Estudo sobre Romanos 12:2
Estudo sobre Romanos
Romanos 12:2
Até agora falava-se como se o que crê vivesse sozinho numa relação a dois com Deus. Contudo ele vive no triângulo eu – Deus – mundo. Sob esse aspecto o chamado para uma vida agradável a Deus somente pode ser: E não vos conformeis com este século, “não se amoldem ao padrão deste mundo” (nvi). O cosmos, uma vez criado belo e bom, não é mais um mundo sem problemas submetido a Deus. Um “deus deste século” anuvia o espaço, obscurece a claridade originária da existência (2Co 4.4). Por isso falta a visão nítida. Para o ser humano obcecado, o sentido da vida se reduz à satisfação de suas pulsões (Rm 6.12; 7.8; 13.14). Como ela requer dinheiro, a corrida pelo lucro está em primeiro plano, ou seja, a corrida por boas notas para assegurar uma posição vantajosa. É por ela que as pessoas precisam lutar, para depois garanti-la e defendê-la, guiadas por busca de poder e ávidas por honra. Nessa situação, demasiadas vezes a comunhão se revela como um egoísmo organizado coletivamente. Porém falta no fundo a visão para o todo, a responsabilidade pelo conjunto, o envio pelo todo. Há apenas o soturno grito: Afinal, eu quero ser feliz! Contudo, o ser humano médio pensa que é compreendido corretamente por esse esquema de vida. É por isso que o ser humano o impõe de boa fé aos demais, também aos cristãos. Contra essa expectativa vale aqui: não se conformem!
No entanto, o não conformar-se não é nutrido apenas pelo dizer não. Por isso a continuação: transformai-vos, deixem-se transformar pela renovação da vossa mente (“maneira de vocês pensarem” [vfl]). Trata-se de um agir no sentido de que deixamos algo acontecer conosco. Ou inversamente: algo deve suceder conosco, algo que também desejamos pessoalmente. É nova criação que devemos experimentar. Devemos continuamente inserir nossa mentalidade na novidade que está em andamento (Rm 13.12), a fim de nos expormos ao poder de configuração do Espírito de Jesus na oração e na obediência da fé (2Co 3.18). A nova existência não existe em estoque. Temos de ser chamados continuamente à razão e inseridos para dentro do novo: dia após dia, de situação em situação.
Finalmente Paulo mostra essa mentalidade que se encontra em constante renovação em ação: para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Praticar a vontade de Deus é, no NT, a essência do ser cristão. Na presente passagem, ela é chamada de “a boa”, um termo que retoma textos marcantes do AT e que fornece, no que se segue, várias vezes o padrão da atuação. Entretanto, também para os cristãos “o bem” nem sempre é imediatamente perceptível. Uma vida cristã ingênua correria o perigo de ser assimilada. Muitas vezes é impossível decifrar a situação, muitas vezes o seu poder conformador cai sobre nós antes que o percebamos. É por isso que Paulo exige e deseja em sua carta um cristianismo que verifica criticamente: “Examinem qual é a vontade de Deus, a boa e agradável e perfeita”. Com frequência é preciso descobrir o que é bom, investigá-lo criticamente, se possível num esforço comunitário. A reflexão também faz parte da releitura (a saber, na Bíblia). “Entende o que está lendo?” (At 8.30 [nvi]). Nosso versículo adverte contra o “esquema desse mundo”, mas não oferece em troca um esquema cristão, e sim a intenção de examinar e de aprender permanentemente para descobrir a vontade de Deus. “Aprendei de mim!” (Mt 11.29).