Estudo sobre Romanos 1:19-20

Estudo sobre Romanos 1:19-20

Estudo sobre Romanos 1:19-20


Romanos 1:19-20

Essa percepção da verdade contra a qual os gentios se rebelam precisa ser explicada. Ela existe graças a uma terceira “revelação”, a saber, a revelação da bondade da Criação de Deus. Embora cuidadosa, a formulação é significativa. Entre eles não está manifesto o próprio Deus, porém meramente algo dele, ou seja, o que é perceptível em Deus. Foi Deus quem lho revelou. Desse modo, a princípio, Deus não está longe deles (At 17.27). Vivem sua existência “cercados pela sabedoria de Deus”.

O v. 20 traz pormenores sobre esse aspecto que se pode conhecer de Deus. Embora jamais alguém tenha visto Deus pessoalmente, motivo pelo qual todas as imagens de Deus são mentirosas, os atributos invisíveis… se reconhecem. Isso parece ser paradoxal: visualizar algo invisível? São contemplados indiretamente no que é visível, por assim dizer “nas entrelinhas”, a saber, pelas obras da natureza e da história. “Sem linguagem, sem fala” (rc), “os céus proclamam a glória de Deus”, é a mensagem que as obras de Deus não param de jorrar (Sl 19.1-5; Jó 12.7-10). Essa revelação existe desde a Criação do cosmo e, desde então, continuamente. O Criador não é igual a um relojoeiro que solta sua obra depois de pronta para que ande sozinha. Pelo contrário, conserva o que criou em funcionamento, segundo após segundo. O Criador, jamais exausto, “nem se cansa, nem se fatiga” e sustenta “todas as coisas”.

Paulo coloca esse acontecimento em foco. É uma força eterna que atua, superando as forças intramundanas. Dizendo-o de forma concreta: Podemos filmar o crescimento de um capim em todas as suas fases, explicar suas funções, definir sua cadeia química, podemos construir uma imitação de similaridade quase enganadora, podemos também destruí-lo. Contudo, o que com todo o nosso conhecimento não somos capazes de fazer é: criá-lo. Em conseqüência, cada pequena gramínea já nos demonstra o que não podemos e o que não somos, a saber, não somos criadores. Continuamente reflete-se, na onipotência manifesta de Deus, a nossa impotência. Ser pessoa significa experimentar incessantemente a superioridade da altura do céu e caminhar continuamente nos limites próprios. Isso também vale independentemente das clássicas experiências limítrofes como doença e morte. Já no simples dia-a-dia não somos sempre fortes, nem conseguimos nos virar sempre sozinhos. Cada pessoa necessita continuamente de misericórdia. Há também muito mais coisas que nossa ciência ignora. Cada nova descoberta faz divisa com mais terreno não desbravado. Igualmente, nossos poderosos nem são tão poderosos assim.

Em vista de tantas coisas incontroláveis para nós, é impossível que sejamos senhores. Uma divindade invisível reivindica o senhorio. Diante dela temos de nos responsabilizar. De nenhum coração humano pode-se apagar o dever dessa responsabilidade (2.14-16). Nessa situação, experimentamos que esse poder superior não é um poder que subjuga friamente, e sim que abençoa. Ele nos concede espaço para viver, comida e alegria de existir. É irrefutável que lhe cabe nossa gratidão (v. 21).

Nosso versículo contém mais uma cláusula importante. A revelação da Criação somente é visualizada quando ela é compreendida com a razão. A percepção combina dois processos entre si, um de receber e um de elaborar mediante reflexão.

Quanto ao primeiro ato: A “razão” [“percepção”, “sensatez”] tem a ver com “perceber”, e sempre começa nesse aspecto. Ela denota sentidos abertos para toda a amplitude da existência. Em segundo lugar, no entanto, ela acolhe sem prejuízos essas impressões em seu raciocínio, a fim de ponderá-las, circundá-las, movê-las, até conduzi-las para conclusões finais apropriadas. Dessa maneira chega-se a uma descoberta, no sentido de um acréscimo genuíno. Numa elaboração sensata da experiência real do mundo é muito difícil excluir Deus do raciocínio, por mais fácil que seja excluí-lo do discurso. Contudo, dificilmente há algo que esteja tão intimamente ligado, se for processado por meios corretos, como ser pessoa e honrar a Deus.

Ao longo de dois versículos, Paulo expôs que os gentios possuem conhecimento sobre Deus, sobre a reivindicação de que ele é senhor, e sobre a responsabilidade deles. A frase final patenteia qual era para ele a questão: Tais homens são, por isso, indesculpáveis. A ira condenatória do v. 18 é legítima. “As pessoas sem dúvida alguma tinham a possibilidade de se portarem corretamente perante Deus… o condenado não pode alegar desconhecimento. Não pode evadir-se”11. Mesmo depois de levadas em conta condições atenuantes, não existe em lugar algum paganismo justificado e desculpável.