Significado de Ezequiel 16

Ezequiel 16

Ezequiel 16 é uma mensagem profética de Deus para o povo de Jerusalém, descrevendo seus pecados passados e seu julgamento futuro.

Ezequiel 16 começa com Deus dizendo a Ezequiel para falar com Jerusalém e lembrá-los de suas origens como uma menina pobre e abandonada que ele acolheu e criou como sua. Deus descreve como ele a vestiu e adornou, tornando-a bela e próspera. No entanto, apesar de seu amor e cuidado, Jerusalém se afastou de Deus e adorou outros deuses, cometendo vários pecados e abominações.

Deus então descreve como ele punirá Jerusalém por seus pecados. Ele reunirá um exército de inimigos para atacá-la e destruí-la, deixando-a nua e desolada. Deus adverte que este será um castigo justo pela infidelidade de Jerusalém, e que coisas ainda piores podem acontecer a ela se ela continuar a pecar.

O capítulo termina com Deus prometendo restaurar Jerusalém se ela se arrepender e voltar para ele. Ele perdoará seus pecados e renovará sua aliança com ela, tornando-a mais uma vez próspera e bela. No entanto, essa restauração só pode vir por meio do arrependimento e de um retorno genuíno a Deus.

Comentário de Ezequiel 16

Ezequiel 16.1, 2 Faze conhecer a Jerusalém as suas abominações. O vocábulo hebraico traduzido como abominações alude àquilo que nos torna doentes fisicamente. O que segue é uma descrição sobre a terrível história dessa cidade, destinada a ensinar ao povo a verdadeira natureza de seu caráter aos olhos de Deus.

Ezequiel 16.3 Teu pai era amorreu, e a tua mãe, heteia. Estas palavras fortes fazem referência às origens culturais e morais de Jerusalém. A antiga Canaã era habitada por povos semíticos e não semíticos. Os amorreus e os heteus são associados nas Escrituras com o território montanhoso ao sul, onde Jerusalém estava localizada (Nm 13.29). O profeta mostra que povos sem descendência israelita fundaram a cidade. Os jebuseus a controlavam quando os israelitas entraram na terra sob o comando de Josué (Js 15.8, 63). Israel só obteve o controle pleno da cidade quando Davi a conquistou (2 Sm 5.6, 7).

Ezequiel 16.4, 5 Passar sal no corpo dos recém-nascidos era um ato costumeiro na Palestina. Ao cuidar de um bebê durante seus primeiros dias de vida, os pais e os membros da sociedade em geral “tomavam posse” da criança mediante procedimentos tradicionais, tais como a esfregação de sal. Escolher o nome do bebê também era extremamente importante. Em Israel, Deus “tomava posse” dos primogénitos do sexo masculino no oitavo dia de vida, por meio da circuncisão. Nestes versículos, o Senhor lembra Jerusalém de que havia resgatado o povo, que se tornara como um recém-nascido abandonado, sujo, impuro (nem tampouco foste esfregada com sal) e exposto às intempéries para morrer. Fora Deus quem concedera glória à cidade.

Ezequiel 16.6 Em contraste ao desdém de Israel que levou à desobediência e à idolatria, Deus desejava que a nação vivesse, pois Ele havia proposto e planejado transmitir Sua vida e Sua glória aos judeus.

Ezequiel 16.7-9 Avultaram os seios. A cidade é comparada a uma jovem mulher graciosa e madura. Todavia, Jerusalém esteve nua e descoberta até que Deus a “cobriu” com Sua aliança. Isso teve início quando Davi levou a arca do concerto para a cidade e o Senhor estabeleceu um pacto com ele (2 Sm 6.17.17; Sl 132). Desde então, Jerusalém passou a ser a habitação do Altíssimo (2 Sm 7.12-17; 1 Rs 5;6).

Ezequiel 16.10-14 Os adornos listados nestes versículos são presentes do noivo para a noiva. De modo figurativo, expressam a beleza e a riqueza que Deus deu a Jerusalém durante o reinado de Salomão. O significado exato do termo pele de texugo em hebraico é desconhecido, mas refere-se a um tipo de couro fino. Uma possibilidade é pele de golfinho. A ideia é que Deus cobriu Jerusalém com os tecidos mais refinados que existiam. Durante o reinado de Davi e de Salomão, Jerusalém alcançou uma posição de importância como a capital de uma nação rica em sabedoria e recursos (1 Rs 10.23). Entretanto, isso aconteceu apenas porque Deus agira. Quanto ao termo perfeita, não é mencionado nesta passagem com o sentido moral, mas com a ideia de completa, terminada.

Ezequiel 16.15 Confiaste na tua formosura. O povo de Deus é acusado de esquecer que sua fama e sua fortuna eram dons concedidos pelo Senhor, e não fruto de suas próprias obras (v. 14). Os israelitas confiavam em si mesmos e em seus dons, em vez de em Deus. Eles acreditavam que sua riqueza e sua saúde materiais como nação demonstravam a aprovação do Senhor no que diz respeito à sua vida espiritual, embora estivessem tornando-se espiritualmente corruptos.

Salomão, que ocupava o trono quando Israel alcançou o ápice de seu poderio e de sua prosperidade, é um exemplo notável (Ec 2.1-11). O verbo prostituías-te se refere à prostituição espiritual a idolatria e a crença em falsos deuses. A metáfora é marcante, porque a adoração a essas divindades geralmente envolvia conduta sexual imprópria (v. 16; Os 4.11-19) e outros atos imorais (v. 20-22).

Ezequiel 16.16-21 Estes versículos mencionam atos específicos de idolatria realizados pelo povo espiritualmente infiel em Jerusalém e Judá. Os rituais pagãos da Mesopotâmia e de Canaã são citados. A infidelidade dos israelitas a Deus consistia em: (1) construir altares a ídolos e decorar os lugares altos (l Rs 11.7, 8); (2) fabricar imagens de homens (estátuas fálicas ou sexualmente pervertidas) com o ouro e a prata que Deus havia concedido; (3) entregar a esses falsos deuses o que pertencia apenas ao Deus verdadeiro; e (4) praticar sacrifícios humanos para supostamente agradar a essas divindades (2 Rs 16.1-4).

Ezequiel 16.19 E o meu pão que te dei [...] puseste diante delas. Esta acusação é uma negação explícita ao baalismo. Baal era o deus cananeu da fertilidade. Seus seguidores acreditavam que ele fornecia os cereais colhidos nos campos, os filhotes no rebanho e até mesmo os filhos após o casamento. Os israelitas se esqueceram de que Deus, e não Baal, os havia sustentado.

Ezequiel 16.20-22 Os israelitas não se lembravam do quanto Deus havia feito por eles desde que os resgatara de uma condição imunda, deplorável e moribunda (v. 1-14).

Ezequiel 16.23-26 O Egito é chamado de vizinho de grandes membros porque a nação desejava fazer alianças com Israel, que se prostituía por eventualmente devolver o favor (1 Rs 10.28; 2 Rs 17.4;18.21; Os 7.11).

