Agricultura — Enciclopédia da Bíblia Online
AGRICULTURA
No uso bíblico, “agricultura” designa o conjunto de práticas de preparo do solo, cultivo de plantas e criação de animais domésticos para alimentação e outros fins (fibras, óleo, vinho, medicina, combustível). A Bíblia não usa um termo técnico único e abstrato para “agricultura”, mas fala de lavoura (hebr. ʾădāmāh, “terra cultivada”; 2Cr 26:10), de campo (hebr. śādeh), de lavouradores e vinhateiros (Gn 9:20; Mt 21:33-41; Jo 15:1), e, no grego do NT, de trabalho agrícola (geōrgion; 1Co 3:9) e lavradores (geōrgoi).
O vocabulário hebraico distingue ainda grão (dagān), vinho (tîrôš / yayin) e azeite (yiṣhār / šemen) como tríade econômica de base (Dt 7:13; Dt 11:14; Sl 104:15), ao lado de cevada (śĕʿōrāh), trigo (ḥiṭṭāh), linho (pištāh), leguminosas (lentilhas ʿădāšîm, favas pôl), hortaliças (yārāq), frutíferas (videira gefen, oliveira [zayit], figueira [tĕʾēnāh], romã [rimmôn], tamareira [tāmār]).
No plano técnico, aparecem termos operacionais como arar (ḥāraš), semear (zāraʿ), ceifar (qāṣar), debulhar (dāraš/dāyish), joeirar (zārāh), além de ferramentas e instalações: trilho de debulha (môrāg), raspador/grade de corte (ḥărūṣ), pá de joeira (raḥat), forcado (mizreh), peneira (kĕbārāh), eira (gōren), lagar (gat), prensa e torre de vigilância (migdal) nos vinhedos (Is 5:1-2; Rt 3:2; Am 9:9; Is 30:24).
I. Panorama e comparações regionais
Estudiosos concordam que a agricultura é fundamental para a civilização, pois permite ao agricultor produzir alimentos excedentes, liberando outros para ocupações especializadas e especialização em profissões (cf. Gn 4:2; 9:20; Is 28:26). A maioria dos povos bíblicos era caracterizada pela agricultura, acompanhada de civilização. A agricultura de Israel estava intimamente relacionada à praticada pelos povos do Antigo Oriente Próximo. As colheitas produzidas, com ênfase em grãos de cereais, eram aquelas comuns ao Crescente Fértil (Dt 8:8; Sl 104:14–15; Jl 2:19). Da mesma forma, os animais domesticados, com múltiplos usos para carne, leite, lã, montaria ou tração, eram compartilhados com os vizinhos de Israel (Gn 12:16; 13:2–5; Pv 27:23–27; Dt 25:4). Fatores ecológicos causaram variações no padrão e na ênfase na Terra Santa, com certas adaptações refletidas nas técnicas e na produção (Dt 11:10–14; Sl 65:9–10).
Sem dúvida, os hebreus observaram a agricultura egípcia, com seu ciclo anual de atividades correlacionado ao ritmo das cheias do Nilo. Embora fossem um povo pastoril durante a permanência no Egito (Gn 47:6), os hebreus devem ter se familiarizado com o sistema agrícola baseado na irrigação natural e artificial para a produção de grãos, frutas e vegetais (Dt 11:10). Ao ocupar a Terra Prometida, o povo reconheceu as plantações, mas necessariamente adotou os métodos agrícolas cananeus na transição do pastoreio para a agricultura (Dt 6:10–11; Js 24:13; Is 5:1–2).
Os hebreus também conheciam os métodos agrícolas mesopotâmicos por meio de contatos culturais que acompanhavam o comércio e a conquista. O padrão ecológico no Vale do Tigre–Eufrates diferia do Vale do Nilo, pois as inundações mesopotâmicas eram erráticas e desastrosas, com consequente controle de inundações e um extenso sistema de canais para irrigação. J. A. Wilson e T. Jacobsen (em FRANKFORT, et al., The Intellectual Adventure of Ancient Man, 1946) sugerem essas diferenças entre o Egito e a Mesopotâmia e o efeito ecológico nas visões de mundo das duas civilizações. No entanto, ambas as terras produziam colheitas semelhantes, especialmente grãos, por irrigação. Os israelitas cultivavam as mesmas colheitas, mas não podiam empregar as mesmas técnicas de irrigação no complexo de colinas e vales da Terra Santa (Dt 11:11–12), onde a dependência recai sobre “chuvas a seu tempo” e orvalho (Dt 11:14; Gn 27:28; Dt 33:28).
II. Síntese histórica
O exame da agricultura na Bíblia envolve o problema das origens. A maioria dos estudiosos conclui que a agricultura teve início no Oriente Médio (BRAIDWOOD, The Near East and the Foundations for Civilization [1952]). O tipo era a agricultura de campo, com produção de grãos por meio de arados e animais de tração. É claro que outros tipos de produção de alimentos surgiram posteriormente em áreas como o Sudeste Asiático e a Mesoamérica. O problema não é o local de origem, mas se os seres humanos se dedicaram à agricultura desde o início ou se ganharam a vida por outros meios.
Este estudo da agricultura bíblica permite apenas uma breve consideração desta questão negligenciada, mas a suposição do autor é aceitar declarações bíblicas, ao mesmo tempo em que sugere que os dados arqueológicos são incompletos e suscetíveis a interpretações variadas. Ao examinar as primeiras visões, descobre-se que os escritores cristãos tinham pouca preocupação com a vida econômica primitiva do homem. A partir de uma síntese das tradições hebraica e grega, Tertuliano propôs que a humanidade subsistia de grãos e frutas antes do dilúvio. Essa ideia prevaleceu entre os líderes da igreja que acreditavam que o homem se tornou carnívoro (na verdade, onívoro) após o dilúvio. Novaciano, no século III, concordou, afirmando que a dieta do homem era composta de frutas antes da queda, mas depois se tornou onívora com grãos e carne. Agostinho modificou um pouco essas noções, insistindo que Adão praticava agricultura e que esta não era uma atividade onerosa, mas sim altamente cooperativa (BOAS, Essays on Primitivism and Related Ideas in the Middle Ages [1948], pp. 17-18, 50).
Essas visões tornaram-se tradicionais entre os cristãos, apesar da opinião cada vez mais popular de que, após uma fase de caça, as pessoas se voltavam para a pastorícia e, finalmente, para a agricultura. No final do século XIX, um estudioso alemão, Georg Gerland, opôs-se à noção amplamente aceita, observando que “a agricultura foi a ocupação original da humanidade: a sequência tradicional de fases – caçadores, nômades e agricultores –, portanto, não representa o desenvolvimento original. A humanidade era originalmente indiferenciada e, naquele período, era um povo agrícola. Grupos posteriores se fragmentaram e, forçados pela necessidade de sobreviver, alguns se tornaram caçadores, outros gradualmente se transformaram em nômades” (KRAMMER em Geography Review 57 [1967]: p. 80).
Gerland, portanto, oferece uma pista para responder à questão levantada pela alegação da arqueologia de que os primeiros humanos eram caçadores. Reconhecendo o julgamento divino sobre a humanidade e o meio ambiente após a Queda, não é surpreendente que as pessoas tenham abandonado os escassos rendimentos agrícolas em favor dos produtos relativamente mais fáceis da caça. Isso parece explícito na pena imposta a Caim pelo assassinato de seu irmão: “Agora você está sob maldição e expulso da terra, que abriu a boca para receber das suas mãos o sangue do seu irmão. Quando você cultivar a terra, ela não dará mais o seu fruto para você. Você será um vagabundo inquieto sobre a terra” (Gn 4:11-12). Que a caça assumiu importância é evidente no prestígio concedido a Ninrode: “Cuxe foi o pai de Ninrode, que se tornou um guerreiro valente na terra. Ele foi um caçador valente diante do Senhor; por isso se diz: ‘Como Ninrode, um caçador valente diante do Senhor’” (10:8-9).
Quando o homem primitivo se voltou para a caça, ele possivelmente esqueceu a agricultura e a pastorícia, ou pelo menos elas se tornaram insignificantes em sua vida econômica, especialmente em ambientes adversos nas latitudes mais altas. Tanto plantas quanto animais degeneraram para um estado “selvagem” sem a atenção humana e a reprodução seletiva. Há exemplos históricos desse processo, como quando os espanhóis introduziram o cavalo na América; alguns escaparam para formar rebanhos selvagens no oeste americano. Em relação às plantas domesticadas, os botânicos concordam que, sem a atenção humana, elas degenerarão devido à heterozigosidade na estrutura genética e à mutação. “A deterioração do desempenho se manifesta assim que a seleção humana declina ou cessa” (SCHAWANITZ, The Origin of the Cultivated Plants [1966], p. 192).
Uma conclusão razoável, portanto, é que as evidências da agricultura e da pastorícia primitivas, limitadas a uma população muito pequena, se perdem para o arqueólogo. Somente após um lapso de tempo considerável os fatores se uniram para permitir que as pessoas redescobrissem as vantagens da produção de alimentos por meio do cuidado com plantas e animais. A transição para a agricultura e a pastorícia e seu desenvolvimento se generalizaram, com evidências suficientes para que o pré-historiador postulasse o Neolítico.
A. Do Éden aos patriarcas e a passagem pastoral-agrária
A narrativa bíblica situa a atividade agrícola com precisão no princípio da história humana: cuidado do jardim (Gn 2:15), lavoura do solo (Caim) e pastorícia (Abel) (Gn 4:2-4), viticultura com Noé (Gn 9:20). Nos patriarcas, predomina a agropastorícia (rebanhos móveis com cultivos pontuais: trigo, cevada, hortas), em contato com centros agrícolas estabelecidos (Gn 13:10). A experiência egípcia expõe Israel a um sistema de irrigação regular (inundação do Nilo), hortas intensivas e cerealicultura robusta (Ex 9; Nm 11:5; Dt 11:10), distinta do regime pluviométrico da terra montanhosa de Canaã. Com a instalação em Canaã, a economia torna-se majoritariamente agrária, aproveitando campos já cultivados, vinhas e olivais existentes (Dt 6:10-11; 8:6-9), adaptados a um mosaico de colinas, vales e planícies. Durante a monarquia, a agricultura fornece a base fiscal (dízimos, tributos em espécie), alimenta comércio de excedentes (grão, óleo, vinho) e sustenta obras de conservação (terraços, cisternas). A legislação agrária (marcos, pousio, resgate de terras, proteção do pequeno proprietário) visa impedir a concentração predatória de glebas e a erosão social (Lv 25; Dt 19:14; Is 5:8). Crises de seca (o maior inimigo do agricultor), pragas (gafanhotos), mofos e guerras são fatores recorrentes de colapso produtivo (Jr 14:1-6; Jl 1-2), enquanto anos de abundância são lidos teologicamente como bênção do Senhor (Dt 11:13-17). Esses testemunhos bíblicos são o pano de fundo literário para uma transição mais ampla documentada pela arqueologia do Antigo Oriente: a fixação humana, com domesticação de plantas e animais, foi decisiva para o surgimento de aldeias permanentes e, mais tarde, cidades (BUTZER, Environment and Archaeology, 1971; FLANNERY, The Origins of Agriculture, 1973).
B. Neolítico do Antigo Oriente e domesticação
A maioria dos arqueólogos, antropólogos e pré-historiadores defende que a pré-história humana é uma série de desenvolvimentos culturais comumente rotulados como Paleolítico, Mesolítico e Neolítico. Durante as eras Paleolítica e Mesolítica, o homem era caçador e coletor (ALBRIGHT, From the Stone Age to Christianity [1957]). A agricultura e a criação de gado tiveram início durante o Neolítico, há cerca de 10.000 anos. A maioria dos pré-historiadores aceita a interpretação da evidência de que o homem primitivo abandonou gradualmente sua dependência de caça e plantas selvagens em uma transição para a produção de alimentos a partir de formas domesticadas. Nesse esquema, a cultura natufiana na Palestina é apresentada como evidência da transição (BRAIDWOOD, et al., Courses toward Urban Life [1962], pp. 132-64). A questão é: os humanos eram originalmente caçadores ou agricultores? A revolução agrícola do Sudoeste Asiático antecede o período bíblico e estabelece a base técnica e biológica herdada por Israel. Os primeiros cultivos domesticados foram cereais (cevada de duas fileiras; trigos emmer e einkorn) e leguminosas (lentilhas, ervilhas), confirmados por macrorestos e análises de sítios do Neolítico (RENFREW, 1973, Paleoethnobotany: The Prehistoric Food Plants of the Near East and Europe, pp. 30-81; ZOHARY & HOPF, Domestication of pulses in the Old World, 1973). Os frutíferos — oliveira, videira, tâmara, romã, figueira — foram domesticados bem mais tarde, por volta de 4000 a.C., e passam a estruturar paisagens de pomares e terraços que se tornarão emblemáticos da “terra de cereal, vinho e azeite” (Dt 8:8; STAGER, Palestine in the Bronze and Iron Ages: Papers in Honour of Olga Tufnell, 1985b). No plano zootécnico, ovinos e caprinos estão entre os primeiros animais domesticados e permanecem centrais na economia camponesa (Gn 13:2; 26:14; NISSEN, The Early History of the Ancient Near East, 1988, pp. 24-27). A domesticação do camelo é posterior, com expansão no trânsito entre o fim da Idade do Bronze e o Ferro; sua presença como animal de carga nos relatos de Gideão coaduna-se com a evidência material, enquanto menções patriarcais mais antigas são vistas como anacrônicas à luz dos dados arqueozoológicos (Jz 6:5; 7:12; 8:26).
