Estudo sobre Romanos 8:31-32
Romanos 8:31-32
Paulo anuncia conclusões finais. Que diremos, pois, à vista destas coisas? “Nós” são os que se encontram na obediência da fé (Rm 1.5). Paulo torna-se a boca deles, lançando pergunta após pergunta, embora sua única intenção seja provocar certezas jubilosas. A primeira pergunta: Se (em decorrência disso) Deus é por nós, quem (então) será contra nós? O “se” enfoca a condição, da qual depende tudo, a saber, se no processo legal Deus se coloca do nosso lado ou não. Contudo, não é mais preciso aguardar temerosa ou também tensamente que essa condição se realize. Ela não tolera nenhuma pergunta: Ela foi cumprida. Porém deveríamos perceber que isso não tem nada de óbvio. Tenhamos presente que Paulo, antes de se alçar a apóstolo da certeza da salvação, apresentou-se nos primeiros capítulos da carta, de forma avassaladora, como apóstolo da certeza da desgraça: Judeus e gentios estão “indesculpáveis” sob acusação. “Toda boca se calou, e o mundo inteiro é culpado perante Deus”a. No entanto, para os que creem, essa situação foi invertida totalmente: Embora indesculpável, impossível de ser acusado! “Quem (poderá, então ser) contra nós?” Acusação e condenação teriam motivos de sobra e, sob esse aspecto, não são um contra-senso, porém não têm poder, pois Deus é Deus de uma maneira jamais esperada, como mostrará o v. 32.
O tom inicial, do v. 31, soou como um fundamento, válido para agora e para a eternidade. Cabe gravar isso na memória, também quando agora se usará repetidas vezes apenas o tempo futuro. Ele permite tanto a aplicação ao juízo final vindouro quanto também à experiência atual dos que creem.
A segunda pergunta assevera o fato ilimitado de que Deus é por nós. Ele não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou… O termo “entregar” possui aqui o mesmo conteúdo que em Rm 1.24,26,28: Entrega para a execução penal. Por isso: “A frase de que Deus solta o seu Filho faz parte das afirmações mais impressionantes do nt… Sucedeu aqui o que Abraão não precisou executar com Isaque (Gn 22.16): Cristo foi intencionalmente deixado pelo Pai nas mãos do poder da morte. Deus o expulsou entre as potências da destruição…”121. Isso aconteceu por nós (cf o exposto sobre Rm 3.25; 4.25; 5.8), e precisamente por nós todos, por judeus e gentios. O único que realmente leva o pecado a sério, Deus, causa a transferência da culpa dos culpados ao inocente. Os seres humanos criados por ele lhe são mais caros que aquele a quem tinha de mais caro. Aqui revelam-se as “profundezas de Deus”, como segundo 1Co 2.10 o Espírito Santo as ilumina e segundo Rm 5.5 as desvenda para o coração humano.
Ao feito maior segue-se, por força de lógica, tudo o que é menor. À dadiva inexprimível acrescentam-se dádivas adicionais. Porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? É como se uma avalanche começasse a despencar. Sobre nossa vida derramam-se dádivas incontidas. “Dar (‘presentear’) todas as coisas” significa primeiramente: dar tudo o que se tem! A consciência volta a estar limpa como uma manhã de primavera. Mas, no uso bíblico, “dar” (“presentear”) vai além disso. Deus não varre para fora as obras mortas sem retornar, como segundo ato, com suas atuais dádivas positivas de salvação. Como terceiro aspecto, o contexto desde Rm 8.17 também sugere a ideia de algo futuro, a saber, da “herança”. Ela consiste da “redenção de nosso corpo” como “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (v. 18,21,23,30). Pessoas livres usufruem de direitos senhoriais. Assim os que creem tornam-se, com Cristo, senhores sobre o universo e sobre os poderes. Herdam o senhorio de Deus. Somente assim está esgotada a palavrinha “todas”. Foi restabelecida a dignidade original do ser humano conforme Gn 1.26 (os que têm “domínio sobre”).