Apocalipse 15 — Comentário Literário da Bíblia

Apocalipse 15 — Comentário Literário da Bíblia





Apocalipse 15


5.2 — A visão do que parece “um mar de vidro” pode incluir uma alusão ao reflexo da pia do Templo de Salomão e ao esplendor celestial da santidade de Deus (cf. Beale 1999a, p. 327-8, 789-92). Mas a ideia principal aqui é a analogia celestial com o mar Vermelho, em conexão com o novo êxodo. Essa identificação é confirmada indubitavelmente pela menção ao novo “cântico de Moisés”, que é a contrapartida escatológica do Cântico de Moisés registrado em Êxodo 15 (Mek. de Êx 14.16 e Abot R. N at. 30a dizem , com base em Êx 15.8 [“as águas profundas congelaram -se”, NVI], que um dos milagres no episódio do mar Vermelho foi que o mar congelou e parecia vasos de vidro [v. M cNamara 1966, p. 203-4]; Abot R . Nat. acrescenta que havia fogo no meio do vidro, outra vez com base em Êx 15.8; Midr. de SI 136.7 diz que o mar parecia um “tipo de vidro [...] cristalizado”; para um mar no céu, cf. T. Levi 2.7a; 2 En 3.3.) A atmosfera do Êxodo é perceptível na menção anterior às “pragas” (15.1), que sem dúvida são modeladas segundo o padrão das pragas do Egito (assim cap. 16), e na subsequente menção ao “tabernáculo do testemunho” (assim Caird 1966, p. 197). O primeiro Êxodo, para fora do Egito e do poder tirânico do faraó, será recapitulado pelo desígnio divino de um êxodo final para o povo de Deus no final dos tempos, que será para libertá-lo da opressão tirânica e do domínio da “b esta” sobre o mundo. O texto de Daniel 7.10 retrata de m odo semelhante um “rio de fogo” no céu diante do trono divino, com multidões de anjos em pé ao seu redor. Essa imagem profética em Daniel 7 indica a decisão de Deus de julgar “a besta ”, que foi “morta e o seu corpo destruído, ele [seu corpo] foi entregue para ser queimado pelo fogo” (Dn 7.11) (sobre o contexto de Dn 7 para o “mar de vidro” em Ap 4.6, v. Beale 1999a, p. 327-8). A certeza da morte profetizada da besta é ressaltada em Apocalipse 15.2.

15.3a — À semelhança do povo de Deus da antiga aliança, o povo da nova aliança vai louvar a Deus com o “cântico de Moisés”, exaltando o seu juízo divino sobre os seus opressores no final dos tempos. O cântico é um hino de libertação e de louvor aos atributos de Deus como o de Êxodo 15.1-18. O capítulo 32 de Deuteronômio é também chamado “cântico de Moisés” (Dt 31.19,22,30; 32.44), incluído na alusão a Êxodo 15, um a vez que também descreve o juízo. A ira contra os israelitas apóstatas por causa da idolatria é o foco em Deuteronômio 32, assim como aqui está em vista o juízo sobre os cristãos apóstatas e as nações. Da mesma forma que “o cântico de Moisés” inclui um a referência à libertação anterior sob a liderança dele, “o cântico do Cordeiro” faz referência ao fato de que a libertação dos santos sob o domínio da besta será decisivamente liderada pelo próprio Jesus.

