Significado de Gênesis 3
Gênesis 3
Gênesis 3 apresenta a história da queda da humanidade, na qual Adão e Eva desobedecem ao mandamento de Deus de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal e, como resultado, o pecado entra no mundo. O capítulo enfatiza as consequências devastadoras do pecado e da desobediência, incluindo vergonha, medo e separação de Deus.
II. A Septuaginta e o Texto Hebraico
Em Gn 3:1, o hebraico apresenta o nāḥāš “serpente” e qualifica‐o como ʿārûm (“ardiloso/astuto”), termo que por trocadilho retoma ʿărummîm (“nus”) de 2:25; a justaposição cria um contraste semântico (inocência vs. astúcia) que prepara a queda. O par está claro no MT de 2:25 e 3:1. A LXX verte 3:1 por ho ophis ēn phronimōtatos (“a serpente era a mais prudente/astuta”), escolhendo phronimōtatos — superlativo de phronimos — e fixando ophis como termo técnico para “serpente”. Esse adjetivo grego reaparece programaticamente quando Jesus exorta: “sede phronimoi como as serpentes” (Mt 10:16), esforço claro de capitalizar a proverbial “prudência/astúcia” serpentária que a LXX havia canonizado. Assim, já no primeiro versículo, a LXX fornece ao grego cristão um vocabulário que o NT assume e resignifica.
A promessa serpentina introduz dois eixos semânticos decisivos. Primeiro, o da “abertura dos olhos” (nip̄qĕḥû ʿênêhem), que a LXX traduz com o aoristo passivo composto diēnoíchthēsan hoi ophthalmoi (3:7). O NT ecoa a mesma fórmula quando “se abrem os olhos” dos discípulos em Emaús (Lc 24:31), sugerindo um paralelismo deliberado entre a falsa “iluminação” pós-transgressão e a verdadeira revelação cristológica. Segundo, o par “bem/mal”: ṭôḇ wā-rāʿ, vertido pela LXX com kalon/ponēron (3:5, 22), binômio que se torna onipresente na ética do NT (o eixo kalos/ponēros).
A sentença de 3:14–19 revela pontos em que a LXX não apenas traduz, mas interpreta. Em 3:14, “maldito” do MT (ʾārûr) torna-se epikataratos; este adjetivo, caro ao grego bíblico, alimenta a linguagem paulina da “maldição” (cf. Gl 3), ainda que a citação explícita de Paulo venha de Dt 21:23. Em 3:15, a LXX lê tēreō (“vigiar/guardar”) — “autos sou tērēsei kephalēn, kai su tērēseis autou pternan” — em lugar do difícil verbo hebraico šûp̄ (“ferir/esmagar/contundir”), escolha que desloca a ênfase de um golpe físico para uma hostilidade vigilante. Ainda assim, a fraseologia de “inimizade” (ʾēbāh > echthra) cria a ponte mais duradoura com a teologia do NT: echthra é exatamente o termo que o NT usa para hostilidade/inimizade (cf. Ef 2:14–16), e a leitura cristã ligará 3:15 a duas passagens-chave: a identificação do “antigo ophis” com Satanás (Ap 12:9) e a promessa de que Deus “syntribsei (esmagará) Satanás” “debaixo de vossos pés” (Rm 16:20). Desse modo, embora a LXX não diga “esmagar” em Gn 3:15, a semântica de echthra e a macrointertextualidade do cânon grego mantêm viva a leitura querigmática da vitória final sobre o ophis.
A sentença à mulher em 3:16 é outro exemplo de mapeamento semântico seletivo. O hebraico tĕšûqāh (“desejo/impulso”) é traduzido na LXX por apostrophē (“volta/retorno/dirigir-se a”), e māšal bĕ (“dominar sobre”) por kurieusei (“ele será senhor de ti”). A mudança lexical (de desejo para “voltar-se”) estreita o campo semântico e reforça uma leitura relacional hierárquica, exatamente o tipo de linguagem que o grego cristão herda para discutir ordem doméstica, sem depender de transliteração hebraica. Do mesmo modo, o hebraico ʿiṣṣābôn (“dor/sofrimento”) aparece como lypais/ponois na tradição grega (LXX 3:16), categorias que permeiam a parênese neotestamentária.
