Lucas 24 — Estudo Devocional

Lucas 24

Lucas 24 marca o ápice da narrativa do Evangelho, retratando a ressurreição de Jesus e Suas interações com Seus discípulos após Sua vitória sobre a morte. Através dos relatos do sepulcro vazio, da aparição no caminho de Emaús e da Sua aparição aos discípulos, este capítulo convida-nos a refletir sobre o poder da ressurreição, a revelação do plano de Deus e o apelo a partilhar a mensagem de Cristo. .

O capítulo começa com a descoberta do túmulo vazio pelas mulheres que vieram ungir o corpo de Jesus. A proclamação do anjo: “Por que procurais entre os mortos o que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou”, resume o cerne da fé cristã – a ressurreição vitoriosa de Jesus. Este evento afirma Sua identidade como Filho de Deus e cumpre Sua promessa de triunfo sobre a morte.

O encontro no caminho de Emaús é uma bela ilustração da presença de Jesus ao nosso lado, mesmo quando não O reconhecemos. Enquanto Ele caminha e conversa com os dois discípulos, seus olhos se abrem quando Ele parte o pão, revelando Sua identidade. Este relato nos lembra que Jesus está sempre conosco, guiando-nos nas incertezas da vida e revelando-se nos momentos de revelação.

A aparição de Jesus aos discípulos em Jerusalém solidifica a realidade da Sua ressurreição. Sua oferta de tocar Suas feridas e compartilhar uma refeição enfatizam Sua presença física e a continuidade entre Sua existência pré-ressurreição e pós-ressurreição. Esta aparição também significa o comissionamento de Seus discípulos para espalhar a mensagem de arrependimento e perdão a todas as nações.

Lucas 24 nos convida a refletir sobre o significado da ressurreição de Jesus. Estamos abraçando plenamente o poder da Sua vitória sobre a morte em nossas vidas? Estamos buscando-O no meio da jornada da vida, reconhecendo Sua orientação e presença? Estamos compartilhando fielmente a mensagem da redenção e do perdão de Cristo com outros, conforme encomendado pelo próprio Jesus?

Ao meditarmos em Lucas 24, podemos ficar cheios de admiração e gratidão pela realidade da ressurreição de Jesus. Que possamos encontrar conforto e encorajamento em Sua presença constante ao nosso lado. E que possamos responder à Sua comissão de partilhar as boas novas, sabendo que a mensagem da vitória de Cristo sobre a morte é uma mensagem de esperança e transformação para todos os que creem.

Devocional

24.13-35 dois dos seguidores de Jesus estavam indo... Emaús. Lutos, tristezas, perdas provocam a "saída" física ou emocional (desligar-se): quando a dor nos atinge, a tendência é distanciar; perde-se a comunhão. Os discípulos se afastam. Mas não conseguem esquecer. O distanciamento geográfico não produz alívio para as dores existenciais. Veja o quadro "Enfrentando o luto e perdas" (Jo 11).

24.15 Jesus chegou perto. O Deus Encarnado é também peregrino e nos alcança no caminho da desilusão. Veja o quadro "Emaús — Um modelo de aconselhamento".

24.18    será que você é o único... que não sabe? A tristeza pode gerar discussão e a desilusão pode abastecer a impaciência, irritação, mau-humor e ressentimento: Senhor, Tu não entendeste nada!

24.19    O que foi? A pergunta faz dar uma parada e nos obriga a olhar o que não queremos ver nem perceber. A partir da pergunta de alguém sobre o que nos aconteceu, haverá um relato, ou seja, expressar a dor frente a um ouvinte, que será testemunha do meu sofrimento.

Eles responderam. Os caminhantes fazem um resumo dos acontecimentos. A reorganização interna se dá quando a pessoa conta sua própria biografia. Ao transformar em narrativa os acontecimentos traumáticos, eles são ressignificados. Mesmo que ainda sem entender, no ato de narrar, o caos que tomava conta do universo interno passa a ser ordenado. O fato em si de relatar exige que internamente se dê uma estruturação. Pela catarse, pela fala, ocorre a cura do caos interior. Veja o quadro "Emaús — Um modelo de aconselhamento".

24.21 nossa esperança. As nossas expectativas, idealizações que todos fazem e pelas quais sofrem.

24.25 como vocês demoram a entender. A repreensão não invalida a dor, mas comunica amorosamente uma verdade importante: há um vínculo necessário entre sofrimento e glória, a cruz é uma vitória paradoxal.

24.27 começou a explicar... Escrituras. Veja a importância de haver alguém que se dedique a explicar as Escrituras, andando pelo caminho. Veja o quadro "Emaús — Um modelo de aconselhamento".

24.29 eles insistiram... para que ficasse. O convite a reconhecer o Senhor Jesus: reconhece quem conheceu, quem conviveu. A comunhão na mesa gera aproximação; ao partir o pão, Jesus repete gestos conhecidos, e isto remete a intimidade — e eles percebem quem ele é. Veja o quadro "O valor psicoteológico da Ceia" (Atos 20).

24.31 os olhos deles foram abertos. Abrir os olhos, abrir as Escrituras, abrir o coração: o encontro com o Ressuscitado modifica o coração.

24.33 voltaram para Jerusalém. Voltar para anunciar a Boa-Nova aos outros, estabelecer engajamento e solidariedade. A missão começa no encontro com o Ressuscitado!

