Lucas 12:1-59 — Interpretação Bíblica
Lucas 12
12:1-2 fermento. Isso representa a presença de corrupção. Pão sem fermento é o que os judeus comeram na Páscoa (Êx 12:14-20). A corrupção em vista aqui é a hipocrisia. Praticar a hipocrisia não tem sentido porque, eventualmente, todas as ações – boas e más – serão expostas.12:4 não tenha medo daqueles que matam o corpo. Este versículo antecipa a presença de severa perseguição religiosa em resposta às observações de Jesus em Lucas 11:39-54.
12:5 Temei-o. Mesmo no contexto de perseguição física, o único que os crentes devem temer é Deus, que vê como vivemos e nos julga. Jesus não estava garantindo a preservação física nesta vida, mas estava abrindo a perspectiva de libertação na próxima vida.
12:6 dois centavos. Essas eram as menores moedas em circulação, valendo cerca de um décimo sexto do salário básico de um dia.
Os motivos secretos da vida
Lucas 12:1–12
Jesus lidou muito com nossos motivos - isto é, aquela qualidade dentro de nós que nos leva a fazer o que fazemos e orienta nossa conduta. Para ele, o que nos motiva é quem e o que somos. Nosso único grande motivo deve ser o desejo da aprovação de Deus e o temor da desaprovação de Deus.
As pessoas religiosas dos dias de Jesus realizavam muitas de suas práticas religiosas por causa da aprovação das pessoas (Mt 6:1-18). Ainda é uma parte de nossa natureza com a qual temos uma luta constante. Quando estamos com pessoas sem religião, somos tentados a ter vergonha de nossa religião. Mas quando estamos com pessoas religiosas, queremos ser considerados religiosos ou espirituais, e esse desejo às vezes nos leva a fingir ser mais espirituais do que realmente somos – o que é hipocrisia. O desejo de aprovação das pessoas, dentro dos devidos limites, é legítimo e louvável. Mas o fato mais básico da existência é Deus. A única coisa que realmente importa é a nossa relação com ele. Vamos sempre mantê-lo em mente, e estejamos atentos a como nossos pensamentos, motivos e ações se acumulam à sua vista.
Muitas das coisas neste capítulo estão contidas no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Jesus tinha ditos favoritos que ele repetia várias vezes. Um deles foi sobre o cuidado infalível de Deus e a orientação de seu povo (vv. 6-12).
Observe especialmente a advertência de Jesus sobre Satanás, que tem o poder de nos enganar e finalmente nos levar a uma existência eterna no inferno (v. 5). Devemos perceber que nossa decisão de seguir a Cristo ou não terá consequências eternas. (Veja Lc 16:19-31.)
Observe, também, que ele disse que um dia todas as coisas secretas sobre nossos egos hipócritas serão conhecidas (vv. 2-3). Deus registra todos os nossos pensamentos internos e atos secretos, para serem tocados em voz alta um dia diante de nossos eus assustados e do universo reunido, quando seremos reconhecidos pelo que realmente somos.
12:14 que me nomeou juiz. Jesus se recusa a entrar em uma disputa por dinheiro, o que claramente está dividindo uma família. Tais disputas por dinheiro destroem relacionamentos, então Jesus conta uma parábola que explica o perigo de se concentrar na riqueza.
12:18–19 Isto é o que farei. Incluindo o versículo 17, a palavra “eu” aparece seis vezes, mostrando o foco egoísta que este homem tem como resultado de sua fortuna. Seu plano é armazenar seus abundantes recursos para si mesmo, como se os bens fossem apenas seus e devessem ser acumulados. Esse foco no eu é o que Jesus está condenando.
Tesouros no céu
Lucas 12:22–34
Isso também faz parte do Sermão da Montanha (Mt 6:19-34). Jesus estava bem em casa quando falava sobre o céu.
Os cristãos são cidadãos do céu que vivem aqui temporariamente. Jesus ensina a não se concentrar em preocupações terrenas, mas sim a dar generosamente e andar na fé que o Senhor proverá. Jesus diz: Buscai o seu reino, e estas coisas vos serão dadas também. O Senhor suprirá todas as necessidades e desejos se usarmos o excesso do que ele nos deu para ministrar aos outros. Dessa forma, nos tornamos um canal para Deus fazer sua obra no mundo.
12:27–29 Deus veste a grama. Esta ilustração indica que Deus se preocupa o suficiente para fornecer beleza para as partes da criação que têm vida curta. Por que devemos nos preocupar se Deus cuida tanto da menor folha de grama? O Senhor conhece nossos problemas e nos dará o que precisamos.
12:33 Venda seus bens. Em contraste com o acúmulo de bens do mundo, o discípulo deve ser generoso com o que Deus dá. Ao servir a Deus e aos outros, você pode investir em seu futuro eterno. Você não pode levar posses com você na próxima vida, mas pode acumular um tesouro eterno dando a outros (Fp 4:17).
