Lucas 6:1-49 — Interpretação Bíblica

Lucas 6

6:1-2 A crítica de Jesus pelos fariseus continuou. Quando ele e seus discípulos passaram pelos campos de trigo em um dia de sábado, os fariseus os viram arrancar espigas para comer e ficaram furiosos, acusando-os de violar a lei de Moisés sobre o sábado. A lei permitia que os israelitas colhessem alguns dos grãos de seus vizinhos para comer quando estivessem com fome (ver Deuteronômio 23:25). Mas os fariseus não questionavam essa prática. Em vez disso, eles estavam questionando o fato de estarem fazendo isso no sábado.

Deus havia ordenado a Israel que lembrasse do sábado como um tempo de descanso, refrigério espiritual e nenhum trabalho (ver Êxodo 20:8-11). Mas os fariseus eram extremamente escrupulosos. Eles acrescentaram inúmeras leis à lei de Deus sobre que tipo de atividades constituíam “trabalho”. No que lhes dizia respeito, Jesus e seus discípulos estavam “colhendo” e, assim, infringindo a lei.

6:3-5 Jesus os informou que eles não apenas não entendiam a intenção da lei, mas também não entendiam muito bem suas Bíblias. Ele apontou para uma passagem do Antigo Testamento (1 Sm 21:1-9) na qual Davi e seus homens comeram o pão da Presença, embora fosse destinado apenas aos sacerdotes (6:3-4). Como ungido de Deus, Davi foi autorizado a comer o pão por causa de sua extrema necessidade. Se isso foi verdade no caso de Davi, foi ainda mais no caso do verdadeiro Ungido de Deus (Messias). Pois Jesus era o Senhor do sábado (6:5). Ao dizer isso, Jesus indicou que sabia melhor do que eles como o sábado deveria funcionar corretamente. Ele também estava fazendo uma afirmação não tão sutil de sua divindade. Visto que Deus havia dado o mandamento do sábado, Jesus teria que ser igual a Deus para se considerar “Senhor do sábado”.

6:6-8 O sábado era um assunto frequente de discórdia entre Jesus e os líderes religiosos. Em outro sábado, ele estava ensinando quando viu um homem com a mão atrofiada (6:6). Havia escribas e fariseus presentes, e Jesus sabia que eles estavam observando para ver se ele “quebraria” o sábado para que pudessem atacá-lo (6:7-8). Mas Jesus não era de desistir de uma luta.

6:9-11 Ele os desafiou, perguntando se alguém deveria fazer o bem ou o mal no sábado (6:9). Seu ponto era que, se alguém optasse por não fazer o bem a alguém aliviando seu sofrimento, isso era mau. Então Jesus restaurou a mão do homem (6:10). Isso deveria ter resultado em regozijo para qualquer um que testemunhasse o milagre; em vez disso, esses líderes ficaram cheios de raiva e conspiraram para acabar com ele (6:11).

6:12-13 Lucas descreveu anteriormente como Jesus chamou alguns de seus discípulos (ver 5:4-11, 27-28). Agora ele descreve como escolheu doze deles para serem seus apóstolos (6:13). Antes disso, ele passava a noite toda em oração a Deus (6:12). Dado este momento significativo e a crescente hostilidade ao seu ministério, Jesus buscou tempo com seu Pai. Foi assim que o Filho de Deus abordou os momentos críticos. Como você os aborda?

6:14-16 Lucas nomeia os doze homens que Jesus designou como apóstolos—incluindo aquele que se tornaria um traidor (6:16). Esses homens escolhidos a dedo viajariam com Jesus, aprenderiam com ele e receberiam autoridade especial para compartilhar a responsabilidade de proclamar a mensagem de seu reino.

6:17-19 Tendo estado em uma montanha (6:12), Jesus desceu e parou em um lugar plano com uma grande multidão de pessoas que haviam viajado de longe para ouvi-lo ensinar e ser curado (6:17-18 ).

6:20-23 O ensinamento de Jesus em 6:20-49 é paralelo ao que encontramos no “Sermão da Montanha” de Mateus (Mateus 5–7), embora a versão de Lucas seja mais curta. Embora Jesus tenha ensinado o material em uma montanha em Mateus, em Lucas ele desceu de uma montanha e ensinou em um lugar plano (16:17). Assim, os intérpretes da Bíblia frequentemente se referem a essa passagem em Lucas como o “Sermão da Planície”. É provável que Jesus tenha ensinado o mesmo material várias vezes para diferentes públicos em diferentes locais.

