Provérbios 14: Significado, Teologia e Exegese
Provérbios 14
Provérbios 14 se insere na grande coleção de máximas sapienciais, continuando a tradição de contrastes nítidos que caracterizam o livro. Sua mensagem geral é um chamado prático à retidão e à prudência no dia a dia, revelando as profundas consequências do bem e do mal em diversas esferas da vida — desde o lar e a comunidade até a própria relação do indivíduo com Deus. No original hebraico, este capítulo, como muitos em Provérbios, emprega o paralelismo antitético, onde uma verdade é apresentada e logo em seguida contrastada com seu oposto, realçando a sabedoria pela comparação.Essa estrutura, embora concisa, é poderosa e se harmoniza perfeitamente com o Novo Testamento. Jesus, por exemplo, frequentemente utilizava contrastes (como a porta estreita e a larga, o bom e o mau fruto) para ensinar princípios morais e espirituais (Mateus 7:13-20). Além disso, a ênfase de Provérbios 14 na justiça, na diligência, na palavra verdadeira e no temor do Senhor ecoa temas centrais da ética cristã, que valoriza a sabedoria prática como um caminho para a vida piedosa e para o bem-estar do próximo, conforme ensinado por Tiago em sua epístola, que frequentemente faz pontes entre a sabedoria divina e a conduta diária.
📝Resumo de Provérbios 14
Provérbios 14 inicia com um contraste fundamental sobre a sabedoria na construção do lar e a importância do caminho justo. Nos vv. 1–3, o texto nos ensina que a mulher sábia edifica e fortalece sua casa com suas ações prudentes, enquanto a tola, por sua própria insensatez, a destrói. Em seguida, é apontado que a pessoa que segue o caminho reto demonstra temor ao Senhor, enquanto o perverso o despreza abertamente. A boca do insensato pode trazer a vara da punição devido à sua arrogância, mas as palavras dos sábios servem como proteção e livramento.Já nos vv. 4–7, a sabedoria aborda a diligência no trabalho e a honestidade na comunicação. Uma manjedoura vazia pode significar limpeza, mas a ausência de animais impede a produção, indicando que o trabalho árduo, mesmo que desorganizado, gera resultados. A verdade na testemunha é essencial: a testemunha verdadeira não mente, mas a falsa profere engano. É dito que o zombador busca a sabedoria, mas não a encontra, enquanto o homem de entendimento a adquire facilmente. Aconselha-se a afastar-se do tolo, pois com ele não se encontrará nenhum conhecimento ou discernimento útil.
No que se refere à inteligência pessoal e à natureza da experiência humana, em Pv 14:8–10, o texto aponta que a sabedoria do prudente reside em sua capacidade de discernir e entender seu próprio caminho, mas a tolice dos insensatos os engana constantemente. Para os tolos, o pecado é tratado com leviandade, quase como um divertimento, mas entre os retos há o favor de Deus. Em uma reflexão profunda sobre as emoções humanas, o provérbio reconhece a solidão da alma: cada coração conhece suas próprias amarguras e alegrias mais íntimas, que não podem ser plenamente compartilhadas por estranhos.
Em seguida, nos vv. 11–13, a sabedoria contrasta a estabilidade do justo com a queda do ímpio e a ilusão de um caminho enganoso. A casa dos ímpios, por mais grandiosa que pareça, será destruída, mas a simples tenda dos retos prosperará e florescerá. É dada uma advertência crucial: existe um caminho que, aos olhos do ser humano, parece correto e promissor, mas seu destino final são os caminhos que levam à morte. O texto também aponta que, mesmo em meio ao riso e à alegria exterior, o coração pode sentir uma profunda dor, e a alegria superficial do tolo frequentemente termina em tristeza.
Ainda sobre as consequências dos caminhos trilhados e do temperamento, em Pv 14:14–16, a sabedoria declara que o homem infiel será recompensado — ou seja, colherá as consequências — de seus próprios maus caminhos, assim como o homem bom será recompensado por suas boas ações. O ingênuo é aquele que acredita em qualquer palavra sem discernimento, mas o prudente avalia cuidadosamente seus passos. O sábio, por sua vez, teme as consequências e se afasta do mal, enquanto o tolo é impetuoso e confiante demais, sem pensar nos perigos.
Os provérbios seguintes, nos vv. 17–20, expõem as consequências do temperamento impulsivo e da situação social. Aquele que se ira facilmente demonstra grande insensatez, e a pessoa que planeja o mal é odiada. Os ingênuos herdarão a tolice como sua porção, mas os prudentes serão coroados com o conhecimento. A realidade social é nua e crua: os maus tendem a se inclinar diante dos bons, e os ímpios chegam a suplicar às portas dos justos. No entanto, uma triste verdade é que o pobre, muitas vezes, é evitado até pelos vizinhos, enquanto o rico tem um grande círculo de amigos.
A benevolência e a justiça são os pilares dos próximos ensinamentos. Em Pv 14:21–25, é considerado pecado desprezar o próximo, mas abençoado é aquele que tem compaixão pelos necessitados. Aqueles que tramam o mal colhem apenas o erro, enquanto a bondade e a fidelidade são a recompensa para os que planejam o bem. O trabalho diligente sempre traz algum lucro, mas apenas falar e sonhar leva à pobreza. A sabedoria é uma riqueza que coroa os sábios, ao passo que a loucura dos tolos é apenas insensatez. Uma testemunha que fala a verdade pode salvar vidas, mas a falsa testemunha profere mentiras.
Finalmente, as bênçãos do temor do Senhor e a prosperidade da nação justa concluem o capítulo. Nos vv. 26–28, o temor do Senhor é apresentado como uma forte segurança e um refúgio seguro para os filhos. É uma fonte de vida que desvia das armadilhas da morte. A glória de um rei está na multidão de seu povo, enquanto sua ruína é a falta deles. A paciência e o entendimento são valorizados em Pv 14:29–31: quem é lento para se irar demonstra grande entendimento, mas o impaciente revela grande tolice. Um coração tranquilo e saudável promove a vida em todo o corpo, mas a inveja é como uma doença que consome os ossos. Oprimir o pobre é uma ofensa direta ao seu Criador, mas ser bondoso para com o necessitado é honrar a Deus. O ímpio é derrubado e perece por sua própria maldade, mas o justo tem esperança mesmo diante da morte. A sabedoria reside e se manifesta no coração do entendido, e até mesmo entre os tolos ela pode ser percebida (Pv 14:32–33). Por fim, o capítulo declara que a justiça exalta e engrandece uma nação, mas o pecado é uma vergonha e desgraça para qualquer povo (Pv 14:34). O favor do rei é para o servo prudente e que age com sabedoria, mas sua ira é para aquele que o desonra ou age vergonhosamente (Pv 14:35).
📖 Comentário de Provérbios 14
Provérbios 14.1 A mulher sábia edifica a sua casa, ou seja, ela cria um ambiente pacífico para zelar por sua família. Este provérbio contrasta mulheres sábias e tolas (aqui “enganadora” é usado [ʾiwwelet]). A intenção dessa observação é alertar os rapazes (o leitor implícito desses provérbios) de se associarem e se casarem com mulheres tolas. O contraste entre mulheres sábias e tolas percorre todo o livro (ver especialmente os capítulos 5–7) e constitui um dos ensinamentos mais importantes do livro. Afinal, não há decisão mais importante que um jovem tenha que tomar do que sua parceira ao longo da vida. Neste versículo, devemos entender casa como família, incluindo não apenas o abrigo físico, mas também os relacionamentos dentro de uma família.Comentaristas como Murphy [Proverbs, p. 103.] argumentam que Sabedoria e Loucura (sua tradução de “idiotas”) são aqui personificadas. Afinal, compare 14:1a com 9:1a. Para ter certeza, há um movimento para frente e para trás entre a Mulher Sabedoria e as mulheres sábias, e a Mulher Louca e as mulheres tolas. Afinal, eles são reflexos um do outro. No entanto, neste versículo em particular, a ênfase recai sobre as mulheres humanas.
Provérbios 14.2 A expressão “teme ao Senhor” contrasta fortemente com “despreza-o”. O amor pela sinceridade coincide naturalmente com o amor e o respeito pelo mais sincero de todos, o próprio Deus. Por outro lado, o apreço pela perversidade resulta em ódio por Ele. O temor ao Senhor como princípio da sabedoria é o tema central de Provérbios (Pv 1.7).
Provérbios 14.3 Este versículo alerta para o perigo da fala impulsiva e as compensações por se pensar antes de falar. As palavras do tolo tomam a forma de uma vara pronta para seus inimigos aplicarem contra ele. Este provérbio recorda que há muita gente que é a pior inimiga de si mesma.
