Estudo sobre Romanos 8:28
Romanos 8:28
A absolvição como justo da parte de Deus, mediada por Cristo e pelo Espírito, traz consigo que: Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. O pressuposto do “amar a Deus” não é algo erguido diante de nós como uma alta barreira, que primeiramente teríamos de transpor com sacrifícios. No nosso amor a Deus não realizamos nada de especial. Simplesmente somos reflexo, espelho de seu amor a nós (1Co 8.3; 1Jo 4.10). Uma vida dessas, no circuito do amor, triunfa sobre tudo. Também aquilo que hoje ainda parece seguir sua lei própria, a longo prazo resulta em bem para nós, a saber, em salvação. Deus coloca “um freio no focinho” das contrariedades, encaminhando-as soberanamente para o alvo que estabeleceu (Is 30.28). O que foi dito vale para aqueles que são chamados segundo o seu (de Deus) propósito desde antes da fundação do mundo. Por meio desse adendo Paulo chama atenção para a dianteira infinita que possui a força divina de resolução e de vontade, em relação a influências posteriores.
Deus age numa concatenação indissolúvel. Quatro frases de estrutura análoga atestam admiradas como Deus procede de modo objetivo e consequente, longe de qualquer capricho. A primeira concatenação refere-se a dois atos antes dos tempos. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou (de antemão). O termo “reconhecer” não possui aqui seu sentido corrente, mas está marcado pelo AT: Descobrir alguém, reconhecendo-o para si, ou seja, separar para uma relação de confiança pessoal, em suma, eleger. Os que se acercaram uma vez, nesse sentido, do campo de visão de Deus, também chegam ao seu campo de força: São determinados por ele, ou seja, “programados” por ele.
Neste ponto Paulo interrompe a sequência, a fim de delinear brevemente esse programa: para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. As passagens do NT que falam de uma conformação com a imagem de Cristo pertencem à esfera de Gn 1.27. Giram em torno da destinação do ser humano para ser imagem e semelhança de Deus. O primeiro Adão falhou em ser essa imagem, Cristo a cumpriu. É por isso que ele também recebe a designação de Filho: O Filho espelha o Pai (Jo 14.9). Cristo é, portanto, o novo Adão (1Co 15.47), o cabeça de uma nova família humana, primogênito entre muitos irmãos. Na Bíblia a primogenitura inclui igualdade com os nascidos depois, mas igualmente superioridade no grau e na dignidade. Por conseqüência, a igreja cristã se considera incluída nesse projeto para a humanidade.
Passemos à segunda concatenação: E aos que (de antemão) predestinou, a esses também chamou (vocacionou). A atuação de Deus ultrapassa agora o limiar da história e aparece em biografias terrenas como vocação. Ela é recebida pela pregação do evangelho e na obediência da fé. A terceira concatenação: aos que chamou (vocacionou), a esses também justificou. Por causa de Jesus, Deus os declara santos (Rm 1.7; 8.27). De acordo com Rm 4.17 trata-se de um agir criador: “(Deus) chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4.17). Por fim, a quarta concatenação: aos que justificou, a esses também glorificou. Em outras unidades textuais, Paulo também fala da glória que já atua em nós no presente (2Co 3.18). Aqui, porém, a linha de pensamento desde os v. 17,18 leva a uma glorificação ainda esperada para o fim. O fato de trazer algo vindouro na forma do pretérito perfeito explica-se pelo estilo profético. Nessa forma linguística ele expressa o grau máximo de certeza. “Diante de Deus também a última glorificação já é ‘perfeita’” (Werner de Boor).