Interpretação de Mateus 10

Mateus 10

Mateus 10 é um capítulo significativo no Evangelho de Mateus, pois marca uma virada crucial no ministério de Jesus. Neste capítulo, Jesus comissiona Seus doze discípulos e os envia para cumprir Sua missão e proclamar o Reino de Deus.

O capítulo começa com Jesus chamando Seus doze discípulos pelo nome e concedendo-lhes autoridade para expulsar espíritos imundos e curar várias doenças. Ele os instrui a ir exclusivamente para as ovelhas perdidas de Israel, enfatizando sua missão inicial de se concentrar no povo judeu, já que o ministério de Jesus visa principalmente a nação de Israel durante esse período.

Jesus fornece aos discípulos orientações específicas para a sua missão. Ele os aconselha a viajar com leveza, confiando na provisão de Deus e na hospitalidade daqueles que encontram. Ele os adverte sobre a oposição que enfrentarão, aconselhando-os a serem sábios e inocentes como serpentes e pombas.

Além disso, Jesus adverte os discípulos sobre o potencial de perseguição e os desafios que encontrarão em seu ministério. Ele os assegura de que o Espírito Santo os guiará e lhes dará as palavras para falar quando enfrentarem situações difíceis, dando-lhes sabedoria e coragem divinas.

Jesus encoraja os discípulos a não temer aqueles que só podem prejudicar o corpo, mas a temer a Deus, que tem autoridade sobre o corpo e a alma. Ele os lembra do cuidado e conhecimento de Deus até mesmo nos menores detalhes de suas vidas.

Neste capítulo, Jesus também aborda o custo do discipulado, afirmando que segui-lo pode resultar em divisão até mesmo dentro das famílias. Ele enfatiza a necessidade de priorizar a fidelidade a Deus acima de todos os outros relacionamentos, reconhecendo que tomar a cruz e segui-lo envolve sacrifício e dedicação.

O capítulo termina com a afirmação de Jesus de que quem recebe os discípulos e a sua mensagem, a Ele recebe, e quem O recebe, recebe o Pai que O enviou. Ele enfatiza a importância de receber e apoiar aqueles que são enviados por Deus para anunciar a boa nova do Reino.

Em termos gerais, Mateus 10 registra o comissionamento de Jesus a Seus doze discípulos, enviando-os para realizar Seu ministério e proclamar o Reino de Deus. Ele lhes concede autoridade e os prepara para os desafios e a oposição que enfrentarão, fornecendo orientação, encorajamento e garantia do apoio divino por meio do Espírito Santo. Este capítulo destaca o custo do discipulado, a prioridade da missão de Deus acima de tudo e a importância de receber e apoiar aqueles que são enviados por Deus para compartilhar Sua mensagem com o mundo.

Interpretação

10:1-42 Depois de uma declaração explicatória e enumeração dos Doze, Mateus apresenta o desafio que Cristo lhes faz na sua primeira missão. A mensagem está em três partes, destacadas pela frase “Em verdade vos digo” (vs. 15, 23 e 42). a) Instruções para a viagem imediata (vs. 5-15). b) Advertência sobre as futuras perseguições, culminando com o Segundo Advento (vs. 16-23). c) Encorajamento geral para todos os crentes (vs. 24-42).

10:1. Seus doze discípulos. Este grupo foi formado anteriormente, e agora, depois de um período de instrução (Mc. 3:14) foram enviados em uma missão. Deu-lhes autoridade. O direito e a capacidade. Incluída entre esses poderes delegados estava a capacidade de expulsar espíritos imundos e de curar todo o tipo de enfermidade (observe que Jesus diferenciou claramente entre possessão demoníaca e enfermidade)

