Significado de João 21

João 21

João 21 contém as aparições pós-ressurreição de Jesus a seus discípulos. O capítulo inclui vários eventos significativos, incluindo a pesca milagrosa, a reintegração de Pedro por Jesus e sua profecia sobre o futuro de Pedro. O capítulo começa com os discípulos pescando no mar da Galileia, onde não pescam nada até que Jesus aparece e diz para eles lançarem a rede do lado direito do barco. A captura de peixes resultante é milagrosa, e o evento ressalta o poder e a autoridade de Jesus como o Filho de Deus. Também destaca a importância da obediência e confiança em Deus, mesmo em situações aparentemente sem esperança.

O capítulo também inclui a reintegração de Jesus a Pedro, que o havia negado três vezes antes de sua crucificação. Jesus pergunta três vezes a Pedro se ele o ama e o incumbe de apascentar e cuidar de suas ovelhas. Este evento ressalta a realidade e o poder do perdão e restauração de Jesus, bem como a importância do arrependimento e da confissão do pecado. Também destaca a importância da obediência e fidelidade a Deus, mesmo diante do fracasso e da fraqueza.

O autor termina com a profecia de Jesus sobre o futuro de Pedro, na qual ele prediz que Pedro será martirizado por sua fé. Este evento ressalta a realidade da perseguição e sofrimento para os crentes, bem como a esperança final e a promessa de vida eterna por meio da fé em Jesus.

João 21 apresenta um quadro poderoso e profundo das aparições pós-ressurreição de Jesus e da missão contínua de seus discípulos. O capítulo enfatiza a importância da obediência e confiança em Deus, a realidade e o poder do perdão e restauração de Jesus, e a esperança e promessa definitivas de vida eterna por meio da fé nele. A mensagem de João 21 continua a ser relevante hoje, lembrando-nos da obra contínua de Jesus na vida de seus seguidores e do chamado para segui-lo obedientemente, mesmo diante da perseguição e do sofrimento.

I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento

A aparição “à margem do mar de Tiberíades” reabre o motivo vocacional do lago e reconecta João 21 ao chamado inaugural de pescadores nos evangelhos: a noite infrutífera, a palavra de Jesus que orienta a lançar a rede “do lado direito” e a captura extraordinária retomam a cena programática de Lucas 5, agora como epílogo pascal em que o Ressuscitado refaz o chamado e confirma a missão (Lucas 5:1–11; João 21:1–6). O número “cento e cinquenta e três grandes peixes” ecoa a abundância ictiológica de Ezequiel 47:10 no contexto do rio que brota do novo templo e vivifica o mar, sugerindo que a eficácia missionária da Igreja nasce da presença do Ressuscitado e da obediência à sua voz, não da perícia dos pescadores (Ezequiel 47:1–10). O detalhe de que “a rede não se rompeu” contrasta com a rede que se rompia em Lucas 5:6 e pode ser lido à luz da promessa joanina de um só rebanho sob um só Pastor, como sinal de catolicidade e unidade que acolhe “outras ovelhas” e, ainda assim, permanece íntegra (João 10:16; João 21:11).

A corrida de Pedro, que se lança ao mar ao ouvir o discípulo amado dizer “É o Senhor!”, atualiza o duplo movimento de chamado e reconhecimento que percorre o quarto evangelho (“Vinde e vede”; “Nós achamos o Messias”) e reata a amizade testemunhal entre Pedro e o Discípulo que vê e crê (João 1:39–41; João 20:8; João 21:7). O braseiro de carvão (anthrakía) no qual o pão e o peixe estão preparados espelha o braseiro do pátio no qual Pedro negara o Mestre (João 18:18; João 21:9), compondo um cenário de memória e cura: o Ressuscitado prepara uma mesa “na presença dos adversários”, como o Deus-pastor do Salmo 23, e ali recomeça com o discípulo que caiu (Salmo 23:5). O pão e o peixe repartidos à beira-mar retomam as ressonâncias do sinal dos pães em João 6 e o cuidado providente de Deus no deserto, onde o povo foi sustentado, e evocam a hospitalidade do Senhor que alimenta os seus para então enviá-los (Êxodo 16:4–8; 2 Reis 4:42–44; João 6:1–13; João 21:12–13).

