Tema e Argumentação da Carta Hebreus
Tema e Argumentação da Carta Hebreus
Hebreus descortina diante de nós a glória da nova aliança em contraposição à antiga, e resume a magnitude do sacrifício de Jesus que sobrepuja a tudo, em contraposição a todos os sacrifícios do AT, por meio da palavra “quanto mais” (Hb 9.14 [RC]). De forma muito singular ela enfatiza o caráter único da ação redentora do Senhor. O apóstolo desenvolve essa glória extraordinária da revelação de Deus na nova aliança por meio de três grandes idéias. Na primeira seção da carta (Hb 1.1-5.10) ele fala da majestade da pessoa de Jesus, o Filho de Deus, que é superior aos poderes celestiais, aos mundos angelicais, mas de igual maneira aos grandes personagens da antiga aliança, Moisés, Josué e Arão. Na segunda seção da carta (Hb 7.1-10.18) ele coloca a obra de Jesus ao lado desse pensamento e nos mostra o nosso Senhor como o Sumo Sacerdote eterno e misericordioso. Na terceira seção (Hb 11.1-12.29) ele fala de como o encontro vivo com a pessoa de Jesus e a experiência pessoal de sua obra de salvação devem tornar-se eficazes na vida das pessoas, a saber, na fé e na santificação. O alvo prático da carta são as exortações, que sucedem a cada uma das seções principais. É evidente que todas as suas reflexões teológicas não são um fim em si próprias, mas apontam para aqueles breves trechos em que, com palavras sérias, o autor chama a atenção dos fiéis que experimentaram Cristo em sua vida, para o alcance imenso de sua responsabilidade.
O apóstolo coloca diante de seus leitores a magnitude da pessoa de Jesus, a fim de preveni-los de apostatarem de Cristo (Hb 5.11 - 6.20). No seguimento à segunda seção, na qual ele expõe a superioridade do sumo sacerdócio de Jesus sobre o sacerdócio, o santuário e os sacrifícios do AT, ele adverte novamente para o pecado proposital e exorta os fiéis a perseverarem firmemente na tribulação (Hb 10.19-39). Finalmente ele acrescenta à terceira seção, na qual fala da fé e da santificação (Hb 11,12), exortações práticas sobre seguir a Jesus com fé (Hb 13). A estrutura da carta nos revela que a descrição do sumo sacerdócio eterno de Jesus (Hb 7.1 - 10.18) constitui a peça central da carta. Na exposição, a posição de Mediador ocupada pelo Sumo Sacerdote não é apenas importante para o apóstolo. Muito antes a “intercessio”, a oração da intercessão do Sumo Sacerdote eterno perante Deus em favor de sua igreja (cf. Jo 17 e Rm 8.34 com Hb 7.25), significa para ele o auxílio decisivo no sofrimento, bem como o penhor de que os fiéis alcançarão o alvo da glória.
Cabe acrescentar ainda duas observações: Quando refletimos sobre o que foi dito acima e examinamos as estruturações da carta sugeridas pelos diversos comentaristas, parece-nos que todas, comparadas com o texto de Hb, causam a impressão de uma construção artificial, não conseguindo fazer-lhe justiça plenamente. Na nossa própria estruturação temos consciência desta dificuldade. Esta circunstância deve-se à forma dinâmica com que o autor se expressa. Ele evidentemente persegue sua idéia com persistência no decorrer de toda a carta. Contudo, ele a interrompe de maneira bem inesperada, faz várias vezes um novo começo, adiciona repetidamente outros aspectos. Assim, torna-se extraordinariamente complicado evidenciar uma argumentação homogênea. Lutero já sentiu o problema, manifestando a opinião de que Hb seria “uma epístola composta de muitas peças”.
Por isso, o nosso esboço da linha do pensamento de Hb também representa uma tentativa que visa servir à melhor compreensão da carta. Uma solução satisfatória do problema ainda permanece em aberto. Hb enaltece a glória do Cristo que transcende a tudo. O autor sabe que o Senhor exaltado é idêntico ao Jesus terreno de Nazaré. Contudo, a glória de Jesus Cristo, da qual fala, é uma glória invisível, celestial. O serviço de sumo sacerdote de Cristo, enfim, não se realiza na terra, mas no céu. Por meio de ilustrações terrenas ele concretiza uma realidade celestial. Assim, o apóstolo convoca os cristãos a “levantarem o olhar” (Hb 12.2) para aquele que não conseguem ver com os seus olhos físicos, ou também a se apegarem como Moisés ao invisível como se o vissem (Hb 11.27). Por meio de Cristo os fiéis estão ligados ao mundo celestial, são participantes da “vocação celestial”, seu caminho é o caminho da fé. Isso constitui a renúncia consciente a apresentar a salvação de maneira visível em nosso tempo, mas a certeza de sua realização definitiva no mundo vindouro!
A “Bíblia de Berleburg”, uma tradução [alemã] completa com breves comentários da Escritura Sagrada, e um dos mais importantes documentos do Pietismo incipiente, diz na introdução a Hb (1739): “A epístola aos Hebreus é preferida por alguns por causa de sua importância diante de todas as demais, e considerada sumamente sagrada, quando se duvida que depois do evangelho de João possa haver no NT um livro que traga dentro de si mais sabedoria e teologia profundas e ocultas. De fato também esta epístola representa uma verdadeira chave de todo o AT e NT e praticamente o centro dos demais livros e o ponto em torno do qual se afixa o círculo todo.“ A interpretação a seguir tentará elucidar os pormenores desse testemunho.
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Fonte: Carta aos Hebreus, Comentário Bíblico Esperança