Ezequiel 16.27-29 Os reis de Jerusalém buscaram alianças políticas com a Assíria (2 Rs 15.17-20) e a Babilônia (2 Rs 20.12-19), em vez de confiar apenas em Deus para sua proteção. Provavelmente uma parte das cerimônias de confirmação dos tratados consistia em adorar os deuses da outra nação. Ao agir assim, Israel estava violando o primeiro mandamento.

Na verdade, o rei Acaz chegou a substituir o altar de bronze no templo em Jerusalém por uma cópia de um altar assírio (2 Rs 16.5-18). Dessa maneira, as alianças estrangeiras fizeram com que os israelitas se afastassem do Senhor. Por causa disso, Deus julgou a cidade e permitiu que Senaqueribe entregasse parte das terras de Jerusalém aos filisteus (2 Cr 21.16, 17).

Ezequiel 16.30-34 Jerusalém é acusada de ser mais parecida com uma mulher adúltera do que com uma prostituta. O Senhor a considerava pior do que as meretrizes comuns porque, em vez de receber pagamento por serviços prestados, procurava estranhos (nações estrangeiras) e presenteava-os para desfrutarem o privilégio.

Ezequiel 16.35, 36 Jerusalém estava imunda espiritualmente, pois a cidade havia se corrompido pela adoração a ídolos estrangeiros e pela prática de infanticídio (v. 20, 21; Dt 12.29-32).

Ezequiel 16.37-43 Como resultado de seu pecado (comparado à prostituição, v. 25-30), Jerusalém seria punida. Deus usaria os amantes estrangeiros para expor a hipocrisia da cidade e transformá-la em vergonha internacional (descobrirei a tua nudez) De acordo com a Lei, o adultério devia ser punido com a morte (Lv 20.10). O povo merecia perecer, porque havia cometido adultério espiritual e assassinado seus próprios filhos, oferecendo-os em sacrifícios.

A cidade seria saqueada e queimada, e os habitantes seriam mortos. As riquezas materiais obtidas como resultado do favor de Deus (v. 8) seriam perdidas. Tudo isso culminaria na invasão dos babilônios, em 586 a.C., liderada por Nabucodonosor.

Durante o cativeiro, Israel abandonaria a idolatria e o politeísmo, como Ezequiel havia predito. A ira de Deus contra o pecado do povo seria aplacada. O amor e a lealdade do Senhor para com os israelitas continuariam, pois deles seriam desviados os Seus ciúmes, ainda que tivessem sido infiéis e houvessem desprezado a graça de Deus.

Ezequiel 16.44-47 Essa alegoria descreve Jerusalém como a irmã de duas cidades: Samaria e Sodoma. As três foram apresentadas como as típicas descendentes das culturas religiosa e moralmente corruptas de Canaã (v. 3). Portanto, o provérbio qual a mãe, tal é a sua filha se aplicava a Jerusalém. A condenação da mãe (os heteus) e das irmãs (Samaria e Sodoma) por terem nojo de seu marido e de seus filhos é difícil de explicar. Provavelmente se refere à idolatria, sendo que Deus é o marido odiado (Os 2.16), e ao infanticídio.

Sodoma já não existia nessa época seu mal havia sido tão grande que Deus varrera a cidade da face da terra (Gn 19.24, 25). Samaria, capital do Reino do Norte, já havia enfrentado destruição e exílio (2 Rs 17.5, 6). Jerusalém, a cidade de Deus, havia se tornado mais corrupta do que Sodoma e Samaria. Obviamente essa passagem enfatiza a grande pecaminosidade do povo e a certeza de punição. Irmã de tuas irmãs é uma declaração superlativa como Rei dos reis, significando o maior dos reis. Portanto, com essa expressão, Jerusalém é descrita como a irmã mais envolvida com a corrupção cananeia.

Ezequiel 16.48-52 Ezequiel cita os pecados pelos quais as cidades de Sodoma e Samaria eram conhecidas. Jerusalém é considerada ainda mais culpada as outras cidades malignas não cometeram metade dos pecados de Jerusalém. Pecados espirituais, morais e sociais são mencionados. Jerusalém justificava as outras cidades porque, quando comparadas com a capital, eram menos depravadas.

Ezequiel 16.53-59 Assim como Jerusalém havia escarnecido de Sodoma de maneira arrogante, também seria desprezada pela Síria e pela Filístia. Ela experimentaria esperança e humilhação, porque, quando o povo retornasse do cativeiro, ele o faria com indivíduos que considerava ímpios. Embora houvesse a promessa de restauração, o povo ainda teria de pagar por seus pecados vivendo no exílio. Essa punição era coerente com as promessas de Deus de retribuir a desobediência com maldições específicas (Ez 4.16, 17;5.8-17).

A Síria é chamada de Edom em algumas traduções, porque esse título alternativo é utilizado na versão Siríaca e em muitos manuscritos hebraicos. Historicamente, a Síria (ou a antiga nação de Arã) não existia mais. Portanto, não poderia ridicularizar os exilados nos dias de Ezequiel. O povo desprezara o juramento, quebrantando o concerto que Deus havia realizado com Moisés, e receberia a punição pela desobediência prescrita na aliança (Êx 24; Lv 26; Dt 28;29). As bênçãos e as maldições dependiam respectivamente da obediência e da desobediência de Israel.

Ezequiel 16.60-63 Contudo. Apesar da desobediência de Israel à aliança mosaica e da punição resultante (v. 59), a aliança com Abraão meu concerto ainda seria honrada: eu me lembrarei. Seu cumprimento não dependia da fidelidade do povo; Deus havia feito a promessa e iria cumpri-la (Gn 15; 17.7, 8; Lv 26.40-45; Sl 145.13; Fp 1.6). O concerto eterno havia sido firmado com Abraão antes mesmo que a nação dos hebreus existisse. Esse concerto seria lembrado e restabelecido com os judeus exilados. Naquela época, o povo de Deus ficaria envergonhado ao perceber o contraste entre sua infidelidade e a fidelidade de Deus, e o fato de estar sendo exaltado sobre povos que tinham cometido pecados menos graves Sodoma e Samaria.

O povo dessas outras nações pecaminosas também herdaria parte da terra, mas apenas pela graça de Deus, pois não havia participado do mesmo tipo de aliança. Ademais, o Senhor se reconciliaria com os israelitas por meio da nova aliança (Jr 31.31-40), que apontava para a cruz de Cristo.

Ezequiel 16:1-7 (Devocional)

Origem de Jerusalém

Depois de explicar o símbolo da videira, o SENHOR conta uma nova parábola que Ezequiel deve transmitir ao povo. Esta parábola cobre toda a história de Jerusalém: sua origem, ascensão, beleza e glória, apostasia e julgamento, salvação e bênção final. É uma explicação abrangente da parábola do curto capítulo anterior.

