Apocalipse 7 — Estudo Devocional
Apocalipse 7 — Estudo Devocional
Apocalipse 7
7.1-17 até que marquemos... a testa dos servos do
nosso Deus. Este capítulo é uma espécie
de parêntesis, uma necessária informação sobre os crentes em Cristo,
antes de detalhar mais os sofrimentos que estão vindo sobre o mundo.
Enquanto mostra a realidade na terra que se deteriora, o Apocalipse também
mostra como as coisas são do ponto de vista do plano e do cuidado de Deus.
Ao mesmo tempo em que terra e mar sofrem estragos, todo o povo de
Deus é marcado para ser guardado e salvo (v. 10), vivendo em alegria
perene na presença de Deus. O Senhor reina e os corações na sua totalidade
o louvam, apesar da grande tribulação (v. 14). O número 144.000, tal
como todos os números em Apocalipse, tem um significado simbólico:
provavelmente pretenda ser entendido como 12x12x1000, ou seja, todo o povo
de Deus do Antigo e do Novo Testamentos, o mesmo que é logo depois retratado
como uma imensa multidão (vs. 9-17), emergindo vitoriosa do sofrimento e
desfrutando da proteção do Cordeiro que os apascenta — uma espécie de eco
do Sl 23. Veia os quadros “Os números no Apocalipse” (Ap 4) e
“Escatologia — As últimas coisas” (2Tes 2).
7.1-3 nem sobre nenhuma árvore. Deus não se preocupa apenas com a salvação do homem,
mas toda a criação — a terra, o mar, as plantas e animais — é objeto do
cuidado e da graça de Deus, e sofre com as consequências da maldade
humana.
7.4-14 tão grande, que ninguém podia contar. Os números vão indicando a amplitude da graça de Deus
que atinge pessoas de todas as nações, raças e tribos (v. 9), sem nenhuma
acepção — um forte indício de como Deus espera que tratemos uns aos outros
durante nossa jornada da vida.
7.14 os que atravessaram... a grande perseguição. Segundo o Apocalipse, para Deus há um grande
contraste entre o seu povo, e “os que moram sobre a terra” (8.13), e
embora os dois grupos passem por dificuldades e sofrimentos, o fazem de modo
totalmente diferente. Veja o quadro “Os dois caminhos”.
7.17 Deus enxugará todas as lágrimas. O sofrimento frequentemente é inexplicável na
perspectiva humana; muitas vezes ficamos sem resposta diante da pergunta:
“por que sofremos?” A perspectiva de ter as lágrimas enxugadas pelo próprio Deus nos serve de consolo diante desta
nossa incompreensão. Todas as manifestações de carinho recebidas de
amigos, conselheiros ou até de desconhecidos diante dos sofrimentos que
enfrentamos em nosso cotidiano são uma pequena parte do grande consolo
que receberemos quando estivermos diante do Pai. Veja o quadro
“O sofrimento na vida de fé” (Rm 5).
Os dois caminhos
Neste livro podemos identificar alguns detalhes do
percurso dos “dois caminhos” anunciados por Jesus quando nos incentivou a evitar
o caminho largo (ou fácil) e entrar pelo caminho estreito ou difícil (Mt
7.13-14).
O caminho largo: o Apocalipse revela o outro
lado da “tapeçaria” da história, o enredo humano que é construído pelo “eu
autônomo” (que não quer depender de Deus), a partir da negação a arrepender-se
e do afastamento do perdão. Em vez de arrepender-se e se submeter a Deus (veja
o quadro “O arrependimento”, Ap 9), a pessoa que se pretende
autônoma vai construindo sua história de modo artificial — como se constroem
próteses para substituir a carne natural — e assim se torna refém de seus
próprios temores imaginários, de perder o controle da própria vida (veja
os quadros “A alma do Apocalipse” e “Não tenha medo”, em Ap 1). Desta
forma, as relações interpessoais se tornam comerciais, baseando-se num
intercâmbio mediado por dinheiro e “coisificação”; a comunidade deste caminho é
a “cidade do eu autônomo” (“Babilônia”), que têm seu auge na “marca da
besta”, sem a qual ninguém poderá comprar nem vender. Este é um processo
que aproxima a humanidade da morte (veja os quadros “A cidade”, Ap 18,
e “A marca da Besta”, Ap 13). Este caminho de morte leva ao lago de
fogo, uma espécie de regresso ao caos original, sem forma e vazio, onde há
ausência da “carne” humana. Este é um não lugar para a biologia da
ressurreição, é a “segunda morte”. Algumas imagens apocalípticas desta
verdadeira ”busca da morte”: o abismo, o dragão, o lago de fogo, o mar, a
terra, a peste, o medo, a bestialidade, o inferno e os mortos. O
Apocalipse narra o processo de destruição dessas “próteses sagradas” —
construções artificiais que buscam ocupar o lugar de Deus, como ídolos.
Essas construções são caracterizadas pela separação: de Deus, dos outros e
de nós mesmos, e suas falhas e fragilidades são denunciadas, pois reproduzem
a mentira presente desde o Éden, como uma mistura de bem e mal.
O caminho
estreito: o caminho indicado por Jesus para dirigir-se à vida e não à morte
se inicia com o arrependimento (veja o quadro “O arrependimento”, Ap
9). Este é o ato inicial da “biologia da ressurreição”, e acontece através da
bondade de Deus e do “dom da fé”: é Deus quem nos faz reconhecermos que somos
pecadores e que necessitamos do perdão, que só pode ser obtido como
presente do Deus da graça, dado em seu Filho. Algumas imagens deste
caminho: o céu, os anjos, a estrela da manhã, aquele que esteve morto e vive.
Este é o caminho da história da salvação, e se faz totalmente em Jesus
Cristo: ele vem à terra enviado pelo Pai, se torna carne humana e se
esvazia de sua glória divina para nos acompanhar, como Cordeiro que vai ser
morto em sacrifício por nossas culpas. Jesus nos toma em sua mão e nos une
a ele, nos salvando deste inferno de morte que é a consequência de nosso
pecado. Na sua ressurreição fica estampada a nova criação, que já teve início
na Igreja. A dinâmica desta nova criação, feita dentro da bondade de Deus,
produz o arrependimento (das tentativas de levar uma “vida autônoma”), que
produz o perdoar e a comunhão dos perdoados por graça. A comunidade deste
caminho é “eucarística”, na qual as relações interpessoais se originam na
doação (“isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês”), e terá
seu auge eterno na Nova Jerusalém, cidade dada do céu por Deus
aos humanos. O fio que conduz o livro do Apocalipse é a narrativa da vida
“matando a morte” em Jesus, o Cordeiro que foi morto e tornou a viver.
Assim ele nos liberta da “vida comercial” e artificial, e consegue desobstruir
o desejo (que brota da imagem de Deus originalmente criada em nós), e nos levar
a exclamar “Vem, Senhor Jesus!”, ”Vem logo!”. Esta expressão final da
Bíblia, posta nos lábios de homens e mulheres do planeta, ressoa como
eco da palavra dita na cruz: “está consumado”, de modo que se concretiza a
verdade primeira e última, “Jesus Cristo é tudo em todos”. Veja o
quadro “A alma do Apocalipse” (Ap 6).
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