Estudo sobre Romanos 4:4-8

Romanos 4:4-8

O texto de Gn 15.6 desconhece a ideia de creditar contraprestações humanas. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor (segundo a graça), e sim como dívida. Pois nessa hipótese estaria no comando a conta dos méritos, que sobe cada vez mais, até permitir a leitura do resultado, a soma da “justiça”, que pode ser quitada. Para Paulo, porém, vigora a graça, muito em consonância com Rm 3.24; 11.5,6.

Portanto, resta apenas a justiça por fé. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. O patriarca está sendo contado, sem que seja dito expressamente, entre as pessoas sem Deus. Talvez a intenção de Paulo também seja apontar para a descendência gentílica de Abraão. Em todo caso ele desafia incrivelmente a interpretação judaica de Abraão, sim, ele afronta inicialmente qualquer percepção tradicional de direito. Reside nisso um dilema, que será solucionado só no final do capítulo (cf também o exposto sobre 3.26), mas que agora estava sendo sentido como tal.

Outra prova dessa imputação divina procede da segunda parte da Escritura: E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado. Essa citação também se alinha, por meio do termo “imputar”, ao versículo de Gn, formulando em conceitos claros algo que lá já estava indicado, embora ainda não expressamente. No âmbito da linguagem juridicamente precisa da doutrina da justificação ressoa, assim, que Deus perdoa e encobre, atualizando assim a plenitude do amor pessoal (cf 5.5; 8.35,37,39). Não é uma bitola estreita que está determinando: a justiça não desloca o amor, e o amor não desloca a justiça. Deus é Pai, também quando é juiz. Com isso Paulo está novamente em consonância com os profetas do AT. Naqueles contextos, o perdão é mais que tranquilizar consciências em casos individuais, é ajuda fundamental, é incisão histórico-salvífica, que transfere para bases totalmente novas o relacionamento com Deus por parte de um povo todo. Também a comunidade cristã constitui, como para Jesus assim também para Paulo, uma comunhão de culpa e perdão.

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Romanos 4:4-8