Este capítulo é melhor lido de uma só vez, pois é uma história. Ele contém uma descrição envolvente e realista de natureza extraordinária, alguns dos detalhes que podem nos parecer estranhos. Vemos a imagem repulsiva de uma prostituta. No entanto, não há imagem que capture com mais clareza a realidade da cidade escolhida por Deus que se afasta do único Deus verdadeiro, apesar de seus privilégios excepcionais. O Senhor apresenta esta imagem aos habitantes de Jerusalém por esta mesma razão, para que eles reconheçam quão repulsivo é o pecado da infidelidade aos Seus olhos.

A palavra do SENHOR vem a Ezequiel (Ezequiel 16:1). O SENHOR se dirige a ele como “filho do homem” e ordena-lhe que dê a conhecer a Jerusalém as suas abominações (Ezequiel 16:2). As abominações se referem à idolatria que Jerusalém cometeu e está cometendo e que ela deve vir a ver como o Senhor a vê, ou seja, como abominações.

A origem da cidade é por volta do ano 3000 aC na terra dos cananeus, habitat dos amorreus e hititas (Ez 16:3; Gn 10:15-16). O nome da cidade era originalmente Jebus (Jdg 19:10; 1Cr 11:4). A cidade é lembrada de suas raízes pagãs. Por sua própria natureza, a cidade não se distingue em nada dos pagãos e desde seu início ela esteve sob a forte influência da cultura perversa de Canaã.

No tempo de seu início, nada havia de atrativo na cidade (Ez 16:4). Pelo contrário. Ela se assemelha a uma criança indesejada que não parece digna da vida. O não corte do cordão umbilical indica a morte certa para a criança. A mãe hitita aparentemente não considera que vale a pena cuidar da criança; a criança não vale a água para a limpeza. É tão inútil quanto a videira do capítulo anterior. Até mesmo a fricção com sal como ritual idólatra para proteção contra poderes malignos e o envolvimento em panos para proteção contra o frio são omitidos.

Ninguém olha para a cidade, ninguém quer cuidar dela (Ez 16:5). Ninguém que olha fica com dó de cuidar da cidade. É uma cidade sem valor, que só inspira nojo nos outros. Tudo o que se faz com a cidade é jogá-la em campo aberto. A criança nem mesmo é um enjeitado. É assim que a vida da cidade tem pouco valor aos olhos dos outros desde o momento de seu nascimento. Em vez da atratividade do que é recém-nascido, há repulsa, e em vez de compaixão pelo indefeso, há desprezo e rejeição. Aplicado à história do povo de Israel, possivelmente se refere ao período de escravidão do povo no Egito.

Então o Senhor passa (Ezequiel 16:6). Ele parece ser um transeunte “acidental” (compare com o Bom Samaritano, Lucas 10:33). Quando Ele vê a criança e vê sua condição, como ela está se contorcendo em seu sangue e assim morrendo, Ele fala aquela palavra que dá vida: “Viva!” Enquanto com o sangue a vida flui da criança, Ele dá a vida. A maravilha da salvação inesperada é repetida com ênfase. A criança, abandonada pelos pais e entregue à morte, é aceita pelo SENHOR. Ele lhe dá a capacidade de viver. Ele chama isso da morte para a vida, por assim dizer. Aplicado à história de Israel, podemos ter aqui uma alusão à redenção do Egito (cf. Êxodo 2:25; Êxodo 3:7).

Por causa do grande cuidado do SENHOR, que primeiro é negado à criança, ela cresce como a erva do campo (Ezequiel 16:7). Vem a grande flor e beleza. Assim, a outrora desprezada cidade se transforma em uma que é comparada a uma bela mulher casada, o que é indicado pelos seios formados. O cabelo cresce e fica comprido, o que fala de dependência. Ela depende de seu Salvador para tudo. Ela mesma não possui nada; ela está nua e nua. Assim, Israel era completamente dependente do Senhor no Egito e no deserto.

Ezequiel 15:6-8 (Devocional)

A Aplicação da Parábola

O valor da videira para o Senhor está em produzir frutos para Ele, e Israel falhou em fazer isso. Portanto, Ele entrega os habitantes de Jerusalém como combustível para o fogo (Ezequiel 15:6). Ele já entregou “as duas pontas” (Ez 15:4) ao fogo. Aqui podemos pensar no transporte das dez tribos em 722 aC e no transporte de algumas pessoas ilustres das duas tribos por volta de 606 aC.

A parte do meio carbonizada (Ez 15:3) são os habitantes que permaneceram no meio de Jerusalém. Eles escaparam de um único fogo, mas o SENHOR vira o rosto contra eles e também queimará a parte do meio com fogo (Ezequiel 15:7). Com isso saberão que Ele é o Senhor.

Isso acontecerá quando Nabucodonosor tomar a cidade e a destruir completamente (Ez 15:8). A causa deste incêndio é que eles “agiram infielmente”. Eles pisaram na fidelidade que prometeram solenemente, dizendo que farão tudo o que o Senhor ordenou. A infidelidade conjugal é uma das coisas mais chocantes que podem acontecer a uma pessoa. Israel não foi infiel apenas uma vez, mas toda a sua história é de infidelidade e engano.

Também somos infiéis quando nosso interesse está no mundo e nas coisas mundanas. Isso é uma infidelidade conjugal espiritual. Então, não respondemos ao propósito de que estamos aqui para dar frutos para Deus. Não estamos neste mundo para viver segundo nossos próprios desejos e ideias. O Filho criou todas as coisas para Si mesmo (Cl 1:16), inclusive nós. Portanto, não podemos mais viver para nós mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós (2Co 5:15). O Senhor Jesus nos diz: “Vocês não me escolheram, mas eu escolhi vocês, e os designei para irem e darem fruto, e [que] o seu fruto permaneça” (João 15:16).

Ezequiel 16:15-22 (Devocional)

Decadência de Jerusalém

Então vem a mudança dramática introduzida pela palavra “mas” (Ezequiel 16:15). Há um longo discurso sobre a terrível ingratidão que ela demonstrou para com o Senhor por toda a bondade com que Ele a favoreceu. Depois de todos os benefícios e privilégios concedidos, chega o momento em que ela se esquece de Quem recebeu tudo isso. Ela começa a confiar em sua beleza e se esquece daquele que lhe concedeu essa beleza, a quem ela deve (Dt 32:15).

Em seu orgulho e arrogância ela se torna infiel a Ele e começa a agir de forma lasciva, ela começa a bancar a prostituta. Quão profundamente ela afunda! A cada um que passa, isto é, a cada pessoa com quem ela entra em contato, ela derrama sua prostituição. Sua beleza, que deveria ser somente para o Senhor, ela dá a estranhos. Vemos que esse desenvolvimento começa já nos dias de Salomão. Salomão, com seu amor por muitas mulheres, também traz os deuses dessas mulheres para sua casa (1Rs 11:1-8).
O que Jerusalém recebeu do SENHOR como adorno para si mesma é usado para adornar os lugares onde ela pratica sua prostituição idólatra (Ezequiel 16:16). Ela age como as prostitutas, que também são usadas para decorar suas camas para seduzir os homens à fornicação (Pv 7:15-17). Seu comportamento é inigualável. Aqui se aplica o ditado de que a decadência do melhor é a pior decadência. Ouvimos a tristeza na voz do SENHOR quando Ele diz como ela usou as belas joias de ouro e prata que Ele lhe dera para fazer ídolos com elas e se curvar diante delas e assim se prostituir com elas (Ez 16 :17).

