Estudo sobre Romanos 5:6-8

Estudo sobre Romanos 5:6-8

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Romanos 5:6-8

Antes que prossiga, a partir do v. 9, o gloriar-se da comunidade abençoada com o Espírito, Paulo intercala uma explicação didática acerca desse amor de Deus. Para tanto, ultrapassa a argumentação no nível da criação, evidenciando sua profundidade cristológica, sim “estaurológica” (do grego staurós, “cruz”).

Tomemos conhecimento primeiramente da condição daqueles por quem Cristo entregou sua vida com amor. Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. O “ainda”, sublinhado mais uma vez por meio de uma inclusão, ressalta que a Paixão de Jesus alcançou pessoas num estado de fraqueza absoluta. “Fracos” refere-se, nesse contexto, à sua condição sem Deus (cf a nota referente a Rm 4.5) e não possui um sentido atenuante como em Rm 14.1. Nessas pessoas a força ética e a dignidade humana estavam quebradas. Rendidos catastroficamente a suas paixões (Rm 1.24,26,28), eram incapazes para uma vida com Deus.

Paulo procura por comparações terrenas para o “amor do Cristo” (Rm 8.35). Morrer espontaneamente por outros? Dificilmente, alguém morreria por um justo. Por termos somente uma vida, certamente refletiremos muito bem sobre esse passo. Será que alguém morre em favor de uma personalidade venerada como impecável? Sem tornar-se concreto, Paulo alterna para uma situação diferente, mais fácil de se imaginar: pois poderá ser que pelo bom, por uma boa causa, alguém se anime a morrer. Gregos e romanos glorificavam, p. ex., a morte do soldado: “É doce e honroso morrer pela pátria” (Horácio, século i a.C.). Entre os judeus, o martírio pela religião dos pais era considerado como de máxima honra (2 Macabeus 6.18–7.42). Reconhecem-se, aqui, motivos compreensíveis, que no entanto são restringidos e postos de lado pelo poderá ser.

Em contrapartida, Paulo atesta que a entrega de Cristo por Deus constitui um genuíno milagre do amor. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. O agir de Deus com Cristo se destaca de tudo que jamais brotou num coração humano (1Co 2.9). Na cruz não aconteceu um heroísmo na potência máxima, mas humilhação extrema, um contra-senso escandaloso (Fp 2.8; 1Co 1.18). Irrompeu o amor jamais decifrável por nós pecadores. Deus o trouxe livremente à luz e sempre de novo o traz à luz na palavra da cruz (tempo presente da imutabilidade).

A natureza de Deus desde sempre foi o amor, mesmo nos tempos do AT: “misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno” (Sl 103.8). Ou seja, não carecemos do NT para obter essa imagem de Deus. A novidade do NT, porém, reside no fato de que Deus não apenas amou, mas que amou de tal maneira que entregou o seu Filho (Jo 3.16). Seu amor encontrou agora um caminho, o caminho das alturas, a rota do rei. Trata-se de uma auto-entrega irrevogável de Deus “por nós”. O AT inteiro ansiava por ela, todo o NT surge devido a ela. Aqui, nesse “por nós”10 vicário (quatro vezes nos v. 6-8!) anuncia-se o eixo da Escritura ou seu “mistério” (Rm 16.25).

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Romanos 5:6-8