As bênçãos ou “bem-aventuranças” nesses versículos são expressões do favor divino e dos benefícios do reino que viriam aos seguidores de Jesus. Os pobres — isto é, os que reconhecem sua falência espiritual — verão a autoridade do reino de Deus dominando os desafios da vida (6:20). Aqueles que agora estão famintos com um apetite espiritual apaixonado por um relacionamento com Deus receberão satisfação em suas almas. Aqueles que choram e lamentam seus pecados terão sua tristeza substituída por alegria (6:21). Aqueles que são perseguidos e maltratados por causa de seu testemunho de Cristo receberão uma recompensa no céu maior do que podem imaginar (6:22-23).

6:24-26 Além de pronunciar bênçãos sobre aqueles que o recebem como Messias, Jesus também pronunciou desgraças sobre aqueles que o rejeitam. Aqueles que são ricos no mundo físico, mas não têm riqueza espiritual para com Deus, acabarão perdendo suas riquezas e descobrirão que elas não têm sentido (6:24). Aqueles que permitem que esta era atual os encha, experimentarão falta espiritual na era vindoura. Aqueles que riem e encontram todo o seu prazer nesta era presente serão enlutados espiritualmente na era vindoura (6:25). Os seguidores de Jesus não devem considerar as palavras elogiosas dos injustos como indicadores da aprovação de Deus. Os ímpios falaram bem dos falsos profetas durante os tempos do Antigo Testamento (6:26). O povo de Deus deve lembrar que a aprovação divina é mais importante do que o louvor humano.

6:27-36 Em 6:27-38, Jesus diferenciou entre seus discípulos e aqueles que não deram ouvidos às suas palavras. Os seguidores de Cristo terão valores diferentes e, portanto, serão distinguíveis do resto do mundo. Eles amarão seus inimigos, farão o bem àqueles que os odeiam e orarão por aqueles que os maltratam (6:27-28). Eles responderão com bênçãos e generosidade, em vez de maldições e retaliações (6:29-30). Eles demonstrarão amor àqueles que não os amam (6:31-35) com o objetivo de trazer tais detratores ao conhecimento do amor de Deus em Jesus Cristo. Pois aqueles que tratam as pessoas dessa maneira refletirão o amor e a misericórdia de seu Pai celestial (6:35-36).

6:37-38 As pessoas do reino não julgarão e condenarão os outros de acordo com seus próprios padrões. Aqueles que o fizerem encontrarão seus próprios padrões usados contra eles ao serem julgados e condenados por Deus (6:37). Dê, e será dado a você (6:38) implica que os homens e mulheres do reino darão generosamente em tempo, oração, finanças e serviço. Eles perceberão que não são sua própria fonte. Tudo o que eles têm lhes foi dado — por empréstimo do céu — para que possam abençoar outros. Deus recompensará tal generosidade sacrificial feita em seu nome com abundantes bênçãos espirituais e físicas (6:38). A chave é dar aos outros exatamente aquilo (“isso”) que você deseja que Deus lhe dê. O princípio de reciprocidade de Deus é ativado quando ministramos às necessidades dos outros com o resultado de que ele levanta pessoas para ministrar em troca a nós nessa mesma área de necessidade (por exemplo, a viúva de Sarepta, 1 Reis 17:8-16) .

6:39-40 Jesus contou-lhes uma parábola simples para contrastar seu ensino com o dos líderes religiosos. Se um cego tentar guiar outro cego, ambos cairão no buraco (6:39). O que é verdade no mundo físico também é verdade espiritualmente. Aqueles que rejeitam o Messias de Deus e ensinam outros a fazê-lo os levarão à destruição. Em contraste, um discípulo de Jesus deve ser como seu mestre em suas atitudes e ações (6:40). O caráter e a conduta de seu Mestre devem transparecer, porque o discipulado é um reflexo da vida de Cristo.

6:41-42 A vida dos seguidores de Cristo não deve ter indícios de hipocrisia. Um hipócrita diz uma coisa e faz outra. É fácil falar de um grande jogo e dar a impressão de ser uma pessoa espiritual, mas a prova está no pudim. Uma pessoa verdadeiramente espiritual tem uma realidade interna que transborda em ações externas. Tal pessoa não reclamará do cisco no olho de seu irmão (uma falta menor) e não fará nada sobre a trave de madeira em seu próprio olho (um pecado grave) (6:41). Devemos abordar os problemas maiores em nossos próprios corações antes de procurarmos abordar os pequenos problemas na vida de nossos irmãos e irmãs em Cristo (6:42).

