Literatura Apocalíptica
Literatura Apocalíptica
A palavra “apocalipse” aparece como a primeira palavra em nosso apocalipse do NT, o Apocalipse de João, que significa “revelação” ele designa “o que deve acontecer em breve”, ou seja, a consumação dos propósitos redentores de Deus. As revelações foram transmitidos a João em uma série de experiências de êxtase (ver “no espírito” em Apocalipse 1:10; 4: 2; 17: 3; 21:10), quando Cristo lhe revelou os eventos que atendem a consumação da era e o estabelecimento do governo de Deus no mundo. O termo “apocalipse” foi emprestado do livro Apocalipse e aplicado a todo um gênero de literatura judaica produzida entre 200 a.C. e 100 d.C. O mais antigo apocalipse é o livro de Daniel, e os apocalipses subsequentes foram escritos em sua imitação. A palavra “apocalíptica” é utilizada para designar duas coisas distintas: o grupo de escritos, e do tipo de escatologia que eles contêm. Estes dois usos de “apocalíptica” precisa ser claramente distinguidos.
Foi sugerido que a divisão entre a literatura apocalíptica e o judaísmo farisaico ortodoxo não era tão completa como alguns estudiosos pensavam que deveria ser. As diferenças entre eles não podem, é claro, ser negadas; mas o fato é que os apocalípticos compartilham certas crenças fundamentais com o judaísmo rabínico, que lhes conferiam certos pontos definidos de contato. Pelo menos em uma coisa ambos adotaram a mesma atitude, os escritos da Torah, que tanto um como o outro reverenciava como a revelação de Deus. A centralidade da Torah no pensamento dos apocalípticos, pode ser ilustrada em cada livro, de Jubileus e os Testamentos dos Doze Patriarcas, no segundo século a.C. até 2 Baruque e II Esdras no primeiro século d.C. E verdade que a forma do apocalíptico difere consideravelmente da forma da literatura rabínica do Halakah, mas a evidência de um livro como, por exemplo, Jubileus, ilustra amplamente que essa diferença não era de modo algum absoluta em todos os casos. O autor de Jubileus certamente demonstra familiaridade com o método rabínico e produz evidência do halakot, antes mesmo que aquelas das próprias fontes rabínicas. Além do mais, o elemento apocalíptico nesses escritos é frequentemente acompanhado por uma profunda preocupação ética que, em muitos aspectos, é a chave para o entendimento e a apreciação do Judaísmo rabínico. Também há a perspectiva escatológica desses dois grupos de escritos que, embora diesimi-lares em muitos aspectos, revela considerável grau de concordância. Isso é mais claramente visto em certas expectativas rabínicas tais como a ressurreição do corpo e o advento do Messias. Um caso ilustrativo é o do Rabino Akiba, que, como já vimos, no início do segundo século, elaborou e organizou o halahot; foi esse mesmo homem que esperou ansiosamente a vinda do Messias e deu apoio irrestrito às reivindicações de Bar Kochba em sua revolta em 132-135 d.C.
Porém, esse tipo de literatura talvez interessasse muito mais aos Zelotes e àqueles que compartilhavam de seu ponto de vista político e religioso. Eles descobririam nesses escritos muitas coisas que receberam sua aprovação entusiástica, e incendiaram aquele zelo nacionalista, pelo qual procuravam cumprir, se necessário fosse, pelo poder da espada, a vontade revelada de Deus. Nosso conhecimento dos essênios é limitado e o que sabemos sobre eles indica que suas convicções nem sempre correspondem àquelas expressas nos escritos apocalípticos. Mas esse termo pode muito bem designar vários grupos diferentes, cujas crenças e práticas poderiam corresponder com maior precisão às da literatura apocalíptica. Se pudermos constatar que o argumento de que os pactuantes do Qumnran eram, de fato, um ramo dos essênios, então poderemos, talvez, dar muito mais crédito ao argumento a favor da possível influência dos essênios nesse tipo de literatura, pois o pensamento messiânico e apocalíptico dos rolos do Mar Morto têm muito em comum com os escritos apocalípticos nos “livros excluídos”.
Para concluir, a existência dessa literatura não-canônica, apocalíptica ou não, confirma a observação feita anteriormente de que, durante o período interbíblico, o Judaísmo era um sistema complexo, que abrangia muitas seitas, partidos e classes, pois a própria literatura desvenda muitas visões diferentes, interesses e crenças que nem sempre podem ser identificadas com qualquer um dos partidos reconhecidos dentro do Judaísmo. Como R Travers Herford diz:
“A existência de escritores tais como os dos livros apócrifos tendem mais à complexidade do que à simplicidade nas atividades literárias da época. Também, a presença de muitos elementos no Judaísmo contemporâneo,de modo algum implica que havia interação íntima e influência mútua entre eles”.