24.32 nosso coração queimava dentro do peito. A presença de Cristo é sentida no corpo, numa espécie de "biologia da ressurreição". Essa emoção indica um acordo entre nosso ser mais íntimo (que foi criado pela Palavra da Vida) e a palavra que Cristo nos dirige. A sua palavra desperta em nós nosso modo mais autêntico de ser e de viver. Veja o quadro "Biologia da ressurreição e busca da morte" (Jo 12).

24.35 quando ele havia partido o pão. A Ceia do Senhor é outro momento em que lembramos desse gesto de Jesus. Antigamente chamada de Eucaristia, ela significa "Ação de Graças", ou seja, é uma ação, um movimento. A Ceia do Senhor é um convite para intimidade, para que ele fique conosco; feita "em memória", visa reter, manter junto ao coração. Fica conosco, Senhor! Veja o quadro "O valor psicoteológico da Ceia" (Act 20).

24.36-53 que a paz esteja com vocês! Quando finalmente Jesus aparece para todos os discípulos, vemos seu cuidado em completar e fortalecer-lhes a fé. O primeiro inimigo da fé foi o medo e as imaginações assustadoras, que os faziam pensar que Jesus fosse um fantasma. Isso foi fácil de vencer, porque a ressurreição de Jesus era a mais pura verdade — bastou mostrar as marcas nas mãos e pés. Seguiu-se então um inimigo diferente: uma explosão de alegria e admiração — veja como Lucas nos informa que, por estarem muito alegres e admirados, eles ainda não acreditavam. Ainda não estavam em paz — estava bom demais para ser verdade! Então Jesus comeu um pedaço de peixe diante deles (retomando assim a comunhão, lembrando fisicamente a convivência que tinham antes da crucificação), e a seguir abriu a mente deles para que entendessem as Escrituras Sagradas. Além da experiência pessoal com Jesus, houve uma atenção especial para a base bíblica de tudo que acontecera naquele processo. Logo Jesus não estaria mais fisicamente com eles, e não poderiam só depender de experiências pessoais para manter sua fé. As Escrituras, a Bíblia, continuaria com eles e serviría como comprovação. Mas a realidade confirma e está confirmada: vocês são testemunhas dessas coisas. Os discípulos acompanharam a ascensão de Jesus para o céu, e enquanto esperavam em Jerusalém pela promessa do Espírito Santo, estavam em paz, cheios de alegria e louvando a Deus no pátio do templo. Veja os quadros "Ressurreição, santidade e coragem" (At 3) e "Erros na avaliação de experiências de fé transformadoras" (IPe 1).

Emaús — Um  modelo de aconselhamento
Os discípulos de Emaús estão em crise, muito decepcionados com a morte de Jesus. Muitas vezes também nos sentimos assim, pois nossas expectativas morreram, e estamos decepcionados com a vida, com os irmãos, com o próprio Deus. A crise faz com que os discípulos procurem ajuda e aceitem partilhar o caminho com aquele desconhecido. Aproveitemos os momentos de crise para nos abrir à companhia de Jesus!

A caminhada de Jesus com os discípulos de Jerusalém a Emaús é um belo modelo para ajudar pessoas em crise, e mostra os passos desse acompanhamento.

1. A escuta e perguntas esclarecedoras: Jesus escutou e fez perguntas a eles sobre o que os estava angustiando. Ouvir e perguntar, deixar a pessoa se expressar em suas próprias palavras. Não cortar este tempo, mesmo que já saiba alguma resposta que alivie. É importante que a pessoa possa desabafar e assim aliviar-se. Hoje em dia faltam bons ouvintes — aprendamos com Jesus Cristo!

2. A explanação da Palavra: Jesus explica as Escrituras, mostrando o nexo de todas as coisas — A resposta que ajuda é aquela que estabelece um nexo entre o sofrimento e o plano geral da obra de Deus. Cuidado aqui com exageros — deixemos o Espírito Santo dirigir os nexos que vamos estabelecer, para não fazer falsas conexões. Jesus se baseou nas Escrituras como um todo, e não apenas num trecho ou pequena parte.

3. O convite para aprofundamento: Jesus esperou que eles o convidassem para que ficasse em sua casa: não se impôs, e deixou o outro ditar o ritmo. Mas uma vez feito o convite, ele o aceitou; este também é um problema atual — os conselheiros já não têm tempo para partilhar a mesa e entrar na intimidade com a pessoa sofredora.

4.  A partilha do pão: Jesus reorganiza a vida deles a partir da mesa: eles o reconhecem nos gestos, e reconhecendo a ele, também já não têm dúvidas sobre a própria identidade — são discípulos que, encorajados, voltam a Jerusalém.

5.  O desaparecimento: Jesus Cristo pode desaparecer, pois agora eles estão curados da sua dor. Saber quando é tempo de sair de cena, tempo de deixar o outro tomar as decisões e as atitudes por si. Não criar dependência de si, mas de Deus!

6.  Ressignificação: "nosso coração queimava dentro do peito" — o passado é revisto e ganha outros contornos — aquilo que era obscuro torna-se claro na presença do Cristo ressuscitado. Esta é nossa esperança: nosso ser inteiro já "arde", mesmo que não saibamos tudo enquanto andamos. Deixar que na escuridão da vida este "arder do peito" se torne a esperança de um dia compreender melhor, de um dia ter "toda lágrima enxugada por ele" (Ap 21.4).