Mateus 8:1-12 — Comentário Católico

Mateus 8:1-12 — Comentário Católico

Autoridade e Convite (8,1-9, 38) 

Tendo acabado de apresentar Jesus como o Messias da palavra, Mateus apresenta-o agora como o Messias da ação (Mt 11,2). Mateus torna a retomar aqui a estrutura narrativa de Marcos (1,40-2,22), que expande com milagres extraídos de outras fontes. Há nove perícopes sobre milagres, mas dez milagres individuais (a ressurreição da menina morta é inserida no relato da mulher com hemorragia). A série de dez milagres é frequentemente tida como correspondente à série das dez pragas que Moisés e Aarão causaram ao Egito como precondição da libertação da escravidão (Ex 7,8-11,10). Mateus rompe a monotonia da série com a incorporação de perícopes-tampão (8,18-22; 9,9-17). Difere de Marcos na forma em que trata os milagres. Encurta-os, tira detalhes novelísticos e, sendo um tipo cerebral, remove emoções fortes. Positivamente, ele molda os relatos em conversas paradigmáticas que enfatizam quatro temas: a cristologia (ou a autoridade de Jesus), a fé, o discipulado e a soteriologia. Desde o iluminismo, os milagres têm sido um elemento controverso no relato evangélico. Thomas Jefferson editou uma versão dos evangelhos que eliminou os milagres e manteve o ensinamento. Historicamente falando, não pode haver dúvida de que Jesus curou e fez maravilhas que assombraram as pessoas que os presenciaram, mesmo não estando claro o que aconteceu exatamente em cada caso. Nesse tocante, ele seguiu o padrão dos profetas itinerantes da Galileia que faziam milagres, Elias e Eliseu.

Nossas fontes mais antigas, cristãs e talmúdicas, concordam na transmissão deste aspecto da atividade de Jesus. Filósofos como Hume distinguem entre os milagres de cura (críveis, mas não estritamente miraculosos) e os milagres relacionados à natureza (acalmar a tempestade, andar sobre a água, multiplicar os pães e os peixes e ressuscitar os mortos). Estes últimos são considerados inacreditáveis a menos que sejam minimizados racionalisticamente. Esta distinção não é bíblica. A Bíblia está preocupada em que os milagres não se tornem um substituto para a fé (Jo 2,23-25; 6,25-29) e o amor (ICor 13,2). A fé no milagre é considerada um ponto de partida inadequado, mas frequentemente necessário, a ser transcendido o mais rapidamente possível. Em seu ministério como salvador que cura, podemos dizer que Jesus usou seus milagres como dispositivo para chamar a atenção, bem como para expressar o amor, a compaixão e o poder de Deus para salvar seu povo. As ações de alimentar a multidão, especialmente em Mateus, implicam números tão grandes que adquirem importância social e se tornam um antegosto do reino (veja o comentário sobre 14,13-21; 15,32-39). Assim como nos tempos bíblicos, hoje alguns estão interessados em curas carismáticas e santuários miraculosos como Lurdes, e outros não. Para todos, os relatos de milagres são úteis para mostrar que a realidade não é estaticamente fixa e irreformável, mas aberta ao poder transformador de Deus e da fé; Jesus, nestes relatos, também cruza as fronteiras da realidade social para permitir o acesso à salvação mesmo aos excluídos.