12:34 onde está o seu tesouro. O que as pessoas consideram valioso é onde sua energia será gasta. Conhecer a Deus e investir em seus propósitos deve ser o tesouro que buscamos.
Parábola do rico tolo
Lucas 12:13–21
Jesus se recusou a entrar na disputa familiar egoísta desse homem. Jesus não tentou administrar os negócios de todos os outros. Em vez disso, ele respondeu com uma parábola sobre as consequências da ganância. A lição desta história ofereceu ao homem riquezas eternas se ele permitisse que as palavras de Jesus mudassem sua vida.
O rico tolo havia recebido seu dinheiro honestamente – através da produtividade de sua terra. No entanto, ele era um tolo aos olhos de Deus (v. 20), porque tinha seu coração posto neste mundo e não no mundo vindouro. Rico neste mundo, pobre no outro. Este mundo dura apenas um pouco, mas o outro mundo dura para sempre.
12:38 se ele vier no meio da noite ou ao raiar do dia. Este versículo fala de um retorno em uma hora incomumente tardia. O tempo exato referido depende de qual sistema de tempo foi usado. No sistema romano, a segunda e a terceira vigília seriam das 21h às 3h. No método judaico, seriam das 22h às 6h
12:41 para nós, ou para todos. Pedro perguntou se o ensino de Jesus era apenas para os discípulos ou para todas as pessoas. Jesus não respondeu à pergunta diretamente. Em vez disso, Ele descreveu uma variedade de categorias de servos. Os servos são aqueles que pertencem ao mestre e têm sua mordomia avaliada (19:11-27). Várias respostas, da fidelidade à desobediência flagrante, são descritas nos versículos 42–48. A questão é quem vive a vida de uma forma que busca e leva a sério a volta de Jesus (1Jo 2:28).
12:45 começa a bater nos outros servos. Este servo é descrito como fazendo conscientemente o oposto de cuidar dos outros e de tratar o retorno do mestre como irrelevante.
12:46 o cortará em pedaços. A imagem de ser morto indica a severidade deste julgamento, especialmente em contraste com as chicotadas dos versículos 47 e 48.
Estupidez Espiritual
Lucas 12:49–59
Embora Jesus viesse trazer a paz, ele sabia que também criaria divisão entre aqueles que decidissem segui-lo e aqueles que se recusassem a reconhecê-lo. Ele exorta a multidão a compreender a urgência do tempo presente e tomar uma decisão pessoal de fazer o que é certo — reconciliar-se com Deus em seus termos antes que seja tarde demais; qualquer coisa menos é estupidez espiritual.
12:49 Eu vim trazer fogo sobre a terra. O fogo é uma imagem associada ao julgamento de Deus (Jr 5:14; 23:29). A vinda de Jesus traz julgamento sobre aqueles que se recusam a aceitá-Lo e separa os crentes dos infiéis.
12:54-55 uma nuvem subindo no oeste. Na Palestina, uma brisa ocidental significava umidade vinda do Mar Mediterrâneo. Um vento sul significava ar quente vindo do deserto.
12:56 Hipócritas! Jesus repreendeu sua audiência por ser capaz de discernir o tempo, mas não o que Deus estava fazendo por meio dele.
Vigilância
Lucas 12:35–48
Os pensamentos de Jesus passam do céu para o dia glorioso de sua segunda vinda, e ele avisa que pode voltar a um mundo adormecido na calada da noite (v. 38). Bem-aventurados os fiéis que estão prontos para acolher o seu Senhor que regressa. Esta parábola (vv. 41-48) destina-se a todo cristão. Mas graus em talento e posição implicam graus correspondentes em responsabilidade. Temeroso é o aviso aqui para pastores infiéis.
Notas Adicionais:
12.1-3 Aqui, Jesus explica o que as palavras da seção anterior (11.39-52) significam para seus discípulos: devem ficar longe do fermento dos fariseus, que é a falsidade (v. 1). Com o passar do tempo e especialmente no Dia do Juízo, toda falsidade será descoberta (v. 2)
12.1 o fermento dos fariseus: Na Bíblia, às vezes, a palavra fermento é usada para designar um poder secreto, quase sempre mau, que se espalha e prejudica as pessoas. Aqui, é uma maneira de falar sobre a falsidade; em Mt 16.6,12, se refere ao ensinamento dos fariseus e saduceus (Mc 8.15).
12.4-7 O medo de Deus (v. 5) existe lado a lado com a certeza de que Deus cuida de seus discípulos até nas mínimas coisas, pois “até os fios dos cabelos de vocês estão todos contados” (v. 7; Lc 21.18).
12.4 meus amigos: Jesus está falando com os discípulos (v. 1). Jesus usa a mesma palavra também em Mt 26.50; Jo 11.11; 15.13-15.