10:2 Os nomes dos doze apóstolos estão relacionados em outros três lugares (Mc. 3:16 e segs.; Lc. 6:14 e segs.; Atos 1:13). A comparação mostra que cada lista tem três grupos contendo os mesmos quatro nomes, ainda que nem sempre na mesma ordem. Entretanto, Pedro é sempre o primeiro nome no grupo um, Filipe é sempre o primeiro no grupo dois, e Tiago, filho de Alfeu, o primeiro no grupo três. Judas Iscariotes quando incluído é sempre o último. Mateus os cita aos pares, provavelmente porque foram assim enviados (Mc. 6:7). Apóstolos. Papiros descobertos confirmam o significado de “um devidamente habilitado representante de um oficial superior”. Primeiro Simão. Não o primeiro escolhido, e não simplesmente o primeiro da lista, mas provavelmente uma referência à importância de Pedro no círculo apostólico (conf. 26:40; Pentecostes; casa de Cornélio; e outras). Mas ele era o primeiro entre iguais. O N.T. não fala nada sobre uma supremacia Petrina sobre os demais apóstolos (conf. Gl. 2:11; I Pe. 5:1).

10:3 Bartolomeu é um patronímico de Natanael (Jo. 1:46). Mateus, o publicano. Um epíteto autodepreciativo empregado apenas no Evangelho do autor. Tadeu, também chamado Lebeu (em alguns textos antigos), é aparentemente o mesmo Judas, irmão de Tiago (Lc 6:16; Atos 1:13).

10:4 Simão, denominado aqui pelo nome aramaico “o Zelote” (conf. Lc. 6:15; At. 1:13). Aparentemente ele pertenceu ao fanático grupo político dos zelotes. Iscariotes. Provavelmente significando “homem de Quiriote”. Quiriote seria uma cidade na Judéia.

10:5 A ordem de Jesus proibindo qualquer missão entre os gentios ou em cidade de samaritanos (mestiços rivais que mantinham um culto rival e eram desprezados pelos judeus; (Jo. 4:9, 20) não era devido a preconceito (Jo. 4), nem foi permanente (Atos 1:8).

10:6, 7 No momento, entretanto, sua mensagem anunciava o reino dos céus, messiânico (veja 3:2; 4:23), do qual a casa de Israel era herdeira.

10:8 Entre os poderes miraculosos que lhes foram concedidos estava a autoridade de ressuscitar mortos, ainda que não haja nenhum registro de tal poder empregado nessa missão. Esses serviços tinham de ser prestados de graça, sem receber nada em troca, pois sua autoridade fora recebida da mesma maneira.

10:9 Não vos provereis de ouro. Essas instruções só se aplicaram a esta missão específica de duração limitada (conf. Lc. 22:35, 36). Não deviam levar dinheiro em seus cintos (bolsas).

10:10 Alforje. Mochila, saco de viagem. Não deviam providenciar túnicas e sandálias extras, nem bordão (ainda que pudessem usar as sandálias e o bordão que já possuíam Mc. 6:8, 9). O sustento viria de ouvintes gratos.

10:11. Indagai quem neles é digno. Ao proclamar a sua mensagem (v. 7), a reação revelaria quem se sentia espiritualmente inclinado a aceitá-los. Quando lhes oferecessem hospitalidade, os discípulos deveriam aceitá-la durante a duração de sua visita.

10:12 Deviam saudar da maneira costumeira (saudai, o que consistia no rico shalom, “paz”).

10:13 Se os discípulos descobrissem que seu hospedeiro não era digno, mas declaradamente antagônico a seus propósitos e mensagem, sua declaração de paz não deveria ser desperdiçada, mas deveria ser retirada (torne para vós) para uso posterior.

10:14 Se o antagonismo forçasse o abandono de tal casa ou mesmo de toda uma cidade, o simbolismo de se sacudir o pó dos seus pés retrataria viva e solenemente a liberdade dos discípulos do envolvimento na culpa dos seus oponentes no juízo vindouro.

10:15 Sodoma e Gomorra. Dois exemplos muitas vezes usados de cidades condenadas (Is. 1:9; conf. Gn. 18:20; 19:24-28). Em verdade vos digo. Esta fórmula conclui cada parte destas instruções (conf. vs. 23, 42).