15.3b — O conteúdo do cântico em si não foi extraído diretamente de Êxodo 15, e sim de várias passagens do AT que exaltam o caráter de Deus. Todas elas são combinadas para explicar o novo êxodo, que acontecerá novamente em escala muito maior que a do primeiro. O primeiro verso exprime as “grandes e admiráveis” obras de Deus, alusão ao AT derivada de Deuteronômio 28.59,60 LXX. Essa passagem prediz que o futuro juízo de Israel seguirá o padrão das pragas do Egito. Há também um eco de Salmos 110.2-4 LXX (111.2-4 TP), que glorifica a Deus por suas “grandes obras” e “fatos admiráveis”, operados quando redimiu Israel no mar Vermelho. O próprio salmo pode estar fazendo alusão a Êxodo 34.10 (em que Deus promete que as nações “verão que os feitos do Senhor [na maneira com o lida com Israel] são tremendos”; assim também Êx 15.11; Deus é “admirável em louvores, capaz de maravilhas”). O Deus da geração do Êxodo foi louvado com o aquele cujas “obras são perfeitas” e “todos os seus caminhos são justos” (Dt 32.4), e será louvado outra vez por isso. A passagem de Deuteronômio é introduzida, em 31.30, com o um “cântico” de Moisés e aplicada por b. Ta‘anit 11a ao juízo e à recompensa "no mundo por vir”, outra evidência de que Deuteronômio 32 também está por trás do “cântico” mencionado aqui em 15.3 (L .A .B . 19.4 afirma que Dt 32.1 inclui a ideia de que Deus “revelou o fim do mundo”).

15.4 — Junto com a última expressão de 15.3 (“Rei das nações”), a declaração de abertura desse versículo lembra Jeremias 10.7: “Quem não te temerá, ó Rei das nações?” A passagem de Salmos 86.9,10 é a base para a maior parte das palavras de 15.4: “Senhor, quem não [...] glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti”. À semelhança de Jeremias, a descrição a partir do salmo explica também que Deus é incomparável, em contraste com os falsos deuses (além de 86.10, cf. 86.8: “Não há deuses semelhantes a ti”; a profecia escatológica de Is 2.2 também pode ecoar aqui: “Todas as nações virão” a Sião). O tem a profético das nações que afluem a Sião p ara adorar a Deus no final dos tempos ocorre em outras passagens do AT (Is 2.3; 49.22,23; 60.14; 66.23,24; Mq 4.2; Zc 8.20-22; 14.16, em que linguagem é similar à de Sl 86.9,10). Esse tem a profético é visto se cumprindo na descrição futurista de Apocalipse 15.4 Bauckham (1993a, p. 296-307) oferece uma boa análise como as alusões ao AT em Apocalipse 15.3,4 complementam os de Êxodo 15.1-18; o texto de Êxodo 15 deve ser entendido como tipológico de Apocalipse 15.3,4.

15.17 — A imagem das taças provém, em parte., das passagens do AT em que as “taças” utilizadas (c. trinta vezes) em conjunto com serviço sacerdotal, no altar do Tabernáculo ou do Templo, provavelmente para tratar as cinzas e a gordura dos sacrifícios, as taças estão diretamente ligadas ao “tabernáculo do testemunho” (Êx 38.5: N r 4.14,15; 7.13-89) e são chamadas de de ouro” (lC r 28.17; 2Cr 4.8,21). A imagem também é derivada em parte de Isaías 51.17,22, em que é dito duas vezes sobre a “taça do cálice da ira [de Deus]” derramada sobre o Israel pecador agora sendo derramada sobre seus inimigos “atormentadores”, que no contexto são a Babilônia. Assim como em Isaías 51, as taças de Apocalipse 1: serão dirigidas contra a Babilônia do final dos tempos e seus habitantes e são também chamadas de “cálice” (16.19; v. tb. 14.10).

15.8 — A presença de Deus no templo celeste é ressaltada quando o santuário se enche “da fumaça da glória e do poder de Deus” (como em Êx 40.34,35; lR s 8.10,11; 2Cr 5.13; Is 6.1,4 LXX). A cena pode ser um eco de várias descrições semelhantes da presença de Deus no templo terreno do AT, em bora pareça refletir mais precisam ente Ezequiel 10.2-4, ocasião em que um ser angélico “vestido de linho” está parado perto dos quatro querubins no templo celestial, “e o templo encheu-se de uma nuvem, e o pátio se encheu do resplendor da glória do Senhor”. A cena de Ezequiel 10 é um a introdução a um anúncio de juízo, fato que o aproxima ainda m ais à função da visão semelhante em Apocalipse 15, de m odo que a primeira torna-se análoga da última.

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