Interpretação de Efésios 2

Efésios 2

Efésios 2 expande os temas introduzidos no capítulo anterior, particularmente a ideia da graça de Deus e a identidade dos crentes em Cristo. Este capítulo contrasta o estado espiritual dos crentes antes e depois de encontrarem Cristo. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Efésios 2:

1. Morto no Pecado (Efésios 2:1-3): O capítulo começa descrevendo a condição espiritual de todas as pessoas antes de chegarem à fé em Cristo. Eles são descritos como espiritualmente mortos em seus pecados e transgressões, vivendo de acordo com os costumes do mundo e seguindo o príncipe das potestades do ar (uma referência a Satanás). Esta passagem enfatiza o estado perdido e pecaminoso da humanidade, separada de Deus.

2. A Rica Misericórdia e Graça de Deus (Efésios 2:4-7): Em contraste com a morte espiritual da humanidade, esta seção destaca a extraordinária graça e misericórdia de Deus. O amor e a graça de Deus são tão grandes que Ele vivificou os crentes em Cristo, mesmo quando estavam mortos em pecado. Esta salvação é resultado da rica misericórdia de Deus, não de obras humanas, para que ninguém possa se orgulhar. Os crentes são ressuscitados com Cristo e assentados com Ele nos lugares celestiais, significando a sua posição espiritual e identidade em Cristo.

3. Salvação pela Graça Através da Fé (Efésios 2:8-9): Esta passagem bem conhecida sublinha o princípio fundamental da salvação pela graça através da fé. A salvação não é conquistada através de esforços ou obras humanas, mas é um dom de Deus. A fé é o meio pelo qual os indivíduos recebem a graça de Deus e são salvos. O propósito disto é eliminar qualquer orgulho por parte dos humanos e enfatizar que a salvação é inteiramente uma obra de Deus.

4. Unidade e Reconciliação (Efésios 2:10-22): O capítulo conclui destacando a unidade e a reconciliação provocadas pela obra de Cristo. Os crentes são descritos como obra de Deus, criados em Cristo Jesus para boas obras. Eles não estão mais divididos, mas aproximados de Deus através do sangue de Cristo, reconciliados tanto com Deus como entre si. A imagem dos crentes como pedras vivas num templo espiritual sublinha a sua unidade em Cristo. O próprio Cristo é a pedra angular deste templo espiritual, e Nele, toda a estrutura cresce até se tornar um templo santo onde Deus habita pelo Seu Espírito.

Em Efésios 2, o autor explora o poder transformador da graça de Deus e a mudança radical que ocorre na vida dos crentes quando eles colocam a sua fé em Cristo. Enfatiza o contraste entre um estado de morte espiritual no pecado e a nova vida e identidade encontrada em Cristo. O capítulo sublinha os princípios cristãos fundamentais da salvação pela graça através da fé e da unidade e reconciliação provocadas pelo sacrifício de Cristo. Efésios 2 serve como um poderoso lembrete da centralidade da graça de Deus na fé cristã e do impacto transformador da salvação através da fé em Cristo.

Interpretação

Salvação pela Graça. 2:1-10.
Neste parágrafo o apóstolo fala da nossa salvação pela graça de Deus, mostrando o que éramos no passado, o que somos agora e o que seremos no futuro.

O Que Fomos no Passado. 2:1-3.
A declaração inicial desta seção lembra os crentes efésios de quão desesperadamente eles precisaram da graça salvadora de Deus.

2:1. Ele vos deu vida. A construção aqui sofreu interrupção. Literalmente é assim, e vós que estáveis mortos em ofensas e pecados. Os versículos 2 e 3, então são parentéticos, e o pensamento principal se resume no versículo 4. O contraste está entre vós, mortos em ofensas e pecados, e Deus, rico em misericórdia. A morte à qual o escritor se refere aqui é a espiritual, não a física; isto é, separação de Deus.

2:2. Nos quais andastes outrora. O andar nas Escrituras é usado com referência à conduta diária, à maneira de vida (cons. as porções finais da epístola onde se trata da vida cristã).

Segundo o curso deste mundo. É incomum encontrar a palavra aion, “século”, e a palavra kosmos, “mundo” juntas “o século deste sistema do mundo”. Ambas as palavras adquiriram um sentido ético por causa do seu uso no N.T.

Segundo o príncipe da potestade do ar. Isto obviamente se refere a Satanás. Aqui há um paradoxo, pois pessoas mortas são representadas andando. Cada um, quando separado de Cristo, está morto e andando segundo o príncipe das potestades . do ar. Satanás é mais adiante descrito como o espírito que agora atua nos filhos da desobediência; isto é, filhos caracterizados pela desobediência. Desde o pecado de Adão, os homens têm sido filhos desobedientes.