10:16 Esta segunda porção das instruções vai além da missão específica, lançando olhares para os perigos futuros, e chega a dar uma visão dos tempos escatológicos. Lobos. Oponentes perversos (7:15; Lc. 10:3; Jo. 10:12; Atos 20:29).

Prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. “Sozinha, a prudência da serpente é mera astúcia, e a simplicidade da pomba pouco mais que fraqueza; mas combinadas, a prudência da serpente salvaria da exposição desnecessária ao perigo; a simplicidade da pomba, dos expedientes pecaminosos de escapar dele” (JFB, III, 81).

10:17 Tribunais. Os tribunais locais encontrados em todas as cidades (Jt. 16:18).

10:18. Governadores e reis. Não há nenhuma sugestão de que isto acontecesse na sua primeira missão; assim, com típico método profético, Jesus usa a ocasião presente para tratar de assuntos um tanto distantes no tempo. Agripa I, Félix, Festo, Agripa II, Sérgio Paulo e Gálio foram alguns dos que ouviram o testemunho relativamente a Cristo e aos apóstolos.

10:19, 20. Não cuideis. O Espírito proveria os apóstolos com o seu testemunho oral (como também inspiraria seus escritos).

10:21, 22 Perseguição do tipo mais doloroso, até atingindo as famílias, deveria ser esperada. Entretanto, não deviam se entregar ao desespero, pois o livramento estava prometido (conf. 24:13).

10:23. Fugi para outra. O martírio não devia ser buscado; devia se tomar um cuidado razoável com a vida. Antes que todas as cidades de Israel fossem visitadas dessa maneira, o Filho do homem viria. Em contexto semelhante, de Mt. 24:8-31, a Grande Tribulação e o Segundo Advento foram examinados. Daí, a “vinda do Filho do Homem” provavelmente também é escatológica aqui. Isto seria entendido mais prontamente pelos discípulos, que dificilmente pensariam em colocar esta “vinda” ao lado da destruição de Jerusalém em 70 A.D. Eis aí, portanto, uma promessa de libertação da maior de todas as perseguições. A parte final dá um encorajamento geral para todos os crentes (vs. 24-42).

10:24, 25. O relacionamento de Cristo com os crentes foi apresentado por, meio de três figuras: discípulo e mestre, servo e senhor, dono da casa e seus domésticos. Se o próprio Jesus recebeu maus tratos, seus subordinados não podem esperar melhor tratamento.

Belzebu (antes Belzebul ou Bezebul) era considerado o “príncipe dos demônios” (Mt. 12:24; Lc. 11:15), ao que parece idêntico a Satanás. Essa ortografia não ocorre em nenhum outro lugar da literatura judia fora do N.T. A verdadeira explicação é incerta, embora pareça estar relacionado com “Baal-Zebube”, deus de Ecrom (II Reis 1:16).

10:26, 27 Não os temais. Este encorajamento baseia-se no conhecimento de que o juízo final de Deus vingará os crentes e acertará contas com os perseguidores. Assim, de acordo com esta máxima muitas vezes usada por Jesus, aquilo que os Doze receberam em particular (encoberto, em trevas) devia ser destemidamente pregado em público (plena luz, dos eirados).

10:28 Em resposta à objeção de que tal atitude poria suas vidas em perigo, Jesus os lembra de que é mais importante temer ao que tem autoridade sobre a alma e sobre o corpo, e pode fazer ambos perecerem no inferno (Geena). Aqui se fala de Deus sem dúvida, não de Satanás, pois aos crentes nunca foi dada ordem de temer Satanás (mas de lhe resista); nem Satanás destrói os homens no inferno (ele mesmo será punido ali).