A sentença a Adão (3:17–19) liga trabalho, chão e morte numa cadeia verbal que a LXX deixa muito transparente ao verter “pó” por chous (3:19). A partir daí, Paulo falará de choikos (“feito de pó/terroso”) para caracterizar Adão e seus descendentes (1Co 15:47–49), convertendo o vocabulário da LXX numa antítese soteriológica entre o “homem do pó” e o “homem do céu”. Esse é um caso cristalino de como o léxico grego do AT (LXX) condiciona a própria morfologia argumentativa do NT.
Dois detalhes narrativos finais mostram o quanto a LXX “catequiza” a recepção cristã. Em 3:21, Deus faz kĕṯōnōt ʿōr (“túnicas de pele”); a LXX usa chitōnas dermatinos — termos (chitōn, “túnica”; dermatinos, “de couro”) literais no grego do NT e facilmente preensíveis em pregação e tipologia (cobertura provida por Deus). Em 3:24, os querubins e a “espada flamejante” tornam-se rhomphaia phlogine que “strephetai” (gira) para guardar o caminho da “xylon tēs zōēs” (árvore da vida). Rhomphaia é exatamente o vocábulo da “espada” que sai da boca do Cristo exaltado no Apocalipse, e xylon tēs zōēs reaparece como prêmio “no Paraíso de Deus” (Ap 2:7) — reatando a expulsão de Éden com a esperança escatológica de reentrada, no mesmo idioma da LXX.
Também aqui se nota a liberdade hermenêutica da LXX ao nomear a mulher. Em 3:20, o hebraico explica ḥawwāh a partir de ḥay (“vida”), e a LXX não translitera, mas traduz: “Adão chamou o nome de sua mulher Zōē (‘Vida’), pois ela é mãe de todos os viventes)”. Essa opção reforça, para leitores gregos, o valor semântico do nome na própria superfície do texto.
No nível da macroestrutura, o enredo de Gn 3 que a LXX cristaliza em grego — astúcia da serpente (phronimōtatos), abertura dos olhos ( diēnoíchthēsan ), inimizade (echthra), pó (chous/choikos), espada (rhomphaia), árvore da vida (xylon tēs zōēs) — é exatamente o estoque lexical que o NT aciona ao ler a queda como preâmbulo do evangelho. Paulo relembra “a serpente que exēpatēsen Eva com a sua panourgia” (2Co 11:3) e distingue “engano” de “transgressão” ao aludir à ordem de Gn 2–3 (1Tm 2:14). João, por sua vez, torna explícita a identificação do “antigo ophis” com o Diabo/Satanás (Ap 12:9), e Paulo vincula a promessa de vitória à comunidade: Deus “syntribsei (esmagará) Satanás sob vossos pés” (Rm 16:20) — clara reapropriação querigmática do motivo de Gn 3:15 na tradição grega.
Por fim, vale notar como a LXX às vezes “perde” jogos sonoros do hebraico (p. ex., ʿārûm/ʿărummîm), mas ganha paralelos novos no grego do NT. O caso mais elegante é a fórmula de “abriram-se os olhos” (Gn 3:7 LXX) reaparecendo, redimida, em Lc 24:31, quando a abertura dos olhos já não conduz à vergonha, mas ao reconhecimento do Ressuscitado — a ponte é textual e lexicalmente visível graças à LXX.
Gn 3 no MT fornece o tecido semântico de queda, maldição e esperança; a LXX traduz esse tecido para um grego que normaliza ophis, phronimos, echthra, chous/choikos, rhomphaia, xylon tēs zōēs, etc.; e o NT, escrito nesse mesmo idioma, recolhe conscientemente esse léxico e essa sintaxe para articular a coerência da história bíblica — da sedução do ophis à consumação em que o acesso ao xylon tēs zōēs é restaurado.
II. Comentário de Gênesis 3
Gênesis 3.1 A serpente surge de repente no paraíso. Esta é a primeira dica de coisas e seres que já existiam além do lugar onde se encontravam Adão e Eva. A serpente simboliza algo tanto sedutor quanto repugnante. Ainda assim, nem Adão nem Eva conseguiram enxergar o perigo encarnado na serpente. A palavra hebraica para astuto [hb. ‘aruwm] soa semelhante à palavra hebraica para nu [hb. ‘arowm], em Gênesis 2.25. Adão e Eva estavam nus em inocência. Assim, em sua ingenuidade e pureza, Eva não demonstrou surpresa quando ouviu a estranha voz da serpente, que era esperta, sagaz e sorrateira, indagando: E assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Note que a serpente não se refere a Deus como Senhor [hb. Yahweh], e sim como Elohim [que também pode ser traduzido como deuses].
