Interpretação de Deuteronômio 1
Deuteronômio 1
1:1-5 Os antigos tratados de suserania começavam com um preâmbulo no qual aquele que falava, aquele que declarava o seu senhorio, exigindo a fidelidade dos vassalos, identificava-se. O preâmbulo deuteronômico identifica aquele que fala como sendo Moisés (v. 1a), mas como o representante terreno e mediatorial do Senhor (v. 3b), o Suserano celestial e Soberano máximo desta aliança.São estas as palavras (v. 1a). Com esta fórmula introdutória começavam os tratados extra-bíblicos. O local da cerimônia da renovação da aliança da qual o Deuteronômio testifica foi a região do Jordão na terra de Moabe (vs. 1a, 5a; cons. 4:44-46). A época foi o último mês do quadragésimo ano depois do Êxodo (v.3a), quando os homens de guerra daquela geração já tinham perecido todos (2:16), a conquista da Transjordânia já fora realizada (v. 4; 2:24 e segs.), e aproximava-se o momento da morte de Moisés. Foi especialmente esta última circunstância que ocasionou a renovação da aliança. Deus assegurava a continuidade da dinastia mediatorial exigindo de Israel um sinal de obediência a Josué, seu novo homem de confiança (cons. 31:3; 34:9), e um novo voto de consagração para com Ele mesmo.
A cerimônia foi descrita como uma declaração ou exposição desta lei (v. 5), uma vez que as estipulações ocupavam lugar tão central e extenso nas alianças de suserania. O local desta assembléia, ao que parece, foi descrita mais adiante no versículo 2b. Embora a menção de localidades desconhecidas torna a interpretação incerta, o propósito da anotação nos versículos 1b, 2 parece ter sido o de orientar a assembléia de Moabe histórica e geograficamente, indicando que foi no final da viagem do Horebe, via deserto de Arabá. Para Israel, a viagem a Canaã através dessa rota foi de quarenta anos de duração (v.3), embora a rota original pela qual seguiram a Parã era normalmente uma viagem de apenas onze dias (v. 2). Em Parã, na fronteira meridional de Canaã, contudo, Israel rebelou-se, recusando-se a entrar na terra (Nm. 12:16 e segs.), ficando assim esta geração condenada a morrer no deserto. Agora seus filhos chegaram, via o caminho de Arabá, vindos de “Sufe” (presumivelmente o Golfo de Ácaba), a leste de Canaã, através da terra de Moabe. Ambos os lados de acesso a Canaã e a extensão das peregrinações falam de uma história de violação da aliança e de herança adiada. Existe aí um interessante contraste entre o ponto de vista de Moisés na introdução do livro, olhando de Moabe para o sul e vendo o passado de fracassos e maldições, e no fim do livro, Moisés olhando para o norte de Moabe, ao terminar sua obra, vendo um futuro de realizações e bênçãos para Israel (Dt. 34:1.4).
1:6–4:49 O preâmbulo nos tratados internacionais de suserania era seguido por um resumo histórico do relacionamento entre senhor e vassalo. Era escrito em estilo primeira e segunda pessoa e procurava estabelecer a justificação histórica para o reinado contínuo do senhor. Citavam-se os benefícios alegadamente conferidos pelo Senhor ao vassalo, tendo em vista estabelecer a fidelidade do vassalo no sentido da gratidão complementar e o medo que a identificação imponente do suserano no preâmbulo tinha a intenção de produzir. Quando os tratados eram renovados, o prólogo histórico era atualizado. Todos estes aspectos formais caracterizam Dt. 1:6-4:49.
O prólogo histórico da Aliança do Sinai referia-se ao livramento do Egito (Êx. 20:2b). Deuteronômio começa com a cena da Aliança do Sinai e continua a história até a assembléia da renovação da aliança em Moabe, enfatizando as recentes vitórias transjordanianas. Quando, mais tarde, Josué tornou a renovar a aliança de Israel, continuou com a narrativa em seu prólogo histórico através dos acontecimentos de sua própria liderança à frente de Israel, a conquista e o estabelecimento em Canaã (Js. 24: 2-13).
1:6-8 Após um ano de acampamento na região do Sinai, onde a aliança foi ratificada e o Tabernáculo confirmado como habitação de Deus em Israel, chegou o momento de dar o próximo passo decisivo na realização das promessas feitas aos pan (vs. 6, 8b). A iniciativa no avanço contra a terra da possessão prometida foi tomada por ordem do Senhor, Entrai e possuí a terra (v. 8; cons. Nm. 10:11-13). No versículo 7b, veja Gn. 15:18 e segs.