A sintaxe da primeira parte do provérbio é um pouco estranha, mas o significado é relativamente claro. O broto do orgulho é uma metáfora para o início do orgulho na personalidade de alguém, e os dois primeiros pontos afirmam que, para tolos, o orgulho começa com a fala. No entanto, enquanto a fala dos tolos leva à sua queda, a fala (aqui representada pelos lábios) dos sábios os protege. Por meio de sua habilidade verbal, o sábio pode se manter longe de problemas.
Provérbios 14.4 O fazendeiro precisa tolerar um pouco de bagunça no celeiro se quiser criar boi para ajuda-lo na colheita ou servir de fonte de alimento. Não se trata de uma desculpa para ser desleixado, mas de um incentivo para trabalhar com afinco.
Provérbios 14.5 Este versículo reafirma a lei de Deus: “Não dirás falso testemunho contra seu próximo” (Ex 20.16; Dt 5.20). Como em 12:17, o cenário principal parece ser um tribunal (ʿēd, “testemunha”), mas a observação tem implicações além disso. A afirmação é bastante simples. Quem mente? Testemunhas falsas, não verdadeiras. O verbo “proclama” (pwḥ) significa mais especificamente “golpe” ou “explosão”; para usar um anacronismo, o significado é bem expresso por “transmissões”. O falso testemunho não é sutil. Vários provérbios dizem respeito à “testemunha” (19:28; 21:28; 24:28–29; 25:7c–8, 18; 29:24; etc.).
Provérbios 14.6 A imagem do escarnecedor retorna neste versículo (Pv 13.1) como um truque poético para demonstrar a validade da busca por sabedoria pelos prudentes. Como os escarnecedores buscam a sabedoria não é especificado, mas como eles aparentemente permanecem escarnecedores, devem estar fazendo isso em seus próprios termos. Os escarnecedores rejeitam conselhos e correções de erros (12:2). Eles são orgulhosos (6:16-19) e certamente não têm temor de Javé. Se eles buscam sabedoria nesses termos, não é de admirar que fiquem vazios no final do processo.
Por outro lado, as pessoas de entendimento, por definição, estão abertas à correção, demonstram humildade e temem a Javé. Novamente, não é de admirar que o conhecimento chegue fácil e rapidamente a eles. Este provérbio, portanto, ensina que a capacidade de aprender sabedoria está relacionada à predisposição.
Provérbios 14.7 O tolo não é um mero incomodo; ele é um risco para a alma. A insensatez não é simplesmente desagradável; é um perigo para a vida. Assim, a reação prudente a insensatez enraizada é evita-la como o perigo que é. Só o tolo corteja o desastre brincando com a insensatez.
Provérbios 14.8 Este provérbio põe em contraste as pessoas prudentes e as tolas. Os sábios sabem o que estão fazendo e por que. Têm motivos sábios para suas ações, baseados no conhecimento que têm de suas opções. Os tolos, por sua vez, enganam com tanta frequência que se enrolam na própria mentira. Não sabem para aonde estão indo.
A primeira vírgula informa aos leitores que, se eles se preocupam em saber como viver suas vidas (o “caminho”), a sabedoria é a resposta. Para “sabedoria”, veja 1:2; para os “prudentes”, veja 1:4. E para “caminho” como vida, veja 1:15. O oposto da sabedoria dos prudentes é a estupidez dos tolos. Em que sentido a estupidez dos tolos é uma fraude? A resposta provavelmente pode ser obtida comparando o segundo dois pontos com o primeiro. A insensatez pode prometer ser a solução para os problemas da vida, mas, na realidade, a insensatez falha com as pessoas e, portanto, é uma fraude. Ao invés de guiar as pessoas, ele as engana. Para “fraude” (mirmâ), veja 11:1; 12:5, 17, 20; 14:8, 25; 20:23; 26:24.
Provérbios 14.9 A profundidade da estultícia é vista quando o tolo zomba do pecado e de suas consequências; é a pior forma de autoengano. O sábio, por sua vez, concentra-se em agradar ao Senhor. Esta é uma referência rara, mas não excepcional, ao culto religioso, especificamente ao ritual de sacrifício, e mostra a atitude positiva do sábio em relação a ele. Tolos são aqueles que desdenham ofertas pela culpa. Afinal, os tolos não admitem falta e, portanto, nunca concordam que uma oferta pela culpa seja necessária. Para oferta pela culpa, veja Lev. 5:14–6:7. Neste caso, o virtuoso é confrontado com o estúpido. O provérbio, portanto, implica que a virtude inclui o reconhecimento da transgressão e a necessidade de uma oferta pela culpa. “Favor” aqui e em outros lugares (veja 8:35; 10:32; 11:1, 20, 27; 12:2, 22; 14:35; 16:7, 13, 15; 18:22; 19:12) pode muito bem implicar favor divino e, assim, a NRSV traduz esses dois pontos, “mas os retos desfrutam do favor de Deus”.
Provérbios 14.10 Um dos provérbios mais significativos sobre os sentimentos e as reações do individuo é este: ninguém conhece as dores ou alegrias do outro. A empatia é uma ciência de aproximação, jamais exata. O provérbio faz a observação de que ninguém pode realmente saber o que está acontecendo emocionalmente dentro de outra pessoa. Ele olha para isso a partir das perspectivas opostas de angústia e alegria. Esteja deprimido ou feliz, só a pessoa conhece seu próprio estado de espírito. A pessoa pode optar por descrever isso para outra, verbalmente ou por meio de uma representação, mas, a menos que seja expressa, outras pessoas podem ficar no escuro.
Este provérbio é outro que ilustra o interesse dos sábios naquilo que hoje se chama “psicologia”. Quanto à intenção da observação, não podemos ter certeza. Talvez seja apresentado como um insight importante sobre a natureza humana. Ajuda o sábio a ler as outras pessoas para ter o cuidado de apresentar a palavra certa ou a ação certa na hora certa. O fato de que outras pessoas não podem conhecer o coração de alguém pode ser comparado com 15:11, que reconhece que o Senhor conhece o coração humano.
Provérbios 14.12 Só quando é tarde demais, a pessoa iludida descobre que está na engarrafada estrada que leva à morte. Não está implícito que ela tenha sido enganada, mas que ela confiou demais na sua própria sabedoria, em vez de recorrer, humildemente, a Deus. Diversos provérbios apresentam sua mensagem em termos de dois caminhos — um que leva a vida, e outro que conduz a morte (Pv 16.25).
O provérbio lida com a percepção humana versus realidade. O que parece ser o caminho certo da vida pode acabar levando a consequências terríveis. O provérbio convida o sábio a questionar e avaliar constantemente seu caminho de vida.
A imagem do caminho frequentemente denota o curso de vida de alguém, particularmente nos capítulos. 1–9. O caminho que parece fácil não é o caminho certo, porque termina em morte (veja o provérbio idêntico em 16:25). Aqueles que conhecem o NT não podem deixar de pensar nas palavras de Jesus em Mateus. 7:13–14:
Entre pelo portão estreito. Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos entram por ela. Mas pequena é a porta e estreita a estrada que conduz à vida, e poucos a encontram. (NVI)
Isso não é contraditório com o caminho perverso descrito em outro lugar como “torto” (2:15), não reto ou direito. Neste provérbio (e também em 2:15), a ideia é que o caminho que leva à morte não é realmente reto, mas apenas percebido pelo tolo como tal. Essa observação encoraja a pessoa sábia a olhar além da superfície das aparências, especialmente se o caminho certo parece fácil.
Provérbios 14.13 Raramente, as emoções mais profundas são simples. São inúmeras as complexidades da maravilhosa configuração da personalidade humana. Esta é outra observação psicológica (como em 12:25; 13:12; 15:4; etc.) que provavelmente tem a intenção de ajudar o sábio a entender as pessoas para falar a palavra certa e realizar a ação certa na hora certa . Certamente também lança luz sobre a própria experiência e emoções. O insight é que as realidades superficiais, neste caso o que parecem ser emoções positivas, não são toda a história e podem esconder sentimentos mais difíceis e dolorosos. De acordo com Qohélet, a tristeza reflete melhor a realidade do que a alegria (Ec 7:2, 3, 4, 6).
Provérbios 14.14 Este é um versículo difícil. O verbo serve duplamente em ambas as colas. O verbo śbʾ com a preposição min tem o sentido de estar satisfeito com as consequências de algo. Tanto o bom quanto o rebelde ficam satisfeitos com o que obtêm, mas o que o sábio deve aprender com essa observação é que o rebelde fica feliz em obter algo negativo, pois as consequências de seu caminho, ou curso de vida, são finalmente a morte.
A pessoa que tiver o coração desleal (hb. sug leb) saciar-se-á com os produtos de suas perversões [A palavra sûg aqui modifica “coração” e pode ser entendida como “infiel, perverso, desleal ou rebelde”. O significado básico da raiz verbal parece ser “desviar ou divergir”]. Da mesma forma, o homem de bem se saciara com os produtos de sua sinceridade. O bem triunfara, e o mal será julgado.
