Interpretação de Efésios 6

Efésios 6

Efésios 6 é o capítulo final da carta e aborda o tema da guerra espiritual e da armadura de Deus. Fornece orientação prática sobre como os crentes podem permanecer firmes contra as maquinações do diabo e as batalhas espirituais que podem enfrentar. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Efésios 6:

1. Filhos e Pais (Efésios 6:1-4): O capítulo começa abordando o relacionamento entre filhos e pais. Os filhos são instruídos a obedecer e honrar os pais, o que é visto como um mandamento com promessa de vida longa. Os pais, por sua vez, são aconselhados a não provocar os filhos, mas a educá-los na disciplina e na instrução do Senhor. Isso reforça a importância dos relacionamentos familiares e da educação piedosa.

2. Escravos e Senhores (Efésios 6:5-9): Paulo aborda a dinâmica entre escravos e senhores. Os escravos são instruídos a obedecer aos seus senhores terrenos com sinceridade e como se estivessem servindo a Cristo. Os senhores são lembrados de tratar seus escravos de maneira justa e imparcial, sabendo que eles também têm um Mestre no céu. Esta orientação reflete o contexto social da época e a ética cristã de tratar todas as pessoas com dignidade e justiça.

3. A Armadura de Deus (Efésios 6:10-18): A parte central de Efésios 6 introduz a metáfora da “armadura de Deus”. Os crentes são encorajados a vestir esta armadura espiritual para resistir às maquinações do diabo. Os componentes da armadura são:
  • O Cinturão da Verdade: Significa a importância de viver na verdade e na retidão.
  • A couraça da justiça: refletindo uma vida vivida em integridade moral e piedade.
  • Pés calçados com o Evangelho da Paz: Enfatizando a disponibilidade para compartilhar a mensagem de salvação.
  • O Escudo da Fé: Simboliza a fé como defesa contra os ataques do inimigo.
  • O Capacete da Salvação: Representando a certeza da salvação e a esperança da vida eterna.
  • A Espada do Espírito: Que é a Palavra de Deus, significando a importância da Palavra de Deus na guerra espiritual.
4. Oração e Súplica (Efésios 6:18-20): Os crentes são encorajados a orar no Espírito em todos os momentos, usando várias formas de oração e mantendo-se alertas com perseverança. Devem orar não apenas por si mesmos, mas também por todos os santos e por aqueles que proclamam o evangelho. Paulo pede oração por ele, para que possa proclamar com ousadia o mistério do evangelho.

5. Saudações finais (Efésios 6:21-24): O capítulo termina com saudações finais e uma bênção. Tíquico é elogiado como aquele que dará notícias sobre as circunstâncias de Paulo. Paulo envia sua paz, amor, graça e orações aos crentes de Éfeso, expressando seu desejo pelo bem-estar e crescimento espiritual deles.

Em Efésios 6, o autor enfatiza a importância da batalha espiritual que os crentes enfrentam e a necessidade de estarem equipados com a armadura de Deus. Esta armadura inclui qualidades como verdade, justiça, fé e a Palavra de Deus. O capítulo também destaca a importância da oração e da súplica para manter a prontidão espiritual e apoiar os irmãos crentes. Em última análise, Efésios 6 sublinha a necessidade dos crentes permanecerem firmes na sua fé, confiando na força e protecção de Deus enquanto enfrentam os desafios e batalhas da vida cristã.

Interpretação

Filhos e Pais. 6:1-4.
O apóstolo prossegue com outro relacionamento específico, o de pais e filhos, com obrigações impostas a ambos os lados.

6:1. Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor. Obediência é um termo mais forte do que submissão, que foi apresentada como a obrigação da esposa. No Senhor. “A esfera na qual ela deve se movimentar, pois a obediência cristã é completa tia comunhão com Cristo” (Salmond). Pois isto é justo. Aqui está se mostrando que este é um princípio eterno de Deus.

6:2. Honra a teu pai e a tua mãe. Paulo mostra que a Lei tem a mesma injunção. Todos os Dez Mandamentos, exceto o quarto, foram reformulados e aplicados sob a graça. É o primeiro mandamento com promessa. Isto é, uma promessa foi dada à obediência.

6:3. Para que te vá bem. Isto deve ser uma continuação da citação da Lei e não se aplica diretamente ao crente na presente dispensação. Embora o princípio continue sendo verdadeiro, a próxima vinda do Senhor, mais do que uma vida longa, é a bendita esperança do cristão.