Gênesis 3.2 Do fruto das árvores do jardim comeremos. Eva repetiu as palavras positivas de Deus (Gn 2.16).
Gênesis 3.3 Eva sabia que havia uma árvore que estava fora dos limites os quais lhes era permitido chegar. Esta se encontrava no meio do jardim. Quanto à proibição nem nele tocareis, alguns intérpretes sugerem que a mulher já estava pecando ao adicionar palavras à Palavra de Deus, uma vez que elas não faziam parte das instruções do Senhor em Gênesis 2.17. Contudo, ainda assim, o primeiro pecado humano não foi ampliar a advertência divina; foi desobedecer à ordem de Deus, comendo o fruto da árvore que Ele proibira. As palavras de Eva demonstravam que ela e Adão conheciam plenamente a ordem de Deus; estavam cientes da instrução que haviam recebido [e, portanto, estariam pecando, caso desobedecessem a ela].
Gênesis 3.4 Pela primeira vez, vemos a mentira de Satanás, quando ele usa a serpente para dizer a Eva que, se ela e o homem desobedecessem a Deus, certamente não morreriam. Mentir foi a postura de Satanás desde o início (Jo 8.44). A serpente negou abertamente a verdade que Deus havia dito. Agindo assim, ela chamou Deus de mentiroso.
Gênesis 3.5 Usando o argumento de que Deus tinha um motivo oculto [impedir que o ser humano fosse igual a Ele] para ordenar que o homem e a mulher não comessem do fruto proibido, a serpente apelou para a cobiça de Eva, prometendo: É certo que não morrereis. A completude e a sabedoria de Deus eram apenas duas das muitas razões de Sua superioridade e distinção em relação às Suas criaturas, inclusive o ser humano. A serpente sabia disto, contudo associou todo o conhecimento de Deus à ingestão de um fruto, em uma apelação audaciosa à vaidade de Eva.
Gênesis 3.6 Note o paralelo com Gênesis 2.9. Esta árvore era como as outras árvores. Era boa para se comer e atraente aos olhos. Estas palavras sugerem que esta foi a primeira vez que Eva considerou um motivo para desobedecer à ordem de Deus. Não havia nada na árvore que parecesse venenoso ou prejudicial, e ela ainda era desejável. A questão era: continuar obedecendo ou desobedecer ao comando de Deus. Eva tomou do seu fruto, e comeu. Uma vez que ela desobedeceu a Deus, tudo mudou. Note, entretanto, que Paulo, em Romanos 5.12, fala do pecado como sendo de Adão, e não de Eva. Isto porque ela deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Adão pecou deliberadamente, sem ter sido ludibriado pela serpente. Ele sequer titubeou ou fez qualquer pergunta, embora soubesse tão bem quanto a mulher que aquele fruto era proibido. Assim, Adão e Eva demonstraram falta de confiança no Senhor, pecaram e infligiram essa marca em todos os seus descendentes. Então, o mundo mudou.
Gênesis 3.6 Neste versículo, está registrada a trágica história da Queda da humanidade em quatro estágios claramente definidos. (1) Primeiro, o ser humano é tentado a pecar por meio do que vê (Gn 9.22; Jó 31.1). Vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos. O ato de ver algo, em si mesmo, não se constitui pecado, mas pode ser o meio pelo qual nossa cobiça será estimulada, fazendo-nos pecar. [Depois de ver que a árvore era boa e agradável aos olhos, Eva “entendeu” que também era desejável para dar entendimento]. (2) O segundo passo em direção ao pecado é alimentar o desejo de seguir na direção errada, obtendo para si ilicitamente aquilo que vimos, mesmo que não possa ser nosso. Isso é pecado (Dt 5.21; Mt 5.28; Tg 1.13,14; 1 Jo 2.15-17). (3) O terceiro passo de Eva em direção ao pecado foi ter ido além da simples vontade. Ela tomou do seu fruto, e comeu. Fez o que não lhe era permitido; comeu do que lhe fora vedado pelo Senhor. O desejo de comer o fruto proibido foi um pecado tácito; o ato de comê-lo foi um pecado ativo e evidente. (4) O quarto passo foi envolver outra pessoa no pecado. Eva deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Não há tal coisa de pecado particular; todo pecado afeta outro indivíduo. O de Eva envolveu Adão e, consequentemente, o de Adão afetou todos os seus descendentes. Toda a humanidade pecou em Adão, ele o transmitiu a toda a raça humana (Rm 5.12). O pecado sempre envolve outros; assim, é multiplicado. Lembra-se do pecado de Acã (Js 7.21) e do de Davi (2 Sm 11.1-5,15,24)?
