Interpretação de Ezequiel 33

Ezequiel 33 contém uma mensagem de Deus a Ezequiel sobre o seu papel como vigia e a responsabilidade de alertar o povo sobre o perigo iminente.

O capítulo começa com Deus se dirigindo a Ezequiel como um “filho do homem”, enfatizando sua humanidade e seu papel como profeta. Deus diz a Ezequiel que ele foi nomeado vigia da casa de Israel, responsável por soar o alarme quando vê o perigo se aproximando.

Ezequiel 33 enfatiza a ideia de que se o vigia não avisar o povo do perigo iminente, o sangue deles estará em suas mãos. No entanto, se ele entregar fielmente o aviso e o povo não lhe der ouvidos, então o seu sangue estará nas suas próprias mãos.

O capítulo também aborda a justiça dos ímpios e o arrependimento dos justos. Enfatiza que Deus não tem prazer na morte dos ímpios, mas deseja que eles abandonem seus caminhos e vivam.

Ezequiel 33 conclui com uma discussão sobre a percepção do povo sobre a justiça de Deus. Algumas pessoas acreditavam que os caminhos de Deus eram injustos, mas Deus lembra-lhes que os Seus julgamentos são baseados em ações e atitudes individuais.

O capítulo serve como um lembrete da importância da prestação de contas, tanto para o vigia ao transmitir a mensagem, como para o povo ao dar ouvidos ao aviso. Ressalta o princípio de que os indivíduos são responsáveis pelas suas próprias escolhas e ações diante de Deus. Ezequiel 33 incentiva o arrependimento, a obediência e o reconhecimento da justiça e misericórdia de Deus.

Interpretação

As Profecias da Restauração de Israel. 33:1 – 39:29.

A queda de Jerusalém assinala um ponto decisivo no ministério de Ezequiel. Os até agora ameaçadores oráculos contra Judá (caps. 1-24) e seus inimigos pagãos (caps. 25-32) cedem lugar às mensagens exortativas de um pastor para o seu povo arrasado (caps. 33-39). Após o colapso do estado (33:21) e a completa prostração das mentes dos indivíduos sob suas calamidades (33:10), o profeta declarou que o Senhor não acabara com Israel (contraste ao cap. 35). Para ela havia uma nova era à frente. Em palavras comoventes, Ezequiel fala aqui de purificação, restauração e paz de Israel (caps. 34; 36:16 e segs.; 37).

Em primeiro lugar o profeta foi recomissionado como atalaia para preparar o seu povo para uma nova era (cap. 33). Um novo governo sob Davi, o servo de Deus, suplantaria a antiga dinastia, cujos perversos pastores (governantes) deixaram as ovelhas se dispersarem (cap. 34). A integridade territorial de Israel seria assegurada pela desolação do Monte Seir e outros inimigos (cap. 35), enquanto Israel experimentaria tanto a restauração exterior (36:1-15) quanto a restauração interior (36:16-38). A reintegração do povo em uma só nação sob um só rei, Davi, está simbolizada pela ressurreição dos ossos secos e pela junção de dois pedaços de pau (cap. 37). A paz de Israel restaurada será perpétua, pois o Senhor protegê-la-á milagrosamente da invasão ameaçadora de Gogue nos últimos dias (caps. 38 e 39).

A Função do Profeta na Preparação para a Nova Era. 33:1-33.

Neste capítulo transitório, Ezequiel indica que o profeta não passa de instrumento através do qual os princípios do novo reino e da maneira de se entrar nele são anunciados. Exatamente como o atalaia deve advertir os habitantes de uma cidade quanto aos perigos, assim o profeta deve fazer soar a advertência divina contra o pecado (vs. 1-9). Em resposta ao desespero do povo diante do seu castigo, Ezequiel enuncia lembretes da boa vontade de Deus e sua perfeita justiça (vs. 10-20). Os presunçosos sobreviventes da queda de Jerusalém em Judá não teriam futuro (vs. 21-29), mas antes, os propósitos divinos seriam elaborados através dos que estavam no exílio (vs. 30-33).

O Profeta Designado como Atalaia do Seu Povo. 33:1-9.
A Parábola. 33:1-6.


33:2. Atalaia. O hebraico sôpeh, “alguém que cuida, espia, vigia”. Cons. II Sm. 18:25; II Reis 9:17,18.

33:3. Espada. Cons. 21:1-19. Trombeta. Veja Os. 8:1; Jr. 6:1; Ne. 4:19, 20.

Sua Aplicação. 33:7-9.
33:7. A ti... te constitui por atalaia.
O profeta recebe uma nova tarefa como atalaia do povo. O conceito que Ezequiel tinha da seriedade de sua tarefa tem tido um profundo efeito sobre todos os servos de Deus. Cons. Is. 21:6; 56:10; Jr. 6:17; Hc. 2:1.

A Mensagem do Profeta aos Exilados Desesperados. 33:10-20.
33:10. Nós desfalecemos.
Cons. 4:17; 24:23.