C. Tradições egípcias e mesopotâmicas; adoção israelita
Fontes egípcias do Reino Antigo ao Novo e compilações de textos do Antigo Oriente assinalam a riqueza agrária de Canaã — alvo recorrente de expedições e saques — e ajudam a traçar o quadro regional de canais, eiras e pomares (ARE 1:143; 2:187, 189, 191; ANET, pp. 19, 228). Ao entrar e se fixar na terra, Israel herda campos, vinhas e olivais já estabelecidos (Dt 6:10-11; 8:6-9) e adapta às encostas e vales montanhosos técnicas conhecidas no Crescente Fértil, com ênfase em agricultura de sequeiro, uso de cisternas e terraços em lugar da irrigação fluvial típica do Nilo (Dt 11:10-12; Jr 2:13; Is 5:2; HOPKINS, The Highlands of Canaan: Agricultural Life in the Early Iron Age, 1985, pp. 55-133). A variação geomorfológica e climática — planícies litorâneas, vale do Jordão, serras de Efraim e Judá — condiciona a distribuição de cultivos e calendários locais, inclusive a defasagem altimétrica entre cevada e trigo (Rt 1:22).
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Agricultura no Egito Antigo |
D. Expansão de técnicas: terraços, agricultura de captação de enxurrada e captação
Para vencer declividade, solo raso e chuva concentrada (out.-abr.), os camponeses do Levante aperfeiçoaram terraços de pedra seca, agricultura de captação de enxurrada e reservatórios subterrâneos. Esses dispositivos foram decisivos na ocupação dos altos de Galileia, Samaria e Judá e na incorporação de faixas semiáridas, inclusive no Neguebe, tanto por razões defensivas quanto produtivas (Is 5:2; 2 Cr 26:10; AHARONI, A survey of the Galilee: Israelite settlements and their pottery, 1956; EVENARI, SHANAN & TADMOR, The Negev, 1971). A adaptação ao regime de chuvas bíblico — chuvas “temporãs” e “serôdias” — resulta em práticas de semeadura e colheita sincronizadas com peregrinações e festas (Dt 11:13-17; Lv 23).
E. Portfólio produtivo: cereais, leguminosas, hortas e pomares
O portfólio agrícola bíblico combina cereais (trigos durum/vulgare; cevada; milhetos), leguminosas (lentilha, fava, ervilhaca, grão-de-bico, ervilha, feno-grego), condimentos (cominho, cominho-negro, coentro), oleaginosas (linhaça, gergelim) e hortaliças (pepino, melão/anguria, alho-poró, cebola, alho) (Is 28:25-27; Nm 11:5; Ez 4:9; ZOHARY, Plants of the Bible: A Complete Handbook, 1982, pp. 74-84). Entre as árvores frutíferas, destacam-se videira (vinho, passas, xarope), oliveira (azeite para alimento, luz e unção), figueira, romãzeira, tamareira e sicômoro (Dt 7:13; 8:8; Sl 104:14-15; Os 2:8). Nozes como amêndoa, pistache e nogueira também integram a pauta (Gn 43:11).
F. Produtos Agrícolas
A economia agrícola de Israel girava em torno de quatro produtos principais — trigo, vinho, azeite e cevada — que formavam o tripé básico da alimentação, do comércio e do simbolismo religioso (cf. Sl 104:15; Jl 2:19). Esse quadro já é sintetizado por BALY (Geographical Companion to the Bible [1963], p. 60), que cita 2 Crônicas 2:15 como resumo dos recursos da terra: “Agora, que meu senhor envie aos seus servos o trigo e a cevada, o azeite e o vinho que prometeu.” Embora esses fossem os produtos centrais, o conjunto agrícola israelita era diversificado, refletindo as variações regionais de solo e clima.
Cereais. O trigo (ḥiṭṭâ) era o mais valorizado, semeado no final de outubro ou novembro com o início das chuvas temporãs, e colhido entre maio e junho (1Rs 5:11; Lv 23:9–17). A cevada (śĕʿōrâ), cultivada na mesma época, amadurecia mais cedo e era colhida em abril, sendo utilizada tanto para pão quanto para forragem (Jz 7:13; 2Rs 4:42). Era considerada cereal de menor prestígio, mas fundamental em regiões semiáridas (Rt 1:22; 2:23). O centeio (kussemet, traduzido como “espelta” ou “centeio”) aparece em Êx 9:32 e Is 28:25. O painço (dōḥan) era conhecido e cultivado em áreas marginais (Ez 4:9). O cultivo seguia técnicas tradicionais: semeadura a lanço, cobertura com segunda aração ou arrasto de galhos, e ceifa com foice de ferro ou pedra (Dt 16:9; Is 28:24–25).
Leguminosas e hortaliças. Lentilhas (ʿădāšîm) e feijão eram comuns na dieta (2Sm 17:28; Ez 4:9), além do grão-de-bico, da fava e do gergelim (Is 28:25–27). Pepinos, melões, alho-poró, cebolas e alhos eram consumidos amplamente (Nm 11:5). Especiarias e ervas aromáticas como cominho (kammōn), coentro (gad), endro, hortelã e mostarda também eram cultivadas (Mt 23:23; Is 28:25).
Frutíferas. A vinha (gefen) tinha centralidade econômica e simbólica. Uvas eram consumidas frescas, secas em passas ou transformadas em vinho (yayin), elemento fundamental na mesa e no culto (Jz 9:27; Is 5:1–2; Jo 15:1). O azeite, derivado da oliveira (zayit), era igualmente vital, usado em alimentação, iluminação, unção e exportação (Dt 8:8; Os 2:8). O figo (tĕʾēnâ), consumido fresco ou em bolos, servia até para fins medicinais (Is 38:21; Jr 24:1–2). A tamareira (tāmār), especialmente no vale do Jordão, fornecia frutos transformados em bolos, mel e xarope (Dt 34:3). A romã (rimmôn) simbolizava fecundidade e ornava até mesmo o vestuário sacerdotal (Êx 28:33–34). Outras frutíferas menos comuns incluíam a amoreira, o damasco, a amendoeira (šāqēd), a nogueira e o pistache (Ct 6:11; Gn 43:11).
Produção regional. A diversidade ambiental condicionava especializações: Judá destacou-se na viticultura, favorecida pelas encostas ensolaradas em socalcos (Jz 9:27; Is 5:2). Em Efraim (Samaria), o solo de terra rossa calcária, aliado à boa pluviosidade, tornou-se ideal para a oliveira. Os vales férteis da Galileia, ricos em aluvião e chuvas abundantes, tornaram-se o celeiro do trigo. No sul, em solos loessiais da Filístia e do Neguebe, a cevada predominava devido à menor precipitação. A leste do Jordão, Basã favorecia o trigo, enquanto Moabe e Edom, mais áridos, dependiam da cevada (cf. Dt 8:8; Ne 13:15; Mq 6:15).
Produtos derivados. O processamento incluía a prensagem de uvas em lagares rupestres, a produção de vinho e passas, a extração de azeite em prensas de viga (Êx 29:40; Jl 2:19), a secagem e o bolo de figos e tâmaras (1Sm 25:18). Esses alimentos sustentavam a dieta cotidiana e também eram ofertados no culto (Lv 2:4; Nm 18:12).
Assim, o mosaico agrícola bíblico mostra tanto a dependência dos quatro produtos centrais — trigo, cevada, vinho e azeite — como a diversificação em frutas, legumes e especiarias. Essa variedade, condicionada pelo ambiente, estruturava não apenas a economia e a dieta, mas também a linguagem simbólica da Bíblia (cf. Sl 1:3; Am 9:13–14; Zc 8:12).
G. Condições, riscos e manejo de fertilidade
A agricultura israelita depende majoritariamente da chuva e do orvalho (Dt 11:10-12; 33:28), sendo vulnerável a secas, locustas, ferrugem/crestamento, roedores e ervas daninhas (Jl 1:4; Am 4:9; 1Sm 6:4-5; Os 10:4). Textos e dados agronômicos permitem inferir práticas de pousio (ano sabático), adubação orgânica (esterco, compostos, cinzas) e rotação de culturas (sinais didáticos em Is 28:24-29), possivelmente com adubação verde por leguminosas para enriquecimento de nitrogênio (Êx 23:10-11; Is 28:24-29; BOROWSKI, Agriculture in Iron Age Israel, 1987, pp. 148-151, 153-162).
H. Processamento e inovação técnica
A cadeia pós-colheita abrange eiras em locais ventilados, debulha por tração animal ou instrumentos (morag, trilho dentado), e peneiração com forcado (mizreh) e pá (raḥat), seguida de silos e celeiros (Rt 3:2; Dt 25:4; Is 28:27-28; 30:24; Am 9:9). A vinificação exige pisas imediatas e fermentação controlada (Is 63:2-3; Jz 9:27). A oleicultura evolui de pilão e pesos para a prensa de viga, multiplicando rendimento e escala (Mq 6:15; EITAM, Olive presses of the Israelite period, 1979; GITIN, Dramatic finds in Ekron, 1985; KELM & MAZAR, Excavating in Samson’s country, 1989, pp. 47-49).
III. Estruturas sociais, jurídicas e religiosas
A terra é reconhecida como propriedade última de YHWH, cabendo a famílias, coroa e sacerdócio a gestão e o usufruto (Lv 25:23; Nm 35:1-8; 1Cr 27:26-28). Marcos e limites protegem a herança (Dt 19:14), e normas como espigadura/rebusca, ano sabático e dízimos/primícias articulam segurança alimentar, justiça social e culto (Lv 19:9-10; Êx 23:10-11; Dt 14:28-29; 26:1-15). As três festas de peregrinação acompanham o ciclo produtivo — cevada, trigo, frutos/azeite e vinho — e marcam o calendário religioso-agrário (Êx 23:14-17; Lv 23; Dt 16). A simbólica agrícola perpassa profecia, salmos e parábolas, moldando linguagem e teologia (Is 5:1-7; Sl 65:9-13; Mt 13; Jo 15).
IV. Quadro físico: topografia, clima, solos e água
A Terra de Israel apresenta grande diversidade físico-ambiental em pequena área. Planícies costeiras (Saron), vales aluviais (Esdrelom, Hule), a depressão do Jordão, colinas calcárias (Judeia e Samaria) e platôs basálticos (Golã, Basã) oferecem solos e microclimas contrastantes. O clima mediterrâneo alterna estação chuvosa (aprox. out.-abr.) e estação seca (primavera tardia-verão). As chuvas temporãs (início do outono) amolecem o solo e abrem a semeadura; as chuvas serôdias (fim do inverno-início da primavera) completam o enchimento dos grãos. O orvalho noturno mitiga a estiagem (Gn 27:28; Dt 33:28). A variabilidade altitudinal posterga ou antecipa safras: planícies e vale do Jordão colhem mais cedo; áreas altas, mais tarde.
Os solos vão de alúvios profundos (planícies e vales), muito férteis, a terras rasas e pedregosas nas encostas calcárias (onde o agricultor remove pedras para muros e terraços), e andossois/vertissolos de matriz basáltica no norte e leste, igualmente produtivos. A disponibilidade de água depende de chuvas e fontes; a irrigação canalizada ampla, típica do Nilo e da Mesopotâmia, é pontual em Canaã (hortas, palmares e oásis; Jericó, Damasco), dada a topografia de colinas. A conservação do solo recorre a terraços de contenção e captação de enxurradas em uádis nas zonas semiáridas (Negev; Edom), além de cisternas e reservatórios escavados na rocha para armazenamento sazonal (Sl 1; Dt 8:7).
V. Fatores ecológicos
A agricultura em Israel antigo esteve condicionada por fatores ecológicos específicos do Levante meridional. O clima mediterrânico, com invernos chuvosos e verões secos, definia a alternância de chuvas temporãs e serôdias (Dt 11:10–14; Os 6:3; Jl 2:23; Tg 5:7), regulando a semeadura e a colheita. A topografia variada — vales férteis, encostas pedregosas, planaltos e regiões semiáridas — exigia constante adaptação técnica e diversificação agrícola.
A. Dependência das chuvas e do orvalho
Diferente do Egito, cuja produção cerealífera dependia da cheia do Nilo (Dt 11:10), Israel baseava-se na precipitação sazonal e no orvalho abundante (Gn 27:28; Dt 33:28; Sl 65:9–10). Essa condição reforçava a teologia da dependência de YHWH, que prometia “chuvas em seu tempo” em resposta à obediência à aliança (Dt 11:13–17). A seca, ao contrário, era o grande inimigo do lavrador, frequentemente interpretada como sinal de julgamento divino (Jr 14:1–6; Ag 1:10–11).
B. Solos e relevo
A diversidade de solos determinava culturas distintas: aluvião fértil nos vales da Galileia; terra rossa calcária em Efraim, favorável à oliveira; encostas em socalcos em Judá, ideais para a vinha; solos loessiais da Filístia e do Neguebe, bons para cevada mas pobres em chuvas (Ne 13:15; Is 5:1–2; Am 9:13). O relevo irregular levou ao uso extensivo de terraços de pedra seca, preservados em escavações arqueológicas, alguns empilhados em até sessenta níveis para conter erosão e ampliar áreas cultiváveis (Is 5:2; 2Cr 26:10).
C. Limitações e riscos ambientais
Além da irregularidade pluviométrica, o agricultor bíblico enfrentava gafanhotos (Jl 1:4; Am 7:1–2), míldio e ferrugem (Dt 28:22), ventos quentes do deserto (Is 40:7) e pragas de roedores (1Sm 6:5). A vulnerabilidade às pragas e à seca incentivava a rotação de culturas (Is 28:24–29), o pousio sabático (Êx 23:10–11; Lv 25:3–4) e a fertilização orgânica com esterco ou cinzas (Jr 9:22; Lc 13:8).
