Significado de Gênesis 20

Gênesis 20

Gênesis 20 é um capítulo que descreve o engano de Abimeleque, o rei de Gerar, por Abraão, afirmando que Sara é sua irmã e não sua esposa. Abimeleque leva Sara para seu harém, mas Deus o avisa em sonho que ela é na verdade a esposa de Abraão. Abimeleque confronta Abraão, que admite seu engano e faz um tratado com ele. Deus também intervém e protege Sara do mal.

Além disso, Gênesis 20 levanta questões importantes sobre as consequências da mentira e a importância da honestidade e integridade. Ele destaca a falta de confiança de Abraão na proteção de Deus e sua disposição de enganar os outros para se salvar. O capítulo também revela a misericórdia de Deus e a proteção de Sara, apesar dos erros de Abraão.

Este é um capítulo que enfatiza o tema da honestidade e integridade. Descreve as consequências da mentira e a importância de confiar na proteção de Deus. O capítulo também destaca a misericórdia de Deus e a proteção de seu povo, mesmo quando eles ficam aquém de suas expectativas.

Gênesis 20 retrata o engano de Abimeleque por Abraão e as consequências que se seguem. O capítulo levanta questões importantes sobre a importância da honestidade e integridade e enfatiza a necessidade de confiar na proteção de Deus. Ele destaca a misericórdia de Deus e a proteção de seu povo e fornece informações valiosas sobre as consequências da mentira.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

Gênesis 20 articula um léxico e uma sintaxe que passam do hebraico ao grego da LXX e, daí, entram naturalmente no uso do Novo Testamento, de modo que a história de Abraão, Sara e Abimeleque se torna um laboratório filológico-teológico dessa continuidade. O relato abre com a tomada de Sara e a intervenção divina “em sonho, de noite” (Gênesis 20:3), que a LXX verte com a locução temporal e modal típica en hypnō tē nykti e qualifica a situação conjugal de Sara como synōikēkyia andri (“unida em matrimônio a um marido”), solução que explicita o hebraico beʿūlat baʿal (“mulher casada”) e já fornece ao leitor helenófono o vocabulário doméstico que o NT retomará quando exorta maridos a “coabitar” com as esposas (sunoikein, 1 Pedro 3:7). A fórmula onírica da LXX favorece a recepção, em grego, do motivo da revelação em sonhos que reaparece na narrativa de José em Mateus 1:20; Mateus 2:13; 19, evidenciando a mesma cena discursiva: Deus “vem” e “fala” no sonho para reorientar decisões humanas.

A defesa de Abimeleque se ancora em dois pares éticos que a LXX fixa com força: “integridade de coração” e “inocência/retidão das mãos” — en kathara kardia e en dikaiosynē cheirōn (Gênesis 20:5–6). O hebraico bĕtōm lēvāvî e bĕniqqāyōn kappāyim (“integridade do meu coração” e “inocência das minhas mãos”) ganham, no grego, um campo lexical que o NT aproveitará no ensino ético (pureza do coração: Mateus 5:8; obras justas das mãos: Tiago 4:8). O mesmo acontece quando Abraão justifica sua meia-verdade: “eu disse: certamente não há ‘temor de Deus’ neste lugar” (Gênesis 20:11). A LXX opta por theosebeia (“piedade/temor de Deus”) em vez de traduzir literalmente yirʾat ʾĕlōhîm, aproximando a fala do patriarca do conjunto terminológico de eusebeia/theosebeia que se tornará corrente na parênese do NT (especialmente nas Pastorais), sem perder o conteúdo reverencial do “temor do Senhor”.

O versículo programático do capítulo é a designação de Abraão como nāvīʾ (“profeta”) e a mediação intercessória: “agora, devolve a mulher do homem, pois ele é profeta e orará por ti, e viverás” (Gênesis 20:7). A LXX verte prophētēs e usa o futuro médio proseuxetai peri sou (“orará por ti”), consolidando exatamente o par semântico que o NT normaliza: o prophētēs como agente de palavra e o proseuchesthai como ato que alcança vida, cura e reconciliação (Tiago 5:16–18). Também é relevante que o verbo de restituição seja apodidōmi (apodos), termo jurídico-relacional que o NT emprega tanto para “pagar/devolver” quanto para o dever de justiça nas relações humanas (Romanos 13:7).