12.8-12 Aqui, o assunto é falar contra ou falar a favor de Jesus. Afirmar publicamente que se é de Jesus tem consequências eternas (vs. 8-9; Mc 8.38; 2Tm 2.12). Se falar contra o Filho do Homem é pecado que pode ser perdoado, o mesmo não vale para a blasfêmia contra o Espírito Santo (v. 10). Por outro lado, o Espírito vai ensinar aos discípulos o que devem dizer quando forem levados a julgamento (vs. 11-12).
12.10 será perdoado... não será perdoado. O Filho do Homem, Jesus, foi ofendido e desprezado (Lc 7.34; 9.58). Até mesmo aqueles que o mataram puderam ser perdoados, porque não sabiam o que estavam fazendo (Lc 23.34; At 3.17; 1Tm 1.13,16). Agora, com a vinda do Espírito Santo (At 2), tudo ficará tão claro que a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Blasfemar, neste caso, é eliminar a possibilidade de arrependimento. Ver Mt 12.32, n.
12.11 julgados nas sinagogas ou diante dos governadores e autoridades. Jesus tem em vista o tempo em que seus seguidores serão perseguidos não somente na terra de Israel, mas também em países estrangeiros (Mc 13.9,11; Lc 21.12-15).
12.13-34 Esta seção traz ensinamentos de Jesus a respeito da atitude diante dos bens deste mundo. O pedido de um homem que estava no meio da multidão levou Jesus a fazer uma advertência contra todo tipo de avareza (vs. 13-15). A isso ele acrescentou a parábola do rico sem juízo (vs. 16-21) e um convite a que seus discípulos confiem em Deus (vs. 22-32).
12.13 repartir comigo a herança. De acordo com a Lei de Moisés (Dt 21.17), o filho mais velho recebia duas vezes mais do que os outros filhos. Um mestre da Lei podia ser solicitado a fazer a divisão dos bens.
12.15 avareza. Em vez de resolver a questão da herança (vs. 13-14), Jesus fala sobre a avareza, que é o problema que estava por trás daquela discussão.
12.19 Você tem tudo. Ver atitude parecida em Ec 2.24; 5.18-19.
12.20 tolo. Tolo é aquele que não leva Deus a sério (Sl 14.1), nem se dá conta de que sua vida é breve (Sl 39.5-7; Sl 49).
12.21 riquezas. Sl 39.6; Jr 17.11; 1Tm 6.17.
12.25 encompridar a sua vida. O texto original também pode ser traduzido por “ficar meio metro mais alto”.
12.27 Salomão. O rei mais rico do mundo (1Rs 10.4-7,23; 2Cr 9.3-6).
12.28 queimada no forno. A erva era queimada num forno de barro, a fim de aquecê-lo para assar pão.
12.33 as traças. Naquele tempo, uma boa parte da riqueza das pessoas era feita de tecidos, roupas e tapetes caros (Tg 5.2).
12.34 aí estará o coração de vocês. Dedicamos o nosso interesse e nosso amor às coisas que nos são as mais preciosas.
12.35-48 Nesta seção, o assunto é a atitude dos discípulos diante da volta do Senhor (v. 40) no fim dos tempos. Eles devem ficar esperando a vinda do Senhor e trabalhar fielmente naquilo que o Mestre lhes tiver dado para fazer (Mt 24.42-44; 25.1-13; Mc 13.34-36).
12.37 ele mesmo os servirá. Isso vai além do que um empregado poderia esperar de seu patrão. No entanto, é o que Jesus já fazia com os seus discípulos (Lc 22.27; Jo 13.1-5).
12.41 para nós. Os apóstolos, encarregados de tomar conta da casa e de dar comida aos outros empregados (v. 42; 1Pe 5.1-4). para todos. Os outros discípulos.
12.46 mandará cortar o empregado em pedaços. O texto original também pode ser traduzido assim: “castigará duramente o empregado”. o lugar aonde os desobedientes vão. A passagem paralela de Mt 24.51 dá a entender que isso se refere ao inferno.
12.48 será pedido muito de quem recebe muito. Quanto maior o privilégio, maior a responsabilidade.
12.49-53 Jesus veio pôr fogo na terra e tem um batismo a receber. Ele não veio trazer paz, mas divisão.
12.49 fogo. Uma maneira de falar sobre o julgamento purificador de Deus (Zc 13.9; Ml 3.2-3). Com a vinda do Reino de Deus, em Jesus, esse fogo já foi aceso.
12.50 Tenho de receber um batismo. Uma maneira de dizer que esse batismo faz parte do plano de Deus. batismo. Aqui, é o sofrimento e a morte de Jesus (ver Mc 10.38, n.).
12.51 não vim trazer paz. Isso parece negar o que foi dito em Lc 2.14. Na verdade, mostra que aquela paz não é uma paz fácil, uma paz deste mundo, uma paz com a qual já sonhavam os falsos profetas (Jr 6.14).
12.52 uma família... ficará dividida. Mq 7.6.
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