O tríplice diálogo com Simão, “amas-me?” — com os verbos agapáō e philéō em variação estilística — responde, medida por medida, às três negações e institui a forma pascal do pastoreio: “apascenta (bóske) os meus cordeiros... pastoreia (poímaine) as minhas ovelhas... apascenta (bóske) as minhas ovelhas” (João 21:15–17). A tríade de verbos e objetos articula-se com o discurso do Bom Pastor em João 10 e com a promessa profética de que o próprio Deus levantaria um pastor fiel em contraste com os pastores maus (Ezequiel 34:11–16, 23; João 10:1–18). A comissão dada a Pedro encontra seu desenvolvimento apostólico quando os presbíteros são exortados a “pastorear o rebanho de Deus” e velar por ele “que ele adquiriu com o seu próprio sangue”, de modo que João 21 funciona como matriz de Atos 20:28 e 1 Pedro 5:1–4 (Atos 20:28–32; 1 Pedro 5:1–4). O mandado de fortalecer os irmãos, já anunciado na noite da ceia (“e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos”), chega aqui ao seu rito de reconstituição, em que o amor ao Senhor se traduz em serviço pastoral (Lucas 22:31–32; João 21:15–17).

A profecia sobre o martírio de Pedro, “quando fores velho... estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres”, é interpretada pelo evangelista como indicação do tipo de morte com que glorificaria a Deus, unindo a trajetória do apóstolo à do Mestre cuja morte é glória (João 12:23–28; João 21:18–19). Essa palavra se harmoniza com a consciência posterior do próprio Pedro sobre a proximidade de seu “despojar do tabernáculo” e com a teologia apostólica segundo a qual “por muitas tribulações importa entrar no Reino de Deus” (2 Pedro 1:13–15; Atos 14:22). O chamado renovado “Segue-me” faz ponte com a primeira vocação (“Segue-me”) e corrige a curiosidade comparativa de Pedro sobre o destino do discípulo amado: a comunidade é chamada a fidelidade à própria vocação sob a soberania do Senhor que determina tempos e modos, evitando rumores escatológicos (João 1:43; João 21:19–23). A correção do boato — “não disse que ele não morreria” — mostra a hermenêutica eclesial aprendendo a distinguir entre palavra e inferência, o que ecoa o critério de duas ou três testemunhas para estabelecer a verdade e prepara o testemunho escrito (Deuteronômio 19:15; João 21:23–24).

A autorreferência final ao “discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu” inscreve João 21 na tradição do testemunho ocular que estrutura a proclamação apostólica (“o que vimos com os nossos olhos... e nossas mãos tocaram”, 1 João 1:1–3) e vincula o evangelho ao padrão jurídico da Lei sobre o valor de testemunhas fidedignas (Deuteronômio 19:15; 1 João 1:1–3; João 21:24). O hiperbolismo conclusivo — “há ainda muitas outras coisas que Jesus fez; se cada uma fosse escrita, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros” — dialoga ironicamente com a sabedoria que adverte “de fazer muitos livros não há fim”, ao mesmo tempo em que confessa a sobreabundância da obra do Cristo que excede qualquer arquivo (Eclesiastes 12:12; João 21:25). Lido no conjunto, o capítulo costura vocação e restauração à beira-mar, mesa e pastoreio, unidade sem ruptura e missão às nações, martírio e perseverança, testemunho ocular e Escritura, assim como a visão profética da água que vivifica com a rede cheia e não rompida, de modo que o Ressuscitado sela sua Páscoa formando um pastor para seu rebanho e uma comunidade cuja pesca abundante, coesa e obediente manifesta, no “amanhecer” do novo êxodo, que “é o Senhor” quem chama, alimenta e envia (Ezequiel 47:1–10; Salmo 23; João 6:1–13; João 10:1–18; João 21:1–25).

II. Comentário de João 21

João 21:1 Mar de Tiberíades. Os romanos deram ao mar da Galileia o nome do imperador Tibério César.