6:43-45 As pessoas identificam as árvores frutíferas com base no tipo de fruto que produzem (6:43-44). As macieiras dão apenas maçãs. As laranjeiras dão apenas laranjas. Da mesma forma, você pode identificar pessoas que seguem a Deus com base no que dizem e fazem. A justiça é produzida na vida de uma pessoa somente como resultado da justiça no coração. Pois falamos e agimos com o transbordamento do coração (6:45).

6:46-49 Um discípulo frutífero fará o que Jesus diz. Jesus ilustrou esse princípio contando a história de dois homens. Um homem lançou os alicerces de sua casa sobre uma rocha. Quando veio a enchente, ela resistiu ao ataque (6:48). O outro homem construiu sua casa sem alicerce. Como resultado, a enchente varreu sua casa (6:49). Jesus disse que o primeiro homem é como a pessoa que age de acordo com suas palavras, e o segundo homem é como a pessoa que ouve, mas não age (6:47, 49). Ouvir e ler a Palavra de Deus são absolutamente essenciais. Mas se você parar por aí, o resultado será um desastre. A Bíblia não foi feita para ser meramente estudada e memorizada; era para ser acreditado e obedecido. Devemos “ser praticantes da palavra e não apenas ouvintes” (Tg 1:22). Deixar de obedecer às palavras de Jesus levará à ruína. Quando as tempestades da vida vêm, não é apenas o que você ouve, mas o que você faz com o que ouve que determina o quanto de Jesus você experimentará. O fundamento da Palavra de Deus operando em sua vida determinará a estabilidade de seu futuro — especialmente quando enfrentar sérias provações.

Notas Adicionais:

6.1-5 Ao longo dos séculos, muitas leis tinham sido criadas para garantir que fosse cumprido o que a Lei de Moisés exigia a respeito do sábado (Êx 20.8-11; Dt 5.12-15). Aqui e na seção seguinte (vs. 6-11), Jesus discute com os líderes religiosos a respeito dessa questão

6.1 colher e... debulhar: Os discípulos não estavam roubando, pois a Lei de Moisés permitia arrancar espigas de trigo para comer, mesmo quando se passava pela plantação de outros (Dt 23.24-25). Os fariseus protestaram porque entenderam que aquilo era trabalho que não se podia fazer no sábado.

6.4 casa de Deus: No tempo de Davi, era a Tenda da Presença de Deus (Êx 36.8-38). os pães oferecidos a Deus: Como oferta a Deus, doze pães eram colocados todo sábado na mesa revestida de ouro, no Lugar Santo (Hb 9.2) do Templo. Somente os sacerdotes podiam comer os pães que eram substituídos (Lv 24.5-9).

6.6-11 Os mestres judeus ensinavam que no sábado era permitido fazer tudo o que fosse necessário para socorrer uma pessoa que corria risco de vida. Nesse caso, o homem não corria esse risco, e a reação dos mestres da Lei e dos fariseus, se bem que muito violenta, é natural. A lição dessa cura é que o bem-estar das pessoas é mais importante do que as leis do sábado (v. 9; 14.1-6).

6.11 o que poderiam fazer contra Jesus: Não se diz diretamente que eles querem matar Jesus (Mc 3.6). Em Lucas, o primeiro a falar sobre a morte de Jesus é o próprio Jesus (Lc 9.22,44).

6.12-16 Assim como as doze tribos (Lc 22.30) de Israel formavam a antiga comunidade, os doze homens escolhidos por Jesus representam a nova comunidade do povo de Deus. Jesus os chama de apóstolos, isto é, os seus representantes que têm autoridade para anunciar a mensagem do Reino de Deus e expulsar demônios.

6.15 o nacionalista: Simão pertencia ou tinha pertencido a um grupo de patriotas judeus que eram contra a ocupação romana da terra de Israel e estavam dispostos até a pegar em armas para expulsar os romanos.

6.17-19 Nesta seção, Lucas descreve o cenário no qual Jesus deu o assim chamado “sermão da planície” (v. 17). Jesus está acompanhado dos doze apóstolos, de muitos dos seus seguidores e de uma grande multidão.