Outra parte da bela vestimenta dada a ela pelo SENHOR ela usa para adornar seus ídolos (Ezequiel 16:18; Jeremias 10:9). Em frente a esses ídolos adornados, ela então coloca “Meu óleo e Meu incenso”. O SENHOR é posto de lado, banido, grosseiramente insultado. Ao lidar assim com tudo o que Ele lhe deu em Sua misericórdia e Seu amor, nenhuma afronta Lhe é poupada. Até mesmo a comida que Ele lhe deu e pela qual ela se tornou tão bonita é oferecida como um aroma suave aos ídolos dos pagãos (Ezequiel 16:19). Nas palavras “assim aconteceu”, ouvimos quão profundamente o SENHOR se sente triste.

Como se não bastasse toda essa prostituição abominável, ela também traz seus filhos, que ela deu à luz a Ele, como sacrifícios aos ídolos (Ezequiel 16:20). Os filhos que pertencem a Ele em virtude da aliança (Dt 14:1; Is 1:2) são tirados Dele. Eles são abatidos e depois oferecidos como holocaustos (Ez 16:21; 2Rs 16:3; 2Rs 17:17; 2Rs 21:6; Sl 106:37; Jr 32:35).

Nenhum casal de pais tem direito absoluto sobre seus filhos. Deus dá a vida e ela pertence a Ele. Inúmeros pais, porém, não se importam com Deus. Mesmo nas famílias cristãs, os pais muitas vezes não pensam no fato de terem recebido seus filhos para criá-los para Deus (Ef 6:4). Muitos pais querem que seus filhos vivam de acordo com seus ideais para que possam exibi-los. Eles não percebem que estão sacrificando seus filhos aos ídolos modernos dessa maneira.

Ao cometer todas essas abominações e prostituições, Jerusalém não pensou em seu passado, como ela havia sido e, portanto, nem um pouco no que o Senhor fez com ela depois (Ezequiel 16:22). Literalmente tudo que Jerusalém deve ao SENHOR. Ele, quando ela jazia totalmente indefesa, nua e nua e se contorcendo em seu sangue, cuidou dela com um amor eterno. Ele a salvou dessa miséria. Mas ela se esqueceu totalmente de todos os benefícios.

Não somos também frequentemente esquecidos? Se nos esquecermos de onde viemos e o que o Senhor fez conosco, poderemos cair nos pecados mais grosseiros e nas maiores abominações. Por isso é tão importante dizermos com o coração: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios” (Sl 103:2).

Ezequiel 16:23-29 (Devocional)

Jerusalém Continua a Pecar

O mal que Jerusalém pratica não tem fim (Ez 16:23). O Senhor DEUS (Adonai Yahweh) pronuncia um duplo “ai” sobre ele, tão abominável é para Ele. Jerusalém continua a idolatria e constrói um santuário para si mesma e faz altos para si em cada praça (Ezequiel 16:24). Ela não apenas usa lugares altos já existentes, mas adiciona novos à vontade.

Altos são construídos no topo de cada rua, a fim de se entregar descaradamente à fornicação no sentido espiritual (Ezequiel 16:25). Jerusalém é uma atraente parceira comercial, que abusa abominavelmente de sua atratividade para estabelecer relações com outros povos. Ela se aprofunda na corrupção para bajular os outros. Ela também se entrega à corrupção, pois de suas prostituições ela não exclui ninguém.

O SENHOR lista algumas das principais prostituições. Jerusalém se prostitui “com os egípcios”, ou seja, adota os deuses dos egípcios e os serve (Ez 16:26). Isso começou no tempo do rei Salomão. Possivelmente isso também se refere ao movimento político em Israel que se refugiou no Egito e imitou os costumes egípcios. A estatura fortemente construída dos egípcios pode ter sido algo para invejar Jerusalém. É assim que ela quer parecer e impressionar. Jerusalém está importando a cultura egípcia, por assim dizer. Isso é um tapa na cara do Senhor, que quer habitar em Jerusalém e redimiu o seu povo do Egito. Jerusalém o provoca à ira com sua inclinação para o Egito.

Nós também devemos perceber que desonramos muito o Senhor quando damos novamente às coisas do mundo um lugar em nossas vidas. Ele nos resgatou “do presente século mau” (Gálatas 1:4). Como poderíamos, de alguma forma, buscar novamente aquilo de que Ele nos resgatou e abrir espaço em nossas vidas para buscar nosso sustento nisso? Somos então como um cão que voltou ao seu próprio vômito ou uma porca que, depois de se lavar, volta ao lodo para chafurdar nele novamente (2Pe 2:22). Se fizermos isso, nós O provocamos à ira e Ele terá que nos disciplinar. “Se formos infiéis, Ele permanece fiel” (2 Timóteo 2:13), significando fiel a Si mesmo, o que significa que Ele se levantará contra nós em Sua fidelidade se seguirmos um caminho de infidelidade.

O SENHOR estende a mão em juízo contra Jerusalém e diminui sua porção de comida ao permitir que o inimigo assuma o controle da terra e consequentemente da colheita (Ez 16:27). No tempo dos juízes, são principalmente os filisteus que o SENHOR usa para disciplinar Seu povo (Jz 10:7; Jdg 15:11; 1Sm 4:1-10). Eles são os inimigos hereditários de Israel naquela época e ainda são. Até eles têm vergonha da conduta obscena de Jerusalém. Por “as filhas dos filisteus” entende-se as cidades dos filisteus.

Depois de ceder à idolatria do Egito, Jerusalém se prostitui “com os assírios”, ou seja, abraça os ídolos da Assíria (Ez 16:28). Esses ídolos são trazidos a Jerusalém pelo rei Acaz e pelo rei Manassés (2Rs 16:7; 2Rs 21:3). Jerusalém é verdadeiramente insaciável em seu desejo de idolatria. Prostituir-se com os assírios também se refere ao partido que busca apoio político e militar do rei da Assíria (2Cr 28:16; Os 5:13; Os 7:11).

Depois que a Assíria caiu como potência mundial e a Babilônia detém a potência mundial, Jerusalém busca relações comerciais com a Caldéia, que é a Babilônia (Ezequiel 16:29). Isso abre a porta para a entrada da idolatria babilônica. E soa como um refrão horrível, que mesmo com isso ela não está satisfeita com a idolatria.

Ezequiel 16:30-34 (Devocional)

Jerusalém, uma Prostituta Especial

O coração de Jerusalém foi totalmente capturado pela prostituição (Ezequiel 16:30). Ela se tornou a mais desavergonhada de todas as prostitutas. Ela perseguiu descaradamente todos os deuses das nações e se curvou diante deles em todas as ruas e praças. Lá ela está com o salário de sua prostituta na mão (Ezequiel 16:31). Ao fazer isso, ela nem mesmo é uma prostituta de verdade que recebeu dinheiro por seu ato repugnante. Ela é uma mulher que quer bancar a prostituta, cometer adultério. É como uma mulher que se oferece a homens estranhos por pura luxúria. É suprema infidelidade ao seu próprio Marido, o SENHOR (Ezequiel 16:32).