Gênesis 3.7 Esta é a pior realidade sobre um habilidoso enganador: sua mentira costuma vir misturada com a verdade. Em certo sentido, a serpente estava certa; o homem e a mulher, após comerem do fruto proibido, conheceriam o bem e o mal (v. 5). Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus. De repente, sem que qualquer outra pessoa estivesse por perto, Adão e Eva se sentiram envergonhados (Gn 2.25). A ingenuidade deles havia sido substituída por desconfiança, medo e pensamentos ruins; então eles se cobriram com folhas de figueira [numa tentativa de livrar-se da vergonha que sentiam].
Gênesis 3.8 Então, chega o Senhor para um passeio pelo paraíso e uma amistosa conversa. Mas, Adão e Eva, tendo se tornado “sábios” aos seus próprios olhos, esconderam-se por entre as árvores, para evitar que fossem vistos pelo Criador do universo. A perfeita comunhão que tinham com Ele tinha dado lugar a um terrível medo de Deus. Medo aqui não é sinônimo de temor [que está associado à reverência e à adoração], como o sentimento que Abraão, Moisés, Davi e Salomão experimentaram ao verem-se na presença do Senhor. Medo aqui é sinônimo de pânico; uma terrível perturbação pela possibilidade de o erro deles ser descoberto.
Gênesis 3.9 Deus, por Sua grande misericórdia, não os destruiu. Ele os chamou para conversar com eles (v. 10-12). A misericórdia divina vai muito além do que podemos imaginar. Caso contrário, o homem e a mulher teriam sido exterminados imediatamente.
Gênesis 3.10 [A resposta de Adão à pergunta de Deus onde estão 1 foi: ] Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. Eles não só não tinham se tornado como Deus, mas também haviam se afastado dele.
Gênesis 3.11 Senhor levou o interrogatório até o final e fazendo pergunta após pergunta.
Gênesis 3.12 A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. A primeira coisa que o homem culpado faz para se defender é acusar. Adão acusou sua mulher de induzi-lo a comer o fruto proibido e ainda culpou Deus por tê-la criado e dado a ele como companheira. (Em contrapartida, veja a resposta de Davi a Natã em 2 Samuel 12.13. Em outras palavras, Davi diz: “Eu pequei contra o Senhor. Eu sou o culpado, e mais ninguém”.)
Gênesis 3.13 Quando Deus interroga Eva, ela, seguindo a linha de defesa de Adão, alega: A serpente me enganou, e eu comi. Esta afirmação é verdadeira.
Gênesis 3.14 Então, o SENHOR Deus disse à serpente. O Senhor primeiro sentenciou a serpente. Isso não significa que Deus tenha desculpado a mulher, porque esta foi enganada, mas que Ele proferiu a maldição mais árdua sobre Satanás disfarçado de serpente. [O Senhor disse: Porquanto fizeste isso, maldita serás mais que toda besta e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás e pó comerás todos os dias da tua vida.] Aqui é usada uma linguagem poética que dá à sentença ares de solenidade. A palavra traduzida como maldita [hb. ‘arar] é usada somente para amaldiçoar a serpente e a terra (v. 17). A mulher e o homem encarariam outra nova e dura realidade, mas eles não seriam amaldiçoados. (Deus já os tinha abençoado em Génesis 1.28). O texto indica que a serpente se tornaria uma criatura que rastejaria sobre o próprio ventre e comeria pó para o resto de sua vida. Essa afirmação nos faz concluir que a serpente tinha outra forma física e outros hábitos. Esse versículo também sugere que os efeitos da Queda foram além dos experimentados pela serpente e pelos seres humanos. Estenderam-se à terra e ao reino animal, que começou a sofrer por causa da maldição edênica (ver Jr 12.4; Rm 8.20).