2:3. Entre os quais também todos nós andamos outrora. Este nós faz contraste com o vós de 2:1. Nossa carne. O termo carne no N.T, é frequentemente usado no sentido ético para se referir à velha natureza, aquela que herdamos de Adão. Fazendo a vontade da carne e dos pensamentos. Ao que parece, o corpo e a mente estão ligados, ambos fazendo parte da come, isto é, da velha natureza. Muitas pessoas costumara pensar nos pecados da carne como sendo apenas os diversos tipos de imoralidade, esquecendo que também existem os pecados da mente. Filhos da ira. Isto é, aqueles que estão sob a ira, cujo destino é a ira, sobre os quais a ira de Deus permanece (cons. Rm. 1:18; Jo. 3:36; veja também Hb. 10:26,27).

O Que Somos no Presente. 2:4-6.
A Palavra de Deus está cheia de gritantes contrastes entre a incapacidade do homem e a suficiência do Senhor.

2:4. O escritor agora retorna à declaração que foi interrompida no versículo 2. Mas Deus. Este é o contraste salvador. Sendo rico em misericórdia (cons. as riquezas da Sua graça e da glória, 1:7,18). Não há limite para a misericórdia de Deus. Por causa do grande amor com que nos amou. As Escrituras indicam repetidamente que o amor de Deus para conosco, e não o nosso amor para com Ele, é a coisa mais importante (cons. I Jo. 4:9, 10).

2:5. Mortos em nossos delitos. Isto reverte à declaração de 2:1.

Nos deu vida juntamente com Cristo. Aqui há um verbo composto que está ligado à palavra Cristo, para mostrar que o fato de estarmos vivos tem ligação com o fato dEle estar vivo, isto é, com Sua ressurreição.

Pela graça sois salvos, está explicado e desenvolvido mais adiante, no versículo 8.

2:6. E juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus. As Escrituras ensinam que fomos identificados com o Senhor Jesus Cristo, não apenas em Sua morte (Rm. 6), mas também na Sua ressurreição e na Sua ascensão à direita do Pai. A palavra assentar é uma das grandes palavras desta epístola, indicando a posição que temos em Cristo, como participantes de uma redenção consumada e concluída e de uma vitória.

Nos lugares celestiais. A terceira vez que esta expressão foi usada nesta epístola. Por causa de nossa posição em Cristo, já estamos potencialmente no céu, onde Ele realmente está.

O Que Seremos no Futuro. 2:7-10.
O fato de Deus ter transformado pecadores redimidos em uma eterna lição objetiva de Sua graça, é espantoso, porém é verdade.

2:7. Para mostrar nos séculos vindouros. A Igreja servirá de eterna demonstração da graça de Deus. A suprema riqueza da sua graça (cons. 1:7) em bondade. (cons. Tt. 2:14; 3:4).

2:8. Porque pela graça sois salvos. Isto é, vós fostes salvos. A graça de Deus é a fonte de nossa salvação. Mediante a fé. Paulo não diz nunca por causa da fé, pois a fé não é a causa, apenas o canal por meio do qual recebemos a nossa salvação. E isto não vem de vós. A palavra isto não se refere nem à graça nem à fé, mas a todo o ato da salvação – “Essa salvação não vem de vós mesmos”.

Dom de Deus. Cons. Rm. 6:23.

2:9. Não de obras. Este é o complemento negativo da afirmação precedente. O Espírito Santo tem sido muito cuidadoso em resguardar esta preciosa doutrina da salvação pela graça contra todas as formas de heresia.

Obras nas Escrituras são o produto ou fruto da salvação, não a causa dela.

Para que ninguém se glorie. No céu ninguém vai se gloriar porque não haverá ali ninguém que tenha algum motivo de glória (I Co. 4:7).

2:10. Somos feitura dele. O “dele” é enfático no original. Criados em Cristo Jesus para boas obras. O propósito de nossa nova criação é que andássemos (nas boas obras). Agora a passagem completou o seu círculo, pois esse andar está em contraste direto com o andar descrito no versículo 2.

Unidade dos Judeus e Gentios em Cristo. 2:11-22.
Uma das grandes verdades desta epístola é que judeus e gentios estão unidos no corpo de Cristo. Esse corpo já foi mencionado em 1:23, e a união está descrita aqui com mais detalhes no capítulo 3.

O Que os Gentios Eram Sem Cristo. 2:11, 12.
A linguagem desses versículos pinta um quadro muito negro da posição dos gentios antes da vinda de Cristo.