Sua prostituição é pior do que a de uma pessoa solteira porque ela despreza a fidelidade solenemente prometida. A prostituição de Jerusalém é ainda mais hedionda porque o povo pertence ao Senhor em virtude de sua aliança com Ele e é obrigado a servir somente a Ele. Além disso, o SENHOR tem Sua morada nesta cidade. Não havia outro lugar na terra naquela época onde as pessoas pudessem sacrificá-Lo do que no templo em Jerusalém.

O presente de uma prostituta que ela tem em mãos deve ser pago a quem quiser cometer prostituição com ela (Ezequiel 16:33). Ela não apenas despreza o salário de uma prostituta, mas paga uma recompensa ou dá um presente a qualquer ídolo que ela vê. Ela faz sacrifícios caros a deuses estrangeiros e paga tributo a povos estrangeiros para garantir seu sustento (Ezequiel 16:34). Ao fazer isso, ela se tornou o oposto de uma prostituta “normal” que é paga por seus serviços repugnantes e se afundou mais do que essa mulher já profundamente afundada.

Ezequiel 16:35-43 (Devocional)

Jerusalém Julgada por seus Amantes

A palavra do SENHOR chega à cidade (Ez 16:35). O SENHOR se dirige a ela pelo nome que ela merece, o de “meretriz”. Então Ele pronuncia Seu julgamento. Primeiro Ele dá outra breve lista de suas ações repugnantes que necessitam desse julgamento (Ezequiel 16:36). Eles são os pecados de fornicação e sacrifício humano. Ele reunirá seus amantes, as nações com as quais Jerusalém se aliou e de quem ela serviu aos ídolos, e também todos os que permaneceram ou se tornaram seus inimigos novamente (Ezequiel 16:37).

Tornar-se-á um grande exército de inimigos que se moverá contra ela para humilhá-la profundamente. Os inimigos tratarão com ela como com prostitutas e adúlteras que são envergonhadas na nudez (Ezequiel 16:38). “O sangue da ira” significa que Jerusalém será punida com a morte. Ela derramou sangue trazendo sacrifícios humanos e por isso seu sangue será derramado (Gn 9:6). Na esteira do adultério, da idolatria, ela cometeu assassinato. O adultério e o assassinato geralmente andam de mãos dadas. Vemos isso até com o rei Davi, que, após seu adultério com Bate-Seba, mandou assassinar o marido dela, Urias.

O “ciúme” do SENHOR, isto é, o Seu ciúme causado pelo adultério, a quebra da aliança, recompensará suas infidelidades e assassinatos. Ele entregará a cidade ao poder das nações cujos ídolos ela serviu (Ezequiel 16:39). Ele a entregará aos babilônios. Neste império mundial estão representadas todas as outras nações conquistadas pela Babilônia. Eles despojarão a cidade de roupas e joias e a deixarão nua e desnudada, que está derrubada por terra. Assim ela voltará a ser como antes, no tempo da sua origem, quando o SENHOR a encontrou (Ez 16,4-6; cf. Os 2,3).

Os inimigos virão contra Judá e Jerusalém como uma turba e causarão morte e destruição ao seu redor (Ezequiel 16:40). O apedrejamento que ela sofrerá é uma punição para mulheres adúlteras (Jo 8:4-5; Deu 22:21). Esse apedrejamento ocorrerá literalmente quando os habitantes da cidade forem enterrados e esmagados sob os escombros durante o cerco e a captura. As casas eles queimarão (Ezequiel 16:41).

“Muitas mulheres” verão isso acontecer diante de seus olhos como um exemplo de dissuasão para não bancar a prostituta. As “muitas mulheres” são uma figura de cidades e nações que verão a destruição de Jerusalém. Então a prostituição será eliminada. Não haverá mais desejo de bancar a prostituta. Ninguém mais vai querer ter nada a ver com ela. A atratividade da cidade mudou para repulsiva. A cidade também está tão carente que não pode mais pagar o salário de uma prostituta e, portanto, não pode mais comprar amantes. Então a fúria do SENHOR repousará sobre eles e Ele não será mais pacificado e irado (Ezequiel 16:42). Sua raiva se acalmou.

Assim, encontramos mencionados nos versículos anteriores três punições que uma prostituta pode receber em Israel e que são aplicadas a Jerusalém.

1. Primeiro, ela será deixada nua e nua e, portanto, exposta à reprovação dos espectadores (Ezequiel 16:39).
2. Em seguida, ela é apedrejada até a morte (Ez 16:40).
3. Por fim, ela é queimada no fogo (Ez 16:41).

Mais uma vez o SENHOR explica por que Ele deve fazer tudo isso com ela (Ezequiel 16:43). Ele trouxe sua maneira de vagar e infidelidade para baixo em sua própria cabeça. Ela não se lembrou dos dias de sua juventude, quando Ele cuidou dela, nem O serviu com gratidão. Em vez disso, ela o deixou horrorizado, profundamente abalado. Seus atos de julgamento têm o propósito de que ela cesse de suas abominações, que é sua idolatria, e que ela não se comporte mais vergonhosamente.

Ezequiel 16:44-52 (Devocional)

Jerusalém Comparada com Suas ‘Irmãs’

O SENHOR continua a acusar Jerusalém de seus pecados. Ele usa um provérbio para deixar claro que ela não é melhor do que a mãe pagã de quem a cidade descende (Ezequiel 16:44). A mãe é uma mulher infiel que não tem amor natural pelo marido e pelos filhos (Ez 16:45). Assim é Jerusalém. Ao fazer isso, ela também é irmã de suas irmãs, que detestam o amor natural da mesma maneira. A expressão “irmãs” refere-se às cidades de Jerusalém, Samaria e Sodoma. A origem pagã está na conexão entre os hititas e os amorreus. Jerusalém é tão idólatra quanto esses povos pagãos.

O SENHOR aponta Jerusalém para Samaria e chama aquela cidade de “irmã mais velha” de Jerusalém (Ez 16:46). Por Samaria entende-se toda a área do reino das dez tribos, que é muito maior do que a de Judá. Sua localização é ao norte de Jerusalém. Sua outra irmã, Sodoma, é “mais jovem” que Jerusalém. Sodoma mora ao sul de Jerusalém. Essa cidade é chamada de “mais jovem” porque tem um território menor. Por “suas filhas” entende-se as cidades vizinhas de Samaria e Sodoma.

Então o SENHOR indica os caminhos que essas cidades seguiram (Ezequiel 16:47). Jerusalém sabe bem o que aconteceu com Samaria e Sodoma por causa de sua apostasia do SENHOR: elas estão arruinadas. Jerusalém, porém, não se deixou advertir, antes agiu de forma mais corrupta do que eles. Jerusalém superou ambas as outras cidades em seus pecados (cf. Mateus 11:23-24; 2Cr 33:9; Jeremias 3:11; Lucas 10:12). Com um juramento, o SENHOR confirma Sua observação de que Sodoma e seus habitantes não pecaram tanto quanto Jerusalém (Ezequiel 16:48).