6.17 toda a Judeia: O texto original também pode ser traduzido por “toda a terra de Israel” (ver Lc 1.5, n.). gente... de Tiro e Sidom: Cidades que ficavam no litoral do mar Mediterrâneo, fora da terra de Israel. Este é mais um sinal de que a mensagem do evangelho será anunciada também aos não-judeus (Lc 2.31-32; 3.6; 4.25-27; 24.47; At 1.8), como, de fato, acontece no Livro de Atos dos Apóstolos.

6.20-26 Jesus se dirige aos discípulos e cita quatro casos de felicidade e quatro de infelicidade. As palavras de Jesus, que lembram a canção de Maria (Lc 1.51-53), anunciam a reviravolta que se dá com a vinda do Reino de Deus. Os “ais” contra os ricos (vs. 24-26) não aparecem no Sermão do Monte em Mateus.

6.20 Jesus... disse: Aqui começa (terminando no v. 49) o assim chamado “sermão da planície”. Comparado com o Sermão do Monte (Mt 5—7), que tem 107 versículos, este sermão, pronunciado num lugar plano (v. 17), tem 30 versículos. Alguns ensinamentos que se encontram no Sermão do Monte em Mateus aparecem em outras passagens de Lucas (Lc 11.1-13,33-36; 12.22-34; 13.22-27; 14.34-35). Esse sermão se dirige a pessoas que ouviram Jesus (v. 18). Só podem colocar em prática o que ele pede (vs. 27-42) aquelas pessoas que receberam a salvação trazida por Jesus. Felizes: Essa felicidade pertence aos seguidores do Messias. os pobres: Em Mt 5.3, Jesus fala sobre pobreza espiritual. Aqui, ele fala sobre os pobres, que, melhor do que ninguém, sabem que precisam da ajuda de Deus.

6.27-36 Ao falar sobre o amor aos inimigos, Jesus explica o que é o amor: é fazer tudo que for possível para o bem dos outros. Os filhos imitam os pais. Os filhos de Deus amam, pois é isso que Deus, o Pai deles, faz (vs. 35-36).

6.37-38 Julgar e condenar os outros é uma atitude que não cabe na comunidade dos seguidores de Jesus (Rm 14.3-4; Tg 4.11-12). Quem condena os outros mostra que faz pouco caso da misericórdia de Deus, da qual ele próprio depende (Mt 18.21-35).

6.39-40 Se um cego não pode guiar outro cego (v. 39), quem, então, pode guiar os outros? Aquele que deixou de ser cego, porque é discípulo de Jesus (v. 40).

6.40 Nenhum aluno é mais importante do que o seu professor Nenhum seguidor de Jesus deveria pensar que pode passar à frente do Mestre e ser mais importante do que ele (Mt 10.24-25; Jo 13.16; 15.20). Isso também significa que a comunidade dos discípulos não deve aceitar nenhum guia que quer ser mais do que Jesus, especialmente se deixar de lado o amor ao próximo e aos inimigos, que Jesus ensinou (Lc 6.27-36) e praticou.

6.41-42 Não se pode simplesmente fechar os olhos para o cisco que está no olho de um irmão ou de uma irmã (Lc 17.3; Gl 6.1; 1Ts 2.11-12; 5.11; Hb 3.12-13; Tg 5.19-20). Por outro lado, não é qualquer um que pode tirar e sabe tirar o cisco. Somente quem conhece bem a si mesmo, que sabe que em seu olho tinha uma trave e não apenas um cisco, terá a necessária humildade para tirar o cisco do olho de alguém.

6.41 irmão: O irmão é a pessoa, homem ou mulher, que também segue Cristo.

6.43-45 As frutas não fazem uma árvore ser boa, mas uma árvore boa produz boas frutas. As ações revelam o que a pessoa é, assim como as palavras mostram o que está no seu coração (Mt 12.33-34).

Índice: Lucas 1 Lucas 2 Lucas 3 Lucas 4 Lucas 5 Lucas 6 Lucas 7 Lucas 8 Lucas 9 Lucas 10 Lucas 11 Lucas 12 Lucas 13 Lucas 14 Lucas 15 Lucas 16 Lucas 17 Lucas 18 Lucas 19 Lucas 20 Lucas 21 Lucas 22 Lucas 23 Lucas 24