Ezequiel 1
I. O CHAMADO DE
EZEQUIEL (1.1—3.27)
1) Época e lugar (1.1-3)
v. 1. trigésimo ano:
A visão inicial de Ezequiel tem uma datação dupla. A data mencionada
no v. 2 é imediatamente inteligível, mas a época a partir da qual é
contado o trigésimo ano é incerta. O profeta pode
estar indicando a sua idade: no ano em que normalmente estaria entrando no
seu serviço sacerdotal (cf. Nm 4.3), ele percebeu que estava sendo
chamado para um ministério diferente. W. F. Albright (menos
provável) sugere que o trigésimo ano é contado a
partir da mesma época que as outras datas do livro e assinala o tempo
em que foi concluída a compilação dos oráculos de Ezequiel (i.e., 568
a.C.), ou quando Ezequiel os ditou de memória a um escriba, assim como
Jeremias ditou as suas profecias a Baruque (Jr 36.1-4). junto
ao rio Quebar. i.e., o “grande canal” (o atual Shatt en-Nil), que
se separava do Eufrates um pouco ao norte da Babilônia, passava ao lado de
Nippur (c. 95 quilômetros a sudeste da cidade da Babilônia) e depois
desembocava novamente no Eufrates ao sul de Ur. Os exilados eram
os que viviam em Tel-Abibe (v. 3.15). Foi nessa situação deprimente, longe
do lar, que ele viu os céus se abrirem e teve visões
de Deus — significando (como indica a analogia de 8.3; 40.2)
visões concedidas por Deus.
v. 2. no quinto dia
do quarto mês: se o mês era de fato o quarto mês (tamuz), como
no v. 1, então o dia foi 31 de julho de 593 a.C., pois o quinto
ano do exílio do rei Joaquim durou desde 1- de nisã (30 de abril)
daquele ano até 29 de adar (18 de abril) de 592 a.C. Sabemos, com base em
uma fonte babilônica contemporânea, que o exílio de Joaquim começou em 2
de adar (16 de março) de 597 a.C. As autoridades babilônicas
continuavam dando a ele algum reconhecimento como rei no exílio, e é
o que evidentemente faziam os seus conterrâneos exilados; em
reconhecimento das circunstâncias da época, no entanto, Ezequiel data as suas
visões de acordo com o exílio de Joaquim, e não do seu reinado. O seu
reinado havia durado pouco mais de três meses (2Rs 24.8; 2Cr 36.9).
Acerca do seu sucessor Zedequias, v. 17.13ss; 21.35. v. 3. A palavra
do Senhor veio: uma expressão comum no ATOS para descrever a
experiência profética (cf. lRs 17.8; Os 1.1). E menos frequente
encontrarmos fora de Ezequiel a expressão a mão do Senhor estava
sobre um profeta. Quando a expressão é usada em relação a Elias
(lRs 18.46) ou Eliseu (2Rs 3.15), indica uma capacitação sobrenatural
especial; em Ezequiel, denota o início do êxtase profético.
2) A visão inicial
(1.4-28a)
A descrição da visão inicial
de Ezequiel é um dos trechos mais difíceis de traduzir em todo o ATOS; a
tradução da NEB é extraordinariamente bem-sucedida. Mas a lição principal
transmitida pela visão é clara: o Deus de Israel não está preso ao seu
templo em Jerusalém. O seu trono, equipado com rodas e suspenso pelos
querubins, é móvel; ele pode manifestar — e de fato manifesta — sua
presença a Ezequiel na Babilônia tão facilmente como a havia manifesto,
por exemplo, a Isaías em Jerusalém (Is 6.1ss); ele é o Deus do céu e
da terra.
v. 4. uma
tempestade, uma nuvem de tempestade repleta de raios e relâmpagos era
um meio tradicional de teofania em Israel; cf. Êx 19.16-18; lRs 19.11,12;
SL 18.7-15; 68.7-10. Se nessa ocasião ela vinha do norte,
a presença do Senhor provavelmente seguiu a mesma rota que os
exilados haviam tomado para a Babilônia, e as deidades locais não podiam
impedir o seu avanço. Os quatro vultos que pareciam seres viventes
(v. 5) são identificados em lO.lss como querubins, formas compostas
simbolizando os ventos ou, de forma mais geral, as forças da natureza que
suspendiam o Deus de Israel à medida que ele montava nas nuvens (SL 18.10;
68.4) e sustentavam o seu trono invisível no santíssimo lugar
do templo em Jerusalém (lRs 6.23-28). Antes do estabelecimento do
templo de Jerusalém, Javé dos Exércitos era conhecido em Siló como aquele
“que tem o seu trono entre os querubins” (1Sm 4.4), e ele
continuava a ser adorado com esse título em Jerusalém (SL 80.1;
99.1). Na visão de Ezequiel, destaca-se o aspecto de que esse trono não era
estacionário; ele pode se mover em qualquer direção — para a frente, para
trás, para os lados, para cima ou para baixo. Como em teofanias anteriores (SL
68.17) e posteriores (Dn 7.9), ele é um trono-carro (cf. lCr 28.18).
