Estudo sobre Romanos 8:15

Estudo sobre Romanos 8:1-2

Estudo sobre Romanos 8:15


Romanos 8:15

De agora em diante Paulo deixa de lado o tema “andar segundo o Espírito”, a fim de aprofundar a compreensão desse Espírito como “Espírito de adoção”. Antes de tudo, ele se evidencia no novo modo de orar. Como fundo de contraste apresenta-se o serviço forçado do legalismo, movido pelo medo pagão diante de Deus: Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. Já no Sl 2, tão importante para o NT, o primeiro direito do filho consiste na oração desinibida (cf Sl 2.7,8), uma vez que se abriu o acesso ao Pai (Rm 5.2). Como paralelo seguinte se oferece Rm 5.5: o amor de Deus inundou nosso coração. “Para que conheçamos o que por Deus nos foi dado”, pois “Deus no-lo revelou pelo Espírito” (1Co 2.10-12). O que foi que o Espírito nos revelou e concedeu? Não a si próprio. Verifica-se aqui se aprendemos a lição na entrada do capítulo (v. 2,3): O Espírito age cristocentricamente. Ele “anuncia” a Cristo, “convence” de seu juízo e de sua justiça, “dá testemunho” de Cristo e o “glorifica” como o Filho. Dessa forma, porém, “vimos o Pai”c, de maneira que nos nossos lábios encontra-se a interpelação do Pai. No que concerne à tradução do aramaico Aba, também havia à disposição o termo grego pappas, “papai”, “paizinho”. O fato de que, apesar disso, em todos os três textos do NT que trazem Aba é escolhido o grego pater, “pai”, demonstra que Aba não era mais entendido como palavra carinhosa.

A palavra “clamar” não está se referindo o uso do volume da voz, e sim à intensidade, à irrupção elementar de uma exclamação em que alguém empenha suas últimas reservas. É óbvio que essa não está literalmente vinculada a gritaria. P. ex., pode-se trazer à comparação as mais de 60 ocorrências nos salmos em que “clamar” faz parte da linguagem de oração. Isso fica particularmente nítido quando o orador “clama” a Deus “dia e noite”. Também o “coração” é capaz de “falar”, “clamar” e “jubilar”e.

Ocorre, porém, que esse “clamamos: Aba” também é interpretado como um “grito de fato realizado no culto” (E. Käsemann). Segundo essa visão, a igreja inteira teria proferido, num determinado momento do transcurso litúrgico, em coro falado, este grito de Aba (ou, conforme outros, ela teria iniciado com um Pai-Nosso). Contudo, teria tal procedimento cumprido a finalidade citada por Paulo? Será que havia essa liturgia de forma homogênea da Galácia até Roma? Acaso não se está transportando desenvolvimentos posteriores, de igrejas de massa, de volta para o século?

Há ainda outros exegetas que pensam em inspirações carismáticas de alguns. Porém nesse caso não se faz justiça ao nós, que envolve todos os que crêem e sua oração, e que não alude a portadores de dons especiais. Acaso “falam todos em outras línguas?” (1Co 12.30; cf 1Co 14.30). Além disso é uma exigência fundamental submeter essas afirmações referentes ao Espírito ao exame a partir das demais (1Co 12.10; 14.29). Não se deve dar-lhes crédito sem mais nem menos (1Jo 4.1). É por isso que elas também não cumprem o objetivo que Paulo pressupõe: trazer certeza incondicional “do amor de Deus, que está em Cristo Jesus” (Rm 8.39)! Porque a sombria ingratidão, que gera todos os demais pecados (Rm 1.21), foi afundada no mar do perdão diante dos olhos do ouvinte que crê, por isso finalmente a desconfiança gentílica original se desmonta em favor de uma confiança fundamental. Desfaz-se todo o véu de nuvem cinzenta que pairava sobre seu relacionamento com Deus. A forma verbal presente “clama” faz lembrar impulsos espirituais sempre novos.

Aprofunde-se mais!
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