33:11, 12. Duas palavras graciosas são concedidas aos exilados atordoados pelo sentimento de destino irrevogável: 1) Deus não tem prazer na morte do perverso, mas quer que ele se converta do seu caminho e viva. 2) O passado não é irrevogável para os homens, pois eles são livres para se arrependerem ou pecarem. Cons. 18:21-32.

33:13. Sobre '”viver” e “morrer”, veja comentário em 18:4; cons. 18:24, 26. 14. Cons. 3:18; 18:27.

33:15. Estatutos da vida. A “vida”, nesta e em outras passagens relacionadas, é “o deleite do favor divino e a prosperidade externa que é o reflexo e o selo dele” (Davidson, Cambridge Bible). Cons. 18:7; 20:11.

33:16. Cons. vs. 18-22.

33:17-20. Cons. 18:24-30.

As Notícias da Queda de Jerusalém e a Mensagem do Profeta aos Sobreviventes em Judá. 33:21-29.

Jerusalém caiu no undécimo ano, quarto mês e nono dia do reinado de Zedequias (Jr. 39: 2 comparado com 52:5-7 e II Reis 25:2), e foi incendiada um mês depois (Jr. 52:12-14 comparado com II Reis 25:8-10).

33:21. No ano duodécimo... aos cinco dias do décimo mês. A tradução do T.M, implica em que os fugitivos alcançaram o exílio, ano e meio depois da queda de Jerusalém. Stuernagel defende que o ano de Jeremias começava no outono, enquanto que o de Ezequiel, seguindo a contagem babilônica, começava na primavera. Assina o undécimo ano de Jr. 39:2 e o mesmo duodécimo ano de Ez. 33:21 e a notícia alcançou Ezequiel em Janeiro de 585 A.C.

E. Auerbach (V.T. , X, 1960, 69, 70) e M. Noth (ZDPV, LXXIV, 1958, 133-157) acumularam dados para mostrar que no fim da monarquia o ano começava na primavera. Oito manuscritos, a LXX, Luciano e a Siríaca dão ano undécimo. Datando este oráculo do ano undécimo, décimo mês, quinto dia, permite que seja encaixado antes de 26:1, que deve ter sido transmitido no décimo primeiro ou décimo segundo mês do undécimo ano. A notícia teria chegado seis meses após a queda de Jerusalém, isto é, cerca de Janeiro, 585 A.C. Cons. a viagem de Esdras, 108 dias (Esdras 8:31; 7, 8, 9).

33:22. O profeta estivera em êxtase pela tarde e o Senhor abriu a sua boca quando o homem chegou na manhã seguinte (cons. 3:26, 27; 24:27). Uma tradição identifica o mensageiro com Baruque (Jr. 45:5; Baruque 1:2). Agora Ezequiel estava livre para se dedicar ao trabalho pastoral, antes já insinuado. Cons. 16:60 e segs.; 17:22 e segs.; 20:33 e segs.

33:24. Os moradores destes lugares desertos (lit., ruínas; cons. II Reis 25:12, 22), que sobreviveram à destruição de Jerusalém, continuaram dizendo: Se Abraão... só... possuiu esta terra (Is. 51:1, 2), certamente eles, seus inúmeros descendentes, tinham mais direito de fazê-lo (cons. Mt. 3:9).

33:25, 26. Dize-lhes. Os sobreviventes de Jerusalém, tão confiantes em sua segurança antes da queda da cidade (11:3-12), são acusados de seis pecados específicos (cons. 18:6, 10-12, 15; 22:6, 9), que os desqualificavam para qualquer herança.

33:27. Aqueles que se escondiam nas “ruínas”, nos campos despovoados e nas fortalezas e cavernas cairão diante das três forças destrutivas de 5:12; 14:13-20.

33:28. Os montes de Israel (cons. 6: 2, 3).

33:29. A visitação de Deus sobre a terra levaria os israelitas apóstatas a reconhecerem que Ele é o Senhor, uma lição geralmente necessária aos pagãos (25:7, 11, 17).

Um Oráculo para os Exilados. 33:30-33.
Considerando que as profecias de Ezequiel foram tão notavelmente cumpridas, os exilados interessaram-se nele; mas o seu entusiasmo foi superficial.

33:30, 31. Neste fragmento da vida oriental, os exilados são vistos falando um com o outro sobre Ezequiel, assentados diante dele (cons. 8:1; 14:1; 20:1). Gostavam de suas mensagens sobre a futura restauração e as profecias contra as nações, mas não obedeciam às condições morais e religiosas sem as quais não participariam da nova era.

33:32. Canções de amor (“amor sensual”, 'agab). Cons. I Sm. 16:17; Sl. 33:3; 137:3.

33:33. Quando vier isto (o julgamento ou a crise), saberão que deram ouvidos a um profeta do Senhor e não a um cantor mercenário. Cons. 2:5.