A palavra traduzida por metal
reluzente (v. 4; cf. v. 27), heb. hashmal, é de
significado incerto; a NEB traduz aqui: “um brilho como de latão”
(LXX: êlektron-, Vulg.: electrum). G. R.
Driver sugere que as imagens da visão de Ezequiel “devem ter sido
sugeridas a ele, como era frequente, por algum objetivo ou processo
conhecido, aqui a obra de um fundidor de latão babilônico (VT, 1,
1951, p. 52). Isso é no mínimo preferível a entender aqui a descrição
de um dínamo, sem falar na sugestão de uma nave espacial, v. 7. Suas
pernas eram retas: como as de um ser humano, embora os seus pés
fossem fendidos, como bronze polido: a NEB é melhor aqui
quando traz “como um disco de bronze”, v. 13. tochas-. cf.
a “tocha acesa” que simbolizava a presença divina em Gn 15.17. O v. 14
está ausente na LXX.
v. 16. berilo, a
BJ traz “crisólito”. v. 18. Seus aros eram altos e impressionantes-, é
interessante traduzir, como faz a NEB: “Todas as quatro rodas tinham
cubos, e cada cubo tinha uma projeção que tinha o poder da visão”, v.
20,21. o mesmo Espírito estava nelas [nas rodas]: a
ARA traz: “porque nelas havia o espírito dos seres viventes”: de
forma que as rodas funcionavam como extensões vivas dos seus corpos.
v. 22. o que parecia
uma abóbada: o firmamento de Ezequiel, reluzente como gelo,
é provavelmente idêntico ao “mar de vidro, claro como cristal [...]
misturado com fogo” de João (Ap 4.6; 15.2); Ezequiel o viu de baixo, João
o viu de cima. Os detalhes são fundamentados em parte na visão do Deus
de Israel descrita em Ex 24.10. Lá Moisés e seus companheiros viram
sob seus pés “algo semelhante a um pavimento de safira, como o céu em seu
esplendor”. Assim, aqui Ezequiel vê Acima da abóbada [...] o que
parecia um trono de safira, ou lápis-lazúli (v. 26).
Contudo, enquanto em Êx
24.10 não se faz nenhuma tentativa de retratar o próprio Deus de Israel,
Ezequiel nos conta que bem no alto, sobre o trono, havia uma figura
que parecia um homem. Se o homem foi feito à imagem de Deus
(Gn 1.27), então não é inapropriado que, na falta completa de menção da
aparição de Deus, ele fosse retratado antropomorficamente, ao menos na
linguagem da analogia experimental. Assim, em Dn 7.9ss, enquanto o
“ancião” (“Ancião de Dias”, ARA) é diferenciado daquele que é “semelhante a
um filho de homem”, ele se assenta no trono chamejante equipado com rodas,
e os seus trajes e cabelo são descritos, v. 28. Tal como a aparência
do arco-íris: a referência ao arco-íris pode bem estar nos
lembrando do seu significado da aliança em Gn 9.12-17 (em que
está dissociada de linguagem teofânica).
3) O comissionamento do
profeta i (1.28b—3.15)
Depois de ter recebido a
visão de Deus, Ezequiel agora recebe a comissão profética. Ele deve ser o mensageiro
ao povo de Israel exilado na Babilônia, mas o profeta não recebe a garantia de
que a sua mensagem vai ser acolhida; aliás, com base na descrição daqueles
a quem ele é enviado, ele pode esquecer a esperança de alguma reação
favorável. Mas a tarefa do mensageiro é entregar a
mensagem fielmente; a responsabilidade de dar atenção a ela está do
lado dos ouvintes.
1.28b. a
aparência da figura da glória do Senhor: a multiplicação dos termos
qualificativos tem o propósito de causar reverência; Ezequiel não
reivindica ter visto Deus diretamente. A glória do Senhor é a sua
presença ou shekinã, como em Ex 34.18; 40.34,35; lRs
8.11.Índice: Ezequiel 1 Ezequiel 2 Ezequiel 3 Ezequiel 4 Ezequiel 5 Ezequiel 6 Ezequiel 7 Ezequiel 8 Ezequiel 9 Ezequiel 10 Ezequiel 11 Ezequiel 12 Ezequiel 13 Ezequiel 14 Ezequiel 15 Ezequiel 16 Ezequiel 17 Ezequiel 18 Ezequiel 19 Ezequiel 20 Ezequiel 21 Ezequiel 22 Ezequiel 23 Ezequiel 24 Ezequiel 25 Ezequiel 26 Ezequiel 27 Ezequiel 28 Ezequiel 29 Ezequiel 30 Ezequiel 31 Ezequiel 32 Ezequiel 33 Ezequiel 34 Ezequiel 35 Ezequiel 36 Ezequiel 37 Ezequiel 38 Ezequiel 39 Ezequiel 40 Ezequiel 41 Ezequiel 42 Ezequiel 43 Ezequiel 44 Ezequiel 45 Ezequiel 46 Ezequiel 47 Ezequiel 48
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