Para provar isso, o SENHOR lista os pecados hediondos de Sodoma (Ezequiel 16:49-50). Esta enumeração mostra que os pecados de Sodoma não consistiam apenas nos hediondos pecados sexuais dos quais a cidade estava cheia (Gn 18:20-21; Gn 19:4-5). Deus abençoou ricamente Sodoma com prosperidade natural (Gn 13:10). Mas em vez de Lhe agradecer por isso, ela tem estado cheia de si mesma, cheia de egoísmo, como também diz o Senhor Jesus (Lc 17:28).

Sodoma tem sido um estado constitucional perfeitamente ordenado, com liberdade de comércio e movimento, com comida e bebida para todos. No entanto, ela pensou apenas em si mesma e não nos outros. Tudo serviu para satisfazer seus próprios prazeres. Esse tem sido o terreno fértil para toda a lascívia e abominações se desenvolverem e serem toleradas diante de Deus. É por isso que Deus virou a cidade de cabeça para baixo assim que “a viu” (Ez 16:50; Gn 18:21; Gn 19:24-25). No entanto, aquela cidade não era culpada de violação do casamento, como era Jerusalém.

O que vemos em Sodoma também vemos em nosso tempo. Tudo gira em torno da prosperidade. Todos devem ficar cada vez mais ricos, ter cada vez mais para gastar, poder se divertir cada vez mais. Essa ganância às vezes é disfarçada com algum dinheiro para os países em desenvolvimento, mas isso não tira a dor da busca desenfreada de prazer. Neste solo, a busca do prazer sexual é desenfreada, rejeitando todos os limites ordenados por Deus com o maior desprezo.

O SENHOR então volta o olhar de Jerusalém para Samaria (Ezequiel 16:51). Essa cidade não cometeu metade dos pecados de Jerusalém. Por todas as abominações que Jerusalém cometeu, suas irmãs Sodoma e Samaria parecem justas. Isso é muito forte. Isso é feito para deixar claro para Jerusalém a enorme culpa que ela trouxe sobre si mesma por causa de seu comportamento perverso. Claro, isso não significa que reduza a culpa de Sodoma e Samaria. A questão é que a culpa deles parece pequena em comparação com a de Jerusalém.

Sodoma e Samaria receberam seu merecido castigo por uma dívida menor que a de Jerusalém. Portanto, Jerusalém certamente levará sua vergonha (Ezequiel 16:52). A cidade também arrogou com orgulho um julgamento sobre Sodoma e Samaria e, ao fazê-lo, ficou completamente cega para seus próprios pecados hediondos. Mais uma vez o SENHOR diz que os próprios pecados dela são tão hediondos que Sodoma e Samaria parecem justas em comparação. Ele exorta a cidade a se envergonhar e a suportar sua desgraça.

Ezequiel 16:53-59 (Devocional)

Promessa de Restauração

Então, de repente, fala-se de uma restauração que o SENHOR dará (Ezequiel 16:53). Ele restaurará o cativeiro de Sodoma e das cidades vizinhas e Samaria e as cidades vizinhas e Jerusalém. Quão grande é a graça de Deus! Para vergonha de Jerusalém, essa restauração acontecerá primeiro com Sodoma e Samaria (Ezequiel 16:54). O consolo mencionado aqui também é para vergonha de Jerusalém, pois é o consolo de Sodoma e Samaria que sua maldade foi menos terrível que a de Jerusalém.

O SENHOR restaurará essas três cidades com seus habitantes e vilas associadas ao seu estado anterior, que é o estado da época antes de cometerem suas abominações (Ezequiel 16:55). Em seu orgulho, Jerusalém nem quis mencionar o nome de Sodoma (Ezequiel 16:56). Isso aconteceu durante o tempo em que o pecado de Jerusalém ainda não havia se manifestado plenamente (Ezequiel 16:57). Mas esse pecado agora veio claramente à luz. Em resultado disso, a própria Jerusalém agora é objeto de vitupério das nações ao seu redor. Seu comportamento vergonhoso e suas abominações pesarão sobre ela (Ez 16:58).

Tudo isso acontece com Jerusalém porque ela desprezou o juramento com que se comprometeu com o SENHOR (Ezequiel 16:59). O que Jerusalém fez para com o Senhor, ele fará agora para com a cidade. Ele também quebrará Sua aliança com Jerusalém e a derrubará em opróbrio e desgraça.

O fato de Ezequiel 16:55 falar de uma restauração de Sodoma levanta a questão de como isso poderia acontecer. Afinal, Sodoma foi completamente derrubada. Nem um único sodomita sobreviveu e a área de Sodoma se tornou um deserto eterno (Dt 29:23; Is 1:9; Jr 49:18; 2Pe 2:6; Jz 1:7). E quanto à restauração da qual o SENHOR fala aqui? A esta pergunta os comentários não dão uma resposta inequívoca.

O conhecido comentarista das Escrituras alemãs, Keil, assume que este versículo fala da Sodoma literal. Só que ele não vê nisso uma restauração na terra, mas vê o cumprimento dessa profecia na eternidade. No entanto, à luz do que lemos na carta de Judas, essa não pode ser a explicação (Jz 1:7). Ali se diz: “Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades ao redor delas, visto que, do mesmo modo que estas, se entregaram a crassa imoralidade e foram atrás de carne estranha, são exibidas como exemplo em sofrerem a punição do fogo eterno.” A declaração de Keil ainda vai na direção da falsa doutrina da expiação universal. Os adeptos dessa falsa doutrina, portanto, usam esse versículo como argumento para sua falsa doutrina. Isso chegou ao meu conhecimento em uma troca de cartas que tive com um adepto dessa doutrina.

Das várias explicações, a seguinte declaração é a que mais me atrai e eu a submeto ao leitor para consideração. Podemos pensar aqui em Sodoma em termos de Ló e seus descendentes. Ló e suas filhas foram os únicos que não pereceram no julgamento que Deus trouxe sobre Sodoma. A posteridade de Ló, que ele gerou com suas filhas, consiste em Amon e Moabe (Gn 19:30-38). A restauração, de acordo com esta declaração, realmente ocorrerá na restauração de Amon e Moabe (Jr 48:47; Jr 49:6).

Ezequiel 16:60-63 (Devocional)

A Nova Aliança com Jerusalém

Em Sua fidelidade inabalável, que contrasta fortemente com a infidelidade de Jerusalém, o Senhor se lembrará de Sua aliança com eles nos dias de sua juventude (Ezequiel 16:60). Ele fará uma nova aliança e a cumprirá (Jr 31:31-34; Jr 32:40; Hb 8:6-13). Por ser uma aliança unilateral e depender apenas de Sua fidelidade, é “uma aliança eterna”. Não pode ser quebrado, pois Ele não pode se tornar infiel. Sua bênção chegará a Jerusalém porque Ele lhe concederá perdão e uma nova vida que anseia por ser obediente a Ele.

