Bode Azazel — Estudo Bíblico

Bode Azazel — Estudo Bíblico
Bode Azazel — Estudo Bíblico


AZAZEL [Heb.: ˓ăzā˒zēl (עֲזָאזֵל)]. O destino, ou objetivo, para o qual o bode expiatório é enviada no Dia da Expiação (Lv 16:8, 10, 26).
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A.     O Termo                       
B.     O caráter de Azazel
C.     Azazel antes de Levítico 16
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A. O Termo
Os significado do termo ˓ăzā˒zēl não é totalmente claro. As principais interpretações são: (a) É o nome de um demônio (por exemplo, Delcor 1976: 35-37; Loretz 1985: 50-57; Tawil 1980). (b) É uma designação geográfica que significa algo como “lugar precipitado” ou “penhasco acidentado” (Sipra, Ahare Mot. 2: 8; Tg Ps. J. Lev 16:10, 22; Driver 1956: 97-98). (c) É um substantivo abstrato que significa “destruição” ou “remoção inteira” (por exemplo, BDB 736). (d) É composta dos termos ˒ēz ˒ōzēl “cabra que vai (embora)” e é uma descrição do bode despachado (cf. a LXX, Vg; é a partir dessa interpretação que nós temos o nosso termo “bode expiatório”).

Das quatro visões, entender
˓ăzā˒zēl como um epíteto de uma personalidade demoníaca é o mais razoável. As principais evidências para isso são: (a) Lv 16:8 prescreve que Aarão deve colocar um lote em cada um dos dois bodes fornecidos pelos israelitas. Um lote designa um bode como sendo “para Yhwh”, enquanto o outro lote designa o outro bode como sendo ˓ăzā˒zēl.Como o primeiro lote é para um ser sobrenatural, Yhwh, assim o segundo lote deveria ser para alguém ser sobrenatural de alguma sorte. (b) O bode designado por ˓ăzā˒zēl é enviado para ˓ăzā˒zēl no deserto, o qual é um nos habitates comuns dos demônios (Isa 13:21–22; 34:11–15; talvez também Lev 17:7; cf. Tob 8:3; Mat 12:43). (c) Na literatura pseudepigrafa, Azazel aparece como um ser demoníaco alado (1 Enoque 8:1; 9:6; 10:4–8; 13:1; cf. 54:5–6; 55:4; 69:2; Apoc. Ab. 13:6–14; 14:4–6; 20:5–7; 22:5; 23:11; 29:6–7; 31:5; sobre o problema da tradição, veja Hanson 1977: 220–33; Nickelsburg 1977: 397–404; Grabbe 1987: 153–55). (d) Enquanto os nomes poderiam ser interpretados como epítetos de um ser sobrenatural, enquanto retém a ordem das consoantes no MT (˓z˒zl), a etimologia do nome tem sido explicada como uma forma metatésica de ˓zz-˒l significando algo como “deus feroz” ou “deusa raivoso” que, se correto, revelaria decisivamente o caráter demoníaco do ser (cf. Tawil 1980; Loretz 1985: 50–57). O Temple Scroll e outra literatura de Qumran contem a forma ˓zz˒l (11QTemple 26:13 e veja Grabbe 1987:156).
B. O Caráter de Azazel
Embora Azazel seja uma personalidade demoníaca, o cuidado deve ser observado na determinação de seu caráter exato no ritual no Dia da Expiação. Só porque ele é um demônio não significa automaticamente que funcione como personalidades demoníacas em outras religiões do ANE. Na verdade, não há razão para supor que no rito bíblico ele fosse considerado uma figura bastante periférica e impotente, pouco mais do que um titular de um lugar que representa a meta geográfica do bode expiatório enviado (Wright, 1987:21-25). A principal razão para acreditar que os formuladores de Levítico 16 pensavam em Azazel desta forma é a tendência da religião monoteísta de Israel de rejeitar, ou pelo menos limitar, qualquer poder que iria competir com o Senhor (Duhm 1904: 28, 32). Outra razão é que os escritos sacerdotais têm muito pouco a dizer sobre demônios. A única outra referência aos demônios além de Azazel está em Levítico 17: 7. O tratamento completamente diferente das figuras demoníacas correspondente nos ritos de eliminação da ANE parece confirmar esta imagem de Azazel (por exemplo, da antiga Anatólia e Mesopotâmia, ver Wright, 1987:31-74). Muitos destes rituais falam de divindades ou demônios ofendidos ou irados que devem ser propiciados para que uma praga ou outro mal não seja levantada contra a humanidade ou um indivíduo. Os que atacam seres sobrenaturais são abordados com encantamentos que revelam em detalhes a personalidade dos seres demoníacos. Os portadores humanos enviam ofertas de apaziguamento e de substituição para aplacar a ira demoníaca. Por exemplo, no ritual hitita de Ashella que visa dissipar uma praga causada por demônios entre o exército hitita (ver Wright, 1987:50-51), líderes do exército decoram carneiros com lãs coloridas e outros materiais. Eles recitam: “Qualquer que seja o deus que está se movendo, Qualquer que seja o deus que fez esta praga, para você, eis esses carneiros que eu amarrado. Seja, da em diante, apaziguado!” No dia seguinte, os animais são levados para o campo aberto com cevada, pão, e talvez leite como oferendas. Antes de os carneiros ser enviados para longe, os líderes colocam suas mãos sobre os animais e dizem: “Qualquer que seja o deus fez esta praga, agora, eis que os carneiros estão em pé; eles têm muita gordura no fígado, coração, e membro genital. Que a carne de seres humanos seja odiosa para ele. Além disso, sejam apaziguados com esses carneiros!” Em outros rituais, em vez de ser demônios atacando, deuses podem ser depositários do mal. Eles são chamados a tirar e descartar o mal causado por outra fonte. Por sua ajuda, recebem ofertas de ação de graças. Por exemplo, no ritual hitita de Ambazzi (Wright, 1987: 57), uma oficial mulher do culto remove uma corda com estanho sobre ele de um paciente no ritual, coloca-o em um rato, e diz: “Eu tenho tirado de você [ou seja, o paciente] o mal e eu coloco-o no rato. Deixe este rato levá-lo para as altas montanhas, os vales profundos(e) as formas distantes”. Após isso, ela permite que o rato possa ir, dizendo: “O Alawaimi [um deus], ​​conduza este (rato) em diante, e eu darei para ti um bode para comer”. Em contraste, Levítico 16 não fala de Azazel em qualquer um destes termos: ele não causa nenhum dano, ele não recebe ofertas (o bode expiatório não é um sacrifício), orações não são feitas para ele. Tal tratamento lacônico de Azazel tendo em conta estes outros rituais sugere que Azazel não é um ser ativo a quem é devido qualquer tipo de veneração ou atenção.

