Estudo sobre Ezequiel 1

Ezequiel 1

1:1. trigésimo ano: A visão inicial de Ezequiel tem uma datação dupla. A data mencionada no 1:2 é imediatamente inteligível, mas a época a partir da qual é contado o trigésimo ano é incerta. O profeta pode estar indicando a sua idade: no ano em que normalmente estaria entrando no seu serviço sacerdotal (cf. Nm 4.3), ele percebeu que estava sendo chamado para um ministério diferente. W. F. Albright (menos provável) sugere que o trigésimo ano é contado a partir da mesma época que as outras datas do livro e assinala o tempo em que foi concluída a compilação dos oráculos de Ezequiel (i.e., 568 a.C.), ou quando Ezequiel os ditou de memória a um escriba, assim como Jeremias ditou as suas profecias a Baruque (Jr 36.1-4). junto ao rio Quebar. i.e., o “grande canal” (o atual Shatt en-Nil), que se separava do Eufrates um pouco ao norte da Babilônia, passava ao lado de Nippur (c. 95 quilômetros a sudeste da cidade da Babilônia) e depois desembocava novamente no Eufrates ao sul de Ur. Os exilados eram os que viviam em Tel-Abibe (1:3.15). Foi nessa situação deprimente, longe do lar, que ele viu os céus se abrirem e teve visões de Deus — significando (como indica a analogia de 8.3; 40.2) visões concedidas por Deus.

1:2. no quinto dia do quarto mês: se o mês era de fato o quarto mês (tamuz), como no 1:1, então o dia foi 31 de julho de 593 a.C., pois o quinto ano do exílio do rei Joaquim durou desde 1- de nisã (30 de abril) daquele ano até 29 de adar (18 de abril) de 592 a.C. Sabemos, com base em uma fonte babilônica contemporânea, que o exílio de Joaquim começou em 2 de adar (16 de março) de 597 a.C. As autoridades babilônicas continuavam dando a ele algum reconhecimento como rei no exílio, e é o que evidentemente faziam os seus conterrâneos exilados; em reconhecimento das circunstâncias da época, no entanto, Ezequiel data as suas visões de acordo com o exílio de Joaquim, e não do seu reinado. O seu reinado havia durado pouco mais de três meses (2Rs 24.8; 2Cr 36.9). Acerca do seu sucessor Zedequias, 1:17.13ss; 21.35. 1:3. A palavra do Senhor veio: uma expressão comum no ATOS para descrever a experiência profética (cf. lRs 17.8; Os 1.1). E menos frequente encontrarmos fora de Ezequiel a expressão a mão do Senhor estava sobre um profeta. Quando a expressão é usada em relação a Elias (lRs 18.46) ou Eliseu (2Rs 3.15), indica uma capacitação sobrenatural especial; em Ezequiel, denota o início do êxtase profético.

A descrição da visão inicial de Ezequiel é um dos trechos mais difíceis de traduzir em todo o ATOS; a tradução da NEB é extraordinariamente bem-sucedida. Mas a lição principal transmitida pela visão é clara: o Deus de Israel não está preso ao seu templo em Jerusalém. O seu trono, equipado com rodas e suspenso pelos querubins, é móvel; ele pode manifestar — e de fato manifesta — sua presença a Ezequiel na Babilônia tão facilmente como a havia manifesto, por exemplo, a Isaías em Jerusalém (Is 6.1ss); ele é o Deus do céu e da terra.

1:4. uma tempestade, uma nuvem de tempestade repleta de raios e relâmpagos era um meio tradicional de teofania em Israel; cf. Êx 19.16-18; lRs 19.11,12; SL 18.7-15; 68.7-10. Se nessa ocasião ela vinha do norte, a presença do Senhor provavelmente seguiu a mesma rota que os exilados haviam tomado para a Babilônia, e as deidades locais não podiam impedir o seu avanço. Os quatro vultos que pareciam seres viventes (1:5) são identificados em lO.lss como querubins, formas compostas simbolizando os ventos ou, de forma mais geral, as forças da natureza que suspendiam o Deus de Israel à medida que ele montava nas nuvens (SL 18.10; 68.4) e sustentavam o seu trono invisível no santíssimo lugar do templo em Jerusalém (lRs 6.23-28). Antes do estabelecimento do templo de Jerusalém, Javé dos Exércitos era conhecido em Siló como aquele “que tem o seu trono entre os querubins” (1Sm 4.4), e ele continuava a ser adorado com esse título em Jerusalém (SL 80.1; 99.1). Na visão de Ezequiel, destaca-se o aspecto de que esse trono não era estacionário; ele pode se mover em qualquer direção — para a frente, para trás, para os lados, para cima ou para baixo. Como em teofanias anteriores (SL 68.17) e posteriores (Dn 7.9), ele é um trono-carro (cf. lCr 28.18).

