Estudo sobre Apocalipse 5:7-8

Estudo sobre Apocalipse 5:7-8

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Apocalipse 5:7-8

No v. 7 desencadeia-se a ação decisiva: Veio, pois, e tomou (“recebeu” [nvi]) o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono. Um estilo agitado descreve um acontecimento singular. O objeto recebido, o livro, é deixado de lado e deve ser mentalmente adicionado como algo óbvio. Inicialmente João também omite o próprio evento da recepção (somente no v. 8 ele é recuperado) e proclama de imediato a realidade dela resultante: ele o recebeu! A tensão era enorme: será que o Cordeiro poderia fazer o que ninguém podia (v. 3)? De forma poderosa explode agora o júbilo: o livro está seguro na mão dele. Ele o tomou! Ele o tomou! E com o livro estão em suas mãos o fim e o mundo inteiro.

De maneira enfática (duas vezes no v. 6), a ascensão do Cordeiro ao poder constitui um evento central. Agora ele desencadeia um movimento centrífugo, uma prostração que se expande para todos os lados, prolongando-se até as margens longínquas. Na verdade a prostração é mencionada somente no primeiro grupo, contudo as doxologias dos dois outros grupos nitidamente pressupõem a submissão. Assim um grupo impele o outro a exaltar o Cordeiro, de maneira que a adoração se avoluma e finalmente não se ouve mais nenhuma dissonância no universo inteiro. O Cordeiro governa de forma incontestável.

Estas palavras poderiam lembrar os leitores daquele tempo dos acontecimentos de uma coroação. Depois da ascensão ao poder pelo novo soberano no santuário ou no palácio, primeiramente o círculo mais próximo o venerava, depois o grupo de funcionários e finalmente lá fora as massas até os moradores dos últimos recantos do império, aos quais os arautos levassem a notícia. Em decorrência, o texto diferencia três corais: as adjacências imediatas do trono (v. 8-10), os exércitos celestiais (v. 11,12) e toda a criação viva (v. 13).

Entretanto, os três coros são iluminados por luzes de intensidade diferente. Nos v. 6-10 João vê e ouve, nos v. 11,12 ele também ainda vê, porém a ênfase recai mais fortemente sobre o ouvir, no v. 13 ele apenas ouve. As doxologias se tornam cada vez mais breves, mais genéricas e impessoais (v. 9: “tu és digno” [blh], v. 12: “[Ele] é digno” [blh]). A respeito do primeiro grupo João relata detalhadamente como se prostra e vivamente (no tempo presente!) como canta, algo que omite depois. Conseqüentemente, a figura vai perdendo as cores em direção das margens. Esta circunstância nos previne de querermos extrair demais das margens (cf. o comentário ao v. 13).

E, quando tomou (“recebeu” [nvi]) o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles (dos anciãos) uma harpa. O fato de que os anjos anciãos estão munidos do instrumento cultual da harpa novamente lembra que João vê o céu como um templo. Este instrumento, porém, não era conhecido apenas dos sacerdotes israelitas, mas também dos imperiais, que desta maneira intensificavam a exaltação do soberano. Conforme Dn 3.5 Nabucodonosor já ordenara que se tocassem harpas durante o ato de adoração. A Babilônia também estava cheia do som das harpas (Ap 18.22). Isto evidencia a riqueza de correlações que um pequeno traço secundário como este pode ter. Trata-se não apenas de um acessório decorativo, mas de uma incisão intencional. A presente música é tocada contra o culto ao imperador e contra a idolatria.

De modo muito preciso, Lohmeyer observa que João se detém na observação de que os anciãos tinham harpas e taças douradas. Será que também não tocaram as harpas e queimaram incenso? Isto não interessa mais. Bastava que ficasse estabelecida para o leitor uma certa correlação – no presente caso com o culto ao imperador.

As taças de ouro (Êx 37.16) faziam parte do serviço sacerdotal na mesa dos pães da proposição. Durante as libações ascendia delas o perfume do incenso, símbolo das orações (Sl 141.2): estas são as orações dos santos.273 Em Ap 8.3-5 o quadro é desenvolvido integralmente (cf. lá também a explicação sobre os “santos”). Por meio desta observação secundária a igreja da terra aparece, ainda que não em pessoa, adorando nas cercanias do trono. João vê suas orações, que parecem ser tão impotentes, nas mãos de anjos superiores, desta forma dizendo aos que oram que seu louvor e suas súplicas causam efeito num lugar central. Possuem participação essencial na execução do senhorio do Cordeiro. Sua oração significa governar com ele na atualidade (v. 10).


Continuação...
Apocalipse 5:7-8