C. Azazel Antes de Levítico 16
Finalmente, que Azazel aparesse em forma reprimida nos íntimos rituais sacerdotais mostra que ele não é uma invenção da escola de pensamento, mas vem de uma formula pré-sacerdotal do rito no qual ele interpretou um papel mais ativo, quer como uma divindade com raiva, como uma proposta etimologia do seu nome pode sugerir (˓zz-˒l) ou meramente como beneficiário da custódia do mal. A razão pela qual ele foi mantido na versão do rito pode ser devido à crença popular, o que não permitiria remover totalmente a personalidade.

Bibliografia
Delcor, M. 1976. Le mythe de la chute des anges. 190: 3–53.
Driver, G. R. 1956. Three Technical Terms in the Pentateuch. 1: 97–105.
Duhm, H. 1904. Die bösen Geister im Alten Testament. Tübingen and Leipzig.
Grabbe, L. L. 1987. The Scapegoat: A Study in Early Jewish Interpretation. 18: 152–67.
Hanson, P. D. 1977. Rebellion in Heaven, Azazel, and Euhemeristic Heroes in 1 Enoch 6–11. 96: 195–233.
Loretz, O. 1985. Leberschau, Sündenbock, Asasel in Ugarit und Israel. Ugaritisch-Biblische Literatur. Soest.
Nickelsburg, G. W. E. 1977. Apocalyptic and Myth in 1 Enoch 6–11. 96: 383–405.
Tawil, H. 1980. ˓Azazel the Prince of the Steepe [sic]: A Comparative Study. 92: 43–59.
Wright, D. P. 1987. The Disposal of Impurity: Elimination Rites in the Bible and in Hittite and Mesopotamian Literature. 101. Atlanta.
     



FONTE: Freedman, D. N. (1996, c1992). The Anchor Bible Dictionary (vol. 1, p. 536). New York: Doubleday.