D. Alcance das terras aráveis
Não está claro se os israelitas estenderam suas fronteiras agrícolas a todas as áreas sob controle político durante os reinados de Davi e Salomão. O Israel moderno recuperou pântanos ao longo da planície mediterrânica, Esdraelon e o lago Hule, mas essas áreas parecem não ter sido aproveitadas na Antiguidade. Evidências sugerem que povos vizinhos exploraram até mesmo zonas semiáridas, como o Neguebe e as franjas desérticas de Amom, Moabe e Edom. GLUECK (Rivers in the Desert, 1959) refutou a teoria de mudanças climáticas significativas em tempos bíblicos, atribuindo a dessecação ao mau uso da terra e à negligência de práticas de conservação que outrora sustentaram essas regiões. Os nabateus, por exemplo, dominaram a ciência da conservação hídrica e do solo, transformando uádis em faixas verdes produtivas, capazes de sustentar vilas agrícolas florescentes. Técnicas semelhantes talvez expliquem a permanência da agricultura em Moabe, mesmo durante a fome que levou Elimeleque e Noemi a buscar sustento fora de Belém (Rute 1:1–5). Em áreas extremamente áridas como Damasco e Jericó, a horticultura não dependia de chuvas, mas de nascentes (Jericó) ou do fluxo superficial das encostas irrigadas do Antilíbano. Um antigo provérbio resume: “Damasco é um presente do Monte Hermon para o deserto.”
VI. Cadeia técnico-produtiva (panorama)
Após as chuvas temporãs, realizam-se aração leve (arados de madeira com ponteira metálica, tração bovina; Is 28:24-25; Jó 39:10; Os 10:11), destorroamento (enxadas, grades simples, “batedores” de madeira), semeadura (via de regra a lanço; em contextos específicos por sulco, inclusive com semeadura “depois do arado”), e adubação orgânica (esterco, cinzas, compostos) quando disponível (Jr 9:22; Lc 13:8). Sistemas de conservação incluem terraços, muros de pedra, valetas de contorno e torres para vigilância de vinhas e pomares (Is 5:2). A colheita de cevada (abr.-mai.) antecede a de trigo (mai.-jun.); cortam-se hastes com foices de pedra/ferro (Dt 16:9) ou arrancam-se plantas com raiz em searas baixas. A debulha ocorre em eiras (solo batido/calcado), por pisoteio de bois (Dt 25:4), uso de trilho de debulha (môrāg) ou grade cortante (ḥărūṣ), que também pica a palha (Is 41:15). Em seguida, joeira-se ao vento com forcado/pá (Is 41:16; 30:24) e peneira-se (Lc 22:31; Am 9:9); o grão limpo vai a silos, fossas e celeiros, a palha serve a forragem e combustível (Mt 3:12; Ml 4:1). Lagares de uva conduzem o mosto a pias e ânforas para fermentação; prensas de viga otimizam o azeite a partir de capachos de azeitona triturada. Hortas, figueiras, romeiras e tamareiras compõem a fruticultura de verão e outono.
VII. Marcos jurídicos e teológicos
A terra é posse de YHWH (Lv 25:23); o israelita é usufrutuário. A lei protege marcos de divisa (Dt 19:14; Pv 22:28) e desestimula a concentração fundiária (Is 5:8). O ano sabático (a cada sete) impõe pousio e direitos de coleta para pobres e animais (Ex 23:10-11; Lv 25:3-7), com promessa de suficiência até a safra seguinte. O jubileu (quinquagésimo) restabelece a herança familiar (Lv 25:8-24). A gleba sustenta ainda a justiça distributiva via respiga (peʾah, leqeṭ, šikḥāh; Lv 19:9-10; Dt 24:19-22) e dízimos. Proíbem-se misturas (kilʾayim) de sementes, rebentos e jugos (Dt 22:9-10; Lv 19:19) e regula-se o aproveitamento de árvores novas (ʾorlāh). A fidelidade à aliança se mede, em linguagem agrícola, por chuva a seu tempo, frutificação e proteção contra pragas (Dt 28), ao passo que seca e pragas figuram como juízo (Jr 3:3; Jl 1-2).
VII. Calendário produtivo e sazonalidade
A. Clima, água e dependência de YHWH
O ano agrícola bíblico é regido pela alternância entre estação chuvosa e seca do clima mediterrânico (Dt 11:10-12). As chuvas temporãs do outono amolecem o solo e liberam aração e semeadura; as chuvas serôdias de fim de inverno completam o enchimento dos grãos e sustentam as frutificações de primavera (Dt 11:14; Jr 5:24; Os 6:3; Jl 2:23; Tg 5:7). Em regra, a lavoura depende de chuva e orvalho, não de irrigação extensiva; irrigação aparece de modo pontual em hortas e oásis, mas não estrutura o cereal de sequeiro como no Nilo ou na Baixa Mesopotâmia (Dt 11:10-12; Gn 27:28; Dt 33:28; Sl 65:9-10).
B. Calendário de Gezer e macro-janelas de trabalho
O Calendário de Gezer (séc. X a.C.) é uma descoberta arqueológica significativa porque permite traçar o ciclo agrícola nos tempos bíblicos (G.Wright, Biblical Archaeology, [1957], p. 180) e sintetiza o ano agrícola em oito blocos consecutivos:
- Dois meses de colheitas e recolhas (frutos do fim do verão);
- Dois meses de semeadura (cereais);
- Dois meses de semeadura tardia/plantio (leguminosas e hortas);
- Um mês de capina/fenação;
- Um mês de colheita de cevada;
- Um mês de colheita de trigo e medição (armazenagem);
- Dois meses de vindima;
- Um mês de recolha dos frutos de verão (cf. Nm 13:23-24; Rt 2:23).
C. Janelas sazonais por meses (operações e referências)
Tisri-Marḥešvã (set./out.-nov.)
Recolhas tardias; preparo/manutenção de terraços, muros e cisternas; primeiras arações onde as temporãs chegam cedo (Jr 2:13; Is 5:2; Pv 24:27). Temporãs amaciam o solo (Dt 11:14; Tg 5:7).
Kislev-Tebete (nov.-dez./jan.)
Semeadura principal de trigo e cevada; adubação orgânica quando disponível; re-arações cruzadas para incorporar semente (Is 28:24-25; 30:24; 2 Rs 9:37). Lavradores evitam a inércia “por causa do frio” (Pr 20:4).
Sebate-Adar (jan.-fev.)
Semeadura tardia de leguminosas e hortas; capinas em faixas; reparos de taludes; manejo de pragas precoces (Ez 4:9; Is 28:27; Ct 2:15). Em anos de atraso das chuvas, convocam-se jejuns pela chuva (Jl 1:13-20; 2:12-17).
Nisã-Iiar (mar.-abr./mai.)
Ceifa de cevada (início no vale); início da ceifa do trigo nos vales; debulha e joeira em eiras a céu aberto; medição e armazenamento (Rt 1:22; 2:23; 3:2; Lv 23:9-17; Is 41:15-16; Dt 28:8).
Sivã-Tamuz-Ab (mai./jun.-jul./ago.)
Conclusão do trigo nas alturas; tratos de vinha (poda verde, condução); hortas de verão sob rega local; vindima inicial e principal (Dt 16:9-12; Nm 21:17-18; Is 5:1-2; Jz 9:27).
Elul (ago.-set.)
Azeitonas precoces; figos e romãs; recolha de frutos de verão; preparo de lagares e prensas; início do ciclo de manutenção dos terraços para receber as temporãs (Dt 8:8; Ne 13:15; Mq 6:15; Jl 3:13).
Padrão macro: estação chuvosa de outubro a abril (temporãs, chuvas de inverno e serôdias em mar.-abr.).
C. Sincronização com as festas de peregrinação
O ciclo agrícola conversa diretamente com as três peregrinações:
Pães Ázimos/Páscoa - início da ceifa da cevada;
Semanas/Pentecostes - fecho da ceifa do trigo;
Cabanas - vindima e recolha final (Ex 23:14-17; Dt 16:9-16; 16:16; Rt 2:23).
O contraste programático entre Egito (irrigação “a pé”: Dt 11:10) e Canaã (chuvas “a seu tempo”: Dt 11:14) estrutura a teologia da dependência de YHWH.
D. Variações regionais (escalonamento altitudinal)
A variabilidade altitudinal escalona as operações: vales quentes (Jordão, costa) semeiam e colhem mais cedo; encostas e platôs montanhosos retardam prazos em semanas (Rt 1:22; 2:23). Nos baixos vales tudo amadurece 2-4 semanas antes do planalto; nos altos de Judá/Galileia atrasos são usuais, e marcos sazonais podem ser notados até em narrativas (2 Sm 21:9).
VIII. Sazonalidade agrícola e festas
As três peregrinações ritualizam o calendário do campo. Pães Ázimos/Páscoa acompanha a primeira ceifa de cevada; Semanas/Pentecostes celebra o fecho da ceifa do trigo; Cabanas coincide com a vindima e a ingathering dos frutos, além do início da preparação de solo para a nova semeadura (Ex 23:14-17; Lv 23; Dt 16:1-17; Ex 34:22). O ritmo cultual legitima tempos de descanso e redistribuição (respigas, dízimos, primícias) e atrela produtividade à fidelidade: chuva “a seu tempo” e safra farta figuram como bênção; seca, mofos, gafanhotos e ventos quentes como juízo (Lv 19:9-10; Dt 14:28-29; 26:1-11; Lv 26:3-5; Dt 28:12; 28:22-24; Jl 1:4; Am 4:6-9; Jr 14:1-6).
A. Calendário de trabalho e força de trabalho
Out.-Nov. (Tishri-Marḥeshvan): primeiras (“temporãs”) chuvas amaciam o solo; lavração leve com arado de madeira e ponta metálica; semeadura a lanço de trigo e cevada; início do manejo de terraços. (Pr 20:4; Is 28:24-25; Dt 11:14; Tg 5:7). A estrutura básica desse ciclo já aparece no Calendário de Gezer (séc. X a.C.), que distribui o ano em “dois meses de colheita [de verão], dois de semeadura, dois de semeadura tardia, um de capina, um de ceifa de cevada, um de ceifa [de trigo] e medição do grão, dois de vindima e um de recolha dos frutos de verão”.
Dez.-Fev. (Kislev-Adar): semeadura tardia (leguminosas e hortas), capina/roçadas para feno, poda de vinhas e oliveiras onde aplicável; preparo de cisternas e canais para jardins (Ec 11:4; Is 5:2; Sl 1:3). Em anos de atraso das chuvas, líderes conclamam jejuns pela chuva (Taanit) (Jl 1:13-20; 2:12-17).
Mar.-Jun. (Nisã-Sivã): ceifa de cevada (Páscoa), seguida da colheita do trigo (Semanas/Pentecostes); debulha (com bois/“mó”/“trilho”/morag) e peneiração ao vento vespertino; medição e armazenamento do grão em silos e ânforas (Rt 2:17-23; Lv 23:10-17; Is 41:15-16; Am 9:9).
Jul.-Out. (Tamuz-Tishri): manejo da vinha (desbrota, amarração) e vindima (prensas rupestres); figos, romãs e tâmaras; segada de azeitona com produção de azeite (prensas de viga) e recolha final (“ingathering”) em Sobo/Tabernáculos (Nm 18:27; Jl 2:19; Ne 13:15; Lv 23:39-43).
Nota regional: nos baixos vales (Jordão/filisteia) tudo amadurece 2-4 semanas antes do planalto; nos altos de Judá/Galileia atrasos são usuais (Rt 1:22; 2 Sm 21:9). Padrão macro: estação chuvosa de outubro a abril (chuvas temporãs, inverno e serôdias em mar.-abr.).
IX. Marcos operacionais
Após as temporãs, mobiliza-se aração leve com arados de madeira de ponteira metálica em tração bovina, abrindo sulcos rasos em solos já amolecidos; o destorroamento percorre com enxadas, grades simples e tábuas de arrasto (Is 28:24-25; 1 Rs 19:19; Jó 39:10). A semeadura dá-se geralmente a lanço; em alguns contextos emprega-se pelo sulco, inclusive acoplando funil ao timão (Ec 11:4-6; Is 32:20). O pousio do ano sabático interrompe a rotação, favorecendo descanso do solo e acesso social às sobras espontâneas (Êx 23:10-11; Lv 25:3-7).
Com o início das “primeiras chuvas” em novembro, o agricultor começava a arar os campos em preparação para a semeadura dos grãos de cereais. Alguns acreditam que os primeiros agricultores do Antigo Oriente Próximo usavam a enxada ou a enxada para cultivar pequenas áreas de terra (E. C. Curwen e G. Hatt, Plough and Pasture [1953]). No entanto, a agricultura entre os israelitas era caracterizada pelo cultivo em campo, com arado e animais de tração (geralmente bois). O formato dos campos tendia a ser retangular para acomodar os sulcos lineares do arado; o tamanho dos campos dependia do terreno, e a área cultivada em um determinado ano correspondia à área que podia ser arada. O arado típico era feito de madeira com ponta de cobre ou bronze até que os israelitas adquiriram ferro para pontas dos filisteus no século X a.C. Esses arados não devem ser confundidos com os arados de aço contemporâneos, com suas relhas e aivecas para revolver completamente 15 centímetros ou mais de solo. O antigo arado raspava a superfície a uma profundidade de sete a dez centímetros, sem cobrir ervas daninhas ou restolho. Esse arado, com sua viga de madeira presa a uma junta de bois, pode ser observado até hoje em países do Oriente Médio.
Embora uma semeadora fosse acoplada a alguns arados na antiga Mesopotâmia, por meio da qual as sementes eram canalizadas de uma tremonha através de um tubo para serem depositadas atrás da ponta da aração, os israelitas aparentemente não adotaram o implemento. A semeadura era feita por um método de espalhamento, com o agricultor lançando a semente com movimentos amplos da mão e do braço enquanto caminhava penosamente para cima e para baixo no campo. Ele carregava as sementes em uma cesta ou em uma bolsa presa à cintura. O grão era prontamente coberto por uma segunda aração ou arrastando galhos ou um tronco atrás dos bois. Esse método de “gradagem” servia para nivelar o campo, cobrir a semente para garantir a germinação e evitar que os pássaros a comessem (Is 28:24-25; Mt 13:4). O agricultor geralmente selecionava os campos mais férteis para o trigo e os locais menos favoráveis para a cevada, lentilhas ou espelta (“centeio” KJV).
