Interpretação de Deuteronômio 9
5)
A Advertência das Tábuas Quebradas. 9:1 – 10:11.
Se Israel considerasse Canaã como uma recompensa por
sua própria justiça (9:4), seria uma contradição ainda maior das realidades do
relacionamento convencional do que a sua presunção em considerar a possessão e prosperidade
da terra uma façanha do seu próprio poder (8:17). O conceito de justiça própria
é uma tentativa do pecador, que anseia pela autonomia, de libertar-se de Deus
exatamente naquele ponto onde a sua necessidade de Deus é mais desesperada – a
necessidade do perdão e purificação. Moisés portanto apresentou apaixonadamente
a verdade que revela que as promessas e bênçãos do relacionamento convencional
pertenciam à Israel por virtude da misericórdia, não por mérito.
Deuteronômio 9
1-5. A ocasião para esta admoestação foi a perspectiva de Israel desapossar
um povo reconhecidamente invencível em um ataque e defendido por fortificações
aparentemente inexpugnáveis – cidades grandes e amuralhadas até aos céus (v.
1). Sobre os enaquins e outros povos impressionantes, veja 1:28; 4:38; 7:1; Nm.
13:28. A ponta de lança de Israel era, contudo, Aquele que habita nos céus e
que faz das mais altas montanhas da terra o estrado dos Seus pés, e que é, além
do mais, um fogo devorador (cons. Dt. 4:24; 7:17 e segs.).
4c. Minha justiça. Este é o trágico equívoco sobre os acontecimentos
relacionados à conquista, ao qual Israel estaria sujeito a despeito de todos os
óbvios fatos históricos e advertências explícitas de Deus ao contrário. A
explicação do triunfo de Israel só poderia jazer na maldade dos cananitas de um
lado (vs. 4c, 5) e na graça perdoadora de Deus para com Israel do outro (9:6 –
10:11). Veja Gn. 15:16 quanto ao relacionamento entre a iniqüidade dos
habitantes de Canaã e o cumprimento das promessas da Aliança Abraâmica.
Investigações arqueológicas têm revelado as
profundidades abissais da degeneração moral na sociedade e da religião cananita
dentro da era mosaica. A maneira pela qual a aquisição da terra prometida a
Israel foi sujeita à eliminação dos cananitas exemplifica o princípio do
julgamento redentor. A salvação dos amigos de Deus, necessariamente envolve o
triunfo deles sobre os amigos de Satanás. Do ponto de vista dos eleitos, o
juízo destes últimos é um juízo redentor (por exemplo, Ap. 19:11 e segs.; 20:9,
onde a redenção dos eleitos foi consumada através da ruína das hordas
satânicas).
6. A interpretação baseada na auto-justiça que Israel poderia dar à
conquista, já fora contestada de antemão por toda a experiência que Moisés
tinha com a nação durante os quarenta anos passados (vs. 7, 24). Os israelitas
já tinham repetidas vezes demonstrado que eram um povo rebelde, violador da
aliança (vs. 6-17, 21-24). Haviam sido poupados e preservados no relacionamento
convencional com Deus apenas por causa da misericordiosa renovação da aliança
violada (10:1-11) em atenção à importuna intercessão mediatorial de Moisés
(9:18-20, 25-29).
8. Em Horebe tanto provocastes à ira do Senhor. O exemplo clássico da infidelidade de
Israel aconteceu no exato momento em que a aliança estava sendo solenizada no
Horebe (9:8 e segs.; cons. Êx. 32). Israel acabara de jurar fidelidade a Deus e
votar obediência aos Seus mandamentos (Êx. 24). Realmente, foi enquanto o
Senhor estava no próprio processo da inscrição do tratado nos documentos de
pedra em duplicata, durante a primeira estada de Moisés de quarenta dias e
quarenta noites no monte, que Israel violou a aliança comprometendo-se com a
idolatria. Naquela hora a ira de Deus acendeu-se e Israel chegou a ponto de ser
aniquilada – Deixa-me que os destrua (v. 14; cons. 19a). Até onde o
mérito estava envolvido, Israel não merecia herdar o fruto de Canaã, mas cair
sob o anátema junto com os cananitas desapossados. A maneira como Moisés lidou
com as tábuas do tratado – e as quebrei ante os vossos olhos (v. 17) – e
com o bezerro de ouro (v. 21) era símbolo da destruição da aliança. Tal
procedimento ritual se evidencia nos antigos tratados públicos em relação à
violação do juramento feito pelo vassalo.
