Lucas 20 — Estudo Devocional

Lucas 20 

Lucas 20 apresenta um capítulo centrado na autoridade, na sabedoria e na rejeição de Jesus. Através de encontros com líderes religiosos e dos Seus ensinamentos sobre assuntos como o pagamento de impostos e a ressurreição, Jesus aborda o cerne da fé, a natureza da Sua autoridade e a importância de alinhar as nossas vidas com os Seus ensinamentos.

O capítulo começa com os líderes religiosos desafiando a autoridade de Jesus questionando a fonte do Seu poder. Em resposta, Jesus os questiona sobre a autoridade de João Batista e depois conta a parábola dos lavradores da vinha. Esta parábola destaca a rejeição dos profetas e, em última análise, a rejeição do Filho. Lembra-nos dos perigos de resistir aos mensageiros de Deus e ignorar o Seu chamado.

A tentativa dos fariseus de enganar Jesus perguntando sobre o pagamento de impostos leva à Sua famosa resposta: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Este ensinamento sublinha o princípio de honrar tanto as autoridades terrenas como a autoridade final de Deus. Incentiva-nos a viver como cidadãos responsáveis, ao mesmo tempo que reconhecemos que a nossa lealdade primária é para com Deus.

No ensino de Jesus sobre a ressurreição, Ele confronta a descrença dos saduceus e apresenta a realidade da vida de ressurreição. Ele enfatiza que na ressurreição, os crentes serão como anjos e experimentarão a vida eterna. Este ensinamento desafia as nossas perspectivas sobre a vida após a morte e encoraja-nos a viver com foco na eternidade.

Lucas 20 nos convida a refletir sobre a natureza da nossa fé, a nossa submissão à autoridade e a nossa perspectiva sobre o eterno. Estamos reconhecendo a autoridade de Jesus sobre as nossas vidas e respondendo com humilde obediência? Estamos honrando tanto as autoridades terrenas quanto a autoridade final de Deus em nossas decisões e ações? Estamos vivendo com uma perspectiva eterna, sabendo que nossas ações e escolhas têm consequências além desta vida?

Ao meditarmos em Lucas 20, que nos submetamos humildemente à autoridade e aos ensinamentos de Jesus. Que possamos reconhecer a importância de dar a Deus o que Lhe pertence por direito e viver com uma perspectiva eterna. E que possamos ser lembrados de que a nossa fé envolve não apenas crença, mas também obediência, alinhando as nossas vidas com a autoridade do nosso Salvador e Rei.

Devocional

20.1-8 com que autoridade. Que fascínio o papel de autoridade exerce sobre as pessoas! Como buscamos essa condição para nós! Como a apreciamos em outras pessoas, às vezes chegando a uma submissão servil! Pois eu também não digo. Jesus, mais uma vez, mostra-se acima das perguntas tendenciosas. Ele responde com uma pergunta embaraçosa e se nega a tomar tempo com quem deliberadamente não o queria ouvir. Repare que está crescendo o tom de disputa, e o confronto com os professores da lei e chefes dos sacerdotes só aumenta. 

20.9-16 contou esta parábola para o povo. Jesus resume seu ministério nesta parábola, colocando-se como o "filho querido" que foi enviado por Deus, que é o "dono da plantação". Os enviados anteriores — os profetas e servos de Deus que falaram ao povo — haviam sido desprezados e maltratados, e o mesmo estava para acontecer com ele próprio. Entretanto, Jesus sinaliza que Deus não mudará sua disposição em relação ao ser humano: continuará convidando "outros lavradores" para trabalhar a seu lado.

20.14 Vamos matá-lo. Jesus explicitamente mostra as intenções de alguns dos seus ouvintes, que se consideram os "donos da área". Também denuncia que sua morte não será apenas por não reconhecerem sua condição de Filho de Deus, mas também por se sentirem ameaçados por ele, pois lhes retira o poder e denuncia o coração corrupto. Desde os primeiros mártires, muitos homens e mulheres em todos os tempos foram mortos por essa disposição descrita na parábola. E, ainda hoje, temos radicalismos dentro e fora da igreja de Cristo — causando mortes concretas e também "mortes simbólicas", silenciando pessoas, sufocando a leveza da Boa-Nova e desviando os frutos para outros propósitos.

20.16 dará a plantação a outros. Essa parábola também pode ajudar no aconselhamento a líderes, que por vezes se consideram "donos" da lavoura do Senhor e dos seus frutos. Ou seja, não querem "dar o pagamento" = deixar os frutos para Dono, nem lhe dar a honra e o mérito pelos frutos. Um caminho na direção certa seria ajudar o guia espiritual a repensar o modo como lida com as pessoas sob sua guarda: se tem sentimentos de posse sobre elas, se julga ter a última palavra sobre suas vidas; se as chama de "minhas ovelhas" e se considera "seu pastor" no sentido possessivo dessa palavra.

