Significado de Gênesis 34
Gênesis 34
Gênesis 34 conta a história de Diná, filha de Jacó, que é estuprada por Siquém, príncipe de uma cidade vizinha. Este evento leva a uma sequência trágica de eventos, incluindo vingança, violência e traição. A história destaca as tensões culturais e sociais entre a família de Jacó e o povo cananeu, e as consequências de tentar navegar entre diferentes culturas e tradições.
A história de Diná e Siquém é complexa e levanta questões difíceis sobre consentimento, justiça e vingança. Mostra como um ato de violência pode sair do controle e levar a mais violência e tragédia. Também destaca os desafios de viver em uma sociedade multicultural e a necessidade de encontrar maneiras de respeitar e compreender as diferentes tradições e crenças.
O texto é um conto de advertência sobre os perigos da violência, vingança e conflito cultural. Isso nos lembra da importância de ouvir uns aos outros e buscar entender nossas diferenças, em vez de permitir que elas nos dividam. Também nos desafia a pensar profundamente sobre questões de justiça e o papel da violência na sociedade e a encontrar maneiras de trabalharmos juntos para criar um mundo mais pacífico e justo.
Gênesis 34 é uma história de violência, vingança e conflito cultural. Ele destaca os desafios de viver em uma sociedade multicultural e levanta questões importantes sobre consentimento, justiça e o papel da violência na sociedade. A história serve como um alerta sobre os perigos de permitir que nossas diferenças nos dividam e nos lembra da necessidade de buscar compreensão e respeito pelas tradições e crenças uns dos outros.
I. A Septuaginta e o Texto Grego
O eixo narrativo e verbal de Gênesis 34:2 estabelece, em hebraico, uma cadeia paratática de wayyiqṭol que intensifica a agressão: “viu… tomou… deitou-se… e ʿinnâ (‘humilhou/violou’) a jovem” (wayyar… wayyiqqaḥ… wayyiškab… wayeʿannēhā). A LXX reproduz esse efeito por coordenação com kai: eiden… labōn… ekoimēthē… kai etapeinōsen autēn. O último verbo, tapeinoō (“humilhar”), carrega na LXX uma conotação de violência sexual nesse contexto (Gênesis 34:2), e não de humildade virtuosa—sentido que o Novo Testamento poderá ter ao descrever a autohumilhação de Cristo (por ex., etapeinōsen heauton, Filipenses 2:8), mostrando a polissemia da família tapeino- ao transitar de uma violência sofrida (Diná) para a entrega voluntária (Cristo). A forma hebraica wa-yeʿannēhā é atestada nas edições online do texto massorético, e o correspondente grego ἐταπείνωσεν consta nos repertórios da LXX.
Em 34:3, dois pares fraseológicos são decisivos. Primeiro, o hebraico diz que a alma de Siquém “dāḇaq” a Diná (aderiu), e que ele “amou a naʿarāh e falou ao coração dela” (dibbēr ʿal-lēḇ). A LXX verte dāḇaq não por proskollaō (do campo semântico de “apegar-se / unir-se” que aparece, por exemplo, em Gênesis 2:24 e na sua citação em Mateus 19:5), mas por prosechō (“apegar-se, voltar-se para”), e traduz dibbēr ʿal-lēḇ por elalēsen kata tēn dianoian (“falou conforme a ‘mente’ dela”), preferindo dianoia a kardia. Essa escolha lexical cria uma ponte útil para o Novo Testamento, onde kardia e dianoia aparecem lado a lado no Grande Mandamento (Mateus 22:37), revelando um mapeamento grego mais analítico da antropologia hebraica, na qual lēḇ cobre tanto afeto quanto intelecção. Já o campo de dāḇaq permanece ativo quando o ideal conjugal é vertido por proskollaō (proskollēthēsetai em Gênesis 2:24 LXX), termo retomado por Jesus em Mateus 19:5, o que evidencia a coerência intertextual que nasce da LXX e chega ao Novo Testamento.
Ainda em 34:3, a LXX chama Diná de parthenos (“virgem”) após a violação (ēgapēsen tēn parthenon…). Esse uso—discutido desde a Antiguidade—mostra que parthenos na LXX pode refletir sobretudo o estatuto social/etário de uma jovem não casada, mais do que uma condição físico-biológica pós-evento; a decisão do tradutor preserva a linha narrativa (Siquém se apaixona e fala “com ternura”) sem negar o juízo moral contra o ato (v. 7). Essa nuance lexicológica ajuda a ler, no Novo Testamento, o emprego de parthenos em sentidos que vão de literal (Mateus 25) a metafórico (2 Coríntios 11:2), sem confundir categorias. A forma grega de 34:3 é acessível em edições digitais da LXX.