No desfecho, a LXX narra: “Abraão orou a Deus, e Deus curou (iasato) Abimeleque, sua mulher e suas servas; e elas conceberam; porque o Senhor havia fechado (syneklēsen) toda matriz na casa de Abimeleque” (Gênesis 20:17–18). Esses verbos abrem duas pontes diretas com o grego do NT. Primeiro, iaomai (“curar”) estrutura o vocabulário de cura nos Evangelhos e em Atos, mas aqui já aparece a ligação orgânica entre intercessão e restauração — o que explica a naturalidade com que as cartas pastorais e católicas tratam a oração como meio ordinário da ação terapêutica de Deus (Tiago 5:14–18). Segundo, synkleiō (“fechar, encerrar”) emerge como uma chave teológica que Paulo retomará para explicar a economia da misericórdia: “Deus encerrou (synkleiō) todos na desobediência, para usar de misericórdia para com todos” (Romanos 11:32). O mesmo verbo que, em Gênesis, descreve a intervenção judicial de Deus sobre a fecundidade, torna-se, em Paulo, imagem canônica do “encerramento” que prepara a graça.

Um detalhe de filologia semântica ajuda ainda a perceber o senso teológico da LXX: quando Abraão relata o pacto doméstico com Sara, pede que ela “faça comigo esta ḥesed” (Gênesis 20:13). O tradutor grego opta por dikaiosynē (“faz a mim esta ‘justiça’”), deslocando a nuance hebraica de benevolência leal (ḥesed) para o campo da justiça relacional do universo grego-bíblico. Esse movimento é coerente com a prática ampla da LXX de verter ṣĕdāqāh/ḥesed por dikaiosynē, e prepara o leitor do NT para entender dikaiosynē não como abstração legalista, mas como a “retidão fiel” que honra compromissos e repara relações (cf. Mateus 1:19; Romanos 3:25–26). Também aqui a LXX funciona como mediadora hermenêutica entre o mundo semita da aliança e o mundo grego da justiça.

A cena diplomática final, com Abimeleque exortando Sara a “dizer a verdade em tudo” (Gênesis 20:16), cristaliza outro empréstimo decisivo: o imperativo alētheuson (“fala a verdade”), forma verbal rara que, no NT, reaparece na exortação comunitária a alētheuein en agapē (“dizer a verdade em amor”, Efésios 4:15). A coincidência não é casual; é o mesmo campo semântico da verdade como prática (não só como proposição) que governa tanto a reconciliação do casal real em Gerar quanto a edificação da igreja. Ao lado disso, a narrativa repete phobeisthai (“temer”) para descrever o impacto do oráculo (Gênesis 20:8) e usa hamartia megalē (“grande pecado”, Gênesis 20:9), fórmulas que o NT incorporará como parte do seu idioma ético.

Vale notar como a LXX às vezes traduz, às vezes interpreta. Onde o hebraico diz yirʾat ʾĕlōhîm (“temor de Deus”), o grego escolhe theosebeia; onde o hebraico fala em beʿūlat baʿal, a LXX prefere o perfeito synōikēkyia andri; onde o hebraico prevê “ele orará por ti” (wayyitpallēl... baʿădekā), a LXX fixa proseuxetai peri sou. Essas opções não só tornaram o texto inteligível e pregnante para leitores gregos da diáspora, mas também forneceram ao NT um repertório pronto de termos — prophētēs, proseuchē/proseuchesthai, dikaiosynē, alētheuō, iaomai, synkleiō, theosebeia — pelo qual a fé cristã pôde ouvir Gênesis 20 na sua própria língua e, a partir dele, pensar a revelação, a ética e a cura.

II. Comentário de Gênesis 20

Gênesis 20.1 A meia verdade dita por Abraão a respeito de Sara na cidade de Gerar seria mais tarde repetida por seu filho Isaque (Gn 26), o que demonstra, neste caso, que o filho saiu ao pai. A história aqui contada se dá como uma repetição dos erros cometidos por Abraão no Egito (Gn 12.10-20).

Gênesis 20.2 Sara era meia-irmã de Abraão (v. 12). Abimeleque... tomou a Sara. Por causa desta atitude, Sara foi posta no harém do rei, mas não se deitou com ele. Devido à idade avançada da esposa de Abraão, é bastante provável que esta tenha sido desejada mais por sua riqueza do que por sua aparência física.

Gênesis 20.3 Abimeleque era, presumivelmente, um rei pagão. Apesar disso, Deus o avisou do grande erro que ele estava para cometer: Ela está casada com marido. O texto em hebraico se refere a Sara e Abraão em um nível de igualdade e dignidade. Os dois são descritos como nobres, literalmente uma nobre esposa de um homem nobre. Este episódio é outro exemplo do cuidado do Senhor para com o Seu povo (Gn 31.24; Nm 22.12,20).

