Estudo sobre Apocalipse 15:5-8
Estudo sobre Apocalipse 15:5-8
Para a continuação no v. 5, reiteramos a elucidação dos lugares. Onde cantavam os vencedores? No mar de vidro. Onde se encontra o mar de vidro? Diante do trono de Deus. Onde está o trono de Deus? No templo celestial. Os vencedores, portanto, cantavam do lado de dentro. Agora termina a visão na qual João os viu e ouviu ali. Ele está novamente do lado de fora.742 Então – como um reflexo do cântico – as portas do templo abrem-se para fora. Depois destas coisas, olhei, e abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do Testemunho.
A formulação tabernáculo do Testemunho ocorre mais de cem vezes na LXX como designação da tenda da aliança.743 Contudo, que significado tem aqui o acúmulo de expressões? Afinal, foram abertos o templo ou a tenda? Acaso os dois termos não se excluem, visto que no deserto Israel tinha um tabernáculo, mas nenhum templo, e mais tarde era o contrário?
No entanto, no Ap “templo” e “tenda” convergem de modo peculiar. Ambos designam a morada de Deus, a saber, o céu.744 Consequentemente, resulta o seguinte sentido: o conceito do templo (nos v. 6,8 ele aparecerá sem acréscimos) é preenchido com a ideia do tabernáculo. Pois essa tenda recordava o estado inicial, a imagem original da morada de Deus junto do povo de sua aliança no tempo do deserto. Pelo fato de que aqui “templo“ vem conectado a ele, forma-se uma asserção muito singular: os juízos que de imediato sairão do templo brotam da mais íntima comunhão e fidelidade de Deus para com seu povo.745
Preparados desse modo, os sete anjos, que tinham os sete flagelos saíram do santuário, e pelos quais o leitor já esperava desde o v. 1. O fato de que a vestimenta desses anjos seja mais realçada que a dos sete anjos do juízo, em Ap 8.2-5, corresponde novamente à intensificação dos juízos das trombetas em direção dos juízos das taças. Sua roupa de linho puro e resplandecente combina integralmente com personagens sacerdotais que prestam serviço no templo.746 Do mesmo modo, como os sacerdotes, estão cingidos ao peito com cintas de ouro. Por isso sua ação, que começará de imediato, está caracterizada como um evento litúrgico. Eles vêm da presença de Deus e servem a Deus quando derramam os juízos. A igreja jamais deve duvidar disso.
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A fim de fazer referência ao equipamento desses anjos, recorre-se a um momento anterior: então, um dos quatro seres viventes, ou seja, dos entes angelicais mais chegados a Deus (cf. o comentário a Ap 4.6), deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias da cólera (“ira” [rc, nvi, blh, vfl, bv], “furor” [bj]) de Deus, que vive pelos séculos dos séculos. Apesar de que no AT seja mais comum a metáfora do cálice da ira e também já seja conhecido do leitor do Ap desde Ap 14.10, e lhe apareça novamente em Ap 16.19, agora a figura muda para a taça da ira. Primeiramente, a taça é maior que o copo para beber. Sobretudo, porém, prolonga-se a linha litúrgica do culto a Deus.747 De modo enfático, portanto, não serão forças naturais cegas que trarão as terríveis catástrofes sobre a terra, tampouco demônios maus. Pelo contrário, tudo o que acontece permanece abrangido por esse acontecimento a partir do templo.
As taças cheias da ira de Deus correspondem ao templo repleto da glória de Deus: O santuário se encheu de fumaça procedente da glória de Deus e do seu poder. Assim como o incenso preenche o espaço do culto a Deus, assim a presença de Deus como Juiz748 se dissemina com uma densidade penetrante.749 E ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos. Agora Deus está inacessível para tudo o mais; também ele “não tem mais tempo” (cf. Ap 12.12; 10.6). Não será mais admitido que alguém busque influenciá-lo ou lhe suplique para que desista de seu propósito. Sua ira governa de forma implacável e “sem mistura” (Ap 14.10; cf. Jr 30.23,24). Qualquer oposição à sua glória é destroçada.750
Justamente com vistas aos piores juízos, a igreja deve gravar da forma mais profunda no coração quais são as correlações. Nas catástrofes poderíamos deter-nos em toda espécie de causas naturais e humanas, deixando de perceber que Deus está respondendo por meio delas. Os destinatários do livro, porém, devem entender e testemunhar a linguagem de Deus: por trás do mundo repleto de fumaça estão as taças repletas de ira, e estas procedem do santuário de Deus cheio de incenso.
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Notas:
742. A formulação “em seguida, vi” (blh) constitui novamente um indício confiável da troca de cena (nota 244).
743. O fato de que João está acolhendo de modo consciente ou inconsciente uma expressão da lxx já se torna plausível a partir da circunstância de que no mais ele nunca usa, em seus escritos, “testemunho” na forma de martyrion (como aqui), porém sempre de martyia (30 vezes!).
744. Conforme Ap 7.15, os aperfeiçoados servem a Deus ao mesmo tempo em seu “templo” celestial e em sua “tenda” (cf. teb, bj).
745. Holtz (pág. 168) constata a seguinte intensificação: em Ap 4.1 abre-se a porta do céu, em Ap 11.19 o próprio templo, em Ap 15.5 o templo na sua acepção mais profunda como tenda da aliança, e finalmente em Ap 19.11 abre-se o céu como um todo.
748. É o que se deve depreender do contexto, mas também conforme Is 6.4; Ez 10.4.
749. Também em Ap 8.4 falava-se da “fumaça”, porém agora a presença é total.
750 O AT diversas vezes relata que o santuário foi preenchido dessa forma pela nuvem da glória, como sinal de que Deus é inatingível (Êx 40.34,35; 1Rs 8.10,11; 2Cr 5.13,14), porém agora o adendo (“até que chegassem ao fim as sete pragas” [blh]) faz convergir tudo na ira de Deus.