A Origem do Judaísmo

A Origem do Judaísmo
(Enciclopédia Bíblica Online)
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O Judaísmo existente no primeiro século era produto do exílio. Antes do cativeiro, o povo de Israel e de Judá tinha dado a lei uma lealdade apenas espasmódica. O culto de Jeová tinha sido a sua fé legítima e oficial, mas era frequentemente “mais honrado na violação do que no cumprimento”. No nono século a.C, todo o reino do norte tinha sido levado para o culto de Baal, sob a influência de Jezabel, rainha fenícia de Acabe, e tinha depois sido revocado ao culto de Jeová tão somente pelo ministério heróico de Elias. Semelhantemente, o culto do templo do reino do sul caiu em negligência e desuso durante os reinados de Manassés e Amon no oitavo século, reis que apadrinharam a introdução de divindades estranhas. Sobre a vigorosa administração de Josias, o templo foi purificado, o culto de Jeová restaurado e o livro da lei, que fora achado durante a reconstrução do templo, foi de novo restituído ao seu legítimo posto de autoridade (2 Cr 34:1-33). Durante todo o tempo em que o povo viveu na Palestina, rodeado de vizinhos pagãos prósperos e poderosos e sujeito à sua influência, foi tentado a experimentar o culto alheio e a abandonar o Deus de seus pais. Foi em vão que os profetas se opuseram a essa tendência que surgiu durante a peregrinação do povo no deserto (Nm 25:1-3), e que persistiu até o período do cativeiro e exílio (Ez 14:1-5, Jr 7:16-20).

O cativeiro pôs o povo judaico perante uma dura alternativa. Ou os judeus se entregavam inteiramente ao culto de Jeová, o único Deus verdadeiro, e por essa fidelidade conservariam o gênio e o propósito da sua existência nacional, ou seriam absorvidos, tanto religiosamente como politicamente, pelas nações para as quais foram levados em exílio. Para a escolha da primeira alternativa precisavam de dar toda a atenção às exigências da lei e de estabelecer idéias ou quaisquer processos de culto que tomassem o lugar do ritual do templo, que tinha cessado com a destruição do edifício central e com a subsequente dispersão do sacerdócio. O livro da lei podia ser levado com eles para o seu novo lugar de residência, ao passo que o culto do templo, tanto quanto podiam ver, tinha desaparecido para sempre.

Foi enquanto os cativos do reino do sul estiveram na Babilônia, durante o século sexto a.C., que começou a formar-se o novo judaísmo. Em primeiro lugar, foi banida a idolatria. Enquanto que o culto de Baal e de outras divindades Cananeus tinha sido insensatamente adotado antes da tomada de Jerusalém, a amarga disciplina do cativeiro tinha ensinado os sobreviventes a voltarem-se para Jeová. O espírito inteiro do livro de Daniel, em que toda a participação no culto pagão é escarnecida e em que Daniel e os seus companheiros confessaram a sua vontade de adorar semente e a todo o custo a Jeová, é um testemunho de salutar mudança que se deu na índole espiritual dos exilados.

Com o forçado fim dos sacrifícios, o estudo da lei, ou Tora, começou a tomar o seu lugar. Durante os dois reinos, o adorador individual podia contar largamente com a participação no culto público como uma expressão da sua fé. Essa expressão pode ter sido sincera, mas dificilmente atingiria a vitalidade que o estudo individual dos preceitos de Deus podia proporcionar. Na reforma de Josias, a leitura da lei ao povo foi uma feição característica do movimento reformador (2 Cr 34:29,30), mas no exílio havia a tendência crescente de cada pessoa estudar, por si mesma, a lei. O escriba, como Esdras, que estudou e interpretou a lei, tornou-se um personagem tão importante entre o povo, como o tinha sido o sacerdote no tempo em que funcionava o templo (Ed 7:1-6). Nos tempos de Jesus, os escribas eram personagens de valor na religião judaica.

Com o nascimento da sinagoga estabeleceu-se um novo centro de culto. A grande dispersão de povo no cativeiro e as suas peregrinações dos anos que se seguiram tornaram necessária qualquer forma de reunião. Até depois de restaurado o templo, havia muita gente que não podia assistir às cerimônias nele realizadas. A fim de conservarem as pessoas reunidas em volta do estudo da lei, logo que em qualquer parte houvesse dez homens para formar uma congregação, eram criadas sinagogas nas várias comunidades em que eles viviam. Nessas sinagogas se reunia o povo para oração e para culto no sétimo dia da semana. A instituição da sinagoga foi tão firmemente estabelecida que continuou mesmo depois da reconstrução do templo, e no primeiro século havia em Jerusalém sinagogas que prosseguiam nas suas atividades correntemente com as do templo (At 6:9). Embora não ocorra menção alguma de sinagoga no Antigo Testamento, não há dúvida de que tal instituição se desenvolveu entre os anos do cativeiro e o advento de Cristo, pois durante a Sua vida florescia na Palestina.

A vida religiosa que se desenvolveu em volta da sinagoga era uma adaptação dos velhos ritos e observâncias do judaísmo às novas condições em que o povo tinha de viver. Muitos deles tinham passado da vida pastoril e agrícola da Palestina para a intensa atividade comercial de grandes cidades. Não se podiam realizar as festas com todas as características do culto das aldeias. Problemas e dúvidas patenteadas pela nova maneira de viver exigiam novas respostas. Novas influências do mundo gentílico que os cercava, pesavam sobre eles em grande força. Eram inevitáveis algumas mudanças, mas o Judaísmo reteve o principal — os princípios essenciais do velho culto prescrito pela lei e pregado pelos profetas.