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Imagem retratando um grupo de mulheres, em um campo, engajadas na colheita de trigo na Palestina. |
A semeadura de grãos continuou até janeiro, quando ocorreu o “plantio tardio” de outras culturas. Essas culturas suplementares incluíam painço, gergelim, grão-de-bico, lentilhas, melões, pepinos, alho e outras hortaliças. Tradicionalmente, as hortaliças eram cultivadas em hortas próximas à aldeia e à casa do agricultor. A semeadura de grãos era trabalho do homem, mas as mulheres ajudavam no plantio e no cuidado das hortas. Essas atividades de plantio e capina continuaram até março.
X. Diferença altitudinal e risco climático
O mesmo cultivo apresenta variação de 2 a 6 semanas entre o vale do Jordão e as cristas de Judá/Samaria. A cevada amadurece mais cedo e tolera solos pobres e menor precipitação; o trigo exige janela hídrica mais longa. Falhas das temporãs impedem a aração a tempo; falhas das serôdias reduzem enchimento de grãos. O orvalho noturno na estiagem sustenta hortas de verão em micro-ambientes irrigados por fontes (Pv 20:4; Dt 11:14; Dt 33:28; Gn 26:18-22).
XI. Integração com pecuária e conservação
A pecuária fornece tração para arados, trilhos de debulha e transporte; imprime ciclagem de nutrientes via esterco (Is 28:27; 30:24). Terraços de pedra seca contêm solo arável nas encostas calcárias; valetas de contorno e bacias de captação em uádis retêm a enxurrada para agricultura de captação de enxurrada nas bordas semiáridas (Negev, Edom). Cisternas e poços modulam a disponibilidade hídrica entre chuvas (Is 5:2; 2 Cr 26:10; Jr 2:13; Gn 26:18-25; Dt 8:7; Sl 65:9-10).
XII. Colheita, pós-colheita e armazenagem
A ceifa arranca plantas pela raiz em searas baixas ou corta com foices (Dt 16:9; Mc 4:29). Em eiras circulares de solo batido, a debulha ocorre por pisoteio de bois (com proibição de amordaçar), por trilho de debulha que lasca palha e desagrega espigas, ou por grade cortante (Rt 3:2; Dt 25:4; Is 41:15; Am 1:3; 2 Rs 13:7). Joeira-se ao vento com forcado e pá; peneira-se para retirar lascas (Rt 3:2; Is 30:24; Jr 15:7; Lc 22:31; Mt 3:12). O grão limpo segue a silos escavados, poços e celeiros; a palha vira forragem e combustível (Dt 28:8; Gn 41:48-49; Pv 3:10; Lc 12:18; Is 47:14). Uvas são imediatamente pisadas; o mosto desce a pias e ânforas para fermentação (Jz 9:27; Jl 3:13; Is 63:2-3). Azeitonas são trituradas e prensadas, idealmente em prensas de viga; o óleo repousa e é decantado para armazenamento (Dt 24:20; Mq 6:15; Êx 27:20; 2 Rs 18:32).
A precipitação diminuiu em abril, à medida que a cevada começava a amadurecer, com a cevada atingindo seu auge em maio. Após a colheita da cevada, os homens iniciavam a colheita do trigo, que se estendia até junho. Para colher os grãos, os homens usavam pequenas foices com as quais cortavam os talos reunidos em punhados com a mão livre (Sl 129:7). Os fazendeiros que possuíam muitos animais cortavam os talos rente ao solo para aumentar o suprimento de palha para forragem e cama. Se não tivessem animais, o fazendeiro cortava os talos a poucos centímetros das espigas de milho, para que houvesse menos palha para interferir na debulha. À medida que os ceifeiros cortavam os grãos, os talos eram reunidos em espigas soltas para facilitar o transporte dos grãos para a eira. Uma divisão sexual do trabalho prevalecia nos campos de colheita, com os homens cortando os grãos, as crianças ajudando a juntá-los nas espigas e as mulheres recolhendo os talos perdidos, como retratado dramaticamente no livro de Rute. A chuva raramente caía durante a época da colheita, portanto, pouca deterioração ocorria. No entanto, duas grandes ameaças a uma colheita abundante confrontavam o agricultor: o temido vento quente (“siroco”) vindo do deserto ocasionalmente ressecava os grãos em maturação, ou uma invasão de gafanhotos poderia consumir grande parte da colheita. Os grãos colhidos eram transportados e empilhados em eiras perto das aldeias. Essas eiras eram uma área circular sobre um afloramento rochoso plano ou uma área com cerca de 12 metros de diâmetro, limpa de pedras, nivelada, umedecida e compactada para que a superfície ficasse endurecida e queimada pelo sol. Na debulha, os feixes eram lançados no chão para serem pisoteados por bois puxando um trenó no qual o agricultor montava. Os cascos dos bois e os pinos afiados embutidos na parte inferior do trenó separavam os grãos da palha e da palha, reduzindo a palha em pedaços. Alguns agricultores preferiam um implemento de grade de discos em vez do trenó; Este implemento também era puxado por bois e era superior ao trenó, pois não triturava tantos grãos (Is 28:27-28). Depois que os grãos eram reduzidos a uma massa de grãos, palha e palha picada, seguia-se a joeiração. Usando um forcado com dentes bem espaçados, o agricultor jogava a massa repetidamente no ar para expô-la ao vento que carregava a palha e a palha. O momento oportuno para a joeiração era ao entardecer, quando a brisa marítima diária proporcionava um fluxo de ar constante, mas não muito forte. Habitualmente, os grãos debulhados permaneciam em montes na eira, com alguém dormindo perto deles para evitar roubos (Rute 3). Mais tarde, os grãos eram ensacados para serem armazenados em grandes jarros ou, em alguns casos, colocados em silos rebocados que haviam sido escavados sob o piso de casas ricas. Como o aluguel (alguns agricultores arrendavam campos) e os impostos eram comumente pagos em espécie, parte dos grãos era transportada por burros para grandes silos construídos por ricos proprietários de terras ou pelo governo (Wright, Biblical Archaeology, p. 182). O calendário de Gezer associa a época da colheita à “festividade”. Isso, sem dúvida, se refere a cerimônias sociais e religiosas que coincidiam com o fim de um período de sete semanas após o início da colheita dos grãos (Dt 16:9). Mais tarde, a ocasião ficou conhecida como Pentecostes, época em que o povo fazia uma peregrinação anual ao santuário central (primeiro em Hilo e depois em Jerusalém) para observar o ritual das primícias.
XIII. Marcadores jurídicos e sociais
O ciclo anual é atravessado por normas: respigas e esquinas do campo reservadas ao pobre; marcos de divisa invioláveis; jubileu que reverte alienações; proibição de misturas no canteiro e no jugo; ’orlāh que retarda o usufruto do pomar. O ano sabático suspende a arroteia e reconhece a terra como domínio de YHWH (Lv 19:9-10; Dt 24:19-22; Dt 19:14; 27:17; Lv 25:8-17; Lv 19:19; Dt 22:9-11; Lv 19:23-25; Lv 25:4-7; Lv 25:23; Sl 24:1).
XIV. Culturas de campo
A. Cereais (dagān)
O trigo (ḥiṭṭāh) é o cereal de maior prestígio alimentar e fiscal. Cultiva-se sobretudo em terraços calcários profundos, vales aluviais e planícies de boa retenção; requer semeadura no fim do outono e serôdias adequadas para pleno enchimento, ceifando-se três a seis semanas após a cevada conforme altitude. O pão de trigo estrutura dieta e culto (oblatas, pães da proposição) (Sl 147:14; Lv 24:5-9).
A cevada (śĕʿōrāh) é mais rústica e precoce; semeia-se junto do trigo, mas colhe-se um mês antes, tolerando solos mais pobres e menor precipitação. Alimenta homens e animais; surge em pães populares e ração (Rt 1:22; 2:23; 2 Rs 7:1; 1 Rs 4:28).
Outras gramíneas atestadas incluem emmer (kussemet), espécie antiga de trigo, e milho miúdo/milhete (dōḥan), útil como pasto verde e farinha em ambientes secos. A literatura alude a rendimentos excepcionais em anos de bênção, sem estabelecer padrão, e associa abundância a boa distribuição de chuvas (Êx 9:32; Ez 4:9; Gn 26:12; Dt 11:14).
B. Leguminosas
As lentilhas (ʾădāmāh) entram em sopas e pães mistos; são semeadas no fim do inverno e colhidas na primavera, fixando nitrogênio e melhorando a fertilidade do talhão (Gn 25:34; 2 Sm 17:28). As favas (pôl), ervilhacas e grão-de-bico compõem a base proteica vegetal, podendo entrar em rótulos de pão e ensopados (Ez 4:9; 2 Sm 17:28). O feno verde de leguminosas alimenta rebanhos no final das chuvas; a capina de primavera fornece forragem (Am 7:1-2; Sl 72:6).
C. Especiarias e aromáticas de campo
Cominho-preto (qeṣaḥ), cominho (kammōn) e coentro (gād) ocupam canteiros bem drenados. A colheita requer debulha leve, sem trilho pesado, preservando sementes. A legislação e a sabedoria evocam medidas de proporcionalidade no manejo e devidos tributos de tais miúdos, sinalizando seu valor econômico e cultual (Is 28:25-28; Êx 16:31; Nm 11:7; Mt 23:23).
D. Fibras e oleaginosas de campo
O linho (pištāh) provê fibra têxtil e sementes; secagem, encharque e espadelagem seguem a colheita (Js 2:6; Is 19:9; Pv 31:13). Em certos ambientes de verão, cultiva-se gergelim e outras oleaginosas menores para óleo adicional, embora o eixo oleico principal seja a oliveira arbórea. O cânhamo não integra o repertório bíblico; o papel do linho em vestes, cordas e pavios é recorrente (Êx 25:4; 27:9; Jz 16:12).
E. Manejo de resíduos e alimentação animal
A palha de trigo e cevada, picada durante a debulha, mistura-se ao grão em ração bovina e de jumentos (1 Rs 4:28). Restolho e palha podem ser queimados no campo após a colheita, devolvendo cinzas e facilitando a nova aração; a prática é alusiva em poemas e leis (Ml 4:1; Is 5:24). Em ausência de capineiras irrigadas, a cevada desempenha duplo papel humano e animal. A proibição de amordaçar o boi no serviço reconhece reciprocidade econômica e ética entre homem e animal de trabalho (Dt 25:4; 1 Co 9:9).
F. Distribuição regional e aptidão
As planícies costeiras (Saron) e o vale de Esdrelom concentram cereais de alto potencial pela profundidade do solo e facilidade de preparo; o vale do Jordão antecipa safra (Is 35:2; 33:9; 2 Rs 25:23). Judeia e Samaria alternam cereais em faixas terraçadas, intercalando oliveiras e vinhas (Is 5:2; Jr 32:15). Golã/Basã (basálticos) combinam grãos com pastagens abundantes (Sl 22:12; Am 4:1). A fronteira semiárida (Negev, bordas de Edom/Moabe) usa agricultura de captação de enxurrada em bacias de recepção de enxurradas para cevada e milhete, com risco maior e produtividade dependente de tempestades concentradas (Nm 13:29; Jz 11:18; Dt 2:8; 8:7).
G. Operações específicas por cultura
O trigo demanda semeadura densa e destorroamento cuidadoso para boa emergência; malas-mato são capinadas no fim do inverno. A colheita evita quebra de espigas; a debulha busca separar sem trituração excessiva do grão (Is 28:24-28). A cevada, mais baixa, pode ser arrancada para aproveitar a raiz fibrosa como forragem seca após secagem (Rt 2:17-18). Leguminosas colhem-se com golpes suaves e secagem em esteiras; sua debulha faz-se com varas e, às vezes, pés (Is 28:27; Dt 25:4). Aromáticas exigem eiras limpas e ventos leves para não perder semente ao joeirar (Is 41:16).
H. Pós-colheita, armazenamento e circulação
A medição em recipientes padrão após joeira estabelece tributos e dízimos; celeiros ventilados e silos escavados conservam o grão seco (Lv 19:35-36; Dt 25:13-15; Dt 28:8; Pv 3:10). Fossas revestidas reduzem infiltração e pragas; tampas seladas com argila e cal limitam insetos. O transporte usa sacos sobre jumentos e carros quando o terreno permite (Gn 42:26; Am 2:13). Em anos de abundância, prolonga-se eira e joeira por todo o verão; em anos de penúria, recorre-se a misturas de farinhas, leguminosas e frutas secas para estender reservas (Gn 41:53-57; 2 Sm 17:28-29).
I. Dimensão jurídica e social nos cultivos de campo
Respigas de grão, esquinas do campo e feixes esquecidos pertencem ao pobre, à viúva e ao estrangeiro, integrando segurança alimentar comunitária (Lv 19:9-10; Dt 24:19-22; Rt 2:2-3). As misturas proibidas resguardam ordem agronômica do talhão e simbolizam distinções de criação (Lv 19:19; Dt 22:9-11). O ano sabático suspende lavra e abre os campos ao uso comum, convertendo espontâneos e rebrotas em bens de acesso (Êx 23:10-11; Lv 25:4-7). Marcos garantem integridade de glebas; denúncias proféticas censuram conglomeração predatória de campos (Dt 19:14; 27:17; Is 5:8).
J. Sentido teológico-simbólico
Cereais, leguminosas e especiarias atravessam leis, poemas e parábolas como metáforas do juízo e da graça: joeira como discernimento, sede de chuvas como clamor por visita divina, grão bom e joio como figura ética. A repetição anual da semeadura e ceifa educa para prudência, espera e gratidão, fixando no cotidiano do lavrador a consciência de dependência do Doador da chuva e do fruto (Is 28:23-29; Sl 126:5-6; Am 9:13; Mt 13:24-30; Gl 6:7; Lc 10:2).