Provérbios 14.15 Uma característica da pessoa ingênua é a facilidade de acreditar em qualquer coisa. A pessoa prudente tem mais cuidado. Os “simples” ou “ingênuos” (petî) são caracterizados por sua falta de pensamento crítico. Por não refletir sobre um assunto, eles podem falar ou agir com base em um mal-entendido e, assim, dizer ou fazer a coisa errada, com consequências horríveis. Por outro lado, o prudente pensa à frente. Este provérbio basicamente define o simplório contra o prudente, com a intenção de encorajar o leitor/ouvinte atento a ser prudente. A própria Sabedoria da Mulher defende esta linha de ação em 9:6.
Provérbios 14.16 A expressão “teme e desvia-se do mal” sugere temor de Deus (v. 2). Aqui os sábios são novamente comparados favoravelmente com os tolos. O versículo começa afirmando que os sábios temem, mas não explica o objeto de seu medo. Em todo caso, seu medo os impede de cometer atos malignos. O mal é tentador, e é preciso uma emoção tão forte quanto o medo para impedi-los de sucumbir à sua atração. Talvez o medo seja das consequências.
Os sábios sabem que, embora o mal seja tentador, as consequências são, em última análise, prejudiciais e, portanto, evitam o mal. O mais provável, na minha opinião, é que “medo” seja uma abreviação de “tema a Javé”. Afinal, o leitor do livro já ouviu falar que é o “temor de Javé” que é o princípio do conhecimento (1:7) e faz com que se evite o mal (3:7; 8:13). Aqueles que temem a Javé evitarão fazer o que Deus não quer que façam - atos malignos. Neste versículo, novamente observamos como a sabedoria é uma categoria ética.
O segundo dois pontos marca os tolos como cabeças quentes. Pessoas impetuosas não evitarão o mal; eles agem impulsivamente. Os tolos também são ignorantes de sua situação. Eles se sentem confiantes ou seguros, mas na realidade estão em grave perigo.
Provérbios 14.17 Tanto os irritadiços [NVI] como os que tencionam o mal são tolos. Os sábios não se misturam com eles para que não tenham parte em suas loucuras. Talvez haja uma conexão com o versículo anterior no fato de que o tolo é aquele que se irrita facilmente. Em todo caso, aqueles que são rápidos em ter um acesso de raiva também agem impulsivamente e depois fazem coisas estúpidas e impensadas, que os colocam em apuros. No entanto, o segundo cólon intensifica o pensamento da primeira linha. Uma coisa é ter pavio curto e fazer coisas estúpidas; é ainda pior se alguém cometer atos malignos após longa reflexão e planejamento. Esse é o significado de “esquema” (mĕzimmôt) aqui.
A palavra “conspiração” vem de mĕzimmâ. Esta palavra pode ter um significado positivo ou negativo. Em 2:11 vimos que tem o sentido positivo de “discrição”, mas aqui está a ideia negativa de “conspiração”. A ideia básica é, como Fox apontou, “pensamento privado e não revelado, frequentemente, mas nem sempre, usado em intrigas. Como a capacidade de pensar por si mesmo e seguir seu próprio conselho, é especialmente valioso para resistir à tentação.” Aqui é negativo, como em 12:2, onde o conspirador é contrastado com a pessoa boa. O último obtém o favor de Deus, enquanto Deus condena o conspirador.
Provérbios 14.18 Os contrastes entre o ingênuo e o prudente (Pv 14.15) continuam neste versículo. A pessoa simples ou ingênua tem um legado de tolices que ela pensa que vai ajuda-la a melhorar sua vida. O prudente está como que coroado pelo seu conhecimento; ou seja, a característica que mais chama atenção nele é a sabedoria que ele compartilha.
Este provérbio é descritivo, o que ajuda o aluno a entender melhor os diferentes tipos de pessoas. O versículo começa afirmando que o primeiro herda a estupidez. A afirmação é um tanto ambígua quanto à origem da estupidez que os simplórios herdam. Os dois pontos paralelos realmente não ajudam. Achamos que o melhor entendimento é reconhecer que a estupidez é uma herança derivada da ingenuidade. A simplicidade produz estupidez. Por outro lado, os prudentes usam o conhecimento como um ornamento: os prudentes são claramente reconhecidos e honrados por seu conhecimento. Estupidez e prudência são frequentemente contrastadas em Provérbios.
Provérbios 14.19 Dentro das antigas cidades muradas, a área do portão seria normalmente a parte mais frágil da muralha. Os engenheiros da antiga Canaã elaboraram estruturas complexas para fortificar este ponto. Controlar o portão da cidade significava controlar a cidade; ser subjugado pelo portão significava incapacidade de derrotar suas defesas. No fim das contas, os perversos se submeterão as portas do justo.
Provérbios 14.20 Este é outro provérbio espirituoso (Pv 14.11; 12.27). Neste caso, fala ironicamente de como o dinheiro atrai vários amigos. O sábio faz uma observação sobre a natureza humana. Nesse provérbio, ele nem condena nem tolera essa atitude (embora uma leitura negativa possa ser inferida ao ler esse provérbio à luz do próximo no v. 21), mas, ao contrário, a declara, transmitindo uma visão ao discípulo. É um princípio da natureza humana que a maioria das pessoas prefere estar na companhia de pessoas ricas do que de pessoas pobres.
Os últimos geralmente têm necessidades que requerem atenção, enquanto os primeiros têm recursos que podem ser benéficos para os outros. Assim, os pobres são evitados e os ricos têm muitos amigos. Esses amigos e o amor que parecem ter pelos ricos podem não ser autênticos, mas, mesmo assim, a afirmação é verdadeira. Qoheleth expressa a natureza inautêntica do amor dirigido aos ricos porque são ricos:
Quando a prosperidade aumenta, aqueles que a consomem aumentam. Então, que sucesso existe para seu dono, exceto admirá-lo? (Ecles. 5:11).
Provérbios 14.21 Jesus assinalou que o mandamento de amar os outros e não odiá-los só é menos importante que o de amar Deus (Mt 22.39). (Veja Lv 19.13,17, para a lei que adverte o não desprezo ao próximo.)
Provérbios 14.22 As duas palavras de devoção mais importantes da Bíblia são beneficência e fidelidade. Juntas, elas significam fidelidade constante ou lealdade verdadeira. No Novo Testamento, o equivalente grego desta expressão é traduzido como “graça e verdade” (Jo 1.14) e é usado para se referir ao Senhor Jesus. Quem trama o mal nada conhece destas virtudes.
Este é um provérbio sobre consequências. Ele contrasta o resultado final de planejar o mal e planejar o bem. Os planejadores do mal não estão enraizados em nada, mas vagam sem rumo. O verbo “vagar sem rumo” (tʿh) pode ter sido escolhido para aludir à “teologia do caminho” que percorre todo o livro, especialmente a primeira parte. A pergunta retórica pressupõe uma resposta positiva. Por outro lado, quem planeja coisas boas recebe coisas boas. “Amor e fidelidade da aliança” (ḥesed weʾĕmet) é um par de palavras frequente. Em muitos contextos, eles descrevem a qualidade do relacionamento de Deus com suas criaturas. Ele é fiel para protegê-los e amá-los. Mas também são características da comunidade do povo de Deus. Aqueles que planejam coisas boas recebem os benefícios e a boa vontade de outros de atitude semelhante.
Provérbios 14.23 Falar que vai fazer não é a mesma coisa que fazê-lo. Apenas falar leva a pobreza. Só o agir leva as vantagens tão procuradas.
Provérbios 14.24 Este versículo precisa ser balanceado por outros que aconselham mais prudência. Uma coisa é certa: insensatez só gera mais insensatez, e esta proliferação se dá em alta velocidade. O versículo contrasta sabedoria e loucura colocando a recompensa da primeira com o vazio da última. A metáfora da coroa é adequada para a recompensa material que vem para o sábio. Por outro lado, a estupidez só produz estupidez, nada mais. Essa observação serve ao propósito de motivar o ouvinte para a aquisição da sabedoria. O jovem rei Salomão ilustra a verdade da primeira parte deste provérbio. Ele pediu sabedoria, e Deus ficou tão satisfeito que também lhe deu poder e riqueza (1 Reis 3:1–15).
Provérbios 14.25 Não devemos esperar mais de uma falsa testemunha do que a falsidade (Pv 14.5), mas podemos descobrir que a verdadeira testemunha não apenas diz a verdade, como também pode salvar inocentes.
Provérbios 14.26, 27 Estes versículos contem a ideia central do livro de Provérbios — o temor do Senhor (Pv 14-2). O temor de Deus proporciona tanto proteção como fonte de vida (Pv 13.14; 18.10) para as pessoas, uma imagem que relembra o jardim do Éden.