Para desfrutar das bênçãos desta aliança, Jerusalém se arrependerá e retornará (Ezequiel 16:61). Ela ficará profundamente envergonhada de seus pecados e dos caminhos que seguiu. Com essa percepção, ela receberá outras nações e não mais as desprezará. Jerusalém será mãe e receberá outras nações como filhas. Essas nações lhe foram dadas pelo SENHOR. Ele não faz isso com base em Sua primeira aliança com ela, que foi tão vergonhosamente quebrada por ela. Ele o faz em virtude da nova aliança que fará com ela (Ezequiel 16:62). Com isso ela saberá que Ele é o Senhor.

Seu trato gracioso com ela com base na nova aliança causará vergonha nela (Ezequiel 16:63). Ela perceberá que é imerecido e não falará mal porque se lembrará da reprovação que veio sobre ela por causa de seus pecados. Ao mesmo tempo, todas as dúvidas sobre ela ser recebida pelo Senhor desaparecerão, porque Ele terá feito expiação por tudo o que ela fez de errado. Quão impressionante é a palavra “todos”. O que tudo isso significa, veremos neste capítulo. Tudo isso, sem exceção, está incluído na expiação.

Essa reconciliação e esse glorioso fim de Jerusalém só podem acontecer porque o Senhor Jesus deu Seu precioso sangue. Deus age com base no que Ele, Seu Filho, fez. Ele cumpriu todas as condições da nova aliança e, portanto, a bênção para o povo de Deus pode finalmente vir. Diante de tantos pecados listados extensamente neste capítulo, há a obra transcendente de Cristo, a quem toda a glória é por toda a eternidade.

Esta história também pode nos falar. Nossa origem e comportamento (Ez 16:3-4) não são dignos de amor. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, estando nós ainda mortos em nossas transgressões” (Ef 2:4-5). Como respondemos a este amor que nos foi mostrado?

Contexto Histórico de Ezequiel 16

16:2 enfrentar Jerusalém. Que a alegoria no cap. 16 pretende ser uma invectiva fica claro pelo imperativo com o qual começa. dela. O antigo costume do Oriente Próximo de personificar as cidades como mulheres e casadas com a divindade padroeira pode ter influenciado Ezequiel a apresentar Jerusalém como uma mulher. A acusação de desvio religioso do povo de Jerusalém é expressa através da descrição dos atos vergonhosos de uma prostituta descarada (v. 30), que extrai algumas de suas imagens das práticas cananeias, mas também contém uma reminiscência do festival mesopotâmico de Ishtar. Exilado na Babilônia, Ezequiel não poderia deixar de ser confrontado com o grandioso e, em muitos aspectos, obsceno festival de Ishtar. Ele parece se basear fortemente no culto de Ishtar como o epítome do desvio idólatra e religioso de sua própria nação.

16:4 Todas as ações descritas aqui seriam normalmente as da parteira. Ela cortava e amarrava o cordão umbilical, enxaguava a placenta do recém-nascido, limpava a pele do bebê com água salgada e, por fim, envolvia-o em um cobertor. A criança seria então apresentada aos pais para ser nomeada. No entanto, neste caso, a criança não é aceita como membro da família e, em vez disso, é deixada em um campo, onde seu destino é deixado nas mãos de Deus. O papel da parteira na preparação da sala de parto e no cuidado do recém-nascido é frequentemente atribuído à divindade no mundo antigo - especialmente em metáforas. Em um segmento do épico babilônico de Atrahasis, a deusa da fertilidade Mami é a parteira dos deuses que traz a humanidade à existência. No Grande Hino Egípcio a Aton, o deus-sol preside como parteira sobre as terras do Egito todas as manhãs. Os rituais de parteira envolvidos fornecem tanto as necessidades físicas da criança quanto uma transferência simbólica do reino do útero para o mundo dos vivos.

16:5 jogado em campo aberto. Fontes clássicas e antigas do Oriente Próximo fazem menção ao infanticídio. Evidência gráfica disso foi encontrada em escavações recentes em Ashkelon. Foram descobertos os corpos de uma centena de crianças que haviam sido descartadas em um ralo de esgoto que data do período romano-bizantino. O infanticídio era geralmente empregado para eliminar crianças do sexo feminino ou malformadas. Isso foi feito como um meio de controle populacional ou necessidade econômica, já que muitas aldeias mal conseguiam alimentar e cuidar de crianças e adultos saudáveis. O fato de a criança ter sido “jogada” em um campo também tem implicações legais. Os pais estão renunciando a todas as reivindicações legais sobre a criança e deixando para Deus e/ou outra pessoa “adotar” e assim salvar a vida da criança. Entre os exemplos desta prática estão a exposição de Moisés no Nilo (Ex 2:1-10) e a lenda do nascimento de Sargão de Acade.

16:6 em seu sangue. Esta expressão corresponde a uma fórmula de adoção acadiana: “no nascimento fluido e sangue”. Um texto acadiano neobabilônico descreve um procedimento de adoção como abandonar uma criança ainda coberta por seu líquido amniótico e sangue de nascimento e entregá-la à ama de leite. Interpretada à luz dos antigos textos do Oriente Próximo, a expressão hebraica significa uma declaração formal de adoção. Quem leva uma criança enquanto “em seu sangue” adquire pleno direito legal sobre ela. O Código de Hammurapi indica que uma criança assim adotada nunca pode ser reclamada pelos pais biológicos.

16:7 Este versículo fala de uma jovem donzela tendo atingido a idade de casar: seus seios estão formados e seus pelos pubianos cresceram. Essas referências devem ser tomadas como sinais convencionais de casamento no antigo Oriente Próximo, como atestado por um texto quase idêntico encontrado em um hino de Inanna/Ishtar.

16:9 Eu te banhei com água... e colocar pomadas em você. O casamento na antiga Mesopotâmia, como o casamento no antigo Israel, incluía cerimônias e ritos. O banho e a unção fazem parte de uma cerimônia de casamento nos textos da Antiga Babilônia e da Assíria Média, conforme indicado nos textos sagrados de casamento sumérios.

16:10 vestido bordado. Entre os presentes de noiva está um tecido bordado para seu vestido. Apenas o tecido mais fino era bordado e era considerado um prêmio na guerra (Jz 5:30), bem como um item de luxo adequado para o comércio com outros países (Ezequiel 27:16). Em um nível mais prático, tanto o Código de Hammurapi quanto as Leis de Lipit-Ishtar da Mesopotâmia listam óleo, grãos e roupas como os itens que os maridos devem fornecer para suas esposas. sandálias de couro fino. Sandálias comuns eram feitas de material fibroso tecido e presas com tiras de couro (Is 5:27). Calçados inteiramente feitos de couro seriam um luxo e um símbolo de riqueza e poder. Sandálias de couro fino estão representadas nos painéis do Obelisco Negro de Shalmaneser III (século IX aC) e em pinturas murais da época do rei assírio Sargão II (721–705 aC).

