Estudo sobre Lucas 24

Estudo sobre Lucas 24




RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO (24.1-52)

O túmulo vazio (24.1-12)

(Compare as anotações desse capítulo com o comentário de At 1.1-14, um resumo desse capítulo.)

Depois do descanso forçado do sábado, as mulheres voltam ao túmulo, de manhã bem cedo do dia seguinte, e descobrem que a grande pedra usada para fechar o túmulo foi removida e o túmulo está vazio. Enquanto tentam entender o que aconteceu, visitantes angelicais lhes contam que Jesus ressuscitou dos mortos como disse que aconteceria. As mulheres voltam aos apóstolos para relatar o que aconteceu, mas sua história é recebida com ceticismo incrédulo.

A história em Lucas é bem parecida em termos gerais com a de Marcos, mas há diferenças consideráveis nos detalhes.

(a) Marcos tem um jovem no sepulcro; Lucas traz dois homens. (Mateus tem um anjo; João, dois.) Isso não são necessariamente contradições. As roupas que brilhavam como a luz do sol, em Lucas, sugerem seres sobrenaturais (cf. 9.29). A diferença entre um anjo ou dois pode ser devida simplesmente ao fato de que dois estavam presentes, mas somente um falou. De todo modo, as descrições que temos são expressões em palavras humanas de um fenômeno que transcendia em muito a experiência humana.

A verdade, porém, da história do sepulcro vazio não depende da nossa habilidade de conceber um esquema satisfatório de harmonização, mas está no efeito tremendo que o evento teve sobre os discípulos e sobre a história subseqüente.

(b) A lista dos nomes das mulheres nos dois evangelhos são ligeiramente diferentes.

Mas nenhuma delas é necessariamente completa.

(c) Lucas omite o recado registrado por Marcos de que Pedro e os discípulos devem se encontrar com Jesus na Galileia. As aparições pós-ressurreição registradas por Lucas ocorrem todas na Judeia, mas os discípulos são lembrados do ensino que ele lhes deu na Galileia.

(d) Em Marcos, as mulheres ficaram tão assustadas pelos eventos no túmulo que não conseguiram passar a mensagem aos discípulos. Em Lucas, por outro lado, elas vão aos discípulos e relatam tudo que aconteceu, embora não haja de fato nenhum comunicado para um reencontro na Galiléia a ser transmitido.

A ressurreição é um dos fatos historicamente mais bem atestados da história antiga. V. uma análise clara e concisa das evidências em J. N. D. Anderson, The Evidence for the Ressurection (London, 1950).

24:4. De repente, dois homens: Cf. a transfiguração (Lc 9.39) e a ascensão (At 1.10).

A caminhada para Emaús (24.13-25)

Mais tarde, no mesmo dia, dois discípulos caminham para Emaús, conversando com tristeza acerca dos eventos dos últimos dias, quando um estranho não reconhecido os alcança e se junta a eles na sua conversa. Ele começa pedindo informação, mas logo eles ouvem da boca dele uma exposição detalhada e profunda das profecias messiânicas, com destaque especial para o tema da necessidade dos sofrimentos de Cristo. Ao chegarem ao seu destino, eles o convidam a aceitar sua hospitalidade. Logo os papéis são invertidos novamente: o seu Visitante parece se tornar seu Anfitrião, pois, sentado à cabeceira da mesa, parte o pão como eles o viram fazer anteriormente, talvez quando multiplicou o pão para os 5 mil. Um raio de reconhecimento, e ele se vai. Eles voltam rapidamente para Jerusalém, e lá os discípulos lhes contam que Pedro também o viu.

O discurso de Emaús é um dos mais importantes do NT, pois nele o nosso Senhor ensinou como sua vida e missão, sua morte e ressurreição tinham de ser vistos no contexto da auto-revelação de Deus nas Escrituras do AT. Ele forma assim o elo vital de ligação entre as promessas do AT e a exposição apostólica de seu cumprimento em Jesus de Nazaré.

O AT é um livro de anseios não satisfeitos e promessas não cumpridas, que encontraram o seu cumprimento quando Cristo veio. A tragédia dos judeus foi que suas próprias pressuposições os cegaram para grande parte do que ensinam as Escrituras acerca do Messias. Diversas linhas de profecia e promessa se combinam na figura do Messias, o Ungido de Deus, a quem ele vai enviar ao mundo. As vezes, ele é o Pastor de Israel, meigamente conduzindo seu povo e cuidando dele. Outras vezes, ele ó futuro Rei da glória e o Rei da justiça, que vai governar as nações com sua vara de ferro e espalhar os inimigos do seu povo.

Contudo, há mais uma personagem, o Servo Sofredor de Javé, o Homem de dores, acostumado com a aflição, desprezado e rejeitado pelos homens, e até, na hora da cruz, abandonado pelo próprio Deus. Para os judeus, ele era a personificação da sua própria nação sofredora, ou talvez um dos grandes mártires da sua história. Mas Jesus conduz a dupla de Emaús à verdade de que o Messias e o Servo Sofredor eram um: Não devia o Cristo sofrer estas coisas...? (v. 26). Foi somente quando as Escrituras tinham sido dessa forma abertas a eles (v. 32) que os olhos deles também puderam ser abertos (v. 31).

v. 13. dois deles-. Os pronomes masculinos usados para a dupla e também o “néscios” (v. 25; ARA) não excluem a possibilidade de terem sido homem e mulher, que às vezes se sugere ter sido o caso aqui. Emaús. Aproximadamente a 12 quilômetros de Jerusalém. A região e localização exata não são definitivamente conhecidas, v. 18. Cleopas talvez seja o mesmo mencionado em Jo 19.25, mas o nome era muito comum, e não podemos ter certeza disso. Aliás, Cleopas e Clopas podem ser nomes bem diferentes, sendo Clopas talvez a forma helenizada do nome aramaico helenizado em outros textos como Alfeu.

Na sala do andar superior (24.36-49)

Enquanto eles estão tendo essa fantástica troca de experiências, ele aparece novamente. Apesar dessas coisas maravilhosas, ficam paralisados de temor, pois parece que foram pegos de surpresa: Eles ficaram assustados e com medo, pensando que estavam vendo um espírito. Ele os convida a tocá-lo e come na presença deles da comida que estão comendo. Ele repete resumidamente a lição da estrada de Emaús e os comissiona a pregar o arrependimento para perdão dos pecados a todas as nações.

A ascensão (24.50-52)

A história chega ao seu final. Seis semanas após a ressurreição (é o próprio Lucas que nos dá a extensão do intervalo, At 1.3), Jesus leva os seus discípulos para Betânia, onde, levantando as suas mãos com bênção, ele é separado deles. O modo da partida não parece estar registrado em Lucas; as palavras e foi elevado aos céus (NVI) não têm apoio textual muito consistente. Mais uma vez, para ver os detalhes precisamos consultar o outro livro de Lucas: At 1.9 nos conta que “uma nuvem o encobriu à vista deles”, a nuvem que é o símbolo da presença de Deus, a nuvem da qual Deus tinha falado no monte da Transfiguração. No que Lucas insiste é que, privados novamente do seu amado Mestre apenas seis semanas após a sua reaparição na vida ressurreta, dessa vez eles não estão nem deprimidos nem abatidos, mas extremamente felizes: eles o adoraram e voltaram para Jerusalém com grande alegria. E permaneciam constantemente no templo, louvando a Deus.