6:4. E vós, pais. Como antes, há um outro lado da responsabilidade. Primeiro ela foi declarada negativamente e, então, afirmativamente. Mas criai-os. Cons. Dt. 6:7. Passagem paralela é Cl. 3:20, 21.

Servos e Senhores. 6:5-9.
Um terceiro conjunto de relacionamento está sendo agora discutido – o de senhores e servos. A escravidão existia como instituição no tempo do N.T. Não era função do Evangelho derrubar a escravidão, embora a abolição gradual dessa instituição tenha sido um produto derivado do Cristianismo.

6:5. Vós... servos. Literalmente, escravos. Entretanto, os princípios se aplicam a qualquer tipo de empregada e empregadores. Na sinceridade do vosso coração. De verdade e com sinceridade – não com hipocrisia. Como a Cristo. Cons. I Pe. 2: 18; Cl. 3: 22-25.

6:6 Não servindo à vista, como para agradar a homens. Uma amplificação do que já foi dito. A palavra traduzida para agradar a homens aparece na Septuaginta, mas, no N.T., só se encontra aqui e em Cl. 3:22. Fazendo de coração a vontade de Deus. Literalmente, da alma – isto é, com todo o ser.

6:7. Servindo de boa vontade. Um cristão que é um servo contratado deve reconhecer que sua primeira responsabilidade é com o Senhor Jesus Cristo. Quando ele executa o trabalho que se espera dele e o faz bem, está agradando ao Senhor.

6:8. Certos de que. Este é um conectivo causal – porque nós temos certeza que há uma recompensa para a fidelidade no serviço prestado a Cristo. Quer seja servo, quer livre. A posição de uma pessoa neste mundo nada tem a ver com a sua fidelidade e com a recompensa pela sua fidelidade.

6:9. E vós, senhores. Aqui se enfatizam as obrigações dos empregadores. De igual modo procedei para com eles. O lado positivo, mostrando a mutualidade da obrigação. Deixando as ameaças. O que os senhores não devem fazer. Sabendo. Isto é, porque vocês sabem. Que o Senhor tanto deles como vosso. Esses senhores também têm um Senhor. Este é o Senhor (Kurios). Ele não faz acepção de pessoas (cons. Cl. 4:1). Todos esses relacionamentos práticos fluem da plenitude do Espírito Santo, prescrita em Ef. 5:18.

A Caminhada Cristã como uma Guerra. 6:10-20.
Em toda esta divisão da epístola muito se disse sobre a vida cristã prática. Neste parágrafo o andar do cristão foi descrito como uma batalha, um conflito mortal no qual ele está alistado contra o poder de Satanás e suas hostes.

Sendo Fortes no Senhor – a Armadura Completa de Deus. 6:10-17.
Sendo esta caminhada uma guerra, como foi aqui descrita, o cristão deve estar preparado e equipado. Esta passagem que trata de toda a armadura de Deus mostra que provisão maravilhosa Jesus fez para os seus guerreiros.

6:10. Quanto ao mais. Aqui estão exortações gerais que concluem a epístola. Irmãos meus (E.R.C.). Paulo faz seus leitores se lembrarem do seu relacionamento com eles no Senhor. Sede fortalecidos no Senhor. O Senhor Jesus disse, "Sem mim, nada podeis fazer" (Jo. 15:5; cons. também Fp. 4:13). E na força do seu poder. Três palavras foram usadas no versículo para o termo força. Primeiro, foi usado o verbo no imperativo, sede fortalecidos ou capacitai-vos; depois a palavra para força e, finalmente, a palavra para poder – na força do seu poder.

6:11. Revesti-vos de toda a armadura de Deus. Ainda que Deus a tenha providenciado, o indivíduo cristão tem a responsabilidade de vesti-la; isto é, ele deve conscientemente se apropriar do poder que o Senhor Jesus Cristo põe à sua disposição. Toda a armadura de Deus. A armadura está descrita em detalhes, como também os inimigos que o crente tem de enfrentar. Para poderdes ficar firmes.* Sem esta armadura de Deus, o cristão não tem capacidade de permanecer firme. Aquele que está assentado com Cristo nos lugares celestiais e andando neste mundo tem também de tomar agora uma posição contra as ciladas – os métodos ou estratagemas – do diabo.