1:9-18 Com a aproximação do momento de sua morte, Moisés estava preocupado em confirmar a autoridade daqueles que deviam ficar com a responsabilidade do governo depois dele. De importância primária era a sucessão de Josué, à qual ele logo se referiria (1:38; 3:21, 28), mas agora Moisés fazia Israel se lembrar da autoridade concedida a outros oficiais judiciários. veja em Êx. 18:13 e segs. a narrativa original,
1:10 Como as estrelas dos céus. A própria circunstância que deu origem à necessidade desses ajudantes judiciários de Moisés, a multiplicação da semente de Abraão, era a evidência propriamente dita da fidelidade do Senhor no cumprimento de Suas promessas (Gn. 12:2; 15:5; etc.), concedendo a Israel o estímulo de avançar pela fé para tomar posse de Canaã (cons. Dt. 1:7, 8). O mediador fiel de Deus, refletindo a bondade do Senhor, orou em favor da plena realização de todas as promessas da Aliança Abraâmica (v. 11).
1:17 Porque o juízo é de Deus. Este motivo para a justa administração da justiça era ao mesmo tempo um lembrete da natureza teocrática do reino israelita, um lembrete de que Deus era o Senhor que renovava a aliança com eles naquele dia.
1:19-40 Opondo-se à fidelidade do Senhor no cumprimento da aliança (cons. 6-18) tinha havido a infidelidade e desobediência de Israel. O fato do Senhor estar renovando Sua aliança, apesar deste aspecto passado da rebeldia do vassalo, magnificava ainda mais a Sua graça e bondade (ver comentários introdutórios sobre Prólogo Histórico). O pecado particular do povo de Israel recordado na véspera de sua conquista de Canaã foi a sua recusa em avançar, quando pela primeira vez recebeu tal ordem, uns trinta e oito anos atrás. Veja em Números 13 e 14 a narrativa original. Desta vez a aproximação da terra foi feita pelo sul (Dt. 1:19). Moisés foi explícito ao avisá-los que Canaã era deles sem restrições (vs. 20, 21; cons. 7, 8; Gn. 15:16); contudo, sob as ordens do Senhor (cons. Nm. 13:1 e segs.), ele consentia na estratégia do reconhecimento da terra antes do ataque (Dt. 1:22.25 ).
1:26, 27a Fostes rebeldes... murmurastes. A resposta de Israel diante do relatório dos espias foi de temor incrédulo e recusa em prosseguir.
1:27b Por isso nos tirou... para... destruir-nos. A perversidade de Israel chegou ao extremo de interpretar sua eleição como uma expressão do ódio divino contra eles; Deus os livrara dos egípcios apenas para que os cananeus pudessem matá-los!
1:29-33 Não puderam ser dissuadidos – nem por isso crestes (v. 32) – de sua revolta declarada contra o programa da aliança do Senhor, apesar dos rogos e garantias que Moisés apresentou de ajuda paternal e sobrenatural de Deus, tais como experimentaram no Egito e no deserto.
1:34 Tendo, pois, ouvido o Senhor... indignou-se. Sua incredulidade provocou o veredito divino, selado por um juramento, sentenciando-os ao exílio da terra na qual recusaram-se a entrar (v. 35), exílio até a morte no deserto (v. 40).
1:36-38. Salvo Calebe... Josué. No aviso do julgamento havia uma manifestação da misericórdia da aliança divina, pois além de Calebe e Josué, os bons espias, seria poupada para entrar em Canaã mais tarde, toda a segunda geração de Israel (v. 39). Aí houve uma promessa de um benévolo novo começo – agora se cumprindo na renovação deuteronômica da aliança.
1:37. Contra mim se indignou o Senhor. A rebeldia de Israel provocou um fracasso da parte de Moisés, que deixou de cumprir devidamente a sua vocação de tipo de mediador messiânico sempre submisso à vontade do Pai (cons. 3:26; 4:21; 32:50 e segs.). Isto aconteceu no retorno a Cades, depois dos trinta e oito anos de peregrinação (cons. Nm. 20:1 e segs.), mas foi mencionado aqui porque suas consequências foram a exclusão de Moisés junto com a geração mais velha (cons. v. 35). Foi por isso que se tornou necessário a designação de Josué como herdeiro da dinastia mediatorial – Josué “ali entrará” (v. 38) – para conduzir os vossos meninos (v. 39) que foram poupados e introduzi-los em Canaã.
1:41–2:1 Depois que o povo de Israel revoltou-se contra a vontade do Senhor com um assalto presunçoso e desastroso a Canaã, na vã esperança de escapar do veredito de Deus (1:41-44; cons. Nm. 14:40 e segs.), permaneceu um pouco em Cades (v. 46).
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