XV. Hortaliças e especiarias (hortas, legumes e ervas)
As hortas e os canteiros de legumes e ervas aromáticas compuseram a dieta cotidiana, embora gozassem de menor prestígio que cereais, vinha e oliveira. São cultivados em pequenos lotes irrigados por canais, poços e cisternas, sobretudo junto a casas e periferias de vilas, com colheitas escalonadas ao longo da estação seca (Jr 29:5; Dt 11:10; Is 1:30). A memória gastronômica de Israel em contraste com o Egito destaca pepinos, melões, alhos-porós, cebolas e alhos (Nm 11:5), enquanto a iconografia profética alude a “cabana em pepinal” como imagem de fragilidade (Is 1:8). A piedade sapiencial compara a vida justa a “jardim bem regado”, contraposta ao “jardim sem água” (Is 58:11; 1:30).
A. Legumes (pulses) e verdes
O termo “legumes/pulses” designa lentilhas, favas, grão-de-bico, ervilhas e afins, base proteica vegetal de custo acessível. São semeados no fim do inverno e colhidos na primavera, servindo tanto à mesa quanto como adubo verde no retorno ao solo (Gn 25:34; 2 Sm 17:28; Ez 4:9; Dn 1:12-16). As lentilhas aparecem em guisados e pães mistos; as favas e o grão-de-bico entram em “cestas de provisões” em tempos de crise e campanha (2 Sm 17:28-29). As verduras (verdes de horta) surgem como dieta de simplicidade e disciplina (Dn 1:12-16).
B. Cucurbitáceas e hortaliças de verão
Pepinos e melões refrescam a dieta estival (Nm 11:5); a literatura profética usa o pepinal como cenário de vigilância sazonal (Is 1:8). Abóboras grandes não são nomeadas explicitamente, mas o episódio de Jônatas com o “kikáion” (planta de sombra de crescimento súbito) ilustra a precariedade de cultivos de verão sem água estável (Jn 4:6-10).
C. Aliáceas e condimentos
Alho-poró, cebola e alho compõem a base de tempero da cozinha (Nm 11:5). Entre especiarias/sementes finas de canteiro destacam-se cominho-preto (qeṣaḥ), cominho (kammôn) e coentro (gād); sua semeadura em sulcos e bordaduras e a debulha leve (sem trilho pesado) são citadas como parábola de perícia divina na arte de cultivar (Is 28:25-28; Êx 16:31; Nm 11:7). No período do Segundo Templo, o ensino de Jesus menciona o dízimo de hortelã, endro e cominho (e arruda) como exemplo de minúcia legal sem o peso da justiça e da misericórdia (Mt 23:23; Lc 11:42).
D. Mostarda e outras ervas
A mostarda serve de parábola para o crescimento do Reino a partir de um grão mínimo que se torna arbusto acolhedor (Mt 13:31-32; Lc 13:19). Hortelã e endro figuram entre ervas culinárias e medicinais de uso doméstico (Mt 23:23).
E. Manejo, irrigação e riscos
As hortas dependem de água local (poços, nascentes, canais de derivação), distinguindo-se do cereal de sequeiro. A rega manual ou por sulcos contrasta com a regagem “com o pé” típica do Egito, onde a água era empurrada de quadra em quadra (Dt 11:10-12). Pragas, ventos de siroco e estiagens comprometem hortaliças tenras; a literatura profética registra gafanhotos e mofos como juízos que afetam também canteiros (Jl 1:4; Am 4:9). Jardins bem providos de água ilustram prosperidade; jardins ressequidos, declínio (Is 58:11; Jr 31:12).
XVI. Frutíferas e processamento (vinha, oliveira, figo, romã, tâmara etc.)
A. O conjunto arbóreo e a teologia do fruto
As frutíferas estruturam a economia simbólica e material: vinha, oliveira, figueira, romãzeira e tamareira aparecem desde a descrição da “terra do trigo, cevada, vinhas, figueiras e romãs; terra de oliveiras de azeite e mel” (Dt 8:8). O “cada um debaixo de sua vide e debaixo de sua figueira” sintetiza paz e segurança (Mq 4:4; 1 Rs 4:25). As primícias e as primícias líquidas (mosto e azeite) figuram em culto e imposto (Êx 23:19; Ne 10:37-39; Nm 18:12; Os 2:8).
B. Vinha (uvas, vinho, passas)
A vinha define paisagem, legislação e espiritualidade. Seu estabelecimento inclui cercas, muros, lagar escavado e torre de guarda (Is 5:1-2; Mt 21:33). O ciclo anual envolve poda, condução, vindima e pisas; o mosto segue a pias e vats até a fermentação (Jz 9:27; Is 63:2-3; Pv 3:10; Ne 13:15). Passas e bolos de passas integram as reservas e dádivas (1 Sm 25:18; 30:12; Os 3:1). Metáforas proféticas falam de foice e lagares cheios no juízo (Jl 3:13; Is 63:2-3; Ap 14:19-20) e de montes que destilam mosto em tempos de restauração (Am 9:13). A parábola dos vinhateiros e a alegoria da videira (Jo 15:1-8) exploram a relação entre dono, fruto e fidelidade.
C. Oliveira (azeitonas e azeite)
A oliveira é pilar oleico e simbólico. A colheita combina varejamento e colheita manual; a lei proíbe o “rebate” total, deixando remanescente ao pobre, ao estrangeiro e à viúva (Dt 24:20; Is 17:6). O processamento passa por trituração e prensas (de poço, de pesos e, em épocas avançadas, de viga), com recolha do azeite para lâmpadas, alimento e unção (Êx 27:20; Lv 2:1-4; 1 Sm 16:13). A sabedoria evoca o prestígio do azeite; a maldição anuncia olivais infrutíferos (Pv 21:20; Dt 28:40). A oliveira serve de metáfora de pertença e enxertia (Rm 11:17-24).
D. Figueira (fruto fresco e seco)
A figueira oferece fruto fresco e bolos comprimidos que sustentam viajantes e enfermos (1 Sm 25:18; 30:12; 2 Rs 20:7; Is 38:21). Figos temporãos simbolizam primícias desejáveis; figos ruins, rejeição (Os 9:10; Jr 24:1-10). A figueira estéril em parábola convida à conversão paciente; a amaldiçoada denuncia esterilidade hipócrita (Lc 13:6-9; Mc 11:12-14). Trabalhar a figueira garante usufruto (Pv 27:18).
E. Romãzeira
A romã integra a mesa e o ornato sacerdotal (romãs no manto do sumo sacerdote), além de símbolos de fecundidade no Cântico (Êx 28:33-34; Ct 4:13; 6:11). A frutificação depende de flores não abortarem sob ventos quentes; tempos de seca e pragas afetam o set de frutos (Ag 2:19; Jl 1:12).
F. Tamareira (tâmaras e “mel”)
A tamareira caracteriza vales quentes como Jericó, “cidade das palmeiras” (Dt 34:3; Jz 1:16). Tâmaras são consumidas frescas e em bolos; o “mel” de Dt 8:8, em muitos contextos, é entendido como xarope de tâmaras, produto de ampla estabilidade e valor calórico (2 Sm 6:19; 1 Cr 16:3). A palmeira é emblema de justo que floresce (Sl 92:12).
G. Sicômoro-figo e outras frutíferas
O sicômoro-figo provê fruto popular e madeira de uso comum; cultivar sicômoros aparece como ofício (1 Rs 10:27; 1 Cr 27:28; Am 7:14; Lc 19:4). Amendoeira e nogueira também aparecem: a primeira em visão profética e entre presentes (Jr 1:11-12; Gn 43:11), a segunda em poesia amorosa (Ct 6:11). Pistaches são referidos entre dádivas de valor (Gn 43:11).
H. Leis específicas dos pomares
Árvores frutíferas seguem a regra de ʾorlāh: os três primeiros anos são de fruto “incircunciso”; no quarto, o fruto é consagrado; só no quinto se come ordinariamente (Lv 19:23-25). Gleaning arbóreo assegura proteção social: uvas remanescentes e fruto que sobra nas oliveiras e figueiras cabem ao pobre (Lv 19:10; Dt 24:20-21). Misturas (kilʾayim) regulam o plantio em vinhas (Dt 22:9), e o ano sabático suspende podas e colheitas comerciais, abrindo o pomar ao uso comum (Lv 25:3-7).
I. Lagares e vinho
Os lagares são, em regra, escavados na rocha em dois níveis: piso de pisa e cisterna coletora. A vindima leva uvas em cestos; a pisa libera o mosto que corre por canal até o reservatório. Vats e odres recebem o líquido para fermentação e guarda (Is 5:2; Jz 9:27; Pv 3:10; Mt 9:17; Lc 5:37). Torres vigiam contra saque e animais (Mt 21:33; Is 5:2). Trabalhos sabáticos em lagares foram alvo de reforma (Ne 13:15).
J. Prensas e azeite
A extração de azeite começa por trituração em pilões ou mós; a massa segue a prensas (peso, viga), com o azeite escoando para pias e ânforas. O azeite abastece lâmpadas, mesa e rito (Êx 27:20; Lv 24:2; 1 Rs 17:12-16). Profetas denunciam frustração do labor: prensarás azeitonas e não te ungirás (Mq 6:15); pisam lagares e têm sede (Jó 24:11).
L. Secagem e conservas
Passas (uvas secas) e “bolos de passas”. A uva era secada ao sol em lajes, eiras ou telhados planos (cf. a existência de terraços/telhados planos em 2Sm 11:2; Rt 3:2), formando cachos de passas usados como rancho de viagem e provisões militares (1Sm 25:18; 30:12; 2Sm 16:1). Além dos cachos, havia os “bolos de passas” (ʾăshîshôt), mencionados em contextos festivos e, por vezes, cultuais (2Sm 6:19; 1Cr 16:3; Ct 2:5; Os 3:1). Esses bolos eram massas compactas de uvas secas/prensadas, apropriadas para transporte e distribuição.
Figos prensados (develá) e figos secos. Figos eram abertos, expostos ao sol e depois prensados em discos ou tijolos (develá), amarrados com fibras vegetais; aparecem repetidamente como suprimento de viagem, socorro emergencial e dote de hospitalidade (1Sm 25:18; 30:12; 1Cr 12:40). O uso medicinal pontual do figo (cataplasma) é atestado em 2Rs 20:7 (= Is 38:21). Para o processo tradicional de confeccionar “fig cakes” (prensagem de figos secos em formas compactas), ver a descrição técnica com paralelos históricos.
Tâmaras secas e “mel de tâmaras” (silan). O vale do Jordão e Jericó eram célebres por tamareiras (Dt 34:3; Jz 1:16); além do consumo in natura e em bolos, as tâmaras eram fervidas e prensadas para produzir xarope espesso (silan), preservável e altamente energético — muito provavelmente o “mel” (dĕbāš) de múltiplas passagens (a expressão “terra que mana leite e mel”: Êx 3:8; 13:5; 33:3; Dt 8:8; etc., pode referir-se a mel de abelhas em alguns contextos e a mel de tâmaras em outros). Para o pano de fundo sobre “mel” na economia bíblica (evidência de apicultura e o espectro semântico do termo), ver a síntese arqueo-histórica.
Romãs, amêndoas e pistaches — transporte e dádivas. Romãs e amêndoas constam de presentes de viagem por sua boa conservação (Gn 43:11); no mesmo pacote aparecem “nozes” (provavelmente pistaches) e mel (aqui também passível de leitura como silan). A durabilidade fazia dessas frutas secas e sementes opções de tributo e cortesias diplomáticas (cf. 1Sm 25:18; 1Cr 12:40).
Modos de secagem e locais. A secagem ao sol era o método dominante: frutas eram espalhadas em eiras (Rt 3:2), lajes rochosas (Is 16:10) e tetos planos (2Sm 11:2), viradas periodicamente até perderem umidade. Em seguida, podiam ser prensadas (figos, uvas) para compactação e melhor conservação; o produto seco/prensado era guardado em potes cerâmicos vedados com tampas ou com selagem (prática comum para grãos e produtos secos), o que explica a logística de distribuição em massa (1Cr 12:40). Para a técnica de prensagem e conservação de figos em “bolos”, ver a descrição histórica de confeção de fig cakes (com paralelos mediterrâneos).
Usos sociais e rituais. Produtos secos e concentrados (passas, figos, tâmaras) aparecem em banquetes régios (2Sm 6:19; 1Cr 16:3), acolhida de tropas (1Cr 12:40), socorro a fugitivos (2Sm 16:1-2) e rancho campal (1Sm 30:11-12). A menção poética a “bolos de passas” em Os 3:1 e Ct 2:5 sugere conotações de festejo e afeição, além do aspecto nutritivo. Para um enquadramento histórico sobre a difusão antiga de frutas secas no Mediterrâneo (incluindo figos), ver os panoramas enciclopédicos botânicos.
Vocabulário e leitura dos termos. Além de ʿădāšîm (bolo de passas) e develá (bolo de figos), o hebraico distingue entre cachos de passas (1Sm 25:18; 30:12) e “figos secos/prensados”, o que indica duas cadeias de processamento (secagem simples x secagem + prensagem). Nos textos de tributo/suprimento (1Sm 25:18; 1Cr 12:40), a parelha figos-passas é recorrente, sinalizando padrão logístico: energia densa, baixo volume e longa vida de prateleira, ideais para campanhas e migrações.
M. Riscos, bênçãos e maldições
As frutíferas são sentinelas do clima: seca, ferrugem, mofo e pragas (gafanhotos, morcegos-frugívoros) trazem queda de fruto, flores aborcadas e vinhas mirradas (Dt 28:22; 28:39-40; Jl 1:12). Em contrapartida, a bênção se mede por lagares que transbordam, azeite que não mingua, vide e figueira carregadas (Pv 3:10; 1 Rs 17:14-16; Zc 8:12). A disciplina da aliança é proclamada em termos de vinhas roubadas ou restauradas, oliveiras que dão ou negam óleo, e figueiras que florescem ou secam (Is 5:5-7; Os 2:8-9; Mt 21:19).
