Estudo sobre Apocalipse 5:9

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Apocalipse 5:9

Segue-se a primeira das três passagens do “novo cântico” (também em Ap 14.3; 15.3. Sem dúvida o “cântico de Moisés e do Cordeiro” cabe neste contexto). E entoavam novo cântico. Quando se leva em consideração Ap 4.6 no presente texto, estes cânticos sempre são cantados no mar. Talvez o cântico de Moisés no mar Vermelho (Êx 15), protótipo da nova canção, esteja por trás desta ideia. Todos os três cânticos são introduzidos por harpas e têm o mesmo significado: a mão direita de Deus vence o “Egito”.

A expressão “novo cântico” também ocorre nos Sl 33.3; 40.3; 96.1; 98.1; 144.9; 149.1, na maioria das vezes combinada com um instrumento de cordas, evocando o rugido do mar. Por que ele é “novo”? Este “novo” não se refere ao momento do surgimento do cântico, porém ao seu conteúdo. O novo cântico entoa coisas novas, a saber, a intervenção de Deus no mundo velho (cf. o exposto Ap 2.17). Várias vezes ouve-se o motivo do novo cântico: “Pois ele faz maravilhas”. As afirmações básicas dos “novos cânticos” nos salmos coincidem com as do cântico do Mar Vermelho. Elas são três: Deus venceu os seus inimigos, Deus tornou-se rei e Israel é seu povo; é preciso servir a este Deus, para que todo o mundo o veja, ouça, creia e acompanhe. O novo cântico, portanto, não trata em primeira linha do estado do coração de pessoas individuais. Seu conteúdo não é composto de sentimentos subjetivos, mas dos grandes feitos de Deus neste mundo. Em frases concisas e lapidares ele entoa a vitória de Deus, a sua soberania e o culto a ele.

Algo já contido no novo cântico do AT aflora em toda a amplitude no novo cântico do Apocalipse. Ele não enfoca uma vitória parcial de Deus num momento qualquer do curso histórico, mas a sua vitória definitiva, a sua soberania final e a sua glorificação derradeira. Sua vitória final: o Cordeiro triunfou sobre pecado, morte e diabo (Ap 5.5), a Babilônia está destronada (Ap 14.8), e os juízos de Deus foram consumados (Ap 15.4). Sua soberania final: em toda parte ele criou para si uma comunidade (Ap 5.9; 14.4). Sua glorificação derradeira: para esta finalidade a igreja lhe serve de forma sacerdotal (Ap 5.10), segue o Cordeiro (Ap 14.4) e envia seu chamado insistente e confiante às nações (Ap 15.4).

O destinatário do novo cântico sempre é Deus. “Cantai ao Senhor um cântico novo!” Sem dúvida também é ouvido por pessoas. Afinal, sua finalidade é incentivar outros a agirem assim também. Antes de mais nada, porém, ele significa a concretização da submissão pelo próprio cantor. O cantor dá o exemplo pessoalmente e é o primeiro a submeter-se.

Quanto ao texto do novo cântico, sempre cabe comparar também a explicação dos v. 2-6, cujos termos-chave retornam no presente texto. Dizendo: Digno és de tomar (“receber” [nvi]) o livro e de abrir-lhe os selos. Em seguida, três verbos fundamentam a dignidade do Cordeiro. Porque foste morto. Ressalta-se um paradoxo crasso: morto – instalado no poder!274 Sua morte como destruição do domínio de Satanás corresponde ao primeiro tema do novo cântico (cf. acima). A segunda ação refere-se à inauguração da soberania de Deus na forma de uma igreja: e com o teu sangue compraste para Deus (uma igreja). Em Ap 1.5, no lugar da compra encontrava-se a redenção. Ambas as afirmações são coincidentes em conteúdo (explicação, cf. no local), porém Ap 1.5 permanece na gravidade e profundidade da obra redentora (“de nossos pecados”), enquanto o presente versículo atesta a sua amplitude. Em lugar de uma só força escravizadora determinada, da qual a igreja tinha de ser redimida, aparecem agora suas múltiplas variações. O “Egito” tem muitas aparências: os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação. Esta expressão quádrupla, que faz lembrar os quadrantes do céu, significa a totalidade da população da terra. O fruto da morte de Jesus é a igreja única formada de todos os povos.

Este quadro de uma igreja amplamente ramificada e que penetrou em todos os grupos pressupõe uma intensa atividade missionária, assim como também conversões em todos os segmentos e círculos. A onipotência divina visa alcançar que o ódio passo a passo se transforme em amor e discipulado. Nesta observação cabe novamente levar em conta a sombria cena de contraste. Em Dn 3.4,7; 5.19 a multidão que adora Nabucodonosor é descrita de modo muito semelhante. A unidade do mundo parece estar consolidada! Tanto mais compreensível é o ódio contra o grupinho de judeus que frustra a satisfação plena do triunfo. O programa do helenismo também era: “A humanidade toda deverá tornar-se um único povo!” (qi 11, cf. Ap 13.7). Tanto maior era a desconfiança quando caía na vista a realidade da igreja de Cristo que abrangia as nações, estas conversões em sempre outros círculos, esta ponte da fraternidade sobre abismos que eram tão profundos. Evidentemente era em torno do Cordeiro sacrificado que a reunificação da humanidade tinha êxito de uma forma primordial, pelo que se levantou a reivindicação de consumação escatológica: as nações unidas aos seus pés.

Continuação...
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