16:11–12 pulseiras... colar... anel no nariz... brincos... coroa. A coleção completa de joias fornecidas pelo marido consiste em muitos tipos de joias regularmente usadas para adornar o corpo e a cabeça de uma mulher (compare a lista mais completa em Is 3:18–23). Como os presentes de noiva para Rebeca (Gên 24:22), há braceletes, possivelmente com cabeças de animais em cada extremidade. O colar pode ter sido um cordão de contas ou anéis de metal ligados semelhantes aos dos relevos assírios ou aos marfins de Nimrud representando mulheres assírias reais. Seu piercing no nariz novamente segue o estilo do adorno de Rebeca (Gên 24:22), e seus brincos provavelmente eram anéis ovóides inseridos em orelhas furadas. O mais impressionante de tudo é a coroa de ouro, ou tiara, em sua cabeça; ele completa o conjunto da esposa de um governante e tem paralelos na arte egípcia e assíria.

16:15 prostituta. Veja as notas em Gênesis 38:15; Jz 11:1.

16:21 matou meus filhos e os sacrificou aos ídolos. Veja as notas em Lv 20:2; 1Rs 11:5; 2Rs 3:27; 16:3; Jr 7:31.

16:24 monte... santuário elevado em cada praça pública. Esses locais de adoração idólatra também foram erguidos “em cada esquina” (v. 31). monte. O termo hebraico significa algo arredondado, possivelmente uma elevação artificialmente construída na qual as ações de culto eram realizadas. Esta palavra é atestada na literatura ugarítica e na acadiana Mari. Designa a base ou o pedestal sobre o qual foi colocada a estátua de pedra (baetylus) representando uma das divindades.

16:28–29 Você se envolveu em prostituição... você não ficou satisfeito. A mulher que encarna a cidade de Jerusalém está tão inquieta e insatisfeita que perambula pelas praças em busca de novos amantes. Ela é incapaz de cumprir seu papel de esposa e mãe. Ela mata os filhos e abandona o marido.

Tal descrição pode sugerir aos israelitas na Babilônia a deusa Inanna, a padroeira das prostitutas. Como neste retrato de Jerusalém, ela é uma deusa inquieta e perpetuamente insatisfeita que abandona seus amantes um após o outro.

16:36 você... expôs seu corpo nu em sua promiscuidade com seus amantes. Este versículo faz parte de uma série de descrições gráficas das partes sexuais da prostituta Jerusalém e de seus amantes. você derramou sua luxúria. Tem conotações sexuais na mesma linha dos versos que falam de uma mulher abrindo as pernas para os transeuntes (v. 25), dos egípcios com seus órgãos genitais grandes (v. 26) e da nudez das partes pudendas (vv. 36-37).. Essas expressões andam de mãos dadas com a referência à lascívia (vv. 27, 43, 58), prostituição e nudez (vv. 7, 22, 39). Tais detalhes podem ser compreendidos à luz de textos comparativos relacionados à festa de Ishtar e aos textos litúrgicos cantados em sua homenagem. Em uma das canções cantadas pelo cantor cultual, as partes sexuais da deusa Ishtar foram elogiadas. A licenciosidade desenfreada fazia parte do festival de Ishtar, e as imagens sexuais de Ezequiel são provavelmente um reflexo dos aspectos orgiásticos do culto de Ishtar que ele testemunhou na terra de seu exílio.

16:39 montes... altos santuários. Ver nota no v. 24. despir você... te deixar... nu. Ezequiel, que assumiu a metáfora do casamento de Oseias, discute em detalhes a punição que recai sobre uma adúltera (v. 38; 23:45). Em Isaías 47:2–3, onde Babilônia é retratada como uma prostituta, suas partes íntimas também são descobertas como punição por suas transgressões. Em Na 3:5 a cidade de Nínive é apresentada como uma mulher impura que será descoberta por causa de seus muitos atos promíscuos. Com o ato de se despir, o marido não está apenas humilhando a esposa em público, mas também significando simbolicamente que põe fim aos compromissos a que esteve vinculado desde o início do casamento. De acordo com textos paralelos do antigo Oriente Próximo, o despojamento público da esposa representava um gesto não-verbal que significava o divórcio. O ato de despir uma esposa adúltera é paralelo a um texto babilônico médio de Hana e a um texto de Nuzi. No texto de Hana, uma mulher que desejasse se divorciar de seu marido deveria sair de casa nua. A frase padrão é “tirar a roupa e sair nu”. Os paralelos não apenas ilustram o que aparentemente era um costume generalizado, mas também sugerem que esse tratamento infligido à esposa pretendia, além de envergonhá-la, enfatizar sua súbita falta de segurança econômica.

16:45 Sua mãe era hitita e seu pai amorreu. A referência de Ezequiel não é apenas a esses povos cananeus, mas também ao casamento misto que deve ter ocorrido ao longo dos séculos entre eles e os israelitas.

16:46 Samaria... Sodoma. O aviso é bastante claro aqui. Tanto Samaria, a capital do reino do norte de Israel, quanto Sodoma foram destruídas por Deus por serem corruptas (Gn 19:12–25; 2Rs 17:5–18). A referência a Samaria como a irmã mais velha ou “grande” pode referir-se à sua importância relativa como capital de dez tribos. Foi construído por Onri (1Rs 16:24) no nono século aC e, portanto, era muito “mais jovem” do que a Jerusalém de Davi. Deus pode ter escolhido Sodoma simplesmente por causa da tradição de sua destruição (Am 4:11). Como cidade, provavelmente era anterior à fundação de Jerusalém, mas provavelmente era menor em termos de tamanho, dada a facilidade com que se diz ter sido capturada em Gênesis 14:8-11.

16:57 Edom. Veja a nota em Jeremias 49:7. Dada a aparente aliança entre os edomitas e os caldeus/babilônios na época do cerco de Jerusalém (ver Sl 137:7), os edomitas estariam em posição de vangloriar-se ou mesmo saquear Judá uma vez que os babilônios tivessem conquistado a capital. filisteus. Durante o século VII aC, eles vacilaram entre o antagonismo e a aliança com os babilônios. Ashkelon, por exemplo, foi saqueado e queimado por Nabucodonosor em 604 AC. De qualquer forma, a captura de Jerusalém em 597 e a destruição em 587 teria sido a base sobre a qual outros estados poderiam repreender o povo de Jerusalém, considerando aquela cidade a nova Sodoma e evidência da justa ira de Deus contra uma nação corrupta e desobediente.

16:60 Ainda assim, me lembrarei da aliança que fiz com você. A aliança duradoura da qual o Senhor fala retoma a metáfora inicial do casamento com a qual o cap. 16 começou. Polegada. 16, o pêndulo oscila metaforicamente de criança abandonada de pais suspeitos a princesa noiva com o Senhor como noivo, de casamento real a prostituição e de conduta vergonhosa de uma esposa infiel a uma aliança eterna. A aliança representa aqui o casamento (como em Pv 2:17; Ml 2:14). A metáfora conjugal implica filhos, que atestam o amor dos pais, garantem o futuro de uma nação e asseguram a continuidade do amor paterno.