N. Integração cultural e simbólica
A vinha canta a aliança (Is 5:1-7), o azeite unge reis e sacerdotes (1 Sm 16:13; Êx 29:7), a figueira e a videira viram senha de paz doméstica (Mq 4:4), a romã adorna o culto (Êx 28:33-34) e a tamareira emblematiza retidão (Sl 92:12). A economia frutífera, portanto, entrelaça técnica agrícola, direito, culto e esperança escatológica (Am 9:13-15; Jl 2:21-24; Zc 8:12).
XVII. Operações e instrumentos agrícolas
A. Preparação do terreno e demarcação
A abertura e limpeza do campo compreendem retirada de pedras e espinhos, nivelamento inicial e respeito aos marcos de propriedade (Is 5:2; Pv 24:30-31; Dt 19:14; Jó 24:2). O campeiro distingue leiras, bordaduras e caminhos batidos — onde a semente exposta serve de metáfora na parábola do semeador (Mt 13:3-9).
B. Arado, parelha e proibições
O arado de madeira com ferro afiado (as “relhas”) é conduzido por juntas de bois (1 Rs 19:19; 1 Sm 13:20-21; Jó 1:14). A legislação proíbe atrelar espécies diferentes no mesmo jugo, visando bem-estar animal e boa tração (Dt 22:10). A imagem do trabalhador “com a mão no arado” exige foco e perseverança (Lc 9:62). O aguilhão de bois conduz e, em emergência, vira arma (Jz 3:31).
C. Lavração, gradagem e semeadura
O lavrador “abre e revolve” a terra, ajustando profundidade e tempo (Is 28:24-26; Os 10:11-12; Jr 4:3). A semeadura é em geral a lanço sobre solo amolecido pelas “chuvas temporãs”, com cobertura posterior pelo arado leve ou por arrasto (Pv 20:4; Is 28:25). Em pomares e hortas, usa-se enxada junto às plantas (Is 7:23-25; Lc 13:8).
D. Fertilização, cobertura e manejo de resíduos
O uso de esterco e compostos vegetais é atestado, inclusive em horti-fruticultura (Lc 13:8; 2 Rs 9:37). Palha e restolho servem a adubo e combustível; sua combustão ilustra o juízo (Ml 4:1; Is 47:14). A cinza das queimas controladas devolve minerais ao solo (Is 32:13; Pv 24:31).
E. Ceifa: foices e práticas
A ceifa usa foice (madeira com lâmina de pedra/ferro), cortando rente ao solo ou apenas as espigas (Dt 16:9; Jl 3:13; Jr 50:16). O esquecido e as bordas do campo ficam para o pobre, o órfão e a viúva (Lv 19:9-10; Dt 24:19). A gleba é recolhida em feixes e levada em carros ou a lombo até a eira (Gn 37:7; Rt 2:7; Am 2:13).
F. Eiras, debulha e trilhos
A eira (circular, batida) é espaço público conhecido (2 Sm 24:18; Rt 3:2). A debulha ocorre por: Pisão de bois (não se pode muzzle: não atar a boca ao boi) (Dt 25:4; 1 Co 9:9); varejamento/maça para sementes finas (Is 28:27-28; Rt 2:17); trilho/“carro de debulhar” com dentes (charuts; morag), que corta palha e solta o grão (Is 41:15; 2 Sm 24:22; Am 1:3; Is 28:28).
G. Joeira, peneiração e estocagem
A mistura é lançada ao vento com pá e forcado (ventilabro) até separar grão, palha e pragana (Is 30:24; Is 41:16; Mt 3:12). O grão limpo passa por peneiras (kebarah; nápa) e “pás de joeirar” (Am 9:9; Jr 15:7; Is 30:28; Lc 22:31). Armazéns, silos e celeiros guardam o cereal (Pv 3:10; Mt 6:26; Lc 12:18).
H. Irrigação, terraços e captação de água
Em sequeiro, a produção depende de chuvas temporãs e serôdias e do orvalho (Dt 11:14; Zc 10:1; Sl 133:3). Em enclaves irrigáveis, usam-se canais, poços, cisternas e derivação por sulcos; o contraste com o Egito (rega “com o pé”, por quadras) é explícito (Dt 11:10-12; Jr 2:13; Sl 1:3). Terraços com muros de pedra estabilizam encostas (Is 5:2; Is 7:23).
J. Trabalho, contratos e proteção social
Há meeiros e arrendatários (Mt 21:33-41; 2 Rs 4:7-10), jornaleiros recebem diária (Mt 20:1-15). A proteção social no campo se dá por glebas deixadas, rebate incompleto em vinha e oliveira e ano sabático, com pousio e acesso comum (Lv 19:9-10; Dt 24:20-22; Lv 25:3-7).
XVIII. Posse e legislação agrária
A. Fundaento teológico da posse
A terra pertence a YHWH; Israel a recebe em arrendamento sagrado, com uso condicionado à aliança (Lv 25:23; Dt 26:1-11). A distribuição tribal e clânica confere heranças inalienáveis (Js 13-21; Nm 33:54; 36:7-9), com casos-modelo como as filhas de Zelofeade (Nm 27:1-8) e a regra de primogenitura (Dt 21:15-17).
B. Limites, marcos e herança
A manutenção de marcos antigos é dever jurídico e moral (Dt 19:14; Pv 22:28; Jó 24:2). O abuso fundiário — “ajuntar campo a campo” — é denunciado como pecado social (Is 5:8-10). A defesa do direito familiar à terra aparece emblematicamente na vinha de Nabote (1 Rs 21:1-3).
C. Contratos, arrendamentos e trabalho
O sistema admite arrendatários/meeiros e jornaleiros, com remuneração diária justa e tempestiva (Mt 20:1-15; Lv 19:13; Dt 24:14-15; Tg 5:4). A parábola da vinha pressupõe contrato de safra e prestação de contas (Mt 21:33-41; Is 5:1-7). Servos e diaristas partilham água e alimento no contexto da ceifa (Rt 2:9, 14).
D. Proteção social no campo
A lei garante bordas não ceifadas, espigas esquecidas, rebate incompleto em vinha e oliveira, assegurando gleba aos pobres, órfãos, viúvas e estrangeiros (Lv 19:9-10; Dt 24:19-22; Rt 2:2-3). O ano sabático abre colheita espontânea ao uso comum (Êx 23:10-11; Lv 25:5-7).
E. Dívidas, penhor e remissão
Proíbem-se penhores vitais (como a mó do moinho) e penhor noturno que lese a vida (Dt 24:6, 10-13; Êx 22:26-27). A remissão quadrienal/sétima (Dt 15:1-11) e o Jubileu (ano 50) restauram a liberdade econômica, devolvem a terra ao clã e coíbem servidão perpétua por dívida (Lv 25:8-17, 23-28, 35-43). A figura do go’el (resgatador) opera recompras (Lv 25:25; Rt 4:1-10). Denúncias de usura opressiva aparecem em Neemias (Ne 5:1-13) e nos profetas (Ez 18:8, 13).
F. Dízimos, primícias e ofertas
O dízimo do grão, do vinho e do azeite sustenta levitas e o culto (Nm 18:21-32; Lv 27:30-33; Ne 10:37-39); o dízimo trienal socorre vulneráveis (Dt 14:28-29; 26:12-15). Primícias e primeiros feixes consagram o início das colheitas (Êx 23:19; Lv 23:9-14; Dt 26:1-11; Pv 3:9-10; Ml 3:10).
G. Misturas (kilʾayim), orlá e bem-estar animal
Veda-se semente mista no mesmo campo, tecidos mistos e jugo misto (Lv 19:19; Dt 22:9-11). Frutíferas cumprem orlá (três anos proibidos; no quarto, santificação; a partir do quinto, uso pleno) (Lv 19:23-25). Na lida, exige-se bem-estar animal (não amordaçar o boi na debulha; descanso sabático para pessoas e animais) (Dt 25:4; Êx 23:12).
H. Descanso da terra e sanções
O pousio sabático (ano 7) e o Jubileu previnem exaustão do solo e protegem a subsistência (Lv 25:2-7, 18-22). A violação sistemática desses preceitos resulta em exílio e “descanso forçado” da terra (Lv 26:34-35; 2 Cr 36:21).
XIX. Economia agrária e riscos
O ciclo anual seguia a cadência “chuvas iniciais → semeadura outono/inverno → colheita cevada (Abril) → colheita trigo (Maio/Junho) → vindima/azeitona (fim do verão)”, refletida no Calendário de Gezer (dois meses semeadura; dois meses “semeadura tardia”; um mês capinar; um mês cevada; um mês trigo; dois meses vindima; um mês frutos de verão). Biblicamente, a lógica aparece nas festas: Pães Asmos/cevada (Êx 23:15), Semanas/trigo (Êx 34:22), Cabanas/ingathering (Dt 16:13). A operação agrícola começava “depois das primeiras chuvas” (Pv 20:4; Dt 11:14), com arado leve, grade/rolo e semeadura a lanço (Is 28:24-25; Os 10:11). (BOROWSKI, Agriculture in Ancient Israel, 1987, pp. 31-44).
A. Pós-colheita imediato (pisas, debulha, limpeza)
Cevada e trigo eram ceifados (ou arrancados) e levados ao eirado (piso apiloado/rocha) para debulha por bois (Dt 25:4), marros/têrmitas (Is 28:27) ou trenó com dentes (morag/ charuts; Is 41:15), seguindo-se a aventação com pá e forcado (Is 30:24; Mt 3:12) e a peneiração (Am 9:9; Lc 22:31). A limpeza podia estender-se por todo o verão em anos de boa safra. (BOROWSKI, 1987, pp. 86-99).
B. Estruturas de armazenagem (arquitetura e tipos)
Celeiros e “casas de depósito” (ʾōṣār / depósitos reais). Barns e “storehouses” aparecem como ideal de bênção e prudência (Pv 3:10; Dt 28:8; 2Cr 32:27-29; Ne 10:38-39; Ml 3:10). A administração régia do período monárquico distingue depósitos nos campos, nas cidades, nas aldeias e nas torres (1Cr 27:25-28).
Silos escavados e silos circulares monumentais. Em vários tells, o grão era guardado em poços silos revestidos (para reduzir umidade/pragas) e em granários circulares de grande capacidade. Em Megido, há um granário circular monumental da Idade do Ferro amplamente documentado (estrutura “silo” com escada helicoidal), representativo de estocagem pública centralizada.
Armazenagem em vasos grandes (pithoi/ânforas) e salas esteiras. Trigo, vinho e azeite eram estocados em vasos grandes, muitas vezes selados com rolhas de argila/betume e carimbos oficiais; salas com fileiras de pithoi aparecem em vários sítios. Os famosos jarros (“[pertencente] ao rei”), com alças carimbadas e toponímias (Hebrom, Zif, Socó etc.), integram um sistema régio de estocagem e distribuição (final séc. VIII a.C., reformas de Ezequias).
C. Conservação e controle de perdas (umidade, pragas, contaminação).
Técnicas inferíveis: secagem ao sol pré-depósito (Rt 2:17), revestimento de silos (argamassa), selagem para controlar oxigênio, camas de palha/esteiras e rodízio (fallow, Lv 25:1-7) para preservar fertilidade e quebrar ciclos de doenças (Dt 28:22; Is 5:2). Textos e achados apontam para práticas de limpeza, triagem e vedação como primeira linha contra roedores, fungos e insetos (Am 4:9; Jl 1:4). (BOROWSKI, 1987, pp. 148-162).
D. Pesos, medidas, selagem e auditoria
A cadeia de custódia incluía: Medidas secas e líquidas (eifá, seá, ômer; bat) e pesos (siclos) com forte ética de integridade (Lv 19:35-36; Dt 25:13-16; Pv 11:1; Am 8:5). Selos/carimbos e inscrições administrativas em alças de jarro ou óstracos para destino, lote e responsável; p.ex., os Óstraca de Samaria registram remessas de vinho e óleo de distritos a depósitos palacianos, evidenciando arrecadação e distribuição centralizadas. Oficiais e mordomos setoriais (sobre tesouros, armazéns nos campos/cidades, lagares, olivais, rebanhos, camelos, jumentos, etc.; 1Cr 27:25-31), articulando “produção → depósito → consumo/tributo”.
E. Logística e transporte
Fluxos subiam dos lotes rurais aos depósitos locais e reais por carros (Am 2:13), jumentos e camelos (Gn 37:25; 1Sm 25:18; Is 30:6), com sacos e odres (Gn 42:25-27; Js 9:4). “Cidades-armazém” de reis (2Cr 8:4-6; 11:5-12) e torres em vinhas/campos (Is 5:2; Mt 21:33) funcionavam como nós de guarda e pontos de coleta.
F. Processamento de valor agregado (vinho e azeite)
Vinho. pisa em lagar superior → mosto escorre a lagar inferior/vat → vasilhame para fermentação → ânforas/pithoi em locais frescos (Is 16:10; Jl 3:13).
Azeite. tecnologia vai do pilão/cestos sob peso ao prensa-viga (Idade do Ferro II), ampliando volume e eficiência; a arqueologia documenta conjuntos industriais com múltiplas prensas. Tel Miqne-Ekron tornou-se um polo oleiro em escala regional (séc. 7 a.C.), com dezenas/centenas de instalações de prensa e infraestrutura ligada à rede assíria—um modelo de agroindústria integrada.
G. Excedente, fiscalidade e redes de redistribuição
Dízimos e dádivas (Nm 18:12; Dt 14:28-29; Ml 3:10) e tributos em espécie (1Sm 8:15, 17) alimentavam depósitos do templo e do rei (Ne 13:5, 12-13). Arrecadação distrital documentada (Óstraca de Samaria) mostra entradas de vinho/óleo por clãs/lugares e saídas controladas ao palácio, consolidando a economia cereal-vinho-óleo (Os 2:8).