22. Também em Taberá, em Massá e em Quibrote-Hataavá.
Outros exemplos de Israel provocando a
ira de Deus precederam e seguiram-se ao dia da assembléia no Sinai (Êx. 17:2-7;
Nm. 1) até que a sua perversidade em Cades-Barnéia (Dt. 9:23; cons. 1:26 e
segs.; Nm. 13; 14) desencadeou o veredito do exílio até a morte para a geração
mais velha.
Mais de uma vez o juízo foi desviado pela intercessão
de Moisés. Neste aspecto do ministério de Moisés, mais notável do que qualquer
outro, sua mediação prefigurava a mediação antitípica de Cristo, que também “intercedeu
pelos transgressores” (Is. 53:12). Quando no Sinai Deus ameaçou riscar o nome
de Israel e ofereceu-se para exaltar os descendentes de Moisés fazendo deles
uma nação da nova aliança (Dt. 9:14; com. Êx. 32:10), Moisés cumpriu fielmente
com o seu papel de mediador em benefício de Israel e não agarrou a oportunidade
de se tornar um segundo Abraão. Na verdade, ele se ofereceu como um segundo
Isaque sobre o altar. Moisés rogou que, se devia haver um riscar de nomes, em
vez de se fazer uma exceção no julgamento, ele poderia ser o riscado para que o
perdão fosse concedido aos outros (Êx. 32:32). “Tê-los-ia exterminado... se
Moisés, seu escolhido, não se houvesse interposto, impedindo que sua cólera os
destruísse” (Sl. 106:23). A intercessão à qual se refere Dt. 9:18,19, 25-29
(cons. 10:10) foi feita durante o segundo período de quarenta dias que Moisés
esteve na montanha.
Tem-se encontrado dificuldades no fato do conteúdo da
oração de Moisés, em 9:26-29, corresponder à que foi registrada em Êx.
32:11-13, pois tem-se presumido que esta última se refere aos primeiros
quarenta dias de Moisés diante de Deus. Na verdade, Êx. 32:11-14 é um sumário
introdutório da narrativa que vem a seguir, a qual abrange o segundo período de
quarenta dias. A seqüência cronológica imediata é de Êx. 32:10 a 32:15,
conforme se reflete em Dt. 9:14, 15. A narrativa do Êxodo de 32:30 – 34:29
possivelmente se refere ao segundo período de quarenta dias e sua seqüência, e
não aos acontecimentos precedentes; o arranjo, conforme acontece com freqüência
na narrativa hebraica (cons. Dt. 9 mesmo), subordina a estrita seqüência
cronológica aos tópicos. Pois ainda esta vez (9:19; 10:10) é a melhor
tradução, dando a gam seu mais freqüente sentido enfático.
A ira particular de Deus contra Arão (v. 20), não
mencionada na narrativa do Êxodo, foi citada aqui para demonstrar como Israel
era completamente destituído de mérito e como dependia da misericórdia – até o
seu sumo sacerdote era um tição arrancado do fogo. A mesma verdade revela-se
nas razões da intercessão de Moisés (vs. 26-29).
27. Lembra-te . . . Abraão, Isaque e Jacó. Ele rogou por uma suspensão do juízo
apesar da maldade e teimosia de Israel (v. 27b) e com base apenas no interesse
de Deus preservar seu próprio nome entre as nações da terra. Deus já há muito
tinha declarado seus soberanos propósitos de juízo redentor e identificara este
programa com Sua maneira de tratar Israel e o Egito.
