Estudo sobre Romanos 14:13-14
Estudo sobre Romanos 14:13-14
Romanos 14:13-14
De forma um tanto incisiva Paulo solicita aos fortes que dirijam seu potencial crítico a um alvo completamente diferente: Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão. Na Bíblia, os conceitos “tropeço” e “escândalo” possuem um alcance terrivelmente profundo. Paulo não está pedindo, p. ex.: não irriteis vosso irmão, não provoqueis seu desgosto!, mas conforme o v. 15: não sejais para ele motivo de perdição (“destruição [nvi])! Também Lutero ainda conferia a “irritar” o sentido original: levar alguém ao mal, à ira, deixá-lo à mercê dessa força maléfica. Cabe nesse contexto a censura de Jesus em Mt 23.15: primeiro vocês desenvolvem máximo empenho missionário, a fim de salvar uma única pessoa, depois, porém, vocês se arrogam o direito de tratar a pessoa salva de maneira a torná-la “filho do inferno”.
Para prevenir mal-entendidos, segue-se uma inclusão: não se abre mão de nenhuma verdade bíblica! Onde estiver muito baixo o nível de verdade aferido, ou onde ela é apresentada empacotada em tanto algodão macio que não se sente mais o seu cerne, as declarações de amor se tornam ocas. Por isso, nessa carta pública Paulo esboça sua posição perante os ouvidos dos “fracos” de forma inequívoca. Ele emprega diversas vezes a introdução Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, mas nas demais vezes sem o adendo “Jesus” usado aqui. Evidentemente, ao dizer: nenhuma coisa é de si mesma impura, ele está se reportando ao sentido de uma afirmação do Senhor quando esteve na terra. Há semelhança com Mc 7.19c: “Ao dizer isto, Jesus declarou ‘puros’ todos os alimentos” (nvi). A comida faz parte das coisas naturais obtidas da mão de Deus (1Co 10.26). Consumida com ação de graças (v. 6), ela é pura. Contudo, assim está também estabelecida a exceção: salvo para aquele que assim a considera (impura) e que por isso também não agradece, para esse é de fato impura. A expressão grega traduzida aqui por “considerar” proíbe que se encare os escrúpulos dos “fracos” de forma leviana. É imenso o poder da tradição, da educação e do costume. Dn 1.8 e, de forma mais chocante, a história arrasadora de 2Macabeus 6.18-21 possibilitam uma percepção dessa atitude de espírito: melhor morrer que comer isso que foi proibido! De fato, Jesus havia dado a seus discípulos programa livre em relação aos alimentos. Mas entre nós seres humanos um programa ainda não significa prática sem mais nem menos. Não se exigia apenas ensinamento intelectual, também uma transformação da alma. At 10,11 evidenciam que até foram necessárias revelações adicionais “do céu” (At 10.11,16; 11.5,9). Mesmo no círculo mais íntimo dos discípulos, a fé no senhorio de Jesus se mesclou com descrença (Gl 2.13). Sentimentos de medo impeliam de volta ao recinto protegido de antigas e poderosas tradições. Sendo, porém, o ser humano um ente integral, é possível que diante dos “fortes” lhe faltem os argumentos, que ele exteriormente até ceda, mas isso não quer dizer nem de longe que interiormente ele esteja concordando com eles.
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Romanos 14:13-14