Atos dos Apóstolos — Autor

Atos dos Apóstolos — Autor

Atos dos Apóstolos — Autor



Evidência remota do segundo século indica que Lucas, “o médico amado”, foi o autor dos dois volumes dirigidos a Teófilo. O Prólogo Anti-Marcionita ao Evangelho de Lucas, escrito por volta de 160-180 d.C, afirma que Lucas, o médico e companheiro de Paulo, escreveu o Evangelho e “os Atos dos Apóstolos”. Por volta da mesma época, o Fragmento Muratoriano foi escrito (170-180). Depois de afirmar que Lucas escreveu o Evangelho em um volume, o Fragmento diz que “os Atos de todos os apóstolos” foram escritos em outro volume, pelo mesmo autor, Lucas, para o “excelentíssimo Teófilo”. Irineu (cerca de 185 d.C.) e Clemente de Alexandria (cerca de 190 d.C.) explicitamente indicam que Lucas escreveu Atos. Por referência, Tertuliano e Orígenes (ambos do final do segundo e início do terceiro séculos) indiretamente sustentam que Lucas é o autor. Eusébio (325 d.C), mui definidamente, afirma que Lucas escreveu o terceiro Evangelho e Atos. Por volta do quarto século, havia pouca dúvida acerca da autoria de Lucas.

Pelo fato de o autor ser designado, desde os tempos mais remotos, como sendo Lucas, “o médico amado” de Colossenses 4:14, houve tentativas de se provar que sua profissão poderia ser claramente discernível através de seu vocabulário. William K. Hobart (The Medicai Language of St. Luke — A Linguagem Médica de São Lucas, 1882), após uma comparação dos escritos de Lucas com os de quatro médicos proeminentes do mundo antigo (Hipócrates, Galênio, Discórides e Areteu), concluiu que o material dos dois volumes só poderia ter vindo da mão de um médico. Hobart concluiu que o autor se inclinou para o uso de termos médicos, em contraste com os outros autores do Novo Testamento, fazendo uso de termos e locuções que um médico provavelmente usaria, devido ao treinamento e hábito. Embora esta obra de Hobart tenha sido inteiramente criticada como desprovida de um elemento básico de pesquisa (ele não demonstrou que outros escritores não-médicos não empregaram as mesmas locuções e termos), a evidência cumulativa como um todo dá apoio ao pensamento de que o autor era realmente um médico; pelo menos, não foi provado que ele não era um médico.

Novamente deve-se dizer que o nome do autor não aparece no Evange¬lho nem em Atos. Se o autor foi um companheiro de viagem de Paulo, conforme indicado pelas primeiras testemunhas da igreja, então deveria haver, dentro destes livros, algo que desse algum apoio a esta idéia. Quando se lê Atos 16:10, é impressionante que o uso do pronome da primeira pessoa do plural começa a aparecer nas narrativas de viagens. Há várias passagens como esta, e estas são referidas como as seções que contêm o pronome “nós” (16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16). Estas seções indica¬riam que o autor foi igualmente uma testemunha ocular desses acontecimentos e companheiro de Paulo nessas ocasiões. O autor dos dois livros foi cuidadoso em indicar que houve coisas das quais ele não foi testemunha e que extraiu de várias fontes para apresentar essa informação (Luc. 1:1-4). Seria improvável que alguém, que foi tão cuidadoso em apontar suas fontes, deixasse de eliminar ou mudar os pronomes da primeira para a terceira pessoa. De algumas das experiências contidas em Atos, ele realmente foi participante; para esses eventos ele usou a primeira pessoa. Segundo Atos, o autor não estava presente com Paulo em Corinto ou Éfeso, e as cartas de Paulo a essas cidades não fazem nenhuma referência a Lucas. E dificilmente concebível que um escritor posterior incorporasse um “diário” de mais alguma pessoa e deixasse de mudar os pronomes. O vocabulário e estilo das seções que empregam “nós” são demasiadamente semelhantes às seções de Lucas-Atos que empregam o pronome “eles”, para não serem da mesma mão; a mesma pessoa colocou os dois volumes inteiros na forma final.

E, contudo, o nome Lucas não aparece em Atos. É somente pela eliminação de possíveis companheiros de Paulo que um nome pode ser dado ao autor das seções que empregam o pronome “nós”. Vê-se em Atos que o autor esteve com Paulo na viagem a Roma (27:1-28:16). De Roma, Paulo escreveu as Epístolas da Prisão (Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom). Nestas, alguma informação acerca dos companheiros de Paulo pode ser encontrada. Aristarco, Marcos, Timóteo, Tíquico, Epafras, Epafrodito, Demas, Jesus, .chamado Justo, e Lucas são mencionados como estando com Paulo durante parte ou todo o tempo de seu encarceramento lá. Pelo fato de Aristarco (At. 19:29; 20:4; 27:2), Marcos (12:12; 15:37,39), Timóteo (16:1; 17:14; etc.) e Tíquico (20:4) serem todos mencionados na terceira pessoa, eles podem ser excluídos de consideração. Epafras (Col. 1:7,8) e Epafrodito (Fil. 2:25, 4:18) não acompanharam Paulo na viagem a Roma. Demas (Col. 4:14) mais tarde abandonou Paulo (II Tim. 4:10), e é duvidoso que ele fosse depois escrever acerca do ministério de Paulo. Jesus, chamado Justo (Col. 4:11), não é mencionado em nenhuma outra parte no Novo Testamento, e a tradição remota da igreja acerca dele é completamente omissa. Lucas (Col. 4:14) é o único dos companheiros conhecidos de Paulo que resta, e a tradição remota da igreja aponta para ele. Acrescente-se a esta tendência o uso dos termos médicos e que Lucas é chamado de médico (Col. 4:14). Esta evidência cumulativa é tamanha que se pode dizer, com certa segurança, que Lucas realmente escreveu o livro de Atos em sua forma final.