Estudo sobre Romanos 13:1

Romanos 13:1

Paulo começa com uma exortação consternadoramente simples e irrevogável: Todo homem (quer judeu, gentio ou cristão) esteja sujeito às autoridades superiores instituídas. Está pressuposta a noção de uma ordem abrangente da sociedade. Cada pessoa tem uma relação peculiar com as demais e quer ocupar seu lugar. Desta forma, em cada situação surge também um “acima” e um “abaixo”, uma consciência que o “instituído” (possuidor de poder superior) desperta em nós. Certamente sempre será difícil tornar essa subordinação compreensível a uma pessoa que vive de coração ardente de acordo com o lema: “Para mim, nada é mais importante que eu próprio!” Mas também o ouvinte de hoje conhece o anseio por pais, por um mestre ou amigo que estejam “em ordem”. Sem que se chame à ordem, sem que se faça ordem e que se mantenha ordem as pessoas não conseguem conviver.

Depois que Paulo revigorou a noção da ordem, que abrange a população e o governo, ele cita Deus como criador dessa constelação. Porque não há autoridade (“poder estatal”) que não proceda de Deus. Obviamente Paulo conhecia as circunstâncias terrenas e humanas pelas quais governantes assumem o poder. Durante sua vida Roma viu quatro imperadores sendo coroados, três dos quais após assassinato e morte. Também a Bíblia narra tais eventos sem enfeitá-los. Porém Paulo fixa-se integralmente na perspectiva teológica. As autoridades que existem foram por ele instituídas. Tão logo apareça o termo “Deus”, trata-se do Deus da vida e da paz, em oposição a tudo que é caótico e destrói a vida. No fundo, qualquer pessoa sabe que para o convívio e a sobrevivência das pessoas nas pequenas e grandes questões não há viabilidade sem uma ordem de paz. Também a comunidade cristã sente-se comprometida com ela. Não obstante, Rm 12.18 já deixou transparecer que há limitações para o esforço por paz e equilíbrio por causa da falta de boa vontade de alguns. Nesse contexto fala-se, agora, da instituição de um poder estatal de ordenamento (pormenores sobre isso no v. 4). Não se trata de uma ordem de salvação, mas ela faz parte de uma existência suportável.

Paulo não a depreende da natureza, como faziam os filósofos gregos, mas tampouco a remete à Criação. Isso significa: essa ordem não existe como configuração ideal preestabelecida, que tivesse sido imposta como uma obrigação aos estados de todas as eras e de todos os continentes. Pelo contrário, a expressão “por ele (Deus) instituídas” cria a impressão de uma série de ordenanças (cf logo abaixo, sobre o v. 2), que Deus insere de caso para caso no decurso dos acontecimentos, seja com ira, seja com paciência e graça. Em todas as fases Deus é Senhor sobre a história humana. Sem podermos evidenciar suas providências em todos os detalhes, estamos diante de um bem comum da fé bíblica, formulado de forma clássica no livro de Daniel: “(Deus) remove reis e estabelece reis”. Na verdade, Ap 13 diz o seguinte sobre o poder político desnaturado: “O dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (v. 2b [nvi]), mas poucos versículos adiante a afirmação é superada: “Foi-lhe dado poder (por Deus!)…” (v. 7 [nvi]). De fato, uma imbricação, para nós imperscrutável, de duas iniciativas de direções totalmente opostas! Am 3.6 atesta essa atuação universal (não atuação única!) de Deus com a frase: “Se acontece uma desgraça na cidade, não foi Iahweh quem agiu?” (bj). Deus está agindo ininterruptamente em cada recanto da terra também nesse mundo caído (Jo 5.17). Ele não fica apenas contemplando tudo, como a lua silente. Ele não se deixa aprisionar no além, ele não é somente Deus no céu, mas também na terra (Dt 4.39; Js 2.11; Ec 5.2). Não há nenhum distrito (e também nenhuma prefeitura) que estivesse excluído de sua atuação. Se conforme Mt 10.29 Deus até age no vôo de um pássaro e na formação de uma careca, quanto mais não atuará no surgimento e na preservação de cada governo de fato existente. “Sim, com certeza Deus é o Deus das nações!” (Rm 3.29). Não existe história mundial que transcorresse por si própria.


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