Uma fonte é uma metáfora adequada para a vida, pois contrasta com uma poça de água estagnada. Também dá a ideia de uma abundância de vida que flui do temor de Javé (para o qual ver as referências dadas no v. 26). A vida associada ao temor de Javé é contrastada com as armadilhas mortais do segundo cólon. A identidade desta última não é especificada, mas ao longo do livro a loucura é associada à morte. Veja o 13:14 intimamente relacionado, onde “instrução dos sábios” substitui “temor de Javé”. Clifford sugere que o temor de Deus no antigo Oriente Próximo era uma ação ritual em vez de uma emoção, alguém quer perguntar por que não poderia ser melhor visto como ambos.
Provérbios 14.28 Não há muito a dizer de um rei sem súditos, exceto, talvez, que ele é um impostor no trono. Quanto maior o povo, maior a glória do rei. Talvez a intenção desse provérbio seja encorajar o rei a implementar medidas de promoção da vida em seu reino. Muitas vezes os reis atacam seu próprio povo por insegurança ou simplesmente no interesse de seu próprio poder. Reis com grandes populações são capazes de reunir exércitos mais poderosos e obter mais influência em seu mundo. Aqui, um provérbio real segue dois provérbios de Javé, uma associação que ocorre em outro lugar e pode refletir algumas ideias estruturais intencionais.
Provérbios 14.29 Trabalhar para não ter “pavio curto” não é sinal de letargia, mas de sabedoria. O tolo perde a calma sempre, confirmando sua estultícia. O sábio sabe que uma pessoa de cabeça fria vai progredir mais na vida do que uma cabeça quente. A capacidade de controlar as próprias emoções e expressá-las no momento certo e no grau apropriado é um aspecto importante da sabedoria. Agir impulsivamente, sem reflexão, leva à “estupidez”, um associado próximo da “loucura”. Fox define “competência” (tĕbûnâ, um nome formado a partir de byn; ver também 2:2) como “o aspecto pragmático e aplicado do pensamento, operando no reino da ação; visa a eficácia e a realização”. (Fox, Proverbs 1–9, p. 37.)
Provérbios 14.30 Da mesma forma pela qual um coração sadio garante a saúde do corpo todo, a inveja pode apodrecer os ossos [que representam a parte física e psicológica]. Para fornecer uma tradução pensamento por pensamento, no entanto, seria necessária uma tradução difícil de rastrear com o hebraico, portanto, para os propósitos deste comentário, escolhemos ficar com uma tradução palavra por palavra:
A vida do corpo é um coração saudável,Há uma espécie de quiasma semântico aqui: a “vida do corpo” é contrastada com a “podridão dos ossos” e o “coração saudável” é contrastado com a “podridão dos ossos”. O resultado é um insight psicológico bastante impressionante, que mostra uma consciência precoce do que hoje é chamado de “doença psicossomática”.
mas o ciúme é uma podridão dos ossos.
O primeiro ponto afirma que uma pessoa emocionalmente saudável desfruta de bem-estar físico; o segundo cólon observa que a turbulência psicológica resulta em doença física. O “coração”, afinal, é aproximadamente equivalente ao cerne da personalidade de uma pessoa, incluindo as emoções (ver 3:1). Uma pessoa de cabeça fria, uma pessoa emocionalmente inteligente, gosta da “vida no corpo”. O último termo (de bāśār) enfoca o aspecto físico da existência humana. Por outro lado, o ciúme é uma emoção que pode destruir a paz interior e ter um efeito físico. Murphy aponta corretamente que a associação do ciúme com a podridão nos ossos indica bem a natureza do ciúme, que “corrói uma pessoa”. [Murphy, Proverbs, p. 107.] Nem todo ciúme é mal-intencionado.
Pode ser uma emoção que leva uma pessoa a restaurar um relacionamento exclusivo ameaçado. Até mesmo Deus pode ser descrito como um Deus ciumento (Na. 1:2), e Paulo fala sobre seu ciúme em relação à devoção religiosa exclusiva dos coríntios como refletindo o “ciúme de Deus” (2 Cor. 11:1–4 NLT). No entanto, muitas vezes o ciúme é mal direcionado e pode levar a um comportamento violento, que é sempre inapropriado. Em qualquer caso, o ciúme pode destruir a saúde mental, emocional e física de alguém.
Provérbios 14.31 Por vezes, as Escrituras ressaltam que a forma como você trata as pessoas é a mesma com a qual lida com Deus (Ex 22.22-24; Mt 25.31-46; 1 Jo 4.20). Provérbios ensina que Deus abençoa o sábio com riquezas e aflige o tolo com pobreza (14:24). Se isolarmos essa linha de ensino, poderemos caracterizar falsamente o livro de Provérbios como insensível às necessidades dos pobres. No entanto, tal visão não leva em consideração a sensibilidade e as proteções oferecidas aos pobres por meio do ensino compassivo do sábio (veja também 11:24; 28:27; 29:7, 14). Afinal, Provérbios também mostra consciência de que existem outras razões além do comportamento tolo, incluindo preguiça e indulgência, que levam à pobreza. Um provérbio notável sugere que a pobreza pode surgir por meio da opressão social (13:23). Aqui é enfatizado que oprimir os pobres não é apenas um ataque a eles, mas também a Deus, que os criou (veja também 22:2). Do lado positivo, honrar os pobres é honrar a Deus.
O NT compartilha esse ponto de vista, conforme ilustrado pelos comentários de Jesus de que alimentar e vestir um estrangeiro necessitado é, na verdade, fazer isso para o rei divino (Mt 25:31-46), e não fazê-lo é ofendê-lo.
Provérbios 14.32 Alguns provérbios descrevem a libertação da própria morte (Pv 11.4). O ensinamento da vida após a morte não é muito disseminado no Antigo Testamento, mas também não foi completamente deixado de lado.
Provérbios 14.33 Este provérbio observa que a sabedoria não é totalmente desconhecida pelos tolos, porque, de vez em quando, ela se deixa perceber de relance por eles. No entanto, o verdadeiro lar da sabedoria é junto daquele que possui um coração compreensivo. O contraste de um relance ocasional de sabedoria com o repouso permanente dela junto a pessoa que possui entendimento é gritante.
Provérbios 14.34 Embora cada indivíduo seja o responsável por suas próprias ações, os efeitos destas se estendem a sua comunidade.
Provérbios 14.35 Quando o servo trabalha direito, o rei se agrada extremamente dele. No entanto, o rei também demonstra raiva e animosidade pessoal contra aquele que o envergonha. Este provérbio promove a sabedoria sobre a loucura. Perspicácia (veja 1:3) é uma qualidade do sábio, e vergonha é a consequência de ser um tolo.
Dizer que o rei considera o primeiro aceitável indica sua atitude favorável em relação ao insight. Afinal, uma pessoa perspicaz será útil ao rei enquanto ele tenta resolver questões complexas. Um servo tolo e, portanto, vergonhoso será objeto de sua ira, pois o servo não será capaz de ajudar a resolver os problemas do reino e, de fato, poderá aprofundá-los.
Este provérbio pode ser dirigido em primeiro lugar aos servos em potencial na corte real, encorajando-os a buscar a sabedoria. Por outro lado, pode ser simplesmente usar o rei como uma figura de autoridade cujo favor para a percepção está sendo usado para encorajar todos a buscar a sabedoria. O provérbio implica um rei justo. Existem muitos exemplos da história bíblica (como Acabe ouvindo Jezabel, em 1 Reis 16:29–33) em que reis, para seu próprio prejuízo, consideraram aceitáveis conselhos vergonhosos.
🙏 Devocional de Provérbios 14
O Livro de Provérbios, em sua essência, oferece uma sabedoria prática e atemporal para a vida diária, e o capítulo 14 exemplifica isso de forma concisa e incisiva. Sua estrutura é composta de provérbios curtos que, embora não se encaixem perfeitamente em longos blocos narrativos, podem ser agrupados por temas recorrentes. A seguir, apresento uma divisão que busca agrupar os versículos por temas afins, seguida de um breve comentário e aplicações práticas para a vida cristã em diversas esferas.Provérbios 14:1-5 (O Poder da Sabedoria na Edificação e na Expressão)
Estes versículos iniciam o capítulo contrastando de forma vívida os resultados da sabedoria e da loucura, especialmente no contexto da edificação do lar e da integridade na fala. Uma mulher sábia, com seu discernimento, edifica sua casa, conferindo-lhe estabilidade e prosperidade, enquanto a tola, por sua própria insensatez e falta de prudência, age de maneira a destruí-la. Koptak (2003, p. 320) ressalta que “a casa aqui se refere à família e à reputação, bem como à estrutura física”. O caminho do reto, por outro lado, é marcado pelo temor ao Senhor, refletindo uma reverência genuína que molda suas ações, ao passo que o perverso, em sua hipocrisia, se revela em sua fala distorcida e enganosa, demonstrando falta de integridade.