João 21:2 João, o autor desse Evangelho, era um dos filhos de Zebedeu. Seu nome não aparece aqui porque ele mantém sua discrição ao falar de tudo referente a ele mesmo em seu livro.

João 21:3 Disse-lhes Simão Pedro: vou pescar. Pedro tem sido muito criticado por ter voltado para a ocupação que tinha antes, mas não há nada no texto que indique erro nessa atitude. O Senhor não o repreendeu por isso.

João 21:4 Os discípulos não reconheceram que era Jesus. Os apóstolos provavelmente não reconheceram Jesus porque estavam preocupados com o trabalho, assim como Maria mergulhada em tristeza (Jo 20.14). Além disso, não havia muita luz àquela hora do dia. E, sendo já manhã se refere ao nascer do sol.

João 21:5 Tendes alguma coisa de comer? Como eles estavam à beira do lago, Jesus talvez estivesse perguntando se havia peixe para comprar. Mas os discípulos disseram que não tinham nada para vender.

João 21:6 Lançai a rede à direita do barco. Eles devem ter achado que aquele estranho tinha visto algum peixe. Os peixes às vezes eram vistos em cardumes no lago.

João 21:7 Aquele discípulo a quem Jesus amava é comumente considerado João, o autor desse Evangelho. Pedro [...] lançou-se ao mar. João foi o primeiro a reconhecer Jesus; Pedro foi o primeiro a agir. Embora Pedro tenha tomado decisões erradas, seu entusiasmo acabou levando-o a fazer coisas boas (At 2.14-41).

João 21:8-10 Duzentos côvados são cerca de 90 metros.

João 21:11-14 A informação a terceira vez diz respeito a situações em que os discípulos encontravam- se reunidos. O próprio João citou duas aparições antes dessa, a primeira à Maria Madalena (Jo 20.19-23, 26-29).

João 21:15 Mais do que estes quer dizer mais do que os outros discípulos (Mt 26.22). Em duas ocasiões diferentes, Pedro havia declarado seu grande amor por Jesus, mesmo comparando-se com outra pessoa (Jo 13.37; Mt 26.33).

João 21:16 Apascentar significa pastorear. Os cordeiros precisavam ser alimentados (v. 5); as ovelhas precisavam ser guiadas. Pedro teria de cuidar de diferentes pessoas, assim como Jesus havia feito com os discípulos.

João 21:17 Pedro negou o Senhor pelo menos três vezes. Aqui, ele declara seu amor por Ele três vezes.

João 21:18, 19 As palavras de Jesus devem ter deixado Pedro confuso. Jesus havia acabado de falar do seu futuro ministério, mas então falou da Sua morte. Quando jovem, Pedro andava por onde queria e fazia o que bem entendesse. Mas, quando ficasse mais velho, ele estenderia as mãos para ser guiado pelos outros e precisaria de ajuda. Outro te cingirá quer dizer que Pedro seria preso como um criminoso condenado. Haveria um dia em que ele estaria totalmente à mercê de seus algozes romanos, que o levariam para onde ele não queria ir, para a morte (v. 19). Em 2 Pedro 1.13 temos um indício da morte de Pedro. As palavras de Jesus aqui confirmam a tradição da Igreja primitiva de que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo.

João 21:20, 21 Aquele discípulo a quem Jesus amava é comumente tido como João, o autor desse Evangelho. E deste que será? Pedro queria saber se João teria uma morte violenta.

João 21:22, 23 Segue-me tu. O Senhor disse a Pedro que ele deveria se concentrar na vontade de Deus sobre a Sua própria vida, e não na vontade de Deus sobre a vida das outras pessoas. Aquele discípulo não havia de morrer. Eles pensaram que Jesus viria antes de João morrer.

João 21:24 Este é o discípulo. O discípulo a quem Jesus amava (v. 20). Essa é praticamente a assinatura de João selando o seu Evangelho.

João 21:25 Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. O Evangelho de João é um relato verídico (v. 24), mas não exaustivo, no sentido de esgotar todos os atos e feitos realizados por Jesus durante Seu ministério terreno.

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