O juízo teológico e social do crime aparece em 34:7 na fórmula hebraica de indignação coletiva, neḇālāh ʿāśâ beyiśrāʾēl… lōʾ yeʿāśeh (“cometeu uma infâmia em Israel… não se deve fazer tal coisa”). A LXX verte neḇālāh por aschēmon (“indecoroso, vergonhoso”): aschēmon epoiēsen en Israēl…, concluindo com ouch houtōs estai (“não será assim”). Essa substituição de um termo axiológico hebraico por um adjetivo de decoro social em grego revela a tendência da LXX a traduzir a categoria moral por uma linguagem de conveniência/civilidade—algo que o Novo Testamento também conhece quando emprega aschēmon(a) para falar de “partes menos apresentáveis” do corpo e, por extensão, da comunidade (1 Coríntios 12:23). Assim, a LXX fornece a ponte semântica entre a ética de honra-vergonha do hebraico e o vocabulário greco-cristão de decoro e modéstia.
Outro eixo do capítulo é a oposição entre mirmāh (“dolo/astúcia”) dos filhos de Jacó (34:13) e o discurso de paz dos siquemitas. O hebraico acusa os irmãos de responderem “com mirmāh”; a LXX traduz com a palavra técnica dolos (metà dolou elalēsan). O mesmo substantivo reaparece no Novo Testamento como marcador ético (por exemplo, em João 1:47 — “um israelita em quem não há dolos” — e em 1 Pedro 2:22, na citação de Isaías 53:9: “em cuja boca não se achou dolos”). A continuidade lexical LXX–NT sustenta uma coerência moral canônica: a “astúcia” que perverte a justiça em Gênesis é o que o Messias não possui e do que seus discípulos devem se despojar.
No diálogo político de 34:21, Emor e Siquém apresentam Jacó e seus filhos como “homens eirēnikoi (pacatos)”, prontos a habitar e comerciar. Essa autodescrição (LXX: hoi anthrōpoi houtoi eirēnikoi eisin meth’ hēmōn) contrasta ironicamente com o ardil homicida que se seguirá—um contraste que ressoa, no Novo Testamento, com a ética da paz não violenta (eirēnē, eirēnikos) em textos como Mateus 5:9 e Tiago 3:17. A LXX, ao empregar eirēnikos, cria o campo onde o NT desenvolverá a ideia dos “pacificadores” versus a falsa paz de discursos instrumentais.
A negociação de casamento e a condição de aliança por meio da circuncisão (34:14–24) são outro ponto onde a LXX molda a linguagem que dominará as discussões paulinas. O hebraico opõe a ʿărēl (“incircunciso”) ao pertencimento requerido; a LXX dá nomes técnicos normativos: peritomē (“circuncisão”) e akrobystia (“incircuncisão”, lit. “prepúcio”), e narra que “todos… se circuncidaram a carne da sua akrobystia” (34:24). O par peritomē/akrobystia é exatamente o eixo conceptual que estrutura Romanos 2:25–29 e Efésios 2:11 (“os chamados ‘incircuncisão’… pela chamada ‘circuncisão’”), mostrando como a terminologia da LXX fornece o léxico teológico para a eclesiologia do Novo Testamento, que move de “um povo” local (laos heis, Gênesis 34:22 LXX) para o “um novo homem” em Cristo (Efésios 2:15).
Por fim, a réplica indignada de Simeão e Levi—“Acaso se usaria com nossa irmã como com uma pornē (meretriz)?” (34:31 LXX)—não é mero insulto: ela ancora a ofensa dentro de um campo semântico que o Novo Testamento herdará ao falar de porneia e de pornē para tipificar desordem sexual e idolatria (ver, por exemplo, 1 Coríntios 6). A LXX torna explícita, com pornē, a leitura da violência como degradação social e cultual, e isso explica como o NT, ao adotar o vocabulário da LXX, pode tratar de pureza/impureza sexual e fidelidade à aliança com a mesma gramática moral.
Gênesis 34 — no hebraico e em sua tradução grega — mostra como escolhas fraseológicas e lexicais (hebraico ʿinnâ, dāḇaq, dibbēr ʿal-lēḇ, neḇālāh, mirmāh; grego tapeinoō, prosechō, dianoia, aschēmon, dolos; a díade peritomē/akrobystia; a categorização ética por pornē) não apenas preservam o sentido do texto-fonte, mas também estabilizam um idioma teológico que o Novo Testamento retoma e expande. A coerência canônica se percebe precisamente nessa continuidade: a LXX, ao verter o hebraico com um grego já marcado por padrões éticos e antropológicos, serviu de matriz para a recepção cristã, na qual termos como dianoia/kardia (Mateus 22:37), dolos (João 1:47; 1 Pedro 2:22), peritomē/akrobystia (Romanos 2:25; Efésios 2:11) e aschēmon (1 Coríntios 12:23) reenquadram, em chave cristológica e eclesial, os mesmos problemas de honra, corpo, verdade e aliança que já informam o episódio de Diná.