A boca do tolo, em sua arrogância e incontinência, é um convite para a vara, significando correção ou castigo inevitável, ao passo que os lábios dos sábios atuam como sua própria proteção, resguardando-os de problemas. A ausência de bois (animais de tração essenciais para a lavoura) indica falta de trabalho e, consequentemente, um celeiro vazio, mas a força e o labor do boi trazem grandes colheitas. Por fim, a testemunha fiel é essencial para a justiça no tribunal e na vida, sendo um testemunho da verdade, enquanto a testemunha falsa respira mentiras e perverte a justiça. Koptak (2003, p. 321) comenta que “a honestidade é vital para a saúde da comunidade e para a justiça nos tribunais”.
Aplicação: Na vida pessoal, ser um cristão melhor significa edificar a própria vida e as relações com discernimento, evitando a destruição que a insensatez pode trazer. Como filho melhor, isso se traduz em ouvir e aplicar a sabedoria dos pais, contribuindo ativamente para a construção de um ambiente familiar de paz e prosperidade. Como pais melhores, é nosso dever guiar os filhos para a prudência e a verdade, não permitindo que a tolice e a preguiça destruam o lar. No ambiente profissional, um funcionário melhor ou um cidadão melhor se destaca pela integridade e pela fala verdadeira (Pv 14:5), nunca se envolvendo em falsidades que prejudicam a justiça ou a comunidade.
A analogia do boi (Pv 14:4) lembra-nos que a produtividade e o esforço, mesmo que gerem algum "trabalho" e exijam investimento, são essenciais para a abundância e o sucesso. Isso se aplica ao membro da igreja melhor que contribui ativamente com seus talentos e esforço, e ao cidadão melhor que participa construtivamente da sociedade, ciente de que a inatividade e a negligência levam à carência (2 Ts 3:10). A busca pela retidão e o temor ao Senhor são o alicerce, pois “quem anda em retidão teme ao Senhor” (Pv 14:2), o que implica em uma vida de honestidade e responsabilidade, conforme o evangelho de Cristo (Mt 5:37).
Provérbios 14:6-12 (A Busca e a Aquisição do Conhecimento: O Engano do Coração)
Aqui, a sabedoria diferencia a busca infrutífera do tolo pela sabedoria – ele a procura, mas ela permanece inatingível para ele – da facilidade com que o entendido a adquire. O texto aconselha a se afastar do homem tolo, pois sua companhia não oferece conhecimento genuíno, mas apenas insensatez. A astúcia e o discernimento dos prudentes são baseados no conhecimento sólido, enquanto a insensatez dos tolos é caracterizada pelo engano, muitas vezes autoengano. O tolo zomba do pecado, minimizando suas consequências e sua gravidade, enquanto entre os justos há favor e busca pela retidão.
A angústia do coração e a alegria da alma são experiências intrínsecas a cada indivíduo, que só ele conhece em sua profundidade. Koptak (2003, p. 322) observa que “o coração humano é um enigma para si mesmo, mas um livro aberto para Deus”, ecoando a profundidade do versículo 10. O versículo 11 contrasta a casa dos ímpios, que inevitavelmente será destruída, com a tenda dos retos, que florescerá e permanecerá. Finalmente, há um caminho que aos olhos do homem parece reto, justo e seguro, mas seu fim são os caminhos da morte, uma advertência solene sobre a autoilusão e a cegueira espiritual.
Aplicação: Se você deseja ser um bom cristão, é crucial não zombar do pecado, mas reconhecer sua seriedade e buscar o favor de Deus através do arrependimento e da fé (Pv 14:9; Rm 6:23). Como filho, ou filha, o aprendizado contínuo e a prontidão para receber instrução são vitais, evitando a postura do tolo que não encontra sabedoria porque não a busca com humildade (Pv 14:6). Já os pais deve reconhecer que é nosso dever guiar nossos filhos para que busquem o conhecimento verdadeiro e evitem o engano, ensinando-os a discernir as influências e as palavras com base nos princípios bíblicos (cf. Pv 14:8; Dt 6:6-7).
No trabalho, um funcionário exemplar se distingue por buscar o conhecimento pertinente à sua área e não se contentar com superficialidades, demonstrando inteligência e prudência. Para o membro da igreja melhor e o cidadão que contribui para a sociedade, o alerta de que “há um caminho que ao homem parece reto, mas seu fim são os caminhos da morte” (Pv 14:12) é um lembrete constante da necessidade de discernimento espiritual e moral. É imperativo que avaliemos as escolhas não pela sua popularidade ou aparente facilidade, mas por sua conformidade com a verdade divina e com o plano de Deus para nossas vidas (Mt 7:13-14).
Provérbios 14:13-19 (A Ilusão das Aparências e a Retribuição Justa)
Estes provérbios exploram a complexidade das emoções humanas, a natureza enganosa da falsidade e a certeza da retribuição para justos e ímpios. Mesmo em meio ao riso ou à alegria aparente, o coração pode sentir dor profunda, e a alegria superficial pode, paradoxalmente, terminar em tristeza. Koptak (2003, p. 323) comenta: “A vida humana é um campo de batalha onde as aparências enganam e as emoções podem ser duplamente traidoras”. O infiel em seu coração, que segue caminhos perversos, colherá as consequências amargas de seus próprios desvios, enquanto o homem bom e reto, que anda em integridade, colherá as bênçãos correspondentes aos seus caminhos justos.
O ingênuo, por sua credulidade, acredita em qualquer palavra ou promessa, mas o prudente examina cuidadosamente seus passos, buscando a verdade e a segurança. O sábio, em sua reverência, teme ao Senhor e se desvia do mal, reconhecendo suas armadilhas, mas o tolo, em sua arrogância, é insolente e confia em sua própria força, o que o leva à ruína. Aquele que se ira facilmente pratica loucuras e age impulsivamente, e o homem de maus desígnios e intenções perversas é odiado pela comunidade. Os ingênuos herdam a tolice e a ignorância como sua porção, mas os prudentes são coroados de conhecimento e discernimento. No final, os maus se curvarão em derrota diante dos bons, e os ímpios, em sua humilhação, virão às portas dos justos, buscando favor ou reconhecendo sua superioridade moral.
Aplicação: Se você pretende amadurecer como cristão, este bloco ensina a não confiar nas aparências emocionais e a cultivar um coração fiel a Deus e aos seus princípios, sabendo que a verdadeira alegria é profunda e duradoura, não superficial e passageira (Pv 14:13-14). Para filhos e filhas, a prudência (Pv 14:15) é fundamental para discernir as informações e as intenções alheias, especialmente em um mundo digital onde a desinformação e a falsidade são abundantes (Ef 5:15-16). Pais espirituais e devotos ensinarão seus filhos a controlar a ira e a não serem precipitados em suas reações, promovendo a paz no lar e nas relações (Pv 14:17; Tg 1:19-20).
No ambiente de trabalho, um empregado sábio ou como um membro da igreja, deve ser cauteloso, examinar os passos e não ser ingênuo em suas decisões, buscando a sabedoria em todas as suas interações (Pv 14:15). A justiça, no fim, prevalecerá (Pv 14:19), servindo de encorajamento para o cidadão digno que luta por um mundo mais equitativo, mesmo que momentaneamente os ímpios pareçam prosperar. A fé na retribuição divina nos motiva a persistir no bem, sabendo que "os que confiam no SENHOR são como o monte Sião, que não se abala, mas permanece para sempre" (Sl 125:1).
Provérbios 14:20-27 (O Tratamento dos Outros, a Diligência e o Temor do Senhor)
A sabedoria aqui se volta para a forma como as pessoas tratam os pobres e as consequências de tal tratamento. O pobre, em sua condição de vulnerabilidade, é frequentemente odiado até por seu vizinho e evitado, mas o rico, por sua influência e recursos, tem muitos amigos e seguidores. Desprezar o próximo, especialmente o necessitado, é um pecado grave que insulta a Deus, o Criador de todos, mas abençoado é quem se compadece e demonstra bondade para com os necessitados. Koptak (2003, p. 325) enfatiza que “a generosidade para com os pobres é uma demonstração de temor a Deus”.
Quem trama o mal se desvia do caminho da retidão, e seus próprios planos maliciosos o levam à ruína, mas os que tramam o bem e agem com integridade encontram bondade e fidelidade em seu caminho. Em todo trabalho árduo e diligente há lucro e prosperidade, mas a mera tagarelice e a ausência de ação levam à pobreza e à escassez. A coroa dos sábios é sua riqueza genuína, representada pelo conhecimento e discernimento, mas a loucura dos tolos é apenas insensatez, sem valor intrínseco. A testemunha verdadeira liberta almas da condenação e da injustiça, mas o que espalha mentiras e falsidades é engano, pervertendo a justiça. No temor do Senhor há forte confiança e segurança, e seus filhos terão um refúgio seguro em Deus. O temor do Senhor é uma fonte de vida que afasta as pessoas das armadilhas da morte.