28b. Não tendo podido . . . introduzi-los na terra. Se agora destruía Israel, mesmo se não
violasse assim Sua aliança e cumprisse fielmente Suas promessas feitas aos
patriarcas (cons. 9:14), tal procedimento estaria sujeito a má interpretação. O
significado da poderosa revelação do nome de Deus no juízo e na salvação
durante o Êxodo ficaria obscurecido e o temor dEle sena diminuído por
desrespeito, o que seda mal interpretado como fraqueza.
10:1-11. A renovação da aliança depois da idolatria de Israel
no Sinai foi, portanto, devida somente à graça divina. Parte da cerimônia da
renovação foi a preparação das duas novas tábuas do tratado. Veja Êx. 34:1-4a,
que possivelmente pertence cronologicamente entre 32:29 e 32:30. Do mesmo modo,
Dt. 10:1a precede em tempo 9:18 e segs. e 9:25 e segs. Há uma negligência
posterior de distinção cronológica dentro de 10:1-5, pois a menção da
construção da arca como depósito das tábuas de pedra está interligada com a narrativa
do talhamento e gravação deste segundo jogo do texto do tratado. Foi realmente
depois do segundo período de quarenta dias que Moisés mandou Bezalel construir
a arca (Êx. 35:30 e segs.; 36:2; 37:1) e foi, é claro, algum tempo depois que
Moisés colocou o testemunho dentro da arca (Êx. 40:20) e então pôs a arca no
Tabernáculo (Êx. 40:21).
A maneira condensada e resumida de Dt. 10:1-5 reflete
a exigência encontrada nos tratados internacionais de suserania que os textos
da aliança em duplicata fossem depositados no santuário de ambas as partes
convencionais, a fim de que assim ficasse sob a vigilância das divindades do
juramento. No caso da aliança de Deus com Israel, só havia um santuário
envolvido, uma vez que Deus, o Suserano da aliança, também era o Deus que tinha
o Seu santuário em Israel. Sendo o propósito de 10:1-5 declarar de maneira
compreensiva e geral que Deus tinha misericordiosamente reafirmado a aliança
com os vassalos rebeldes, Moisés incluiu a questão da arca como um elemento
familiar e integral no processo padrão da ratificação.
Os versículos 6 e 7, aos quais os versículos 8 e 9
pertencem materialmente, constituem uma quebra de estilo. Não temos certeza 1)
se esta dissertação originou-se como uma citação lida de um itinerário no
decorrer do discurso de Moisés, 2) se ele o inseriu parenteticamente quando
escreveu o Livro da Lei, ou 3) se alguém como o autor de Deuteronômio 34
acrescentou-o.
6. Partiram os filhos de Israel. A viagem em vista é aquela na direção sul
partindo de Cades que foi registrada em Nm. 33:37 (para as devidas paradas,
veja Nm. 33:30-33). Seu filho, oficiou como sacerdote em seu lugar (v.
6c). Os versículos 6, 7 são relevantes ao contexto; pois intensificam mais a
graça renovadora da aliança de Deus, fazendo lembrar que o Senhor reinstituiu o
sacerdócio de Arão, da tribo de Levi, e continuou-a em Eleazar, filho de Arão,
apesar de Sua ha contra o pai (9: 20).
8. O Senhor separou . . . Levi. Cons. Êxodo 28; 29; Nm. 1:49 e segs.; 3:9
e segs.; 4:17 e segs.; 8:6 e segs.; 18:20-24. Esta seção também pode ser
considerada como uma elaboração do assunto das tábuas da aliança (Dt. 10:8;
cons. v. 5). O tema da intercessão foi concluído em 10:10, 11.
10.
O Senhor me ouviu. Cons. 9:18, 19. A viagem à
terra prometida, a qual Israel desmerecia tanto, tinha de ser retomada por
causa do respeito que Deus tinha pelo Seu próprio nome, o nome que Ele usara no
juramento, pois não poderia ter jurado por alguém superior (10:11; cons. Êx.
33: 1 e segs.).
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