6:12. Porque a nossa luta não é. O motivo porque precisamos de toda a armadura de Deus. Contra o sangue e a carne. Os israelitas sob o comando de Josué tiveram de lutar contra a carne e o sangue a fim de conquistar a terra de Canaã. A nossa guerra é espiritual e não física. E, sim, contra os principados. Não uma comparação, mas uma negação absoluta. Nas hostes de Satanás encontramos diferentes categorias. Não é possível fazer separações distintas entre os diversos tipos de inimigos aqui mencionados. Contra os dominadores deste mundo tenebroso. Literalmente, os príncipes do mundo destas trevas. Contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Esta é a última das cinco vezes em que en tois epouraniois, "nas regiões celestiais", ocorre na epístola.

6:13. Portanto. Sendo os nossos inimigos exatamente como foram descritos. Tomai toda a armadura. Novamente a responsabilidade humana enfatizada. Para que possais resistir. Observe que a passagem fala de ambos, resistir e estar firme. O primeiro é a capacidade de vencer a luta, manter a posição; o último mostra o resultado do conflito.

6:14. Estai, pois, firmes. Neste e nos versículos seguintes a armadura está descrita em detalhes. Todas essas coisas falam num certo sentido do próprio Senhor Jesus Cristo, que é a nossa defesa. Cingindo-nos com a verdade. Aquele que tem os lombos cingidos está preparado para a atividade (cons. I Pe. 1:13). Da couraça da justiça. Cons. Is. 59:17.

6:15. Calçai os pés. Grande parte da linguagem desta seção foi tirada de diversas passagens do V.T. (cons. Is. 52:7). A preparação. Isto é, aquilo que nos prepara. Isto pode corresponder aos calçados ou botas. Do evangelho da paz. As boas novas caracterizadas pela paz ou resultando na paz.

6:16. Embraçando sempre o escudo da fé. Genitivo de aposição; isto é, o escudo que consiste da fé ou é a fé. Os dardos inflamados do maligno. A palavra maligno está no singular è sem dúvida no masculino, não no neutro – portanto o maligno – isto é, o próprio Satanás. Toda a vestimenta de um soldado romano foi apresentada nesta passagem, e as diversas partes foram aplicadas espiritualmente.

6:17. Tomai também o capacete da salvação. Novamente, o capacete que é a salvação. A espada do Espírito.* Não o mesmo tipo de genitivo como o anterior; talvez um ablativo de fonte ou origem. Isto é, a espada fornecida pelo Espírito. Que é a palavra de Deus. A palavra de Deus é uma espada penetrante. Aqui foi usado hrêma, “palavra” com o significado de pronunciamento. Em passagem semelhante, em Hb. 4:12, foi usado logos, “palavra” com o significado de conceito ou ideia. As Escrituras são ambos, hrêma e logos. Todas as partes da armadura mencionadas acima, até agora são partes defensivas. A espada do Espírito é a única arma ofensiva, além de defensiva.

Oração por Todos os Santos e por Paulo. 6:18-20.
6:18. Orando em todo tempo. A palavra de Deus deve sempre ser usada em conexão com a oração da fé (cons. I Ts. 5:17; Cl. 4:2). Oração e súplica. A primeira palavra é usada para orações em geral, e a última para pedidos. No Espírito. O mesmo Espírito Santo que brande a espada da Palavra, também deve estar ativo em nossos corações. Por todos os santos. Paulo não restringiria as orações deles especificamente a seu favor, embora mencione a sua pessoa no versículo seguinte.

6:19. E também por mim. Isto é, por mim em particular; isto devido às circunstâncias de Paulo no momento. Para que me seja dada... a palavra com intrepidez. Mesmo na cadeia Paulo não estava pensando primeiramente em seu bem-estar, mas no seu testemunho para o Senhor Jesus Cristo. Lemos em Atos 28:30, 31 que Paulo falava a todos que vinham visitá-lo, enquanto esteve prisioneiro em casa alugada por ele mesmo, em Roma. Para... fazer conhecido o mistério do evangelho. Não que o Evangelho seja ainda um segredo para aqueles que o venham a receber.

Saudações Finais. 6:21-24.
6:21.
E para que saibais também a meu respeito. Uma das poucas referências pessoais nesta epístola. Tíquico. Evidentemente o portador da carta (cons. Cl. 4:7).

6:22. Vo-lo enviei. Tempo aoristo epistolar. Paulo o envia, mas quando eles estivessem lendo a carta, já teria sido enviado. Como quando escreveu aos filipenses, Paulo quer que saibam como está passando, e quer saber a respeito deles.

6:23. Paz seja com os irmãos, e amor com fé. Só Deus pode dar essas qualidades.

6:24. A graça, literalmente; isto é, a graça além da qual não existe nenhuma outra. Com todos os que amam sinceramente a nosso Senhor Jesus Cristo. Isto é, os crentes.