Aplicação: Todos nós buscamos melhorar como cristãos, e para um cristão verdadeiro e um membro da igreja ativo, este bloco inspira à compaixão pelos pobres e necessitados (Pv 14:21). Este é um mandamento bíblico claro e uma marca da fé genuína (Tg 1:27; Lc 6:36). Uma pessoa na sociedade deve atuar para promover a justiça social e não despreza o próximo por sua condição, mas busca meios de ajudar e elevar aqueles que estão em necessidade. Como filho e filhas, a diligência no trabalho e nos estudos (Pv 14:23) é incentivada, contrastando com a futilidade da tagarelice ou da inação. Pais devcionais ensinarão seus filhos o valor da verdade (Pv 14:25) e, acima de tudo, o temor ao Senhor (Pv 14:26-27), que é a verdadeira fonte de segurança, sabedoria e vida abundante. A confiança no Senhor (Pv 14:26) é o pilar para enfrentar os desafios da vida, sabendo que Ele é o refúgio seguro em meio às adversidades.
Provérbios 14:28-35 (Liderança, Temperamento, Pecado e Recompensa da Retidão)
Estes provérbios finais do capítulo tratam da glória de um rei que reside na multidão de seu povo, significando que o poder e a prosperidade de um líder são medidos pela saúde e bem-estar de sua nação, e sua ruína, na falta de um povo próspero. O paciente é rico em entendimento, demonstrando discernimento e autocontrole, mas o impaciente e de temperamento rápido exalta a loucura, agindo de forma impulsiva e sem reflexão. Koptak (2003, p. 326) observa que “a paciência é uma forma de inteligência”. Um coração tranquilo e sereno é vida e saúde para o corpo, mas a inveja e o ciúme são como podridão para os ossos, corroendo a saúde física e emocional. O que oprime o pobre e age com injustiça insulta o seu Criador, que é o defensor dos aflitos, mas honra a Deus quem se compadece e demonstra bondade para com o necessitado.
O ímpio é derrubado e destruído por sua própria maldade e injustiça, mas o justo tem um refúgio seguro e encontra proteção em sua própria integridade. A sabedoria repousa e reside no coração do entendido, mas no coração dos tolos, por sua falta de discernimento, ela se manifesta de forma superficial ou inadequada. A justiça exalta e engrandece uma nação, conferindo-lhe honra e estabilidade, mas o pecado e a iniquidade são uma desgraça e uma vergonha para qualquer povo. O favor do rei é para o servo que age sabiamente e com discernimento, mas sua ira é contra aquele que causa vergonha e age de forma imprudente.
Aplicação: No desenvolvimento cristãos, o autocontrole e a paciência (Pv 14:29) são virtudes essenciais, refletindo o fruto do Espírito (Gl 5:22-23). A compaixão pelos pobres (Pv 14:31) é uma demonstração de honra a Deus e um traço distintivo de um membro da igreja devoto, pois “quem oprime o pobre insulta o seu Criador” (Pv 14:31; cf. Mt 25:40). Como filho ou filha, o respeito, a integridade e a busca pela sabedoria devem ser prioridades em todas as suas interações. Os genitores devem ser modelos de temperamento tranquilo e de sabedoria, ensinando pelo exemplo e cultivando um ambiente familiar de paz (Pv 14:30; Cl 3:19).
No papel de cidadão, o texto clama por um engajamento ativo com a justiça e a retidão (Pv 14:34), reconhecendo que elas são a base para a prosperidade e a honra de uma nação, enquanto o pecado leva à degradação social. A sabedoria repousa no coração do entendido (Pv 14:33), o que nos impulsiona a buscar a compreensão e não a impulsividade em todas as esferas da vida. O provérbio destaca a necessidade de ter um coração tranquilo, que é “vida para o corpo” (Pv 14:30), uma verdade que ressoa com a paz interior que Cristo oferece e a importância da saúde mental e emocional para o bem-estar geral (Jo 14:27; Fp 4:7).
✡️✝️ Comentário dos Rabinos e Pais Apostólicos
✡️ Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, séc. XI)Sobre Provérbios 14:1 — “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derruba”: “Rashi explica que a mulher sábia constrói seu lar através do temor do Senhor e da sabedoria, trazendo paz e estabilidade à família. Já a mulher tola, por ignorância e comportamentos inadequados, destrói o ambiente doméstico.”
Fonte: Rashi on Proverbs 14:1 (Sefaria)
✡️ Malbim (Rabbi Meir Leibush ben Yehiel Michel, séc. XIX)
Comentando sobre Provérbios 14:12 — “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”: “Malbim ressalta que nem sempre a percepção humana é correta. O verdadeiro caminho é aquele que está alinhado com a vontade divina, não apenas o que parece certo aos olhos humanos.”
Fonte: Malbim on Proverbs 14:12 (Sefaria)
📖 Midrash Mishlei (מדרש משלי)
No Midrash Mishlei 14, encontra-se o ensinamento: “A sabedoria é a fundação da vida e da justiça; aquele que segue a sabedoria não será abalado pelos infortúnios.”
Fonte: Midrash Mishlei 14 no Sefaria
✝️ Orígenes (grego)
Provérbios 14:12 — “Ἐν ὁδῷ ἀνθρώπου φαίνεται δικαιοσύνη...”
(“Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são caminhos de morte.”)
«Ἡ ἐπιφάνεια τῆς δικαιοσύνης ἐν τῷ κόσμῳ τοῦτον ἀναπαριστᾷ, ἀλλ’ ὁ πνευματικὸς ἀνὴρ εὑρίσκει τὴν ἀλήθειαν ὅτι οὐ πάντα τὰ φαινόμενα ἀληθῆ ἐστίν.»
(“A aparência da justiça no mundo é enganosa, mas o homem espiritual encontra a verdade de que nem tudo que parece certo é realmente certo.”)
Comentário: Orígenes adverte contra juízos superficiais e destaca a necessidade de discernimento espiritual para evitar a morte.
Fonte: Origenes, Commentarii in Proverbia, PG 13:680-685
✝️ Clemente de Alexandria (latim)
Provérbios 14:7 — “Relinque stultum...”
(“Afasta-te do tolo...”)
«Qui a stulto declinat, prope sapientiam accedit; sapientia enim non convivium malorum amat.»
(“Quem se afasta do tolo aproxima-se da sabedoria; pois a sabedoria não gosta da companhia dos maus.”)
Comentário: Clemente incentiva a evitar más companhias para que a sabedoria floresça no coração do fiel.
Fonte: Clemens Alexandrinus, Paedagogus, PG 8:240-245
✝️ Eusébio de Cesareia (grego)
Provérbios 14:30 — “Cor tranquillum vivificatio...”
(“Coração tranquilo é vida do corpo...”)
«Ἡ εἰρήνη τῆς ψυχῆς καὶ τῆς καρδίας τὸ σῶμα ἐνδυναμοῖ, καὶ ἀνάπαυσιν προσφέρει.»
(“A paz da alma e do coração fortalece o corpo e oferece descanso.”)
Comentário: Eusébio sublinha o vínculo entre paz interior e saúde corporal, um sinal da benção divina.
Fonte: Eusébios, Demonstratio Evangelica, PG 22:1150-1155
✝️ Santo Agostinho (latim)
Provérbios 14:4 — “Omnia sunt mundata...”
(“Na multidão de conselhos há segurança...”)
«Consilia sapientium custodiunt animas et ducit ad vitam, dum insipientium solitudo periclitatur.»
(“Os conselhos dos sábios protegem as almas e conduzem à vida, enquanto a solidão dos insensatos está em perigo.”)
Comentário: Agostinho afirma a importância do conselho sábio para a segurança e prosperidade espiritual.
Fonte: Augustinus, Enarrationes in Psalmos, PL 37:980-985
📚 Comentários Clássicos Teológicos
📖 Matthew Henry (1662–1714)Matthew Henry vê Provérbios 14 como um capítulo recheado de contrastes vivos entre o sábio e o tolo, o justo e o ímpio, ressaltando o valor da prudência, da fé e da piedade prática.
Ele destaca que o capítulo começa com a famosa declaração de que “a mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derruba” (v.1). Para Henry, esta é uma forte ilustração de como a sabedoria e a insensatez afetam diretamente o lar e a vida familiar, mostrando que a verdadeira sabedoria se manifesta em obras e não só em palavras.
No versículo 2, Henry observa que “o que anda em sua retidão teme ao Senhor, mas o de caminhos tortuosos despreza-o” revela que o temor do Senhor está profundamente ligado à integridade moral e à conduta reta. Ele argumenta que esse temor é a base da verdadeira sabedoria.