H. Gestão de risco (seca, pragas, conflito)
A Bíblia associa chuva “a seu tempo” e produtividade à fidelidade (Dt 11:13-17; 28:12), e descreve planos anticrise:
Modelo de José. previsão (sonhos como sinal), quinto da produção para estoque público durante anos de vacas gordas, logística de cidades-depósito e venda racionada nos anos ruins (Gn 41:33-49, 53-57; 47:14-17). Diversificação (grão-vinho-azeite), terraços/captura de enxurrada (Is 5:2), rodízio/descanso (Lv 25) e rede de depósitos (1Cr 27; 2Cr 32:28). Infraestruturas centralizadas (granários monumentais como em Megido) atenuavam falhas locais de safra e choques de oferta.
I. Trabalho, contratação e vigilância
A cadeia do grão envolvia proprietários, filhos, servos, diaristas e jornaleiros (Rt 2; Mt 20:1-16; Tg 5:4). Campos e eirados eram vigiados contra furto/perdas (Rt 3:7; Is 1:8; Mt 21:33). Há evidências textuais de empreitadas e arrendamentos com repartição de produto (Mt 21:34; Is 5:1-7) e de corvéia régia para obras agrárias/defensivas (1Sm 8:11-18).
J. Síntese teológica e prudencial
A gestão prudente integra planejamento, infraestrutura e ética de pesos/medidas: “O Senhor mandará que a bênção esteja... em todos os teus celeiros” (Dt 28:8); “Enche-se os teus celeiros” (Pv 3:10); medidas justas (Lv 19:35-36; Am 8:5); e o aviso da parábola do rico insensato, que ampliou armazéns sem discernir a vida diante de Deus (Lc 12:16-21). O modelo de José continua paradigmático: estoque de excedentes e administração racionada como política pública (Gn 41:33-57).
L. Fiscalidade régia e encargos
Sob Salomão, doze oficiais regionais (um por mês) sustentavam a mesa real e os estábulos: “cada um tinha de prover durante um mês do ano” (1Rs 4:7, 27–28), com rações diárias que incluíam “trinta coros de flor de farinha, sessenta de farinha comum, dez bois cevados, vinte bois de pasto e cem ovelhas, além de veados, gazelas...” (1Rs 4:22–23). O arranjo aparece na própria lista administrativa (1Rs 4:7–19) e articulava a rede de “cidades-armazém” e “cidades de carros e de cavaleiros” (1Rs 9:19; cf. 2Cr 8:4–6; 32:27–29).
A monarquia mobilizava trabalho obrigatório para obras públicas e projetos régios. Salomão “impôs mas de trinta mil homens em Israel” (1Rs 5:13–14), em turnos para o corte de madeira no Líbano; somavam-se “setenta mil” carregadores, “oitenta mil” cortadores de pedra e capatazes (1Rs 5:15–18; 2Cr 2:17–18). Após a construção do templo/palácio, o mas recaiu sobre remanescentes cananeus (1Rs 9:20–22). O termo persiste no título de Adorão, “superintendente do mas” (1Rs 12:18), cuja morte numa revolta fiscal marca a cisão do reino (1Rs 12:4, 14).
Samuel antecipa o pacote fiscal de uma monarquia: enrolamento de filhos em carros e cavalaria, requisição de terras e vinhas, confisco de servos e animais, e dízimos régios sobre grão e rebanhos (1Sm 8:11–18). Esse “jugo pesado” é lembrado pelos anciãos no início do reinado de Roboão (1Rs 12:4).
A corte recebia tributos externos e rendas internas. O “peso do ouro” anual de Salomão (666 talentos) ia “além do que vinha de mercadores e de todos os reis da Arábia e governadores da terra” (1Rs 10:14–15; cf. 10:26–29). Houve ainda contratos de suprimento com Hirão, envolvendo trigo e azeite (1Rs 5:11). Armazéns e “cidades de provisões” integravam a logística (1Rs 9:19; 2Cr 8:4–6).
Em conjunturas críticas, os reis lançavam impostos extraordinários: Menaém taxa os “homens valentes e ricos” para pagar a Pul/Assíria (2Rs 15:19–20); Ezequias envia prata e ouro a Senaqueribe (2Rs 18:14–16); Neco impõe tributo sobre Judá, e Jeoaquim arrecada do povo “conforme a avaliação” (2Rs 23:33–35). Tais exações ilustram o entrelaço de fiscalidade régia (interna) e tributação imperial (externa).
No período persa, a documentação aramaica distingue mīndā (“tributo”), bēlô (“imposto/direito” sobre produtos) e halāḵ (“pedágio/porte”) — a conhecida tríade de “tributo, imposto e pedágio” (Ed 4:13, 20; 7:24). O edito de Artaxerxes isenta clero e pessoal do templo desses gravames (Ed 7:24).
A legislação cultual prescreve o dízimo para os levitas (Nm 18; Dt 14:22–29), mas Samuel prevê um “dízimo do rei” (1Sm 8:15, 17) — um acréscimo secular. Nos reinados de reforma, reis organizam cofres e armazéns para o templo (2Cr 24:8–14; 31:5–12; Ne 10:32–39), enquanto o meio-shekel do santuário tem função específica (Êx 30:11–16; cf. Mt 17:24–27).
Intendentes regionais mediam e movimentavam cereais, vinhos e azeites (1Rs 4:7, 27–28), e a infraestrutura incluía eiras, adegas, lagares e “cidades de provisão” (1Rs 9:19; 2Cr 32:27–29). A linguagem de pesos/medidas (ephah, homer, talento, siclo) é parte do aparato fiscal (Lv 19:35–36; Ez 45:10–12), e a fraude em medidas é denunciada (Am 8:4–6; Mq 6:10–12).
Em tempos de escassez e impostos, famílias hipotecam campos e penhoram filhos (Ne 5:1–13); profetas denunciam a acumulação fundiária (“ajuntam casa a casa, campo a campo”: Is 5:8; cf. Mq 2:1–2). As medidas de Neemias visam alívio da carga (remissão de juros e devolução de campos; Ne 5:10–13).
M. Comércio e exportações
Israel e Judá aparecem como fornecedores de grãos, mel, óleo e bálsamo nas redes mediterrâneas e siro-mesopotâmicas. O oráculo comercial contra Tiro lista explicitamente “trigo de Minnite, bolos, mel, azeite e bálsamo” como mercadorias enviadas por “Judá e a terra de Israel” (Ez 27:17). Em nível diplomático, Salomão fornece a Hiram “vinte mil coros de trigo” e “vinte coros de azeite puro” (1 Rs 5:11; cf. 2 Cr 2:10), ilustrando pagamentos em espécie com produtos agrícolas.
Além dos textos bíblicos, duas linhas de evidência arqueológica ajudam a entender como esses produtos circulavam:
Administração interna e escoamento: os Óstracos de Samaria (início do séc. VIII a.C.) registram remessas reguladas de vinho e azeite de aldeias do reino do Norte para a capital, mostrando um sistema estatal de captação e distribuição (cf. Os 2:8; 12:1 [heb. 12:2]). Estudos de paleografia digital confirmam tratar-se de listas administrativas padronizadas relativas a vinho (yayin) e azeite (šemen), base da fiscalidade e do abastecimento régio, muito antes de chegarem a mercados externos.
Indústria de exportação: no séc. VII a.C., Ecron (Tel Miqne) operou em escala industrial a produção de azeite, com dezenas de prensas, sugerindo um polo exportador ligado a rotas filisteias/fenícias. O relatório de campo de S. Gitin descreve o complexo e sua capacidade sem paralelo no Levante da Idade do Ferro.
A logística marítima passava por portos como Jafa (Jope) e, na Idade do Ferro, por entrepostos fenícios. Pesquisas de Tel Yafo documentam a longa continuidade portuária e o papel de Jope na circulação de bens (At 9:36–43; 10:5–8), plausível como nó de embarque de produtos agrários envasados (ânforas) em direção à Fenícia e ao Egeu.
No reino de Judá (sécs. VIII–VII a.C.), o selo em alças de jarros (sistema LMLK e selos “yhwd”) sinaliza controle régio do armazenamento e da circulação de grão/óleo — seja para tributação, provisão militar ou redistribuição. Ramat Raḥel, na periferia de Jerusalém, atuou como centro administrativo que recebia, selava e redistribuía produtos (cf. Is 22:15–19; 36:2).
Grãos (Gn 42:2; 43:11; 1 Rs 5:11), vinho/azeite (Dt 7:13; 11:14; Os 2:8), bálsamo (Jr 8:22; 46:11) e mel (2 Cr 31:5) estruturam tanto a subsistência quanto a tributação e o intercâmbio; o profeta Ezequiel documenta a presença desses gêneros de Judá/Israel em circuitos mediterrâneos (Ez 27:17).
N. Riscos climáticos
A agricultura israelita era majoritariamente de sequeiro, dependente do regime das chuvas “temporãs” e “serôdias” (Dt 11:13–17; Jr 5:24; Os 6:3; Jl 2:23; Tg 5:7). Falhas nessas janelas hídricas significavam perda de stand (germinação) e enchimento deficiente dos grãos (Pv 20:4; Am 4:7–8). Em linguagem teológica, a retenção de chuva e orvalho é sanção da aliança (Dt 28:24; Ag 1:9–11), mas por trás está a vulnerabilidade física de um clima mediterrânico com estação chuvosa curta (out.–abr.), como sintetizam estudos climáticos da região.
Dados paleoclimáticos de alta resolução para o Levante mostram que os séculos bíblicos vivenciaram grande variabilidade interanual e plurianual de precipitação, com episódios de seca severa capazes de afetar produção, preços e estabilidade política (cf. 1 Rs 17:1; Jr 14:1–6). Registros geoquímicos no norte de Israel documentam oscilações de umidade desde o Holoceno e confirmam a sensibilidade do leste do Mediterrâneo a reduções de chuva — um pano de fundo físico coerente com os relatos de estiagens e jejum pela chuva (Jl 1:13–20; 2:12–17).
Para mitigar risco hídrico, as comunidades desenvolveram captação/armazenamento (cisternas; Jr 2:13), terraços e agricultura de enxurrada em encostas e no Neguebe, técnicas descritas por Evenari et al. como capazes de transformar eventos de chuva esparsos em produção estável (Is 5:2; Sl 1:3).
O. Pragas, doenças e privações
Gafanhotos figuram entre as ameaças mais temidas (Jl 1:4; 2:25; Am 7:1). A ecologia do gafanhoto-do-deserto (Schistocerca gregaria) explica surtos regionais que, ao “gregarizarem”, percorrem o corredor do Oriente Próximo (Egito–Sinai–Negev–Síria), devastando cereais e vinhas — cenário coerente com os quadros proféticos. Relatórios conjuntos FAO/WMO descrevem a dinâmica dessas irrupções e sua capacidade de destruir colheitas em dias, exatamente como pressupõe Joel.
Os textos bíblicos também mencionam doenças de plantas sob os termos “crestamento” (šiddāpôn) e “míldio” (yērāqôn) (Dt 28:22; 1 Rs 8:37; Am 4:9), vocábulos que cobrem manchas foliares e ferrugens que amarelecem e secam folhas/espigas, reduzindo rendimento. Em oliveiras, a perda de fruto pode refletir infecções como “olho-de-pavão” (Spilocaea oleagina), que defoliam árvores e derrubam a produção — exatamente o tipo de dano evocado em Dt 28:40 (“terás oliveiras... porém não te ungirás com azeite, porque a azeitona cairá”).
A fauna nociva inclui ratos/camundongos (1 Sm 6:4–5) e morcegos frugívoros (Dt 14:18, na lista zoológica; cf. menções agrícolas em Ct 2:15 para raposas nas vinhas). Em conjunto com ventos quentes (siroco; Os 13:15; Jn 4:8) e granizo (Êx 9:25), formam um portfolio de riscos naturais que a legislação atenua por direitos de respiga (Lv 19:9–10; Dt 24:19–22) e por descanso sabático da terra (Êx 23:10–11; Lv 25:1–7), reduzindo a exaustão do solo e criando rede de proteção social em anos ruins.
As privações aparecem com nitidez em situações de cerco e/ou seca: durante o bloqueio de Samaria, os preços explodem (“cabeça de jumento” a altíssimo valor; esterco de pombas como alimento), sinal clássico de colapso de oferta; o anúncio profético de retorno da abundância vem expresso na queda vertiginosa dos preços do cereal (2 Rs 6:25; 7:1–2). Esse padrão — de choque, inflação de alimentos e normalização — é consistente com choques de oferta agrícola documentados em episódios de seca/bloqueio na região.
P. Conflito e pilhagem
Invasores destroem lavouras e tomam o produto, como os midianitas nos dias dos juízes (Jz 6:3-6, 11). Tropas consomem provisões e forçam contribuições (2 Rs 18:13-16; 2 Cr 32:28-29). A necessidade de vigiar eiras e dormir junto às pilhas aparece em Rute (Rt 3:2-7).
Q. Mitigação e resiliência
Medidas bíblicas incluem armazenagem estratégica (Gn 41:48-49), diversificação (grãos, vinha, olival, rebanhos) (Dt 7:13), rede legal de proteção (glebas, dízimo trienal, remissão) (Dt 14:28-29; 24:19-22; 15:1-11) e ética laboral (pagar o dia no dia) (Lv 19:13; Dt 24:15). A formiga inspira preparo na abundância para enfrentar a escassez (Pv 6:6-8).
R. Força de trabalho e relações laborais
Mão de obra familiar ampliada por jornaleiros sazonais (yôm; “trabalhadores da hora”), ceifeiros e vindimadores (Rt 2:3-9; Mt 20:1-8). A contratação diária ao amanhecer, com ajuste de pagamento por “denário”/dia, reflete prática rural do Segundo Templo (Lv 19:13; Dt 24:15; Mt 20:2).
Arrendatários/meeiros (participação na colheita) e encarregados (caseiros) compõem a gestão de propriedades maiores (Is 5:1-7; Mc 12:1-9). Em contexto régio, há corveia (levantamentos de trabalho) para obras públicas (1 Rs 5:13-14; 12:4).
