Comentário de Romanos 10:1-21 (J. W. Scott)

Romanos 10

Paulo não pode desdenhar a situação dos judeus. O desejo de seu coração, apresentado a Deus ansiosamente, é que sejam salvos (Rm 10.1). O gosto que têm pela religião é grande. Mas esse deleite não é com entendimento (2); tal atitude procede da ignorância deles (3). Não quer dizer que os judeus não sejam esclarecidos e não tenham revelação da justiça de Deus. Antes, não prestaram a devida atenção (gr. epignosis) e ignoraram (gr agnoeo) a justiça de Deus. Sua ignorância é culposa. Não se trata da perspicácia deles; todavia não apreenderam plenamente o ponto crucial de que Deus tem uma justiça que fica acima da justiça da lei. Não vêem que Cristo é o fim da lei, a qual entra em declínio e atinge seu alvo (4). Cristo é a verdadeira justiça; a da lei mosaica podia bastar se esta pudesse ser guardada, visto que a justiça da lei devia ser observada (5). Contudo, a justiça da fé difere totalmente. É justiça aplicada, quando Deus a aplica ao homem.

Paulo descreve então para os seus leitores o método divino. Seu primeiro ponto é que o caminho da salvação não é difícil e remoto, porém está perto e é fácil (vers. 5-10). Cita Dt 30.11-14 e dá uma interpretação às palavras referindo-as a Cristo, o que ele faz com solicitude. Cristo pode ser sempre achado pela fé, e de igual modo o evangelho. Os vers. 9 e 10 indicam o conteúdo do primitivo credo cristão. Cfr. a resposta de Paulo à pergunta do carcereiro de Filipos, em At 16.31. A salvação é uma questão de confiança pessoal num Salvador vivo, o que se evidenciará por uma confissão franca. Os atos de crer e de testemunhar se completam; Paulo não podia entender um sem a outro. A citação feita no vers. 11 é repetição de Rm 9.33, palavras tiradas de Is 28.16. Segue com naturalidade o pensamento de que os que crêem também se orgulharão em confessá-lo. Escolhe então a expressão Todo aquele para introduzir o segundo ponto, de que o caminho da salvação está ao alcance de todos, judeus e gentios (vers. 11-13). Esta universalidade do evangelho é frisada por outra citação de Jl 2.32, o que leva inevitavelmente à conclusão de que, se não invocarem o nome do Senhor (13), os judeus se responsabilizarão por sua própria condenação.

2. OS JUDEUS NÃO TÊM DESCULPA DE SUA INCREDULIDADE (Rm 10.14-21) -Israel não pode validamente objetar que houve falta de oportunidade ou de aviso. Em primeiro lugar, o evangelho, essa justiça de Deus pela fé, tem sido pregado universalmente (18). Os judeus podem alegar, para se exonerarem de sua incredulidade, que a pregação do evangelho nunca os alcançou (14). Paulo responde por uma série de perguntas e respostas, de permeio com as palavras da profecia (ver Is 53.1; Sl 19.4; Dt 32.21; Is 65.1-2). Em segundo lugar, legislador e profeta de igual modo emitiram um aviso de que Israel rejeitaria a mensagem de Deus (19-21). Os judeus não podem alegar ignorância para a sua atitude. Não podem dizer que nada lhes foi dito. Deus provocou essa nação e a enraiveceu com aquele que não era povo, uma nação vazia de entendimento (Dt 32.21). E Isaías, que afirma que Deus foi achado por aqueles que não o procuravam, e se revelou aos que não perguntavam por Ele (Is 65.1), registrou que Israel, pelo contrário, repeliu a aproximação de Deus por sua desobediência e contradição.

Paulo agora passa a considerar mais detidamente se o fato histórico da apostasia dos judeus e o conseqüente desamparo da parte de Deus, redundam necessariamente na rejeição final e absoluta de Israel. Ele chega a uma conclusão negativa e vibra, cheio de esperança, ao reafirmar o fato do remanescente fiel e de uma eleição de entre eleitos. Depois, confia que, como os judeus contribuíram para a conversão dos gentios, assim estes serão os agentes da conversão dos judeus. O resultado do propósito divino será a inclusão de todos sob a graça.


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