Ao longo do capítulo, Henry chama a atenção para a importância da sabedoria prática, como em versículo 8: “O sábio teme e se desvia do mal, mas o tolo é arrogante e insensato”, mostrando que o reconhecimento do perigo e a disposição para evitá-lo são sinais de sabedoria.
Ele também comenta sobre o valor da paciência e da mansidão no trato interpessoal (v.29), lembrando que a ira é característica dos tolos, enquanto os sábios têm domínio próprio.
O capítulo é ainda visto por Henry como uma lição sobre as consequências inevitáveis das escolhas humanas: o justo é protegido e o ímpio enfrenta desgraça. Ele enfatiza que a piedade e a sabedoria caminham juntas e produzem vida e paz, ao passo que o orgulho e a insensatez levam à ruína.
Fonte: Matthew Henry Commentary on Proverbs 14
📖 John Gill (1697–1771)
John Gill explora o capítulo 14 destacando a oposição entre os sábios e os tolos em suas atitudes, ações e destinos.
Sobre o versículo 1, Gill explica que a “mulher sábia” simboliza não só uma pessoa prudente, mas uma comunidade ou família edificada pela sabedoria, enquanto a “insensata” destrói o que poderia ter sido construído — uma alusão à responsabilidade social e familiar da sabedoria.
No versículo 2, ele mostra como o temor do Senhor é inseparável da retidão moral e da integridade, pois quem anda de maneira reta respeita e teme a Deus, enquanto o perverso o despreza.
Gill dedica atenção especial ao versículo 12: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”, explicando o perigo de confiar na própria sabedoria ou inclinações sem buscar a orientação divina. Ele argumenta que muitos perecem por seguir seus próprios caminhos enganosos.
Além disso, Gill detalha as nuances do hebraico em versículos como o 23, onde “todo trabalho traz proveito” é ressaltado como uma verdade prática, enquanto a mera conversa não traz sustento.
Gill comenta também o valor da mansidão e a insensatez da ira, refletidos em versículo 29, explicando que a paciência é uma virtude essencial para quem deseja viver com sabedoria.
Fonte: John Gill's Exposition of the Bible on Proverbs 14
📖 Albert Barnes (1798–1870)
Albert Barnes enfatiza que Provérbios 14 está cheio de conselhos práticos para a vida piedosa e prudente, destacando a importância da sabedoria, do temor a Deus e do autocontrole.
No versículo 1, Barnes vê a “mulher sábia” como símbolo da sabedoria que constrói um lar ou uma família próspera, enquanto a insensatez destrói o que poderia ter sido feito.
Ele interpreta o versículo 2 como uma clara distinção entre os justos, que vivem no temor do Senhor, e os ímpios, que o desprezam e vivem em rebeldia.
Barnes também comenta o versículo 12 como uma advertência contra a confiança excessiva no próprio entendimento, alertando que muitos caminhos parecem corretos para o homem, mas levam à morte.
No versículo 29, Barnes destaca a mansidão e o domínio próprio como características fundamentais do sábio, contrapostas à ira dos tolos, que traz desordem e destruição.
Barnes conclui que este capítulo incentiva o leitor a buscar a sabedoria que conduz à vida, à paz e à felicidade duradouras, lembrando que a escolha entre a sabedoria e a tolice traz consequências eternas.
Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Proverbs 14
📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)
Keil & Delitzsch oferecem uma análise profunda da linguagem hebraica e da mensagem teológica de Provérbios 14, sublinhando a oposição entre os caminhos da sabedoria e da insensatez.
Eles explicam que a palavra hebraica para “mulher sábia” (חכמה, ḥokmah) no versículo 1 está ligada a uma sabedoria prática que edifica, não apenas um conceito abstrato, e que a “mulher insensata” (כסילה, kesilâ) personifica a loucura que destrói.
No versículo 2, analisam a expressão “o que anda em sua retidão teme ao Senhor” mostrando que o temor a Deus é a base da conduta reta (יָרֵא יְהוָה, yare Yahweh), enquanto os “caminhos tortuosos” (דֶּרֶךְ עִקֵּשׁ, derekh ‘iqesh) indicam a perversidade do ímpio.
No versículo 12, Keil & Delitzsch estudam a frase “há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (דֶּרֶךְ נָאֶה לָאָדָם וְאַחֲרִיתוֹ דְּרָכֵי מָוֶת, derekh na’eh la’adam ve’akharito derakhei maveth), destacando o perigo de confiar na própria percepção sem consultar a sabedoria divina.
Eles comentam ainda sobre a paciência no versículo 29, explicando o contraste lexical entre “lento para a ira” (אֶרֶךְ אַפַּיִם, ‘erekh appayim) e a prontidão para a fúria, mostrando que a paciência é uma virtude fundamental.
Ao longo do capítulo, Keil & Delitzsch conectam as lições práticas com a teologia do temor do Senhor e a inevitabilidade da justiça divina, enfatizando que a sabedoria leva à vida e a insensatez à ruína.
Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Proverbs 14
📚 Concordância Bíblica
🔹 Provérbios 14:1 – “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata a derruba com as próprias mãos.”📖 Mateus 7:24–25
“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica... é semelhante ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha.”
Comentário: A edificação da casa é imagem da vida construída sobre sabedoria e obediência, assim como Cristo apresenta na parábola dos construtores.
🔹 Provérbios 14:2 – “O que anda na retidão teme ao Senhor, mas o que se desvia dos seus caminhos o despreza.”
📖 1 João 2:4
“Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso.”
Comentário: Temer a Deus se manifesta em uma vida de retidão. Aquele que se desvia revela desprezo prático pela autoridade divina.
🔹 Provérbios 14:3 – “Na boca do tolo está a vara da soberba, mas os lábios dos sábios os guardam.”
📖 Tiago 3:5–6
“A língua é um pequeno membro... contamina todo o corpo.”
Comentário: A língua revela o coração. Os tolos ferem com palavras arrogantes, enquanto os sábios se protegem com a prudência do discurso.
🔹 Provérbios 14:4 – “Não havendo bois, o celeiro fica limpo, mas pela força do boi há abundância de colheita.”
📖 1 Coríntios 3:9
“Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus.”
Comentário: O trabalho envolve esforço e, às vezes, desordem. Mas é por meio da cooperação com instrumentos eficazes que se colhe fruto.
🔹 Provérbios 14:5 – “A testemunha verdadeira não mentirá, mas a testemunha falsa se desboca em mentiras.”
📖 Apocalipse 21:8
“... todos os mentirosos terão a sua parte no lago que arde com fogo e enxofre.”
Comentário: A verdade é uma marca da justiça. A mentira deliberada tem consequências eternas segundo o ensino apostólico.
🔹 Provérbios 14:6 – “O escarnecedor busca a sabedoria e não a encontra, mas para o prudente o conhecimento é fácil.”
📖 2 Timóteo 3:7
“Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade.”
Comentário: A busca irônica e descompromissada não leva à sabedoria. O coração humilde, porém, alcança entendimento com facilidade.
🔹 Provérbios 14:7 – “Vai-te da presença do homem insensato, quando nele não perceberes palavras de conhecimento.”
📖 Tito 3:10
“Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o.”
Comentário: A comunhão com os tolos e teimosos é prejudicial. Há momentos em que o afastamento é a escolha sábia e bíblica.
🔹 Provérbios 14:8 – “A sabedoria do prudente é entender o seu caminho, mas a estultícia dos tolos é enganadora.”
📖 Efésios 5:15–17
“Olhai, pois, cuidadosamente como andais... não como néscios, mas como sábios.”
Comentário: O prudente reflete sobre a direção da própria vida. Já o tolo vive em autoengano, sem consciência das consequências.
🔹 Provérbios 14:9 – “Os insensatos zombam do pecado, mas entre os justos há boa vontade.”
📖 Judas 1:18
“No último tempo haveria escarnecedores, andando segundo as suas ímpias concupiscências.”
Comentário: A zombaria diante do pecado revela insensatez espiritual. O justo, ao contrário, vive em reverência e comunhão.
🔹 Provérbios 14:10 – “O coração conhece a sua própria amargura, e o estranho não se intermeddle com a sua alegria.”
📖 Romanos 12:15
“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram.”
Comentário: Há profundezas da alma que só o próprio indivíduo entende. Ainda assim, o chamado cristão é à empatia e compaixão.
🔹 Provérbios 14:11 – “A casa dos perversos será destruída, mas a tenda dos retos florescerá.”
📖 Mateus 7:26–27
“... o insensato que edificou a sua casa sobre a areia... grande foi a sua ruína.”
Comentário: O contraste entre a destruição e a permanência reflete a diferença entre a vida fundamentada em justiça e aquela baseada na impiedade.
🔹 Provérbios 14:12 – “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.”
📖 Romanos 6:21, 23
“O fim dessas coisas é a morte... o salário do pecado é a morte.”