Gênesis 3.15 E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente;... A inimizade [hb. ‘eybah, ódio] aqui aludida entre a mulher e a serpente não se limita às cobras; tem a ver com o inimigo de nossa alma, Satanás — daí a expressão entre a tua semente [a da serpente] e a sua semente [a da mulher], A linguagem parece ambígua, mas ainda assim contém a promessa de um descendente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente. O termo semente [hb. zera] é extremamente importante. Pode ser traduzido como descendente ou prole. A palavra pode ser tomada no sentido de um indivíduo (G13.15) ou de um grupo de pessoas. Isso significa, entre outras coisas, que Eva viveria ao menos por algum tempo e que teria filhos. Contudo, a semente da mulher a que Deus se refere especificamente aqui é o prometido e vindouro Messias [que seria gerado pelo Espírito Santo em uma virgem (Os 7.14; Lc 1.28-35)]. Nesse versículo vemos que haveria luta entre duas descendências: a do Messias e a da serpente. [Em João 8.37-47, Jesus também faz menção à discórdia entre os filhos do diabo e os filhos de Abraão, o pai da fé, a quem fora prometido um Descendente em quem seriam benditas todas as famílias da terra (Gn 12.3).] Gênesis 3.15 é chamado por alguns teólogos de proto evangelho, porque neste texto, mesmo de forma indireta, Deus promete o vindouro Salvador, o nosso Senhor Jesus Cristo (Veja: Similaridades entre Jesus e Adão), que destituiria Satanás de seu poder e desfaria sua má obra, assim como um homem ao esmagar a cabeça de uma serpente debaixo de seus pés. O Senhor estava mostrando misericórdia mesmo quando Ele julgava (Gn 4.15). Contudo, em sua tentativa de não se ver esmagada pelos pés do prometido descendente da mulher, a serpente ia ferir o calcanhar deste. Seria um ferimento grave, mas algo secundário se comparado ao ferimento que a serpente sofreria na cabeça - que simboliza a derrota total de Satanás e de sua descendência pelo Messias. Ao ser crucificado e morrer, Jesus foi ferido em Seu “calcanhar”, em Sua humanidade. Ele sofreu uma terrível, mas temporária injúria (Jo 12—31; Cl 2.15). Contudo, foi fiel ao Pai até o fim, ressuscitou em glória e derrotou nosso inimigo. Desde então, Satanás foi oficialmente derrotado por Aquele que é o primogénito da nova criação; um prenúncio da vitória que todos os cristãos terão (Rm 16.20).
Gênesis 3.16 Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás filhos. Essas palavras significam que a mulher sentiria muitas dores na gestação e no parto (Gn 1.2; 4-12; 9.2; SI 9.2). Assim, o prazer da mulher em conceber e dar à luz um filho seria um pouco ofuscado pela dor. Já a palavra traduzida como desejo (hb. teshúgâ), em e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará, também implica o intento de usurpar ou controlar, como em Génesis 4.7. Nós podemos parafrasear as últimas duas linhas deste versículo assim: “você agora terá a tendência de dominar o seu marido, e ele possuirá a inclinação de agir como um tirano com você”. A batalha dos sexos havia começado. Cada um lutaria pelo controle, e nenhum dos dois seria plenamente capaz de cuidar de forma altruísta do interesse do outro (Fp 2.3,4). O antídoto para isto está na restauração do amor e do respeito mútuo, bem como da dignidade do homem e da mulher, por intermédio de Jesus Cristo (Ef 5.21-33).
Gênesis 3.17-19 Adão teve a sua parcela de culpa, mesmo que ele a tenha negado (v. 12). Maldita é a terra por causa de ti. Apesar da maldição não ter recaído diretamente sobre o homem, e sim sobre a terra, esta causaria muitos problemas a ele, produzindo espinhos e cardos. Agora, a vida do homem seria marcada pelo trabalho pesado. Ele comeria o pão com o esforço próprio, representado pelo suor do rosto. E, após tanta labuta, canseira e enfado, viria a velhice e a morte. O fato de Deus fazer referência apenas aqui a espinhos e cardos significa que, antes da Queda, a terra não estava coberta por plantas tóxicas, e o trabalho era algo mais prazeroso (Gn 2.15). Quanto à sentença porquanto és pó e em pó te tornarás, a morte agora faria parte da realidade do ser humano. Só com o advento de Cristo, seria dada ao homem a possibilidade de vida eterna (Rm 5.12-14). A advertência de Deus tinha sido clara. Ele estabeleceu que, se Adão e Eva desobedecessem a Ele, certamente morreriam (Gn 2.17). Após a Queda, eles teriam de preocupar- se com o processo de envelhecimento e de deterioração física e moral (Gn 5.5; 6.3). Apesar de alguns estudiosos terem concluído que as palavras dessa seção funcionaram como uma aliança de Deus com Adão, não é citado o termo hebraico para aliança (berít), e o conteúdo apresentado aparenta não ter o mesmo peso das outras alianças divinas com os homens.