2:11. Portanto, lembrai-vos. A maior parte dos leitores originais de Paulo eram gentios. O apóstolo aqui fá-los lembrar de sua posição antes de ouvirem o Evangelho. Outrora vós gentios. Diante dos homens ainda eram gentios, mas não diante de Deus. Deus olha para todos os homens como judeus, gentios ou a Igreja (I Co. 10:32). Quando alguém aceita o Senhor Jesus Cristo, quer seja judeu ou gentio, já não é mais tal diante de Deus, mas passa a ser um membro do corpo de Cristo. Chamados incircuncisão. Esse era um epíteto insolente aplicado pelos judeus aos gentios.

2:12. Separados da comunidade de Israel. No V.T. Deus tinha um convênio com a nação de Israel e governava esse estado diretamente. Aqueles que não eram judeus, eram estrangeiros ou alienígenas.

Não tendo esperança e sem Deus, só podiam tomar conhecimento do convênio e das promessas do Senhor através de Israel. As expressões descritivas vão se tornando cada vez mais sérias.

Um Só Corpo. 2:13-18.
Judeus e gentios foram unidos em Cristo, e o último agora está tão perto dele quanto o primeiro.

2:13. Mas agora. Isto é enfático. Indica um contraste à sua anterior posição. Em Cristo Jesus. Antes estavam no mundo (v. 12). Sua condição era sem esperanças. Agora estão em Cristo, com todos os privilégios do céu. Observe os diversos contrastes nestes versículos – no mundo, em Cristo Jesus; naquele tempo, agora; separados, aproximados.

2:14. Ele é a nossa paz. Observe o progresso desta seção: Ele é a nossa paz (v. 14); fazendo a paz (v. 15); evangelizou paz (v. 17; cons. Cl,1:20). De ambos fez um. Isto é, judeus e gentios. Tendo derrubado a parede da separação pode ser aqui uma alusão à parede que separava o Pátio dos Gentios e o Pátio dos Judeus no Templo. Uma inscrição nessa parede advertia os gentios da pena de morte, se entrassem no Pátio dos Judeus. Agora, diante de Deus, não há mais distinção (veja Rm. 1; 2; 3). A inimizade. Talvez em aposição à “parede de separação que estava no meio”.

2:15. Um novo homem. Não um indivíduo, mas a nova criação da qual Cristo é a Cabeça.

2:16. Ambos. Novamente uma referência aos judeus e gentios. Destruindo por ela a inimizade. Isto é, pela cruz.

2:17, 18. Estes versículos desdobram mais esta verdade da união do judeu com o gentio em Cristo. Vós outros que estáveis longe. Os gentios. Aos que estavam perto. Os judeus.

2:18. Observe a ênfase sobre a palavra ambos (vs. 14, 16, 18). Ambos unidos, ambos reconciliados com Deus, ambos tendo acesso.

Um Só Edifício. 2:19-22.
A figura da Igreja como um corpo humano transforma-se gradativamente na figura da Igreja como um grande edifício. O corpo humano é também descrito como um edifício em várias passagens (por exemplo, I Co. 6:19; lI Co. 5:1).

2:19. Assim. A conclusão lógica do que foi escrito. Já não sois estrangeiros, e peregrinos. A presente posição desses gentios foi inteiramente revertida da sua condição anterior, descrita anteriormente neste capítulo. Mas concidadãos dos santos. Em Cristo, judeus e gentios têm uma nova cidadania (cons. Fp. 3:20, 21).

2:20. Edificados sobre o fundamento. A Igreja, que é o corpo de Cristo, está sendo apresentada aqui como um grande edifício, o templo de Deus. Os apóstolos. Os homens especialmente designados pelo Senhor Jesus Cristo no começo da Igreja. Eles não tiveram sucessores. E profetas. Não os profetas do V.T., mas os profetas cristãos, os profetas do N.T., alguns dos quais são mencionados e descritos no livro de Atos e nas epístolas.

Sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. Passagens como esta e I Pe. 2:5 ajudam-nos a entender o significado de Mt. 16:18. Pedro, sendo um apóstolo, foi uma das pedras fundamentais junto com os demais apóstolos e profetas, mas a estrutura como um todo está edificada sobre Cristo. Compare o que Paulo diz em I Co. 3:11.

2:21. Todo edifício. “O apóstolo está claramente falando de um só vasto edifício, o corpo místico de Cristo” (Alf). Esta interpretação está confirmada pela linguagem do que vem a seguir. Israel no V.T. tinha um templo de madeira e pedra. Em contraste com este, a Igreja é o templo (cons. I Co. 3:16; I Pe. 1: 2-9). Um templo é um lugar da habitação de Deus, como diz o versículo 22.