20.17 a pedra que os construtores rejeitaram. Cabe lembrar que todos — inclusive os líderes — são ovelhas do Supremo Pastor, Jesus Cristo — e ele pode dirigir os caminhos da igreja de forma diferente do que o líder humano imagina. Entre eles, o caminho pode ser de deixar-se "levar para Jerusalém, para morrer" — esse foi um desafio para os primeiros discípulos e ainda o é hoje! Veja o quadro "Nossa estrada para Jerusalém" (Mt 20).

20.18 essa pessoa vai virar pó. Rejeitar a pedra "mais importante de todas" pode ser desastroso. Tentar construir sobre outras pedras, outros fundamentos, também se mostra arriscado. Alguns seguem figuras do próprio cristianismo (Pedro, Maria), outros igualam Jesus Cristo ou mesmo o diminuem diante de outros líderes religiosos ou humanistas. O convite é para nos entregarmos destemidamente a Jesus Cristo, deixando nosso orgulho e nossas vãs filosofias (ou mesmo teologias), para não vermos tudo ser reduzido a pó pela própria inconsistência das construções humanas.

20.19-26 fingir que eram sinceros. A maldade humana fica evidente diante de Jesus Cristo. Tanto as autoridades como as pessoas do povo fingiam sinceridade, mas na verdade buscavam argumentos para incriminar o Filho de Deus, enviado para salvar a todos. Ainda hoje, ficar admirado diante dele não é o bastante: foram poucos que aceitaram Cristo como o Messias e passaram a segui-lo diariamente em suas vidas. Herdar o Reino com o Filho de Deus requer entrega e dependência de Deus.

20.25 Deem ao Imperador... e deem a Deus. Antes de mais nada, a Deus pertence tudo, ele é o dono. O amor de Deus permite nossas escolhas, podemos dar segundo nosso coração, mas é bom lembrar que Deus é soberano em nossa vida e em tudo. Veja o quadro "Jesus e a arte de responder perguntas".

20.27-40 de qual dos sete a mulher vai ser esposa? Provavelmente os saduceus criaram esta história e a usavam para zombar dos rivais fariseus, e de todos que acreditavam na ressurreição dos mortos. Até intelectuais religiosos rivais se uniram no propósito de tentar desacreditar Jesus Cristo, numa rejeição previamente estabelecida, sem interesse real pela verdade. Perceba quantos grupos de pessoas Jesus incomoda, com sua fama, seu ensino e sua ajuda aos doentes e necessitados. E mesmo nesse ambiente cada vez mais hostil, Jesus apresenta ensinamentos preciosos e verdadeiros, como por exemplo, que o casamento humano é somente para esta vida terrena, numa figura antecipada do que será a união eterna dele com seu povo. Veja Ef 5.21-33, notas e o quadro "O casamento cristão" (Ef 5).

20.41-46 Jesus perguntou a eles. Depois de dar uma resposta inteligente, baseada no próprio conhecimento dos seus interlocutores, Jesus toma a ofensiva. Ele apresenta uma pergunta inesperada — sobre si próprio — e a deixa no ar. Veja a dificuldade de pessoas que se acham importantes para aceitarem a verdade de Jesus. Muitas delas se satisfazem com as aparências e honras humanas, justificam a si mesmos com longos discursos e até orações. Veja o quadro "jesus e a arte de responder perguntas".

20.46 cuidado com os mestres da Lei. Embora preste um serviço importante, nem sempre quem ensina a Bíblia o faz corretamente. A honra com que pregadores, profetas e mestres são tratados e o privilégio de falarem ao auditório sem contestação podem facilmente corromper seus corações; por isso, não siga cegamente tudo o que é ensinado. A própria Bíblia nos ensina que é melhor examinar tudo que é dito em nome de Deus e reter somente o que for bom (1Tes 5.21); e também que, desde a fé em Cristo, todos os que nele creem têm o Espírito Santo, não sendo necessário depender do ensino de alguma autoridade ou de alguém que se apresente como porta-voz exclusivo de Deus (IJo 2.20,27).

Jesus e a arte de responder perguntas
Jesus também é um exemplo vivo das formas mais sábias de dialogar. Aqui em Lc 20 ele nos dá uma bela "aula" sobre a arte de responder: a uma pergunta, responder com outra pergunta. Isso serve para muitos contextos, por exemplo:

1. Quando a pergunta a nós dirigida é uma armadilha, não cabe responder — mas devolver com outra pergunta que denuncie o que vai no coração de quem pergunta.

2. No aconselhamento, quando somos colocados como detentores da verdade, devolver a pergunta desidealizará nossa posição e ajudará a pessoa pensar por si mesma; então ela revelará o que vai no seu coração. As vezes, devolver com uma simples pergunta "Por que você pergunta isso?" já traz à tona a questão mais profunda. Ou devolver "O que você pensa disso?", fazendo a pessoa dizer o que pensa — que provavelmente não revelaria depois de ouvir nossa resposta.

Em outras ocasiões, Jesus responde com uma afirmação que cumprirá o mesmo propósito, como à pergunta sobre a mulher adúltera (Jo 8.4-7). Ou então com uma história, como na parábola do bom samaritano (Lc 10.25), e depois devolvendo a pergunta ao interlocutor.

Em outras palavras, dificilmente Jesus vai agir da forma linear a que estamos acostumados: pergunta — resposta.