Gênesis 3.20 O nome Eva (hb. hawwâ) está relacionado com o significado do verbo viver. Assim, Eva é a mãe de todos os viventes, de toda a humanidade, assim como Adão é o pai. Esta era a segunda designação de Adão para ela. A primeira foi ishah, termo traduzido como varoa [ARC] ou mulher [ARA], o u seja, a representante feminina da espécie humana, que dá sentido e complementa a masculinidade dele (Gn 2.23).
Gênesis 3.21 E fez o SENHOR Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu. Esta é a primeira vez que é mencionada na bíblia a matança de animais para o uso humano. O derramamento de sangue destes animais foi, de certa forma, precursor do sistema de sacrifício de inúmeros animais, conforme a Lei revelada no Sinai a Moisés. E todos os sacrifícios que aparecem no Antigo Testamento já apontavam para o fato de que um dia haveria o maior sacrifício de todos: a morte vicária de Jesus, para o perdão de todos os nossos pecados e a nossa libertação do jugo de Satanás.
Gênesis 3.22 Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal. Pelo seu ato de rebeldia, o homem e a mulher agora dividiam algo com Deus: o conhecimento sobre o bem e o mal. Contudo, eles se fizeram culpados para com o Senhor por causa de sua desobediência. Assim, o conhecimento de Adão e Eva do bem e do mal não os fez sábios, mas tolos. O fruto da árvore da vida interrompia o envelhecimento e a morte. Comer desta árvore implicava viver para sempre. Mas Deus não podia permitir que eles vivessem para sempre em rebeldia e pecado. Por isso, vedou-lhes o acesso à árvore da vida. Contudo, um dia esta árvore será plantada de novo para a cura de todas as nações (Ap 22.2).
Gênesis 3.23 O homem tinha sido criado por Deus, sendo colocado dentro do jardim do Éden (Gn 2.5-8, 15), com a tarefa de lavrá-lo e protegê-lo. Após pecar, o homem é mandado embora de lá e enviado a cultivar o solo do qual fora tirado (Gn 2.5; 3.17-19).
Gênesis 3.24 Esta é a primeira referência aos seres angelicais designados como querubins. Ao que tudo indica, a criação dos anjos, incluindo aqueles que se rebelaram contra Deus (Gn 6.1-4), precedeu a criação descrita nos capítulos 1 e 2 de Gênesis. Os querubins, de acordo com a descrição do profeta Isaías (37.16), são seres espirituais, como os anjos, que assistem na presença de Deus, podendo manifestar-se aos homens por ordem divina (ver 2 Sm 22.11; 1 Rs 6.27; Ez 1.5-28; 9.3; 10.2, 4, 7, 14). Eles são uma espécie de guardiões sagrados (Ez 28.14). Adão e Eva foram proibidos por Deus de entrar no Éden. Para assegurar isto, o Senhor pôs dois querubins ao oriente do jardim e uma espada flamejante ao redor. Não havia nenhuma forma de o homem e a mulher entrarem lá novamente sem a permissão de Deus. Mas o fato de a árvore da vida continuar ali, guardada por querubins e uma espada flamejante, suscita um fio de esperança. Uma vez que foi conservada, em vez de ser arrancada pelas raízes e destruída, um dia seus frutos poderiam ser comidos de novo? Sim. Apesar de Adão e Eva não serem mais bem-vindos ali, o Senhor deixou-lhes a esperança de que um dia o paraíso seria reconquistado por seu prometido descendente. Assim, um dia, por intermédio de Cristo, nós teremos acesso àquela árvore novamente (Ap 22.2).
Índice: Gênesis 1 Gênesis 2 Gênesis 3 Gênesis 4 Gênesis 5 Gênesis 6 Gênesis 7 Gênesis 8 Gênesis 9 Gênesis 10 Gênesis 11 Gênesis 12 Gênesis 13 Gênesis 14 Gênesis 15 Gênesis 16 Gênesis 17 Gênesis 18 Gênesis 19 Gênesis 20 Gênesis 21 Gênesis 22 Gênesis 23 Gênesis 24 Gênesis 25 Gênesis 26 Gênesis 27 Gênesis 28 Gênesis 29 Gênesis 30 Gênesis 31 Gênesis 32 Gênesis 33 Gênesis 34 Gênesis 35 Gênesis 36 Gênesis 37 Gênesis 38 Gênesis 39 Gênesis 40 Gênesis 41 Gênesis 42 Gênesis 43 Gênesis 44 Gênesis 45 Gênesis 46 Gênesis 47 Gênesis 48 Gênesis 49 Gênesis 50