Estudo sobre Romanos 8:23

Estudo sobre Romanos 8:23

Estudo sobre Romanos 8:23

Romanos 8:23

Nessa visão da criação caída Paulo agora também insere a existência cristã. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo. O gemido da criatura extra-humana – envolvida inocentemente em culpa – retorna na esfera humana. A expressão dupla “também nós próprios”, combinada com o acréscimo “que temos as primícias do Espírito”, destaca que o recebimento do Espírito não isenta de gemer como a realidade em redor. Pelo contrário, enquanto a criatura restante apenas vai sofrendo soturna e obtusamente, as pessoas com o Espírito experimentam plenamente conscientes a radical contradição entre o futuro glorioso e a atualidade inglória. Como portadoras de esperança, elas são duplamente sensíveis ao sofrimento atual. Porém, enquanto viverem no corpo mortal, permanecerão detidas na miséria deste mundo. A própria designação “primícias (penhor) do Espírito”e torna cônscio de que a experiência salutar de hoje ainda não transfere para o estado definitivo. Com isso não se motiva a ideia de recebimentos posteriores do Espírito, mas sim a noção de uma série de efeitos pneumáticos até a ressurreição com um corpo espiritual (v. 23).

O trecho traz, portanto, à nossa presença os sofrimentos naturais. Pois, como concidadãos, não apenas somos mundo caído, mas como co-criaturas somos também mundo subjugado. Por isso não sofremos apenas por culpa, mas também por destino. É óbvio que os sofrimentos naturais da vida nunca se verificam isoladamente, mas que culpa e destino aparecem mescladas. A tentativa de isolar e classificar sistematicamente cada parcela da experiência de sofrimento raramente tem êxito. Contudo, pode proporcionar maior tranquilidade quando, em algumas intempéries, pelo menos se pondera esse aspecto.

Conscientizo-me, pois, de que muitos sofrimentos meus e do meu próximo são nada mais que destino. Não tivemos escolha quanto à época em que vivemos, aos pais que temos, à nacionalidade a que pertencemos, quanto à nossa aparência, à escola que freqüentamos, aos professores que nos formam etc. Ademais estamos sujeitos, entre o berço e o caixão, aos processos naturais de formar-se e desfazer-se, do impulso para a vida e da decomposição da vida. Com vistas a esses condicionamentos, nosso convívio não é imaginável sem experiências negativas. Nessa área é preciso ter em consideração uma série de enganos, decepções, mal-entendidos, esquecimentos, limitações, bem como desvantagens, sob os quais gememos. Já em cada diálogo de duas pessoas inserem-se continuamente falhas. Saber algo ainda não significa dizê-lo corretamente, dizer algo ainda não significa que é entendido corretamente, compreender algo ainda não significa praticá-lo com acerto. Se tudo isso está suficientemente claro diante de nós, também ficará evidente que algo que sofremos não pode ser tratado de forma míope como questão de culpa. Poderia ser enganoso e até nocivo tentar identificar imediatamente o mal e gritar “pecado!”, onerando desde logo a consciência própria ou a de outros. Dessa maneira as consciências apenas se embotam e perdem sua capacidade para o uso justificado. Ao invés de culpar e acusar a cada instante, pessoas espirituais refletirão exaustivamente e permitirão que tal experiência lhes amplie o horizonte.

Aprofunde-se mais!
Estudo sobre Romanos 8:23