10:29-31 A providência divina, que se estende até os mínimos detalhes deste mundo, fornece um antídoto adicional para o medo. Dois pardais. Aves familiares na Palestina, usadas às vezes como alimento. Um asse (assarion). O asse ou assarion romano era uma moeda de cobre, com o valor aproximado de um dezesseis avos do denário (Arndt). Lucas diz que duas dessas moedas poderiam comprar cinco passarinhos (12:6). Sem o consentimento de vosso Pai. Não apenas sem o seu conhecimento; o pensamento do contexto é que sem a sua direção providencial nem mesmo um acontecimento insignificante como esse pode acontecer. Essa providência se aplica aos mínimos detalhes de nosso ser (os cabelos todos da cabeça).

10:32, 33 A perspectiva de juízo divino pode também servir de impedimento a que se submeta diante da perseguição.

Todo aquele que me confessar refere-se ao reconhecimento genuíno de Jesus como Senhor e Salvador, com tudo o que esses termos implicam. Diante dos homens. Indica uma confissão pública diante de interrogadores humanos, em contraste como reconhecimento dos crentes da parte de Cristo diante do Pai, que está nos céus. Aquele que me negar (conf. II Tm. 2:12). O tempo do verbo em grego (aoristo, constativo) não se refere a um momento de negação (Pedro, por exemplo), mas à vida na sua inteireza, a qual Cristo é capaz de avaliar com exatidão.

10:34-39 As advertências precedentes sobre o perigo porvir podem levar alguém a imaginar porque a necessidade de tal sorte. Jesus explica que a sua mensagem, pregada em um mundo rebelde e perverso, seria recebida com hostilidade. Espada. Um símbolo de divisão e áspero conflito, conforme os exemplos nos versículos 35, 36.

10:35, 36 Causar divisão significa literalmente dividir em dois. O Evangelho de Cristo tem muitas vezes provocado a desunião até mesmo dentro dos círculos familiares, não por alguma falha do Evangelho, mas por causa da atitude rebelde dos corações pecadores que não se arrependem. A ilustração mostra uma família de cinco membros assim desunidos: pai e mãe, filha solteira, filho solteiro e a sua noiva, que morava na casa do pai, segundo o costume oriental.

10:37 Por mais dolorosas que essas divisões sejam, um discípulo não deve permitir que seus afetos naturais enfraqueçam de alguma maneira a sua união com Cristo. Chegará o momento em que ele será forçado a fazer uma escolha.

10:38 A sua cruz. Embora Jesus não tivesse mencionado ainda a sua iminente crucificação, esta primeira referência a uma cruz feita por nosso Senhor, não precisava de explicação. Os judeus já tinham visto milhares de seus conterrâneos crucificados pelos romanos (Josefo, Antig. xvii, 10.10). Por isso a submissão até mesmo à morte, se necessário, é uma exigência se quisermos ser dignos de sermos chamados seguidores de Cristo.

10:39 Quem acha a sua vida. Psychê indica aquilo que anima o corpo e aquilo onde reside a consciência e o espírito. “Vida” e “alma” são duas tentativas da língua portuguesa para se traduzir essa palavra de muitos aspectos. O sentido é este: Aquele que na perseguição salva a sua vida negando a Cristo, perdê-la-á finalmente e para sempre (particularmente o aspecto da alma); mas aquele que perde a sua vida por amor a Cristo salvará a sua vida eternamente.

10:40-42 Concluindo este desafio Jesus demonstra que aqueles que enfrentarem a perseguição serão devidamente recompensados. Quem vos recebe. Não como um simples hóspede, mas na qualidade de mensageiro de Cristo. Nosso Senhor considera essa recepção como se fosse feita a ele mesmo.

Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, isto é, por causa dele ser um profeta (um porta-voz comissionado por Deus). Aqueles que não são profetas participam de suas lutas e também de suas recompensas.

Um destes pequeninos. O menor dos favores realizado para ajudar ao mais insignificante dos servos de Cristo (conf. Mt. 25:40) não passará despercebido por nosso Senhor.

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