Estudo sobre 1 Coríntios 3:7-9
Estudo sobre 1 Coríntios 3:7-9
Pois ninguém é capaz de criar vida, e ainda mais vida de fé, vida divina. Somente Deus é capaz de fazê-lo. “De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.” Como em 1Co 1.26ss, somos novamente remetidos à questão do “ser”. Não apenas os simples membros da igreja em Corinto, mas também os grandes emissários de Jesus, como Paulo e Apolo, não “são nada” (cf. acima, p. 32s). Não conseguem realizar nada decisivo. Somente Deus, que faz crescer, “é” alguma coisa. Ainda assim, a partir desse Deus também os mensageiros têm uma importância que, por estar fundamentada unicamente em Deus, é a mesma para os que “plantam” e para os que “regam”.
Consequentemente, Paulo prossegue: “O que planta e o que rega são um”, cada qual igualmente necessário, cada qual dependendo das dádivas e da ação do Senhor. Ninguém consegue dizer qual obra é maior: Ser o primeiro a fundar uma igreja num local como Corinto ou simplesmente mantê-la viva e expandi-la numa cidade como Corinto. O próprio Deus precisa fazer tanto uma como outra coisa. Ciúme entre os que “plantam” e “regam” e ciúme na igreja entre os que seguem a um ou ao outro são completamente equivocados e desconhecem a verdadeira realidade. Ambos “são um”, razão pela qual também podem ser “um” em conjunto e para a igreja.
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Obviamente existe “salário” para os servos. O NT inteiro não deixa dúvidas de que o Senhor paga “salário” a seus servos.93 No entanto, o fato importante é: esse “salário” não se baseia no “sucesso” do trabalho, mas no seu “esforço”. Afinal, o “sucesso” sempre é “fruto”, que nós não conseguimos produzir de forma nenhuma, mas somente “Deus que dá o crescimento”. Por conseguinte, tampouco podemos ser recompensados por ele, mas “cada um receberá o seu próprio salário de acordo com seu próprio esforço laboral” [tradução do autor]. A palavra “trabalho” possui aqui – como em toda a Bíblia, tão realista – o sentido de “esforço”. O verdadeiro trabalho nunca é simplesmente divertimento, nem mesmo o trabalho “espiritual”, o serviço à igreja de Deus. Ela precisa de um empenho árduo e cansativo de energia. As cartas dos apóstolos nos mostram de forma bem palpável como é esse “esforço laboral”, e que a abundância de lutas, mágoas, decepções e reveses acompanha o serviço, apesar de toda a alegria. Paulo está convicto: “Trabalhei muito mais do que todos eles” (1Co 15.10). Justamente aos coríntios, que gostavam do deleite espiritual, ele descreve de modo muito sério o que significa “trabalho” apostólico (1Co 4.6-13). Pela medida desse trabalho é medido o salário. Contudo, não é a igreja que paga o salário de acordo com sua benevolência ou não, e sim o Senhor.
“Porque de Deus somos cooperadores.” De fato acontece algo semelhante ao que acontece no jardim. Não temos o poder de “fazer crescer” nada. Não obstante, ele também não crescerá sem nós. Deus é o grande “trabalhador”. Mas, por causa de seu amor, desde a criação ele deseja ter o ser humano como “cooperador” (cf. Gn 1.28; 2.15). Ele nos quer como colaboradores também na obra maior que está criando, o surgimento e crescimento da “igreja de Deus”.
Nesse ponto foi expressa uma verdade viva que, por ser “viva”, é necessariamente contraditória e não se deixa enquadrar num sistema rígido. Por isso estamos constantemente em perigo de distorcê-la para um ou outro lado. Poderosamente repercute pela sucinta frase de Paulo: “cooperadores de Deus, lavoura de Deus, edifício de Deus.” Ai do ser humano que pensa ser pessoalmente capaz de “criar” algo com seu empenho e com seus métodos, antigos e modernos! Isso será punido pela impotência e inutilidade de todos os esforços. Somente na mão de Deus as ferramentas são alguma coisa. Em sua mão até mesmo as ferramentas mais precárias e inúteis do ponto de vista humano podem realizar coisas grandiosas.94 Igualmente errada, porém, é a doutrina da “ação exclusiva de Deus”, que não leva a sério a palavra dos “colaboradores”. Quanta aflição e impotência existem no cristianismo porque Deus procura em vão por “cooperadores”! Nossa dogmática perfeita com seu ensino sobre a “ação exclusiva de Deus” pode ser, de forma inconsciente e até consciente, um “abrigo” no qual nos protegemos contra o chamado e a intervenção de Deus em nossa vida. “Lavoura de Deus, edifício de Deus” – Justamente pelo fato de estarmos realizando nosso serviço aqui na propriedade de Deus cumpre-nos o empenho máximo e o esforço laboral voluntário.
Índice:
1 Coríntios 3:7-9
Notas:
93 Quem rejeita a “ideia do mérito” como inferior perde-se em alturas idealistas e a qualquer instante perceberá que de fato se “perdeu”.
94 Constantemente a fidelidade de Deus, que não rejeita os “colaboradores”, é para nós motivo de adoração e consolo, pois ainda que fracassemos tantas vezes, nos mantém em seu serviço, glorificando seu poder divino justamente pelo fato de chegar ao alvo apesar de nossos fracassos.