Estudo sobre 1 Coríntios 3:4-6
Estudo sobre 1 Coríntios 3:4-6
“Pois, quando alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não sois (meramente) humanos?” [tradução do autor]. Mais uma vez Paulo retorna às contendas na igreja. Somente agora todo o seu peso torna-se claro. Agora ele consegue desvelar seu motivo mais profundo. Apesar de toda a aparente sublimidade e magnitude de sua vida eclesial revela-se que os coríntios de fato continuaram sendo “meramente humanos”. E em vista disso tornaram-se, de pessoas “carniformes” que já eram, verdadeiras pessoas “carnais”, pois agora procedem “de maneira humana”. Até mesmo como cristãos ainda preservam sua natureza humana e assim a solidificam de forma perigosa.
Por causa disso também fica condenada sua busca de sabedoria. Almejam aquela sabedoria impressionante, que permite que se continue sendo interiormente a velha pessoa e viver sem problemas em ciúme e discórdias. Em Corinto não está em questão uma heresia por trás dos “partidos”, que foi investigada em vão. A heresia aparece no máximo no caso dos que negam a ressurreição em 1Co 15. Em todos os demais capítulos é constantemente a natureza carnal que engendra as diversas mazelas91.
Paulo também seria igualmente “humano” se agora tivesse a reação humana natural a esses casos, alegrando-se com seus adeptos, ouvindo com satisfação a declaração “Eu sou de Paulo” e olhando com ciúmes para os que seguem a Apolo. Mas o Espírito Santo e a “mente de Cristo” lhe dão uma visão bem diferente. Paulo e Apolo – já não fala de Cefas porque este não tinha um relacionamento duradouro com a igreja em Corinto – não são “senhores”, a quem as pessoas “pertencem”, mas “servos por meio de quem crestes” e, consequentemente, entrastes na comunhão salvadora com Cristo. E até mesmo esse “serviço” eles não o desempenharam por si mesmos, sendo completamente dependentes das dádivas do Senhor. Realizaram-no “conforme o Senhor concedeu a cada um”.
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Como a humildade e a grandeza foram conjugadas por Paulo na presente frase! Ser e querer ser tão-somente “servo” constituem o contraste completo com a maneira de ser do “humano”. É essa a “mente de Cristo” (1Co 2.16), a mente daquele que “não veio para ser servido, mas para servir e entregar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28). Como em tantas ocasiões nas suas cartas, constatamos mais uma vez como Paulo vive na palavra do “Jesus histórico”. Ele faz isso de maneira tão profunda e cabal que nem precisa mencioná-lo expressamente, revelando-o diretamente em toda a sua atitude. Contudo, a vida se torna ao mesmo tempo grandiosa através de um serviço assim! Pessoas são trazidas à fé, geram-se frutos para a eternidade.92
Pelo fato, porém, de que o serviço sempre acontece assim como “o Senhor concedeu a cada um”, o serviço e seu sucesso são diferentes. “Eu plantei, Apolo regou.” Por meio dessa ilustração Paulo não está dizendo que somente ele conquistou pessoas para Jesus e que Apolo apenas lhes teria dedicado cuidado e incentivo. Paulo acabara de designar também Apolo como “servo por meio de quem crestes”. O olhar de Paulo recai sobre a igreja como um todo, não sobre os indivíduos que chegaram à fé. Para a igreja como tal, Paulo era e continuava sendo aquele que a “plantou” pela primeira vez. Depois veio Apolo e “regou”, de modo que a igreja cresceu visivelmente e aumentou pela conquista de novos membros. Mas Paulo selecionou os termos com muita ponderação. A intenção não foi apenas caracterizar a diferença do serviço, mas acima de tudo ressaltar: se a fé aconteceu por meio de nosso serviço, nesse empenho nós apenas fomos capazes de “plantar” e “regar”, “mas quem fazia crescer era Deus” [teb].
Índice:
1 Coríntios 3:4-6
Notas:
91 Por mais vital que seja a contraposição entre “sã doutrina” e “heresia”, o zelo excessivamente concentrado na sã doutrina e no combate às heresias não deixou de ser um grave dano para as igrejas oriundas da Reforma. Não deram atenção àquilo que importava para Paulo com vistas à vida eclesial em Corinto, a saber, o contraste entre a maneira carnal e espiritual. Contudo, é em nossa convivência que se discerne a realidade e a autenticidade de possuirmos o Espírito ou não.
92 Também nós somos dignos de um serviço assim, também por nosso intermédio pessoas devem ser levadas a crer. Como permanece vazia a vida de um pregador quando isso não acontece em seu ministério!