II. Comentário de Gênesis 34
Gênesis 34.1 Aparentemente, Diná era a única filha de Leia (Gn 30.21). Era natural que ela procurasse pela companhia de outras moças. O lugar que Jacó escolheu para morar tem um efeito desastroso em sua família. Diná, a única garota entre onze irmãos, quer ver e conhecer outras garotas. Isso não pode deixar de ser meninas do mundo. Ela procura conviver com “as filhas da terra”. Mas as meninas no mundo nunca ficam sem a atenção dos homens. Ela atrai a atenção de Siquém. Ele a viu; ele a pegou e “se deitou com ela à força”.
O fato de um homem mundano como Siquém querer se casar com uma garota como Diná, de uma família crente, também diz muito sobre a garota. Ela havia se adaptado ao mundo, então Siquém a vê como um deles. Também não temos a impressão de que Diná tenha resistido fortemente. Diná não havia concordado diretamente com o que Siquém fez com ela. Siquém exerceu um certo grau de coerção, mas não teve resistência para dizer não.
Devemos dar aos nossos filhos espaço para se desenvolverem, mas isso não significa dar-lhes a liberdade de satisfazer a sua curiosidade visitando um ambiente mundano. O que permitimos que eles vejam na televisão e na internet? Para onde os levamos? A que permitimos que seus olhos e ouvidos se acostumem? Como ensiná-los a lidar com a satisfação de suas necessidades? Se os deixarmos em liberdade, não deveríamos ficar surpreendidos pelo fato de os nossos filhos serem “estuprados”. Seus corpos e/ou mentes são possuídos por alguém a quem nunca gostaríamos de confiar nosso filho.
Jacó está aqui novamente, o pai ausente. Ele fica sabendo do evento, mas não há reação dele ao ouvir. Para Siquém, o estupro é mais do que apenas um ato. Ele ama Diná e quer se casar com ela. Em todo caso, isso é muito legal da parte dele e nisso ele é um exemplo de moralidade contemporânea, que infelizmente também se encontra entre os cristãos. A relação sexual traz obrigação (cf. 2Sa 13:14-16).
Gênesis 34.2-3 Siquém viu Diná, e a forçou a ter relações sexuais com ele. O verbo traduzido como tomou-a (ARC), ou violentou (NVI), é o mesmo usado, na língua original, para descrever o estupro de Tamar por Amnom (2 Sm 13.12,14). Apesar do que fez, Siquém amou Diná. A expressão falou afetuosamente à moça significa que ele falou ao coração dela, com ternura.
Gênesis 34.3, 4 O apelo de Siquém ao seu pai indica que os casamentos eram, segundo o costume, arranjados pelos progenitores.
Gênesis 34.5 Quando Jacó ouviu a respeito do acontecido, provavelmente foi tomado de fúria. O termo contaminar (ARC), ou desonrar (NVI), significa tornar impuro.
Gênesis 34.6-10 Hamor, o pai de Siquém, apresenta uma posição aparentemente razoável. O problema é que, caso este tipo de casamento misto acontecesse, haveria a perda da singularidade do povo do Senhor, tendo em vista que a promessa de Deus e a adoração ao verdadeiro Deus eram conceitos desconhecidos para Hamor.
Gênesis 34.11,12 Ache eu graça a vossos olhos e darei o que me disserdes. Aumentai muito sobre mim o dote e a dádiva, e darei o que me disserdes; dai-me somente a moça por mulher. Siquém apelou para uma ingénua expressão de amor.
Gênesis 34.13 Os filhos de Jacó responderam enganosamente. A proposta dos irmãos de Diná era maliciosa e enganosa (no texto em hebraico usa-se a palavra mirmâ, a mesma usada por Esaú para descrever as atitudes de Jacó em Gn 27-35).
Gênesis 34.14-17 Neste versículo, os filhos de Jacó usam o símbolo de sua fé e aliança com Deus — a circuncisão (Gn 17.9-14) — para debilitar os siquenitas.
Gênesis 34.18 Siquém provou o seu amor por Diná ao submeter-se à circuncisão em idade adulta.
Gênesis 34.19 Em hebraico, o verbo agradava utilizado neste versículo é o mesmo usado para descrever o agrado de Deus por Seu povo no Salmo 147.10,11.
Gênesis 34.20-29 Provavelmente, os outros filhos de Jacó se uniram a Simeão e a Levi para atacar a cidade. Eles deixaram que a ira, justa por causa do pecado, promovesse uma injusta e imperdoável vingança (Ef 4.26).
Gênesis 34.30, 31 Jacó repreendeu seus filhos por causa do terrível comportamento deles (posto em prática em nome do Senhor). Em vez de fazerem com que a família abençoasse outras nações (Gn 12.3), eles incitaram o ódio de seus vizinhos. Jacó disse que eles o haviam turbado, fazendo com que os israelitas cheirassem mal entre os moradores da terra. Infelizmente, os filhos de Jacó não se arrependeram. Em vez disso, protestaram contra a repreensão do pai [justificando sua vil atitude como um ato para lavar a honra de Diná].
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