é mais compassivo e
compreensivo para conosco do que nós mesmos.
3.23 — Neste contexto, a fé no nome de seu Filho Jesus
Cristo relaciona-se à oração (Jo 14.12- 15; 16.24, 1 Jo 5.5,13-15). Observe
que, apesar de crer ser suficiente para receber a vida eterna (Jo 20.30,31),
crer e amar uns aos outros é essencial para vivenciar os resultados dessa vida (1
Jo 3.19,22).
3.24—4.6 — A profissão ortodoxa da fé revela um
relacionamento vívido. A comunhão com Deus é evidenciada por aqueles que ouvem
os apóstolos, e não os falsos mestres.
3.24 — Nele está, e ele nele. Tais palavras exprimem
o fato de Jesus e o cristão habitarem um no outro mutuamente. O cristão está em
Cristo ao guardar os seus mandamentos. Cristo está no cristão obediente como um
morador que está em casa. Jesus falou dessa moradia do Espírito em João
15.4,5,7. Isso fica ainda mais evidente pela referência do Espírito que é dado
ao cristão (1 Jo 4.1-3). A prova de que a pessoa está salva é a obediência. (O
fundamento da salvação é a graça de Deus em Cristo, e o meio da salvação é a
fé, Ef 2.8,9.) Isso não significa que a pessoa não está redimida se julgarmos
que seus atos não estão de acordo com Cristo — mas somente que a obediência
indica que uma nova vida foi criada por Deus, e a desobediência provoca
questionamentos a respeito da presença ou não dessa nova vida. O assunto remete
às promessas do cenáculo, em João 14—16. Este versículo conecta o parágrafo à
seção anterior pelo emprego de Espírito, referência ao Espírito Santo,
opondo-se aos espíritos dos falsos mestres.