Estudo sobre 1 Coríntios 5:1-2

1 Coríntios 5:1-2

Paulo havia perguntado aos coríntios se deveria vir com a vara ou com amor e espírito de mansidão. Mas por que, afinal, a “vara”, i. é, o castigo duro, talvez fosse necessária? Não por causa das mazelas expostas até aqui. Não se expulsa falsa sabedoria com vara, e partidarismo e falsa reputação de determinados pregadores não são afastados da igreja por meio de surras. Não, Paulo está pensando em coisas que, se não forem imediatamente expurgadas pela igreja, tornam sua punição necessária. Pois “ouviu” não somente acerca de discórdias. Havia coisas piores para informar. “Por toda parte se houve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre pagãos, ao ponto de um de vocês possuir a mulher de seu pai” [NVI]. O que aconteceu? Será que Paulo apenas não quis mencionar o fato terrível de que um membro da igreja se casou com a própria mãe? A menção de que até mesmo entre os gentios isso seria insuportável poderia levar a esse pensamento. Porém é bem mais provável que ele se refira à madrasta, que também poderia ter uma idade mais próxima do filho do (falecido) pai.


Este episódio não trata de um pecado no êxtase erótico. Paulo somente falará dessa área em 1Co 6, quando também o fará de maneira muito diferente. No caso, agiu-se de forma consciente e refletida, quando um homem celebrou o matrimônio com sua madrasta. Pois é isso que deve ser entendido com a expressão “possuir” a mulher. Precisamente por isso ele poderia pensar que não cometera um “pecado”, mas que demonstrara a “liberdade” do cristão, não estando sujeito nem à lei de Moisés (Lv 18.8; Dt 22.30; 27.20) nem à “moral” ultrapassada.

O interesse de Paulo, porém, não se concentra no caso em si. Nem sequer fala da mulher. Disso se pode inferir que ela não fazia parte da igreja. Mas inicialmente tampouco se fala do homem, mas da igreja e de sua atitude. Uma “igreja” não é, como tantas vezes entre nós, um grupo de pessoas que se reúne para determinados eventos eclesiásticos, em que de resto cada um vive sua própria vida isoladamente. Uma “igreja” é o que Paulo ainda descreverá expressamente em 1Co 12, um “organismo”, um “corpo”. O dano e envenenamento de um membro ameaçam imediatamente o corpo todo, motivo pelo qual deve provocar a reação desse corpo. “Se um membro sofre, todos sofrem com ele” (1Co 12.26). Porém, o fato arrasador e assustador para Paulo é que precisamente esta necessária reação da igreja em Corinto não aconteceu. “E vós estais inchados de orgulho! E não ficastes nem mesmo de luto, a fim de que o autor dessa ação fosse retirado do meio de vós?” [teb].

Não sabemos se a reprimenda de Paulo “estais inchados de orgulho” visava atingir apenas a autocomplacência da igreja apesar de um evento desse tipo, ou se a própria igreja considerou esse matrimônio com a madrasta como evidência da “liberdade evangélica”. O lema que circulava em Corinto, “tudo me é lícito” (1Co 6.9s; 10.23), também poderia ter incluído um caso como esse. De qualquer forma, eles não “ficaram de luto”, como num falecimento. A igreja já não vê nem sente o aspecto letal do pecado. Paulo, porém, o vê. Por isso ele não escreve o que poderíamos esperar de um “cristão”: “E não ficastes nem mesmo de luto, para que caia em si e se arrependa aquele que praticou esse ato.” Aqui um membro da igreja não foi “colhido por uma circunstância”, de modo que se pudesse e devesse “corrigi-lo” (Gl 6.1). Nem mesmo Mt 18.15-17 pode ser aplicado aqui. O corpo da igreja está tão ameaçado pela contaminação letal de um de seus membros que somente a amputação imediata pode ser considerada, “a fim de que o autor dessa ação fosse retirado do meio de vós”. O final do trecho revelará com intensidade surpreendente que Paulo não carecia de misericórdia pessoal em relação a esse culpado.


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1 Coríntios 5:1-2