Estudo sobre Romanos 12:3

Romanos 12:3

Como primeiro e mais sério exemplo de conformação com o mundo, Paulo trata de extrapolações por parte dos portadores de funções. Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um (que é algo) dentre vós. Nossa interpretação sugere que “ser”, nessa passagem, não seja entendido palidamente como mero pertencer à igreja, mas como uma participação qualificada. As exortações estão sendo endereçadas àqueles que encontraram uma área de tarefas na igreja domiciliar e que também demonstraram possuir um dom para ela. A subseqüente relação de portadores de dons confirma essa visão. Ao colaborador está sendo dito, portanto, que não pense de si mesmo além do que convém. Ele não deve tentar expandir-se além de um limite que lhe é colocado, não violar um “convém”17. Nesse ponto o sim à vontade de Deus segundo o v. 2 entra no jogo. Pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Falar da medida pressupõe que diferentes proporções de fé foram distribuídas cada um pelo, note-se bem, próprio Deus. Ou seja, não se deve ter em mente agora a fé na salvação, pois nela Deus não produz diferenças: “um só Senhor, uma só fé” (Ef 4.5). Tampouco tem-se em vista diferenças na intensidade da disposição de confiança pessoal em Deus, pois tais coisas são decorrentes da lerdeza ou fidelidade humanas. Pelo contrário, esta difícil expressão parece ter sido entendida no mesmo sentido de “proporção do dom” ou “justa cooperação” (Ef 4.7,16; cf 1Co 7.7; 1Pe 4.10). Do ponto de vista do Doador trata-se de dádivas da graça, mas do ponto de vista do receptor trata-se de dádivas da fé, destinadas a todos os que crêem. Sob esse aspecto os membros da igreja também podem e devem realizar funções diferentes. Cabe-lhes tomar consciência dessas decisões insondáveis de Deus. É assim que seu comportamento se torna refletido e também comedido. Do contrário, o “culto racional” do v. 1 perde sua sensatez. Pois duas formas de conformação com o mundo seriam imagináveis. Primeiro, um detentor de carismas não preenche a sua medida. Ele é lerdo (v. 11), não assume sua responsabilidade, ou anula-se pessoalmente em discordância com 1Co 15.10: Não sou nada, não sei fazer nada, também não espero nada. Segundo, outro vai além do que tem, sabe e deve, enche-se, estica-se, sobrecarrega-se, avança sobre papéis de terceiros, corre ridiculamente atrás de personagens ideais que não combinam com ele. O pior, porém, é: quando um começa com esse comportamento, logo é seguido por outro e, no final, por muitos. O culto a Deus torna-se uma competição entre portadores de dádivas, ineptos para a vida eclesial. A igreja é tirada do equilíbrio. Em decorrência, o seu verdadeiro potencial fica ocioso.

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