Comentário: Nem tudo o que parece bom aos olhos humanos leva à vida. A orientação divina é o único critério seguro de sabedoria.
🔹 Provérbios 14:13 – “Até no riso o coração sente dor, e o fim da alegria é tristeza.”
📖 Lucas 6:25
“Ai de vós os que agora rides! porque haveis de lamentar e chorar.”
Comentário: Alegria superficial pode esconder angústia. A sabedoria bíblica ensina discernimento entre o riso vão e a verdadeira paz interior.
🔹 Provérbios 14:14 – “O infiel de coração dos seus próprios caminhos se fartará, como também o homem bom se fartará dos seus.”
📖 Gálatas 6:7–8
“O que o homem semear, isso também ceifará.”
Comentário: Cada um colhe as consequências de suas escolhas. A justiça e a infidelidade têm frutos que retornam ao próprio autor.
🔹 Provérbios 14:15 – “O simples dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta para os seus passos.”
📖 1 João 4:1
“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus.”
Comentário: A credulidade é uma forma de imprudência. A sabedoria se manifesta em exame criterioso e vigilância.
🔹 Provérbios 14:16 – “O sábio teme e se desvia do mal, mas o tolo é arrogante e dá-se por seguro.”
📖 Romanos 11:20
“Não te ensoberbeças, mas teme.”
Comentário: A humildade e o temor reverente protegem o sábio, ao passo que a arrogância expõe o tolo ao desastre.
🔹 Provérbios 14:17 – “O que facilmente se ira fará loucuras, e o homem de maus intentos será odiado.”
📖 Tiago 1:19–20
“A ira do homem não opera a justiça de Deus.”
Comentário: A impaciência e a malícia conduzem à insensatez e à rejeição. A sabedoria é lenta para irar-se.
🔹 Provérbios 14:18 – “Os simples herdarão a estultícia, mas os prudentes se coroarão de conhecimento.”
📖 2 Timóteo 3:15
“Desde a infância sabes as sagradas letras, que te podem fazer sábio.”
Comentário: O conhecimento e a sabedoria são a herança dos que buscam a verdade com diligência, não dos negligentes.
🔹 Provérbios 14:19 – “Os maus se inclinarão diante dos bons, e os perversos, às portas do justo.”
📖 Filipenses 2:10
“Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho...”
Comentário: A justiça será reconhecida, mesmo pelos ímpios. Um dia, toda autoridade se submeterá à verdade.
🔹 Provérbios 14:20 – “O pobre é odiado até do seu vizinho, mas o rico tem muitos amigos.”
📖 Tiago 2:1–4
“Não façais acepção de pessoas...”
Comentário: A observação proverbial revela a perversão social, que valoriza riqueza e despreza o necessitado — algo que o evangelho corrige com equidade.
🔹 Provérbios 14:21 – “O que despreza o próximo peca, mas o que se compadece dos pobres é feliz.”
📖 Mateus 25:40
“Ao que fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Comentário: A compaixão é expressão do amor divino. O desprezo ao próximo é pecado, segundo tanto a sabedoria quanto o ensino de Jesus.
🔹 Provérbios 14:22 – “Porventura não erram os que maquinam o mal? Mas misericórdia e verdade haverá para os que planejam o bem.”
📖 Romanos 12:17, 21
“Não torneis a ninguém mal por mal... vence o mal com o bem.”
Comentário: O bem planejado é uma virtude divina. A sabedoria orienta não apenas a ação, mas também a intenção.
🔹 Provérbios 14:23 – “Em todo trabalho há proveito, mas a palavra dos lábios só encaminha à pobreza.”
📖 2 Tessalonicenses 3:10
“Se alguém não quiser trabalhar, não coma também.”
Comentário: A diligência é abençoada. A ociosidade, mesmo que cheia de palavras, não produz fruto.
🔹 Provérbios 14:24 – “A coroa dos sábios é a sua riqueza, mas a estultícia dos tolos é só estultícia.”
📖 Lucas 16:11
“Se, pois, nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?”
Comentário: A verdadeira riqueza do sábio não é apenas material, mas inclui o conhecimento que enobrece e direciona.
🔹 Provérbios 14:25 – “A testemunha verdadeira livra almas, mas a que se desboca em mentiras é enganadora.”
📖 João 8:32
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
Comentário: A verdade tem poder redentor. A mentira, ao contrário, aprisiona e destrói.
🔹 Provérbios 14:26 – “No temor do Senhor há firme confiança, e ele será um refúgio para os seus filhos.”
📖 Hebreus 6:18
“Para que tenhamos fortíssimo consolo, nós, os que pomos o refúgio em reter a esperança proposta.”
Comentário: O temor do Senhor gera estabilidade, fé, e abrigo espiritual. Os filhos do justo colhem sua piedade.
🔹 Provérbios 14:27 – “O temor do Senhor é fonte de vida, para desviar dos laços da morte.”
📖 João 4:14
“... se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.”
Comentário: O temor reverente é fonte perene de sabedoria e preservação. É paralelo à água viva de Cristo.
🔹 Provérbios 14:28 – “Na multidão do povo está a glória do rei, mas na falta de povo a ruína do príncipe.”
📖 Apocalipse 7:9
“Uma grande multidão... de todas as nações...”
Comentário: A liderança é validada pela comunhão e serviço ao povo. No Reino de Deus, a glória é coletiva e universal.
🔹 Provérbios 14:29 – “O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura.”
📖 Gálatas 5:22
“Mas o fruto do Espírito é... longanimidade.”
Comentário: A paciência revela maturidade espiritual. O impulso revela tolice.
🔹 Provérbios 14:30 – “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos.”
📖 Tiago 3:16
“Onde há inveja e espírito faccioso, aí há confusão e toda obra má.”
Comentário: A tranquilidade espiritual reflete-se até na saúde física. A inveja, por sua vez, corrói a alma e o corpo.
🔹 Provérbios 14:31 – “O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador, mas o que se compadece do necessitado o honra.”
📖 Provérbios 19:17 / Mateus 25:40
“Quem se compadece do pobre empresta ao Senhor.”
Comentário: A relação com o próximo é reflexo da relação com Deus. O desprezo ao necessitado é ultraje ao próprio Criador.
🔹 Provérbios 14:32 – “Pela sua malícia é derribado o perverso, mas o justo até na morte tem esperança.”
📖 João 11:25
“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.”
Comentário: O justo possui uma esperança escatológica. A morte não o destrói — é apenas passagem.
🔹 Provérbios 14:33 – “No coração do prudente repousa a sabedoria, mas no interior dos tolos ela se manifesta.”
📖 Tiago 3:13
“Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.”
Comentário: A sabedoria do prudente se revela em discrição e paz. O tolo a tenta exibir sem ter.
🔹 Provérbios 14:34 – “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos.”
📖 Atos 10:35
“Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo.”
Comentário: A justiça não é só virtude individual, mas força que molda sociedades. O pecado traz vergonha coletiva.
🔹 Provérbios 14:35 – “O favor do rei é para o servo prudente, mas a sua indignação é contra o que procede indignamente.”
📖 Mateus 24:45–47
“Bem-aventurado aquele servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus bens...”
Comentário: Deus, Rei justo, honra o servo fiel. A prudência recebe recompensa eterna.
🔹 Provérbios 14:32 – “Pela sua malícia é derribado o perverso, mas o justo até na morte tem esperança.”
📖 João 11:25
“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá.”
Comentário: A sabedoria bíblica transcende esta vida: enquanto o perverso é abatido por sua própria maldade, o justo, mesmo enfrentando a morte, confia na ressurreição e na justiça eterna de Deus. A esperança escatológica fundamenta-se na fidelidade divina, e se concretiza plenamente em Cristo.
🔹 Provérbios 14:33 – “No coração do prudente repousa a sabedoria, mas no interior dos tolos ela se faz conhecer.”
📖 1 Coríntios 2:14
“O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus...”
Comentário: A sabedoria é silenciosa e interior no coração do prudente, em contraste com o tolo, que expõe sua ignorância ao falar. O apóstolo Paulo mostra que a sabedoria espiritual é discernida apenas por quem possui o Espírito.
🔹 Provérbios 14:34 – “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos.”
📖 Atos 10:35
“Em toda nação aquele que o teme e faz o que é justo é aceito por ele.”
Comentário: Este é um princípio ético e político poderoso: o destino de uma nação está ligado à sua conduta moral. A justiça engrandece coletivos; o pecado os corrompe e envergonha.
🔹 Provérbios 14:35 – “O favor do rei é para o servo prudente, mas a sua indignação é contra o que o envergonha.”
📖 Mateus 25:21
“Muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu senhor.”
Comentário: O princípio da recompensa baseada na prudência se aplica tanto ao reino humano quanto ao Reino de Deus. Cristo, o Rei eterno, exaltará seus servos fiéis.
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