Estudo sobre Romanos 4:9-12
Romanos 4:9-12
Conforme os rabinos, a bem-aventurança do salmo citado vale unicamente para Israel. Porém Paulo preserva a ligação com a passagem acerca de Abraão. Vem, pois, esta bem-aventurança exclusivamente sobre os circuncisos ou também sobre os incircuncisos? Visto que dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça. Consideremos, pois, a biografia de Abraão: Como, pois, lhe foi atribuída? Estando ele já circuncidado ou ainda incircunciso (“no prepúcio”)? Mesmo segundo cálculos rabínicos, sua circuncisão (Gn 17.11) ocorreu 29 anos após Deus tê-lo declarado justo em Gn 15.63. Apesar disso, deve ter sido difícil para os judeus, com a dogmática que tinham, ouvir como Paulo expressa esse fato laconicamente: Não no regime da circuncisão, e sim quando incircunciso (“no prepúcio”). Afinal, isso não significava outra coisa senão que: Deus aceitou Abraão quando ele ainda não era judeu.Qual era, então, a relação da circuncisão posterior de Abraão com sua justiça mediante a fé? E recebeu o sinal (a saber, o) da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso. Em 3.1 a circuncisão já ocupava o pensamento de Paulo, porém só como designação substitutiva para o judaísmo. Agora, porém, Paulo aponta para a marca física em si, para essa intervenção cirúrgica no órgão sexual masculino. O que significava esse ato para Abraão, que há muito estava ligado a Deus? Por meio dele Deus lhe concedeu um sinal. É preciso enfatizar: para ele pessoalmente! Por se tratar de uma marca na esfera íntima, não se prestava para ser uma marca de confissão diante dos olhos de estranhos, mas representava a confirmação para ele próprio e sua família. A circuncisão foi para ele um selo da justiça por fé. Deus certificou-lhe dessa maneira que o tinha escolhido e que verdadeiramente o retirara da vida gentia e sem Deus (v. 5) para dentro da comunhão com ele. Dessa forma, a circuncisão não efetuou a sua justificação perante Deus, mas exatamente a pressupôs. Ou seja, o ato tem um significado, mas não de salvação.
Deus conduziu Abraão dessa maneira, para que se torne figura originária de uma comunidade universal da salvação. Em vez de começar com “primeiro os judeus” Paulo começa dessa vez com os gentios, porque ele agora segue a ordem cronológica da vida de Abraão: para vir a ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça (mediante a fé). Abraão viveu os primeiros anos no estado de incircuncisão, mas depois também como circuncidado, de modo que (fosse igualmente) pai da circuncisão, e o fosse na fé: isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam (em consonância com) nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado (quando era “prepúcio”). O destaque simétrico dado à fé traz à memória 11.23: Judeus podem ser novamente enxertados na oliveira que brota da raiz Abraão, “se não permanecerem na incredulidade”. Quem for tão-somente circuncidado não é o que era Abraão. Ainda não recebeu a mesma bênção que ele. Não basta ter Abraão somente como “pai segundo a carne” (4.1). O contingente natural do povo não coincide com o povo da bênção. Paulo já o indicou em 2.28,29 e o exporá amplamente em 9.6-13. Decisiva é a fé de Abraão, não sua circuncisão, muito menos o fato de ser incircunciso.
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Romanos 4:9-12