Rede social agrária. Cantos e espigas para pobres, estrangeiros, viúvas e órfãos (lei da respiga), com direito de entrar e comer sem transportar (Lv 19:9-10; Dt 24:19-22; Dt 23:24-25; Rt 2). A legislação de salário no mesmo dia protege o jornaleiro de safra (Lv 19:13; Dt 24:14-15).
Sabbatical/Shemittá e Jubileu. Repouso da terra ao sétimo ano e reversão de posses ao quinquagésimo, com efeito direto sobre planejamento de mão de obra, poupança e mitigação de endividamento (Êx 23:10-11; Lv 25).
S. Ritmo diário e organização do trabalho
Jornada solar (amanhecer-pôr do sol), com pausas ao meio-dia no calor (Rt 2:7; Gn 31:40; Mt 20:1-12). Joeira preferencial ao entardecer/noite, quando sopra brisa estável (Rt 3:2; Is 41:16).
Welfare in loco: o dono provê água e porções para ceifeiros/respigadores (Rt 2:8-9; 2:14). Supervisão por capatazes (naʿar/epistátēs) garante ordem e rapidez na janela estreita de colheita (Rt 2:6; Mc 12:1).
Sincronização litúrgica: Pães Ázimos no início da cevada; Semanas/Pentecostes sela o trigo; Tabernáculos fecha o ciclo frutícola—festas que ordenam a disponibilidade de braços e os prazos de entrega de primícias/dízimos (Êx 23:14-16; Dt 16:9-16).
T. Picos sazonais de contratação e preços
Picos de demanda em ceifa (abr.-jun.) e vindima/azeitona (ago.-out.) ampliam a contratação diária na porta da aldeia/mercado (Rt 2:2-3; Mt 20:1-7). O denário/dia funciona como piso de remuneração de risco sazonal; a Lei exige pagamento no dia para não defraudar o pobre (Lv 19:13; Dt 24:15).
Riscos e preços: atraso das temporãs/serôdias ou pragas (gafanhotos, ferrugem, mofo) altera valores de diária e contratos de partilha (Jl 1:4; Am 7:1; Dt 28:38-42). Em secas prolongadas, comunidades promovem jejum por chuva (Taanit), reorganizando calendários de capina e segunda semeadura (Jr 14:1-6; Mq 6:15).
XX. Religião e linguagem
Fertilidade e safra estão condicionadas à fidelidade à aliança: chuva “no seu tempo”, cereal, vinho e azeite são bênçãos; seca, pragas e fome são sanções (Dt 11:13-17; 28:1-12, 15-24; Lv 26:3-5, 18-20; Os 2:8-23). A terra é dom de YHWH e o culto devolve-lhe as primícias (Dt 26:1-11; Pv 3:9-10). A prosperidade agrária está ligada também à fidelidade e justiça social (Dt 28:1-12; Pv 3:9-10), enquanto a fraude comercial e a opressão esterilizam a terra (Am 8:4-10; Ml 3:8-12).
A. Festas agrícolas e calendário sacro
As três peregrinações marcam o ciclo rural: Pães Ázimos/Primeiro Feixe (cevada, começo da colheita), Semanas/Pentecostes (trigo, fim da ceifa) e Cabanas/Ingathering (vindima, olivas e frutos) (Êx 23:14-17; 34:22; Lv 23:9-21, 33-43; Dt 16:1-17; Rt 1:22; 2:23).
B. Ofertas, dízimos e culto
Primícias, primeiros feixes e dízimos consagram a produção e sustentam culto e pobres (Êx 23:19; Lv 23:10-14; Nm 18:21-32; Dt 14:28-29; 26:1-15; Ne 10:37-39). O vinho e o azeite entram em libações e unções (Êx 29:40; Lv 2:1; Sl 23:5; 104:15).
C. Imaginário agrícola na profecia
Israel como vinha de YHWH denuncia luxo e injustiça (Is 5:1-7; Jr 2:21; Ez 15). Arados e espadas simbolizam paz e guerra (Is 2:4; Mq 4:3). Debulha e joeira figuram juízo (Is 41:15-16; Jr 51:33; Am 9:9). Abundância escatológica: “o que lavra alcançará o que sega” (Jl 2:24-26; Am 9:13-15; Zc 8:12; Is 35:1).
D. Parábolas e didática de Jesus
Semeador, joio e trigo, vinhateiros homicidas, figueira e grão de mostarda traduzem o Reino em gramática agrícola (Mt 13:1-30, 31-33; 20:1-16; 21:33-41; 24:32-33; Mc 4:3-29; Lc 13:6-9). Videira verdadeira define comunhão e frutificação (Jo 15:1-8). Celeiros expõem a vaidade da ganância (Lc 12:16-21). Paciência do lavrador encoraja a esperança (Tg 5:7-8). Semear e colher orienta a ética (2 Co 9:6-11; Gl 6:7-9).
E. Sabedoria, salmos e oração pela safra
A literatura sapiencial trata o trabalho agrícola como sabedoria prática que combina diligência, planejamento e leitura do tempo. O agricultor previdente observa formigas, estações e sinais de clima (Pv 6:6–8; 20:4; 24:30–34), e mantém contas e inventário da unidade doméstica (rebanho, leite, lã, renda da casa) (Pv 27:23–27). A tensão entre risco e oportunidade aparece no conselho para não paralisar diante do vento: “Quem observa o vento nunca semeará… pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não repouses” (Ecl 11:4–6). O horizonte teológico do trabalho é a bênção do Criador que “dá o pão” (Sl 104:10–15; 65:9–13; 67:6–7; 85:12), inclusive por meio da chuva e do orvalho (Dt 33:28). No Templo, Salomão ora pedindo que, em caso de seca por pecado, Deus ouça o arrependimento e “envie chuva sobre a tua terra” (1 Rs 8:35–36); o mesmo pedido reaparece no pós-exílio (“Pedi ao SENHOR chuva no tempo das chuvas serôdias”, Zc 10:1).
Os salmos de colheita (especialmente Sl 65:9–13) celebram a visitação de Deus à terra, com imagens de regos encharcados, leivas amolecidas e outeiros cingidos de alegria — uma teologia da chuva em contraste com economias de irrigação. Estudos notam que o poema integra motivos comuns do Antigo Oriente Próximo (divindade da tempestade que vence a seca) reinterpretados na confissão monoteísta de Israel, onde YHWH, e não Baal, “coroa o ano com a tua bondade” (Sl 65:11). Sobre o pano de fundo cananeu (Baal como deus da chuva e da fertilidade), ver sínteses introdutórias sobre o ciclo de Baal em Ugarite.
Em tempos de anomalia climática, a resposta comunitária é religiosa e social: jejuns e assembleias solenes por causa da seca e das pragas (Jl 1:13–20; 2:12–17). A tradição posterior explicitou calendários de súplica por chuva (chuvas “temporãs” e “serôdias”) e de jejuns comunitários quando as chuvas atrasam, preservando a mesma lógica de Dt 11:14 (cf. Mishná Ta‘anit 1, com traduções e notas).
F. Ética econômica e culto verdadeiro
Nos profetas e na Torá, balanças justas e medidas íntegras são culto social: “balança enganosa é abominação” (Pv 11:1; cf. Lv 19:35–36; Dt 25:13–16). O comércio fraudulento, a “redução do efa” e “o aumento do siclo”, e o esmagamento dos pobres profanam o nome de Deus (Mq 6:10–11; Am 8:4–7). A arqueologia confirma o esforço por padrões públicos: os pesos judaítas insculpidos (séculos VIII–VII a.C.) — “siclo”, “meio-siclo” — mostram séries calibradas para transações, oferecendo lastro material para as injunções bíblicas sobre pesos e medidas.
Em termos comparativos no Antigo Oriente Próximo, códigos legais como o de Hamurábi contêm blocos sobre mercadores, taxas e padrões, sinalizando que a regulação de medidas era um bem público (ainda que por razões reais-fiscais). Isso ajuda a ler Levítico e Deuteronômio como teologia do padrão público: justiça de “balanças e pesos justos” como expressão de santidade.
A legislação israelita amarra ética e assistência: peʾah (deixar bordas, espigas esquecidas, uvas remanescentes) e o ano sabático articulam misericórdia, antiacumulação e reconhecimento do pobre, do estrangeiro e do assalariado (Lv 19:9–10; Êx 23:10–11; Dt 24:19–22). Pesquisas de agricultura israelita antiga notam que esse direito de acesso à produção de base familiar/aldeã funcionava como rede de proteção social na ausência de aparato estatal volumoso — coerente com o sistema de aldeias e com o papel do clã.
A crítica profética fecha o circuito: ajustes de mercado e piedade cultual são inseparáveis. O jejum que Deus escolhe solta as ligaduras da impiedade; “medidas cheias de engano” tornam o culto nulo (Is 58; Mq 6:6–12). No horizonte da aliança, dádiva e ética preservam a economia agrária para todos.
G. Sábado, criação e repouso da terra
O sábado (Êx 20:8–11; 23:12) institui um ritmo semanal de trabalho e descanso para pessoas, animais e o estrangeiro à porta, enraizado na criação. No ciclo longo, a terra descansa no sétimo ano (shemitá): sem semear nem podar; o que brotar é alimento comum para pobres, servos, estrangeiros e animais (Lv 25:2–7; 26:34–35). O descanso se estende à remissão de dívidas e à libertação (Dt 15:1–11; Jr 34:8–17), apontando para ordem social não-predatória. A teologia histórica lê o exílio como período em que a “terra desfrutou dos seus sábados” (2 Cr 36:21).
Autores contemporâneos têm explorado a dimensão agro-ecológica desses preceitos: ainda que a Bíblia não os apresente como “manual agronômico”, o deixar o solo em pousio reduz pressão contínua, quebra ciclos de pragas, ajuda a recompor umidade e matéria orgânica, e reinsere o pobre no consumo direto do campo — um descanso produtivo socialmente redistributivo.
No terreno, a sustentabilidade israelita antiga combinou descanso, manejo e engenharia do relevo. Pesquisas clássicas no Neguebe documentaram sistemas de agricultura de captação de enxurrada e terraços que ampliavam água útil e protegiam o solo (canaletas, bacias de recebimento, taludes), tornando possível cultivar em clima seco (paralelos úteis para ler Is 32:20; Sl 65:9–10).
Estudos recentes de geoarqueologia reforçam que os terraços montanos são cruciais para estabilizar encostas, reduzir erosão e reter umidade — um pano de fundo técnico para práticas que a legislação molda em chave teológica (terra, dom de YHWH, Lv 25:23).
XXI. Implementos e tração
Arado de madeira com relha metálica, puxado por bois (Jó 39:10; Os 10:11; 1 Rs 19:19); jugo e proibição de misto (Dt 22:10). Foice na ceifa (Dt 16:9; Jl 3:13). Trilho de debulha/morag e charuts (tábua/rolo com dentes) para trituração (2 Sm 24:22; Is 28:27-28; 41:15). Pá, forcado e joeira para aventar (Is 30:24; Mt 3:12). Podas e enxertia ilustradas na viticultura (Lv 25:3-4; Jo 15:2; Rm 11:17-24).
A. Processos fundamentais
Preparar o solo (remover pedras, nivelar, demarcar) (Is 5:2; Jó 24:2). Semeadura a lanço e por sulco (Mt 13:3-8; Is 28:25). Ceifa com feixes (Lv 23:10-11; Rt 2:7, 15). Debulha por tração animal (Dt 25:4). Peneiração e sift (Am 9:9; Lc 22:31). Vindima com pisa em lagar (Is 63:2-3; Jz 9:27). Azeite em prensas; “Getsêmani” lembra lagar de azeite (Mq 6:15; Jo 18:1).
B. Água e conservação do solo
Cisternas, poços e canais expandem a sequeiro (Jr 2:13; Gn 26:18-22; Pv 21:1). Irrigação com o pé (prática egípcia, contraste pedagógico) (Dt 11:10-12). Terraços e muros contêm solo e umidade (Is 5:2). Torres e abrigos vigiam culturas (Is 1:8; Mt 21:33). Eiras em locais ventilados (Rt 3:2; 2 Sm 24:16).
C. Medidas, pesos e padrões
Capacidades: ômer (1/10 de efa), seá (1/3 de efa), cor/hômer, bato, hin (Êx 16:36; Lv 19:35-36; Ez 45:10-14; Nm 11:32; 1 Rs 7:26; Ez 4:11).
Moedas/pesos: siclo do santuário, gerá; balanças fidedignas (Êx 30:13; Lv 19:36). Preços agrícolas refletem crise/abundância (2 Rs 7:1-2; Am 8:5-6).
A economia rural requer balanças justas, efa e siclo íntegros; fraude é abominação (Lv 19:35-36; Dt 25:13-16; Pv 11:1; Mq 6:10-11; Am 8:5-6).
D. Espaço, rotação e normas de cultivo
Limites e marcos (Dt 19:14; Pv 22:28). Interlinhas e disposição de sulcos (Is 28:25). Pousio sabático como manejo de solo (Lv 25:2-7). Kilʾayim (não misturar sementes/jugos/têxteis) e orlá (árvores: 3 anos interditos; 4º consagrado) (Lv 19:19, 23-25; Dt 22:9-11). Produtividade exemplar: “cem por um” (Gn 26:12).
E. Armazenagem e logística
Celeiros, silos e depósitos preservam cereal, vinho e azeite (Pv 3:10; 1 Cr 27:25-28; 2 Cr 32:27-29). Planejamento evita perdas e soberba (Gn 41:33-49; Lc 12:16-21).
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GALVÃO, Eduardo. Agricultura. In: Enciclopédia da Bíblia Online. [S. l.], set. 2025. Disponível em: [Cole o link sem colchetes]. Acesso em: [Coloque a data que você acessou este estudo, com dia, mês abreviado, e ano. Ex.: 22 ago. 2025].