A palavra traduzida por metal reluzente (1:4; cf. 1:27), heb. hashmal, é de significado incerto; a NEB traduz aqui: “um brilho como de latão” (LXX: êlektron, Vulg.: electrum). G. R. Driver sugere que as imagens da visão de Ezequiel “devem ter sido sugeridas a ele, como era frequente, por algum objetivo ou processo conhecido, aqui a obra de um fundidor de latão babilônico (VT, 1, 1951, p. 52). Isso é no mínimo preferível a entender aqui a descrição de um dínamo, sem falar na sugestão de uma nave espacial, 1:7. Suas pernas eram retas: como as de um ser humano, embora os seus pés fossem fendidos, como bronze polido: a NEB é melhor aqui quando traz “como um disco de bronze”, 1:13. tochas, cf. a “tocha acesa” que simbolizava a presença divina em Gn 15.17. O 1:14 está ausente na LXX.

1:16. berilo, a BJ traz “crisólito”. 1:18. Seus aros eram altos e impressionantes-, é interessante traduzir, como faz a NEB: “Todas as quatro rodas tinham cubos, e cada cubo tinha uma projeção que tinha o poder da visão”, 1:20,21. o mesmo Espírito estava nelas [nas rodas]: a ARA traz: “porque nelas havia o espírito dos seres viventes”: de forma que as rodas funcionavam como extensões vivas dos seus corpos.

1:22. o que parecia uma abóbada: o firmamento de Ezequiel, reluzente como gelo, é provavelmente idêntico ao “mar de vidro, claro como cristal [...] misturado com fogo” de João (Ap 4.6; 15.2); Ezequiel o viu de baixo, João o viu de cima. Os detalhes são fundamentados em parte na visão do Deus de Israel descrita em Ex 24.10. Lá Moisés e seus companheiros viram sob seus pés “algo semelhante a um pavimento de safira, como o céu em seu esplendor”. Assim, aqui Ezequiel vê acima da abóbada [...] o que parecia um trono de safira, ou lápis-lazúl (1:26).

Contudo, enquanto em Êx 24.10 não se faz nenhuma tentativa de retratar o próprio Deus de Israel, Ezequiel nos conta que bem no alto, sobre o trono, havia uma figura que parecia um homem. Se o homem foi feito à imagem de Deus (Gn 1.27), então não é inapropriado que, na falta completa de menção da aparição de Deus, ele fosse retratado antropomorficamente, ao menos na linguagem da analogia experimental. Assim, em Dn 7.9ss, enquanto o “ancião” (“Ancião de Dias”, ARA) é diferenciado daquele que é “semelhante a um filho de homem”, ele se assenta no trono chamejante equipado com rodas, e os seus trajes e cabelo são descritos, 1:28. Tal como a aparência do arco-íris: a referência ao arco-íris pode bem estar nos lembrando do seu significado da aliança em Gn 9.12-17 (em que está dissociada de linguagem teofânica).

Depois de ter recebido a visão de Deus, Ezequiel agora recebe a comissão profética. Ele deve ser o mensageiro ao povo de Israel exilado na Babilônia, mas o profeta não recebe a garantia de que a sua mensagem vai ser acolhida; aliás, com base na descrição daqueles a quem ele é enviado, ele pode esquecer a esperança de alguma reação favorável. Mas a tarefa do mensageiro é entregar a mensagem fielmente; a responsabilidade de dar atenção a ela está do lado dos ouvintes. 1.28b. a aparência da figura da glória do Senhor: a multiplicação dos termos qualificativos tem o propósito de causar reverência; Ezequiel não reivindica ter visto Deus diretamente. A glória do Senhor é a sua presença ou shekinã, como em Ex 34.18; 40.34,35; lRs 8.11.

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