Gênesis 20.4, 5 Senhor, matarás também uma nação justa? Abimeleque não havia tocado em Sara e, com certeza, também não queria pagar por um pecado que não cometera. Ele usou o argumento de que suas ações, até o momento, eram inocentes e de que se basearam no que lhe disseram Abraão e Sara.

Gênesis 20.6 Esta passagem enfatiza que Abimeleque estava falando com Deus em sonho. A resposta do Senhor ao rei era mais uma manifestação de Sua graça. Deus também revelou que não havia permitido que Abimeleque tocasse Sara.

Gênesis 20.7 Este é o primeiro uso da palavra profeta na Bíblia. O termo indica que aquele que é nomeado como tal cultiva um profundo relacionamento com Deus; isto é mais do que a habilidade de falar com Ele. Este relacionamento de Abraão com o Senhor foi o que fez com que Deus ordenasse ao rei que devolvesse Sara ao marido.

Gênesis 20.8-10 A gravidade da situação deve ter tocado o rei de forma tão profunda que seu medo rapidamente se disseminou por sua família e seus servos. Abimeleque chamou Abraão para fazer uma pergunta: Que nos fizeste? A resposta deveria ser conclusiva, mas, antes de obtê-la, outro questionamento foi feito pelo rei: Em que pequei contra ti? Neste, o verbo usado é pecar (hb. hata'), que se encaixa perfeitamente com o substantivo seguinte, tamanho pecado (o substantivo em hebraico possui a mesma raiz que o verbo). A última pergunta do rei a Abraão pode ser parafraseada como “o que você tinha em mente quando fez isso?”

Gênesis 20.11-13 Abraão deu ao rei duas razões para suas atitudes. A primeira era baseada na suposição de que ele, Abraão, estava em um território hostil, isto é, ninguém naquele lugar era temente a Deus; portanto, não haveria equidade diante do povo. Um rei poderia fazer o que quisesse e, desta forma, tomar Sara e usá-la para subjugar o marido e obter suas propriedades. A segunda justificativa recaía sobre o fato de que Sara era realmente sua irmã. Os casamentos na família de Terá aconteciam dentro do próprio clã. Em uma sociedade patriarcal, as uniões de parentes próximos eram consideradas um meio de preservação da linhagem. Além disso, Abraão e Sara concordaram, de forma clara, que ela usaria, em qualquer lugar que fossem, o argumento de ser sua irmã (v. 13). Mais tarde, a Lei proibiria o casamento entre duas pessoas com vínculos familiares tão próximos.

Gênesis 20.14-16 Abimeleque efetuou um notável pagamento em moedas de prata a Abraão, a fim de compensar a ofensa feita a Sara. As palavras teu irmão tiveram uma conotação sarcástica. O termo hebraico traduzido como advertida pode assumir o significado de inocentada, neste caso. O verbo inocentar também é usado em terminologia legal, para dar fim a um processo criminal.

Gênesis 20.17 E orou Abraão a Deus. Esta situação, a princípio, desfavorável, terminou com uma atitude misericordiosa, com Abraão orando a Deus por Abimeleque. Desta forma, o povo de Gerar aprendeu sobre o Senhor, assim como acontecera no Egito alguns anos antes (Gn 12.10-20).

Gênesis 20.18 O Senhor havia tornado estéreis todas as mulheres da casa de Abimeleque. Três coisas são indicadas por estas palavras. Primeiro, a estada de Abraão e Sara em Gerar foi prolongada até que a identidade de Sara fosse revelada. Provavelmente alguns meses se passaram até que as pessoas percebessem que as mulheres já não engravidavam normalmente. Isso significa que Sara viveu no harém do rei por vários meses. Segundo, o Senhor atingiu os filisteus de uma maneira que estes dificilmente resistiriam, pois o anseio pela procriação era implacável no mundo antigo, como várias passagens nos mostram enfaticamente. Terceiro, Deus, por Sua graça, protegeu Sara e Abraão. Este capítulo termina com uma ironia: por causa do desejo divino de proteger Sara, o Todo poderoso tornou todas as mulheres da casa de Abimeleque inférteis. Ele tomaria Sara fértil e lhe daria um filho numa época em que ela já estivesse idosa para conceber naturalmente (Gn 21.1, 2).

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